6 MELHORES FILMES DE AÇÃO DE 2023… POR ENQUANTO

Este ano tem surpreendido no quesito ação e eu posso provar. Aos fãs do gênero, corram pra ver essas recomendações, porque 2023 ainda promete algumas surpresas pro segundo semestre.

6. PATHAAN , de Siddharth Anand
Esse era um dos filmes de ação que eu mais aguardava este ano. Mas acabei gostando mais do filme anterior do Anand, WAR (2019), que recomendo fortemente pra quem quiser adentrar no mundo mágico do cinema de ação da Índia. Agora, PATHAAN é puro suco do blockbuster genérico de Bollywood, mas que demonstra que até nesse tipo de produto os indianos conseguem fazer um troço hipnótico visualmente e extremamente divertido. O filme é uma montanha russa explosiva, cheia de ação que qualquer indivíduo interessado em MISSÃO: IMPOSSÍVEL, 007, VELOZES E FURIOSOS, Michael Bay, vai aproveitar bem e sair da sessão com um sorriso no rosto.

O astro de Bollywood Shah Rukh Khan tá sensacional aqui como herói da parada, consegue ser tão carismático quanto badass; o vilão de John Abraham é muito bom; Deepika Padukone é maravilhosa em todos os sentidos; e a ação, de um modo geral, é insana, com destaque pra sequência da apresentação do personagem do SRK – um tiroteio frenético com direito a um helicóptero fazendo manobras radicais dentro de um hangar – e a do trem, um festival de pancadaria, balas e explosões que sozinha já paga o ingresso… Uma das melhores do ano. Genérico ou não, o Siddharth Anand demonstra porque é um dos diretores mais interessantes a ser seguido no cinema Hindi. Tem disponível no Prime.

5. RESGATE 2 (Extraction 2), de Sam Hargrave
Assisti há poucos dias, assim que entrou na Netflix. Posso estar ainda momentaneamente empolgado com este filme, mas foi uma experiência de ação daquelas, com toda a carga de adrenalina que os apreciadores do gênero merecem. A trama é simplória, o final é um pouco decepcionante (em comparação com as outras sequências de ação do filme) e é um crime ter o Daniel Bernhardt como capanga do vilão e não aproveitá-lo da forma correta – ou seja, pelo menos uma sequência de pancadaria digna. Tirando isso, puta filme. Em termos de AÇÃO, com esses dois filmes no currículo, acho que não é exagero colocar esse Sam Hargrave entre os grandes diretores do gênero na atualidade em Hollywood. Trabalho de câmera fantástico e a sequência da prisão/perseguição/fuga no trem tá entre as mais espetaculares do ano (outra sequência de trem…). Não tô nem aí se o Chris Hemsworth quer se aposentar, segurem o homem pra um terceiro!

4. WALTAIR VEERAYYA, de Bobby Kolli
Pra quem já tá acostumado com o cinema indiano, isso aqui é um típico masala com suas megalomanias na trama, reviravoltas, humor, nas músicas e na ação hiper exagerada. Ou seja, uma delícia do início ao fim. Mas o que torna WALTAIR VEERAYYA um troço mágico é a performance do “megastar” Chiranjeevi, um dos maiores ícones do cinema Telugo, que faz o personagem título e oferece aqui uma das figuras mais incríveis do cinema indiano recente.

Provavelmente alguns de vocês já viram no YouTube uma sequência de ação meme de um filme indiano dos anos 90 em que um sujeito desliza com um cavalo por baixo de um caminhão… Aquele sujeito é ninguém mais ninguém menos que Chiranjeevi! O sujeito é gênio. Podem ir que a diversão é garantida com WALTAIR VEERAYYA. Fica a dica de mais um filmaço indiano pra vocês conhecerem. Disponível na Netflix.

3. THUNIVU, de H. Vinoth
Sim, mais um filme indiano. Uma produção tamil. THUNIVU começa como um thriller de ação de assalto a banco e se transforma num drama de consciência financeira e análise social do mundo dos bancos. Tudo ligado no 220, num ritmo frenético de tirar o fôlego que mistura excelentes doses de ação com uma escrita socialmente consciente e boas reviravoltas nos seus 146 minutos. Mas o que realmente faz disso aqui um grande filme é a presença do astro do cinema tamil Ajith Kumar como protagonista, que domina o espetáculo quando tá em cena e constrói um dos melhores personagens do ano. Com todo respeito, nenhuma performance dos indicados a melhor ator do Oscar deste ano chega aos pés deste homem. É ver para crer e espero que alguns de vocês vejam esse filmaço! O filme tá na Netflix.

2. FAST X, de Louis Leterrier
Apesar de nunca ter escrito sobre os filmes, já devo ter pelo menos mencionado por aqui que amo a série VELOZES E FURIOSOS. E este décimo exemplar é uma delícia! Uma coisa que adoro é como tudo aqui é basicamente uma consequência de FAST FIVE, que é o meu favorito da série, então foi legal ver como eles amarraram tudo. Mas de certa forma é um FAST & FURIOUS que quebra um bocado as expectativas, diferente do que ficamos acostumados a ver nos últimos filmes. É o começo de uma suposta trilogia que vai fechar a franquia, com uma abordagem narrativa distinta, uma outra cadência, o filme espalha os personagens em blocos e mantém mistérios e surpresas para serem resolvidas nos próximos episódios… Ao mesmo tempo tá tudo ali num alto nível de diversão, na figura mítica de Dom Toretto e sua ideia de família que, como conceito, é imortal pra franquia tanto de forma figurativa quanto literal. Um dos personagem novos resume bem num momento expositivo no início do filme: “É como uma seita com carros”.

Até a ação é peculiar. Tirando a sequência de Roma, que tem um grau de destruição mais grandioso, os próprios set pieces de FAST X me parecem dar um passo atrás em escala épica, indo contra o crescendo que havia nos últimos filmes – um submarino no 8, ir para o espaço no 9 – a coisa aqui retorna às acrobacias dos carros, mas sem deixar de desafiar as leis da física, obviamente… O que é bom, porque o Leterrier tá bem longe de ser um Justin Lin, F. Gary Gray ou James Wan. Mas até que o francês consegue mandar bem na medida do possível nessa “escala menor”, com pancadarias, tiroteios e perseguições, até chegar num clímax mais espetacular que é realmente muito bom e entrega o nível de adrenalina esperado. E nisso tudo as atenções acabam indo pra outro elemento do filme que é simplesmente fodástico, que é a composição de Jason Momoa, psicótico, afetado, maravilhoso em cada frame. Tem vários personagens que se destacam aqui em algum momento, mas nada se compara a Momoa. Disparado o melhor vilão de toda a franquia. Enfim, eu achei divertido pra caramba. Já ansioso pelo(s) próximo(s) capítulo(s).

1. JOHN WICK 4: BABA YAGA (John Wick: Chapter 4, 2023), de Chad Stahelski
Pra fechar essa relação, replico basicamente a mesma coisa que disse quando assisti a essa obra-prima moderna da ação, na época do lançamento. BABA YAGA veio pra coroar a grandeza de tudo que envolve JOHN WICK como cinema, como personagem, como universo, como narrativa e estética de filme de ação. Os dois primeiros atos são, em grande parte, mais do mesmo. O que não é de forma alguma algo negativo, pois o mais do mesmo em JOHN WICK é muito bom, com alguns momentos geniais: tudo que envolve a participação de Scott Adkins, por exemplo, que tá brilhante aqui. Donnie Yen, Sanada, Mark Zaror, Bill Skarsgård, Clancy Brown, Ian McShane, Lance Reddick (RIP), Laurence Fishburne… Baita elenco e estão todos ótimos. Keanu Reeves nem preciso mencionar, o sujeito é uma força da natureza.

Mas aí vem aquele terceiro ato… O arco do triunfo; a homenagem à THE WARRIORS; Paint It Black; o plano sequência com a câmera no alto, digna de um Brian De Palma, acompanhando John Wick por cômodos numa casa abandonada, tocando o terror com uma arma que cospe fogo, literalmente; a escadaria da Basílica de Sacré Cœur… O que temos aqui é simplesmente algumas das sequências de ação das mais absurdas colocadas num filme de estúdio hollywoodiano. Neste momento, não tenho dúvidas em apontar que Chad Stahelski é o principal nome do gênero na atualidade. E só posso dizer que é um grande momento para ser fã de filmes de ação.

Precisamos falar sobre JOHN WICK

Aproveitei o lançamento do quarto filme da franquia JOHN WICK, estrelada pelo Keanu Reeves, para rever a trilogia inicial. E como nunca escrevi nada sobre esses filmes por aqui, trago uns comentários que fiz durante os últimos dias no Letterboxd e Instagram, onde tenho sido mais atuante, por isso recomendo que sigam, se tiverem interesse, porque esse recinto aqui anda bem abandonado, e a correria dos tempos atuais quase me obriga a fazer comentários mais curtos nas outras redes, do que posts maiores por aqui.

DE VOLTA AO JOGO (John Wick, 2014), de Chad Stahelski e David Leitch

Acho massa lembrar que na época do lançamento muito pouco sobre JOHN WICK sugeria que a gente estaria prestes a assistir a um dos melhores filmes de ação daquele período. Mesmo com suas imperfeições, foi exatamente o que assistimos e o impacto foi grande, notável pela presença de Keanu Reeves numa performance física impressionante, em sequências espetaculares de tiroteios, lutas coreografadas com capricho, filmadas e editadas com maestria e com uma construção de universo envolvendo um peculiar submundo de assassinos, cheio de regras, que tornava tudo ainda mais fascinante.

E é de certa forma admirável constatar que o filme continua um dos grandes exemplares do gênero (em se tratando de Hollywood), passados praticamente dez anos, mesmo que as suas próprias continuações tenham lhe superado. O que só engrandece essa franquia que eu tanto adoro.

Vou me estender um pouco mais nesse primeiro filme, só pra introduzir algumas premissas caso alguém tenha essa falha de não ter visto o filme ainda e porque acredito que preciso declarar meu amor a esse personagem incrível, que atende pelo nome/título de John Wick (Reeves), capaz de matar cem homens sob o pretexto de que tiraram a vida de seu adorável cachorrinho. Um beagle irresistível. Aquele que sua esposa havia deixado pra ele após sua morte como um presente póstumo. A única coisa que restava dela. A única coisa que o manteve em uma vida normal, longe de um passado carregado de morte e violência. Uma existência de paz que ele escolheu depois de muitos anos trabalhando como assassino contratado para organizações mafiosas. John Wick foi apelidado de “Baba Yaga“, algo que traduziram como o bicho-papão – embora possam dizer também que ele é a pessoa que chamariam para matar o bicho-papão. Temido por todos, ele era o assassino mais eficaz. Quando um chefão russo (Michael Nyqvist) descobre que seu filho roubou o Mustang e matou o cachorro de John, ele sabe o que está por vir. Ele sabe que seu filho despertou uma fera capaz de tudo.

É isso, simples, direto, não perde muito tempo com bobagens. E quando menos se espera, estamos diante de sequências de ação de cair o queixo. Até porque é sobre isso o filme. A trama é só um pretexto para uma sucessão de cenas de tiro, porrada e bomba. A ação – e a estética da ação – é que fala mais alto. Uma essência que vai ganhando uma proporção cada vez maior a cada continuação…

Melhor sequência de ação: A da casa noturna, Red Circle, ainda impera. É um bom exemplo da maestria dos diretores, David Leitch e Chad Stahelski, um balé de corpos, balas, golpes e violência combinado à batida da trilha sonora, à uma noção de espaço precisa, num cenário belissimamente iluminado, com trabalho de câmera refinado ao mesmo tempo nervoso, brutal, uma sequência que já nasceu clássica e dá o tom do nível da ação que estamos diante (e era difícil na época imaginar que os realizadores conseguiriam fazer coisas ainda melhores em possíveis continuações). E é onde podemos ver Keanu Reeves encarando o grande Daniel Bernhardt, um ator de ação B dos anos 90 que sempre que aparece nessas produções atuais eu abro um sorriso. Também ajuda muito, nesta sequência da casa noturna, que esta seja a primeira demonstração real do por que John Wick é um assassino tão lendário e temido, aumentando seu impacto. A sequência anterior, o ataque à casa de John, é bem boa, mas dá só um gostinho das habilidades do homem. Aqui não. Aqui John Wick convence que realmente poderia matar cem homens sozinho se precisasse.

Um adendo sobre os diretores: acho legal notar os rumos que tomaram depois deste primeiro filme. Stahelski ainda se manteve fiel ao universo JOHN WICK. Dirigiu sozinho os três capítulos seguintes e provavelmente vai continuar nos próximos (se tiver). Há alguns anos anunciaram uma refilmagem do clássico oitentista HIGHLANDER comandada por ele. Vamos ver se sai… Já Leitch seguiu um caminho diferente como diretor (ele ainda tá na produção de todos os JOHN WICK), se meteu em outras franquias, como VELOZES E FURIOSOS: HOBBS AND SHAW (19) e DEADPOOL 2 (18), e tentou desenvolver seu próprio universo em filmes com um certo autorismo, como ATOMIC BLONDE (17) e BULLET TRAIN (22), sem os mesmos resultados deste seu primeiro trabalho aqui, embora eu tenha simpatia em algum nível por todos esse filmes dele.

JOHN WICK: UM NOVO DIA PARA MATAR (John Wick: Chapter 2, 2017), de Chad Stahelski

A rapaziada realmente levou à sério a lógica das continuações: maior, melhor e MAIS, tudo MAIS, MAIS… Sobretudo quando se trata de ação e da expansão desse universo, nota-se algo bem mais complexo do que um simples submundo de assassinos, envolvendo grandes corporações criminosas, o que inclui mais regras, mais acessos exclusivos a quem está abaixo dessa sociedade. Literalmente um mundo que se expande ainda mais.

E acredito que diz muito sobre o seu nível de consciência cinematográfica quando você começa o seu filme de ação projetando imagens de Buster Keaton na tela fazendo algum de seus stunts malucos no mesmo plano em que tá rolando uma puta perseguição de carro/moto… Não é a toa que o que se segue a partir daí não é apenas um dos melhores filmes de ação dos últimos anos, mas também um filme que pensa a ação, a estética da ação, de uma forma muito peculiar. Não é a toa que o diretor disso aqui seja Chad Stahelski. Enfim, este segundo filme já é uma obra-prima do gênero.

Melhor sequência de ação: Tem pelo menos umas quatro sequências aqui dignas de antologia, mas se eu tivesse que escolher apenas uma, acho que a última, no museu e sobretudo na sala dos espelhos, seria a escolhida, acho uma das experiências mais imersivas e cinéticas que tive numa sala de cinema (e que continua bem forte na TV, na revisão), além de ser outra prova da consciência de cinema do Stahelski… Clímax com espelhos já se tornou clássico, desde Orson Welles à Bruce Lee. E aqui é tão mágico quanto.

JOHN WICK: PARABELLUM (2019), de Chad Stahelski

É um filme que além de conseguir ser mais épico em sequências de ação, consegue também tirar umas abordagens mais filosóficas e psicológicas desse universo todo e da essência do seu protagonista, embora a narrativa se mantenha cristalina na sua simplicidade. Frequentemente fala-se sobre “consequência” neste terceiro filme, sobre a epifania que surge em John Wick de que sua aptidão em matar, seus instintos assassinos, tem um impacto crucial em sua alma, sem falar nas almas de muitos outros envolvidos, embora possamos admitir que para algumas pessoas seus destinos são irrevogáveis, obviamente. Se John Wick é o Baba Yaga, então seu destino está definido. Agora, se é um homem, então ele sempre tem uma escolha. Pra nossa sorte, suas escolhas até agora têm levado a um derramamento de sangue impressionante, um imersivo festival de sequências de ação realizadas pelos caras que mais entendem e respeitam o gênero na atualidade em Hollywood. E por aqui temos John Wick cavalgando enquanto luta contra motoqueiros em alta velocidade, combates de facas violentíssimos, tiroteios deflagradores, ataques de cães, Mark Dacascos e seus capangas dando um puta trabalho pro nosso herói… E Raramente uma carnificina é filmada com tanta elegância, com um visual tão cuidadosamente elaborado, cheio de luzes bonitas. É o perfeito o encontro da high-art com a vulgaridade da ação. Uma combinação que pra mim resulta no que existe de mais sublime no cinema, e que me faz amar tanto o gênero.

E convenhamos que não é tarefa muito fácil fazer continuações que se igualam ao nível de um filme antecessor, mas Keanu Reeves, Chad Stahelski e toda a turma responsável por isso aqui conseguiram duas vezes com sucesso.

Melhor sequência de ação: Eu fico na dúvida entre a sequência da Halle Berry com os cachorros, que é um primor de coreografia, além de ser muito divertida, mas definitivamente o tiroteio final com aquele exército invadindo o Hotel Continental praticamente de armadura é a que gosto mais, um troço tenso e enervante. E tem a participação do falecido Lance Reddick, usando uma shotgun que faz um belo estrago.

JOHN WICK 4: BABA YAGA (John Wick: Chapter 4, 2023), de Chad Stahelski

E aí depois de tudo isso, fui assistir ao novo no cinema. Só tenho a dizer o seguinte: se a coisa terminar por aqui e este for o último filme da série, já teremos uma das franquias de ação mais extraordinárias deste século… Em termos de ação, de GRAMÁTICA DA AÇÃO, pouca coisa se compara com esses quatro singelos exemplares impecáveis de tiro na cara, perseguições alucinantes e lutas, lutas de todo tipo, com punhos livres, facas e outros objetos cortantes, até um lápis… E BABA YAGA veio pra coroar a grandeza de tudo que envolve John Wick como cinema, como personagem, como universo, como narrativa e estética de filme de ação. É uma belezura. Ou posso apenas estar empolgado momentaneamente, mas acho difícil…

Aqui, os dois primeiros atos são, em grande parte, mais do mesmo. O que não é de forma alguma algo negativo, pois o mais do mesmo em JOHN WICK é muito bom, com alguns momentos geniais: tudo que envolve a participação de Scott Adkins, por exemplo, que tá brilhante aqui. Monstro! Donnie Yen, Sanada, Mark Zaror, Bill Skarsgård, Clancy Brown, Ian McShane, Lance Reddick (RIP), Laurence Fishburne… Baita elenco e estão todos ótimos. Keanu Reeves nem preciso mencionar, o sujeito é uma força da natureza.

Mas aí vem aquele terceiro ato… E aqui entra “Melhor sequência de ação:” deste novo filme.  O arco do triunfo; a homenagem à THE WARRIORS; Paint It Black; o plano sequência com a câmera no alto, digna de um Brian De Palma, acompanhando John Wick por cômodos numa casa abandonada, tocando o terror com uma arma que cospe fogo, literalmente; a escadaria da Basílica de Sacré Cœur… O que temos aqui é simplesmente algumas das sequências de ação das mais absurdas colocadas num filme de estúdio hollywoodiano. Neste momento, não tenho dúvidas em apontar que Chad Stahelski é o principal nome do gênero na atualidade.

Só posso dizer que é um grande dia para ser fã de filmes de ação.

30 anos de DRÁCULA DE BRAM STOKER

Outro dia tava revendo esse filme do Coppola que já tá completando três décadas. E, mais uma vez, fiquei maravilhado como da primeira vez que vi, quando era moleque, mais ou menos na metade dos anos 90… Essa sequência de abertura em especial simplesmente me deixa sem chão.

Podem dizer o que quiser, eu sei que quando se discute a carreira do Coppola, muita gente já enche a boca pra destacar a trilogia O PODEROSO CHEFÃO e APOCALYPSE NOW como as obras primordiais do homem. E provavelmente essas pessoas estão certas. Sobretudo APOCALYPSE NOW e O PODEROSO CHEFÃO – PARTE III são dois dos maiores filmes já feitos na história.

No entanto, é DRÁCULA DE BRAM STOKER (Bram Stoker’s Dracula, 1992) que certamente está entre as maiores realizações pessoais do diretor.

Na edição de novembro de 1992 da Fangoria – cuja capa se refere ao filme em questão como “O evento de horror da década!” – apresenta uma entrevista com o Coppola, que fala sobre sua tentativa de fazer um filme experimental a partir do romance de Bram Stoker, enquanto o estúdio queria um grande e luxuoso filme de terror de primeira linha. Coppola vinha de uma década de fracassos, não podia ficar de molecagem, mas o próprio filme demonstra que ele conseguiu algo. Ao final da entrevista, ele conclui:

A ironia é que mesmo que este filme não tenha sido tão experimental como eu planejei originalmente – eu consegui talvez 40 % do que eu queria – ainda não é um filme convencional. Certos aspectos dele escaparam de mim, ficaram maior do que eu pretendia; eu estava pensando em fazer uma versão menor, estranha e artística, e o que eu consegui é uma versão grande, estranha e artística.

Caso familiar de eventos na carreira de Coppola: a intenção de fazer um filme menor fugir de seu controle e se transformar em algo muito mais extravagante, épico e suntuoso… Nesse caso, porém, DRÁCULA acabou sendo um raro sucesso de sua carreira pós anos 70, em grande parte graças ao conceito estético da coisa. O homem de alguma forma convenceu um grande estúdio a trazer à vida uma visão experimental do horror para um público então desavisado, que achava que receberia uma super produção tradicional do gênero (e que foi bombardeado na época com uma massiva campanha de marketing), mas que acabou se deparando com um triunfo de vanguarda estética das mais radicais, barrocas, revolucionárias e inventivas no cinema mainstream americano.

E acho que é exatamente isso que mantém DRÁCULA tão vivo até hoje. Mesmo para quem nunca o assistiu e o ainda fará pela primeira vez (e por favor, se alguém aí ainda não viu, faça imediatamente), o que salta aos olhos de maneira instantânea são os mesmos elementos formais pelos quais o filme foi aclamado e premiado há trinta anos.

O sucesso é antes de tudo visual com uma das estéticas góticas mais extravagantes já vistas, um primor de direção de arte, fotografia, exuberância de cores, cenários, figurinos, composições visuais meticulosamente trabalhadas, montagem complexa, efeitos visuais ópticos à moda antiga, buscando mais pureza nas trucagens, na arte de fazer um cinema mais artesanal, com maquetes, teatro de sombras, maquiagens, sobreposição de imagens estilizadas… Ou seja, o que mantém a grandeza de DRÁCULA é esse esforço de Coppola em contar essa história em termos puramente visuais. São duas horas de um festival sensorial que sintetiza o cinema de horror como arte.

Coppola teria ainda delegado bastante responsabilidade ao seu filho Roman Coppola, que teria sido um dos cabeças dos efeitos especiais e também diretor de segunda unidade e que quase poderia ser descrito como um diretor não oficial de DRÁCULA. Tudo isso depois que Coppola demitiu a equipe original de efeitos especiais, que não conseguiu acompanhar as ideias artesanais que o homem queria pro seu filme.

Toda essa ideia de fazer efeitos especiais arcaicos é claramente uma forma de homenagear o próprio cinema e transcender suas inspirações, as outras grandes obras que adaptaram o mito de Drácula para a tela grande, desde os clássicos da Universal aos filmes da Hammer, mas também da poesia fantástica francesa com A BELA E A FERA, de Jean Cocteau. E, claro, NOSFERATU, de Murnau. Apesar de que ao mirar nesse filme do Murnau, Coppola parece ter acertado mais em FAUSTO. Quem assistiu aos filmes do alemão vai perceber…

Uma coisa que não lembrava tanto aqui é como o filme é intensamente erótico. Sexo e morte sempre andaram de mãos dadas no cinema de horror (especialmente quando se trata do subgênero “filmes de vampiro”), mas Coppola trabalha num nível quase fetichista de fantasias libidinosas. O encontro inicial de Jonathan Harker (Keanu Reeves) com as Noivas do Conde (entre elas uma jovem Monica Bellucci) é de matar um idoso do coração, com o leito dando lugar a corpos emergentes que se entrelaçam; bocas, línguas, braços, pernas, seios se encontram antes de Drácula enxotá-los, reivindicando para si o rapaz desnorteado.

A personagem de Lucy (Sadie Frost) nessa versão também dá uma alegrada, toda sapeca, rindo com Mina (Winona Ryder) depois de deixar cair uma cópia do Kama Sutra, antes de acariciar a faca de um de seus pretendentes, dizendo a ele que não pode acreditar o quão grande é. Na verdade, todos os principais temas que geralmente são suprimidos ou mascarados em versões antigas do mito de Drácula adaptadas para o cinema estão aqui de forma mais explícita: a estreita relação da maldição do vampiro com o sexo, AIDS, drogas, além do progresso da medicina, espiritualidade, religião, etc.

É fácil esquecer, dado o número de mudanças em centenas de adaptações que Drácula teve ao longo da sua existência, que não há uma única interação romântica entre o personagem título e Mina Harker no romance de Stoker. O Conde não tem nenhum interesse nela, além do desejo de se banquetear com seu sangue e transformá-la em uma de suas noivas. Ela é apenas a vítima de um predador;

Mas aqui o olhar de Drácula é a de um amante. De repente, não estamos mais assistindo as façanhas de um monstro sem alma, mas sim um espírito assombrado, alimentando desesperadamente sua jornada através de épocas para alcançar o destino de possuir aquela que ele perdeu há muito tempo.

E a história de amor entre Drácula e Mina, apesar de cafona, até que é boa de acompanhar, com alguns momentos tocantes, como o primeiro encontro dos dois, seguido da cena no cinema; ou a sequência em que Mina se entrega ao sujeito e bebe seu sangue. Coppola realmente conseguiu fazer do personagem um indivíduo trágico através desta história e causar um sentimento misto, no qual queremos tanto vê-lo perecer por seu lado maligno quanto em reencontrar o seu amor.

Sobre o elenco, A primeira coisa que as pessoas costumam lembrar para difamar o filme é, claro, a atuação de Keanu Reeves como Harker. Sabe-se que Coppola queria Johnny Depp para o papel, mas o estúdio não achava que ele tinha o nome forte o suficiente na época. O próprio Reeves diz que não gosta de sua atuação aqui, vinha de uma série exaustiva de trabalhos e quando filmou DRÁCULA estava esgotado, não conseguiu entregar algo melhor. Mas não acho que chega a prejudicar, embora não seja mesmo das suas melhores performances.

Mas para além disso, curto praticamente todos os rostos que aparecem por aqui, especialmente Anthony Hopkins, obviamente, no papel de um Van Helsing divertido e astuto.

Outros destaques do elenco incluem Tom Waits interpretando Renfield como um comedor de insetos, e Sadie Frost, que, como já falei, assume o papel de Lucy, personagem tipicamente ingrato da melhor amiga da protagonista, que Drácula seduz primeiro, mas que aqui acaba tornando algo especial. É uma das minhas personagens favoritas do filme.

E enquanto isso, a própria personagem Mina não exige tanto de Ryder na maior parte do tempo. Ela tá ótima, mas acho suas outras performances do período muito mais interessantes…

É Gary Oldman, porém, quem rouba o filme e seus talentos camaleônicos são perfeitos para o Drácula como concebido aqui. Conseguindo atuar de forma convincente através dos vários designs complexos de maquiagem, Oldman é igualmente expressivo como um Drácula idoso decrépito, um jovem galã vitoriano ou um morcego de 1,80 m de altura. Suas cenas românticas com Ryder lembram aqueles livretos de banca, Harlequin, A Paixão de Jéssica, O Moinho do Amor, coisas do tipo, mas ele é persuasivo o suficiente para que, quando expõe seu peito e rasga um teco para Mina beber seu sangue, seja possível perceber que ela realmente tá a fim do cara.

É provável que DRÁCULA tenha sido um dos primeiros de uma onda de filmes de vampiros dos anos 90, como ENTREVISTA COM O VAMPIRO, que adotaram uma abordagem gótica, sombria, mas ao mesmo tempo romântica, que atraíam o público jovem do período.

Anos depois, é fácil traçar uma linha desse tipo de filme até, sei lá, a série CREPUSCULO, embora os fãs de DRÁCULA provavelmente zombem dessa comparação. A verdade é que eles exploram as mesmas fantasias. Porém, é muito provável que em comparação com a sexualidade casta de Stephanie Meyer, o filme de Coppola é praticamente pornográfico… Pessoalmente, nunca vi esses filmes dessa saga.

Enfim, a única parte negativa disso tudo é notar é que este aqui foi o último grande filme do diretor. Coppola até possui vários ótimos trabalhos depois, como TETRO, mas nada que chegue aos pés de DRÁCULA. E lá se vão trinta anos…

THE MATRIX REVOLUTIONS (2003)

Minhas impressões da revisão de THE MATRIX REVOLUTIONS são meio malucas. Se por um lado eu consigo identificar tudo que desagradou os fãs na época (eu incluso), por outro já não me importei com nada e simplesmente embarquei nessa tragédia shakespeareana misturada com uma viagem pseudo-cyber-filosófica-espiritual cheia de ação épica… Achei um filme fascinante.

O grande problema pra mim desta vez foi bem diferente do que senti quando vi THE MATRIX REVOLUTIONS no cinema há quase duas décadas. Eu só queria que aquela bobagem toda acabasse o mais rápido possível…

Nesta revisão, não sei explicar porquê, acontece justamente o contrário. Eu queria mais e mais, eu queria uma série pra TV com vinte temporadas explorando a riqueza visual/espiritual/filosófica de THE MATRIX, eu simplesmente fiquei maravilhado e queria mais!

E, bom, as Wachowski se arriscaram pra caramba pra concluir essa bagaça. THE MATRIX tava no coração da moçada, quase todo mundo tinha curtido, tinha sua importância dentro dos blockbusters hollywoodianos, então este terceiro filme era muito aguardado. E elas vão lá e, PIMBA! não entregam nada daquilo que o público queria! Hahaha!

Convenhamos que o encerramento de uma série dessa magnitude nunca vai agradar todo mundo mesmo que tivessem feito “o básico”.

Mas THE MATRIX REVOLUTIONS acabou sendo uma aula de como subverter as expectativas do público e até mesmo de narrativa: por exemplo, colocando a tão aguardada batalha de Zion, dos homens contra as máquinas, no meio do filme, sem sequer contar com a presença do protagonista. Forçando toda a solução das suas questões filosóficas entregues numa única luta de tirar o fôlego entre Neo (Keanu Reeves) e o Agente Smith (Hugo Weaving).

A batalha de Zion é um esplendor que mal tenho palavras para descrever. Não lembro muito o que senti há quase vinte anos quando vi pela primeira vez, na tela grande, mas como não curti na época, é bem capaz de não ter achado grandes coisas.

Hoje foi bem diferente. São praticamente 30 minutos de espetáculo sensorial de ação de tirar o fôlego, que tem um peso poderosíssimo e uma sensação insuportável de ameaça, realmente convence – mesmo que por um momento – de que tudo está realmente fodido e que a humanidade vai ser extinta.

As irmãs Wachowski têm uma excelente percepção de onde colocar a câmera na ação. Os enquadramento nunca são óbvios, as figuras são milimetricamente posicionadas no quadro, um pouco distorcidas para ganhar movimento, apenas o suficiente para proporcionar um prazer visual que não é comum. A edição também é sólida: em nenhum momento a geografia é confusa ou incoerente.

E as cenas de artes marciais são compreensíveis. O que nos leva à luta entre Neo e Smith, toda belíssimamente construída, com quadros que remetem a um duelo de faroeste. Começa com os dois sujeitos em extremos opostos de uma longa rua, enquanto gotas de chuva os encharcam, entre duas filas de cópias do Agente Smith. É sublime.

Neo e Smith trocam algumas palavras antes de dar tudo de si numa briga de proporções épicas que carrega aquele aroma de inevitabilidade, como diria o Agente Smith.

Há uma outra sequência de ação que é menos lembrada do que esses dois mastodontes que citei aí em cima, mas que ainda impressionam: a que Morpheus (Laurence Fishburne), Trinity (Carrie-Ann Moss) e Seraph (Collin Chow) trocam tiros com uns caras que literalmente andam no teto do cenário… É uma dessas pequenas joias dentro do filme que também provam a maestria das Wachowski na condução da ação.

Mas uma das coisas mais importantes pra mim por aqui é como a coisa se resolve dentro de sua própria lógica filosófica de boteco e religiosidade de fundo de quintal (é quase uma versão sci-fi de passagens bíblicas), deixando um monte de ponta solta, um bocado de perguntas sem resposta, tudo tão aberto, pra desespero dos fãs.

Mas que ao mesmo tempo toca no fundamental: o nível de sacrifício exigido de seus personagens em algo reconhecidamente humano, fazendo-nos sentir o custo mortal por trás das figuras e feitos que se tornam lendas. Se THE MATRIX RELOADED rejeita os mitos que alimentamos, THE MATRIX REVOLUTIONS nos mostra como novos mitos são criados.

Enfim, depois dessa revisão, agradeço às Wachowski por não terem realizado algo pra agradar os fãs (não é mesmo, Disney?).

Passei tempo demais sem revisitar esse universo, deveria ter feito antes e mais vezes e redescoberto essa maravilha que é toda a saga THE MATRIX, especialmente se olharmos agora e percebermos que não tivemos nada remotamente parecido no gênero como essa trilogia desde então em Hollywood.

Que me perdoem os fãs da Marvel Cinematic Universe, mas todos os seus trocentos filmes juntos não dão nem pro cheiro que é a trilogia THE MATRIX.

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Quero saber as impressões de vocês. O que meus cinco leitores acham da trilogia THE MATRIX? Não deixem de comentar na caixa de comentários aqui do blog, ou no facebook, Twitter, Instagram… Bora papear.

THE MATRIX RELOADED (2003)

Pois, inspirado pelo último post, resolvi rever os outros dois exemplares da trilogia THE MATRIX de uma vez. Eu já esperava gostar de THE MATRIX RELOADED, novamente dirigido pelas irmãs Wachowski, até porque tinha lembranças vívidas de algumas sequências de ação e que confirmaram o nível de qualidade nessa revisão (uma em específico é uma obra-prima).

Então, acabou que não foi nenhuma surpresa me deparar com um filme tão maneiro. E obviamente a ação é importate… Crucial, eu diria – como verão à seguir – mas me interessou bastante tudo aquilo que o filme se propõe como continuação.

Na verdade, THE MATRIX RELOADED é bem funcional como capítulo intermediário e só faz sentido acompanhado dos outros dois. É quase impossível entender alguma coisa sem ver o seu antecessor e conferir logo em seguida o encerramento da bagaça, THE MATRIX REVOLUTIONS (que foi lançado no mesmo ano, alguns meses só de diferença, em 2003).

Não que a trama seja tão complexa ou difícil de acompanhar, mas toda a gama filosófica de mesa de bar do primeiro filme precisa estar na mente para perceber os seus desdobramentos por aqui. Nada muito complicado, mas que torna-se incompreensível se falta a parte inicial e fica incompleta sem o desfecho.

Então, pra que que serve MATRIX RELOADED?

Olha, eu poderia até dar uma resposta mais detalhada, explicar que serve pra expandir o universo do primeiro filme, explorar os personagens e até mesmo se aprofundar nos seus conceitos que agora transcendem as questões cyber filosóficas para se tornar algo mais energia-espiritual-budista e blá blá blá… Mas não.

A única coisa que eu consigo pensar como razão deste filme existir é pelo espetáculo sensorial do segmento de ação “da rodovia”. Sabem qual é? Sabem do que tô falando?

Tudo que rodeia esses momentos frenéticos, tudo que vem antes ou depois dessa pancadria, perseguições, tiros e explosões que são a matéria prima dessa sequência, só serve de pretexto para esse segmento em específico acontecer diante dos nossos olhos. Não tenho dúvida alguma de que é uma das melhores sequências de ação do século.

Então minha resposta é essa. Pra que serve MATRIX RELOADED? Pra isso:

Toda essa construção, essa sucessão de acontecimentos, é simplesmente do caralho! Eu perdi a noção do tempo, mas devem ser uns quinze minutos de ação frenética ininterrupta.

Começa com um kung fu de Neo (Keanu Reeves) contra uns sujeitos numa espécie de chateau, desce pra uma garagem com os Gêmeos que viram fumaça, dando um trabalho do cão pra Morpheus (Laurence Fishburne) e Trinity (Carrie-Ann Moss) e o barraco acaba indo parar numa perseguição alucinante de carros, caminhões, viaturas de polícia, moto na contra-mão, com gêmeos-fumaça e os agentes da Matrix (aqueles caras fodões de terno e gravata do primeiro filme) perseguindo Morpheus, Trinity e um tal chaveiro numa rodovia de alta velocidade lotada de veículos.

A coisa termina quase num orgasmo com uma luta entre Morpheus e um dos agentes (vivido por ninguém menos que o grande Daniel Bernhardt, o sub-Van Damme dos anos 90, protagonista das continuações de O GRANDE DRAGÃO BRANCO e o petardo bad movie O GRANDE DRAGÃO DO FUTURO) em cima de um caminhão em movimento… Ufa! É o fino da grosseria!

Tudo lindamente bem filmado e coreografado pelas Wachowski. E os efeitos especiais até hoje impressionam… Honestamente, é essa sequência que faz valer o filme. Eu não queria mais saber das armações políticas em Zion, do ataque das máquinas no “mundo real”, do romance entre Neo e Trinity, se o Oráculo tava certa ou errada, ou pra que caralho serve o tal chaveiro. Eu queria simplesmente viver naquela sequência de ação por, sei lá, mais duas horas… Um clássico.

Sobre o restante de THE MATRIX RELOADED, é tudo o que se pode esperar de uma continuação para uma obra tão pop e cultuada do cinema da virada do milênio. Uma aventura de ficção-científica à altura de seu antecessor – apesar do fator novidade não existir mais aqui – mas que exige atenção do espectador e entretém com categoria.

Na trama, finalmente vemos Zion, a tal cidade do mundo real – e que rola umas raves hippies muito loucas sem qualquer motivo, a não ser mostrar corpos suados e com pouca roupa em movimento, ao som do batidão, o que pra mim tá bom…

Ficamos sabendo que as máquinas estão avançando em direção à cidade, cada vez mais perto de aniquilar os últimos 250 mil homens, mulheres e crianças da Terra, e é praticamente inevitável o confronto homem vs máquina.

A turminha Morpheus, Neo, Trinity e Link (Harold Perrineau) chegam na cidade. Personagens vão se apresentando, se reencontrando… O ritmo do filme é bem lento nesse início, com todas essas informações sendo lapidadas, com direito até a “reuniões de conselho” onde discute-se alguma coisa que parece importante (estilo Guerra Nas Estrelas). Rola até um Neo & Trinity fazendo saliências

Não sabemos ainda como Neo vai salvar a humanidade. Nem ele, na verdade, mas continua sua jornada de descobertas com o apoio de Morpheus e Trinity. Talvez a grande revelação do filme aconteça na sequência que Neo encontra o Arquiteto (Helmut Bakaitis) e descobre-se a existência de outros “Neo’s” e que ele na real não tem escolha alguma, a não ser seguir o que lhe foi determinado desde o princípio pelas máquinas.

Seu destino é jogar um jogo dentro dos termos já estabelecidos, o que é uma baita quebra de expectativa do que a rapaziada almejava pras continuações considerando o final do primeiro filme. Motivo pra ter deixado muita gente puta na época, o que já prova que foi a escolha certa das Wachowski.

Temos uns outros personagens novos, Jada Pinkett-Smith, Monica Belucci e Lambert Wilson, como Merovingian, importante pra trama. O Chaveiro também é crucial – mas que no fim das contas só serve mesmo para ser jogado de um lado para o outro na tal épica sequencia de ação.

Mas dessa nova galeria de figuras, os melhores pra mim são os tais Gêmeos, capangas do Merovingian, que tem por trás tem aquele conceito incrível de se transformarem em fumaça, em fantasmas, sei lá… Só sei que é massa!

Outro ponto a destacar é a presença de Hugo Weaving, o agente Smith, que ressurge com novos propósitos após sua “libertação” no final do primeiro filme (à princípio imagina-se que ele foi destruído por Neo). No entanto, só vamos entender totalmente seu arco em THE MATRIX REVOLUTION. Aqui em RELOADED sua participação ficou marcada pela sequência de pancadaria entre Neo e múltiplos Agentes Smith.

É outro momento de ação bem legal que até nessa revisão me surpreendeu, especialmente enquanto vemos atores e dublês, de carne e osso, atuando e encenando as coreografias. Quando entram em cena os bonecos de CGI rodopiando a coisa fica fake demais, parece jogo de Playstation 2, envelheceu mal pra caralho… Mas ainda gosto bastante, acho que faz parte do charme que essa cena possui.

É tudo muito divertido, barulhento e muito bem feito, até para os padrões atuais de cinema espetáculo de sci-fi/ação. Muito melhor e mais autoral, por exemplo, que qualquer filme da Marvel feito nos últimos quinze anos.

Foi realmente uma revisão proveitosa. Algum momento mais lento aqui, outro mais chato ali, especialmente no primeiro terço do filme. As cenas em Zion se demorassem mais um pouquinho iam me perder… Mas uma vez que a intensidade do ritmo aumenta e a ação entra pra valer, THE MATRIX REALOADED cresce muito. Um filmaço.

Em breve comento o que achei de THE MATRIX REVOLUTION. Vou deixar no suspense…

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E vocês? Há quanto tempo não assistem à trilogia? E o quais as suas impressões sobre a série da primeira vez que viram e nas revisões? Deixem aí uns comentários pra eu saber.

THE MATRIX (1999)

Escrevi esse textinho no início do ano passado, em 2019, exatamente vinte anos após o lançamento de THE MATRIX, para o extinto Action News. A minha intenção era rever toda a trilogia, como podem perceber no final do post… Como na época acabei revendo apenas este primeiro, vou republicar aqui no blog pra ver se animo finalmente revisitar os outros dois. Até porque um quarto filme vem aí…

Primeiro, é preciso ter consciência de que já se passaram vinte anos que THE MATRIX foi lançado e se tornou um fenômeno pop cultural, celebrado como um filme inovador em vários aspectos – revolucionário em termos de efeitos especiais e ação, e carregado de filosofia pós-moderna cibernética e blá, blá, blá. Mas e hoje? Como é ver THE MATRIX hoje? Muita coisa mudou de lá pra cá. O mundo vivia às vésperas da virada do milênio, a era da informática se iniciava, tudo o que apresentava em termos de comunicação e internet parecia tão distante da realidade; eu era um adolescente que peguei o VHS numa locadora e assisti, no mínimo, nove vezes antes de devolver rebobinado… Até as diretoras do filme, as irmãs Wachowski, ainda eram chamadas de irmãos Wachowski naquela altura… Sim, muita coisa mudou.

Resolvi encarar o filme de novo. Hoje. E se tem algo que NÃO muda é o fato de THE MATRIX ainda manter sua força em certos quesitos: alguns conceitos premonitórios, o visual cyberpunk que parece uma novela de William Gibson ganhando vida, e o fato de ser um cânone do cinema de ação na virada do século. Não dá pra conversar sobre cinema de ação do período sem que alguém cite Neo (Keanu Reeves) desviando de balas, com a câmera girando em slow motion, que ficou conhecido como “bullet time”, um tipo de cena que foi abusada à exaustão nos anos seguintes, mas que aqui ainda impressionava, era novidade; ou Neo encarando o agente Smith (Hugo Weaving) num metrô abandonado; Salvando Trinity (Carrie-Ann Moss) de um helicóptero em queda; ou enfrentando Morpheus (Laurence Fishburne) num treinamento de Kung Fu (cujo coreografo das cenas de luta foi o lendário Yuen Woo-ping)…

Lembro que na época era um filme considerado difícil de entender entre a molecada que tentava encarar a jornada do hacker Neo com mais prudência, prestando atenção no seu conceito filosófico. E toda a trama que envolve um mundo real e outro virtual, questões de livre arbítrio e identidade do indivíduo, e até um elemento religioso, com a concepção do “escolhido”, que volta para salvar o mundo, bagunçava mesmo a cabeça de um mancebo no final dos anos noventa que mal tinha entrado na internet na vida e só queria ver uns tiros, porrada e bomba. A trama nem era tão original assim, e depois foram se revelando vários filmes anteriores que tinham premissas similares.

É aquilo, THE MATRIX é a definição perfeita do que Hollywood costuma promover como algo “novo”, mas que acaba sempre sendo mais do mesmo… só que diferente.  Quem já tinha assistido na época filmes como EXISTENZ, do Cronenberg, DARK CITY, do Proyas, e O 13º ANDAR não deve ter visto nenhuma novidade por aqui, exceto a ação eletrizante, numa intensidade de encher os olhos, e que realmente tinha uma proposta inventiva. Mas era o tipo de filme que, de certa forma, nos levava a refletir, a fazer as perguntas sobre questões da vida sem conseguir obter respostas muito concretas.

Mas o que realmente encantava e, curiosamente, ainda encanta nessa revisão, é como THE MATRIX é divertido pra cacete! Quero dizer, se tu não tá a fim de ficar esquentando os miolos com os elementos filosóficos, ao menos temos aqui uma história cheia de momentos que te prendem na cadeira sem tirar os olhos da tela. Ou, basicamente, temos Keanu Reeves lutando, correndo, pulando, atirando, etc, por duas horas. “Eu sei kung-fu.” Esse tipo de coisa nunca envelhece. E obviamente é sempre importante destacar os efeitos especiais seminais, que realmente surpreendiam na época. Mesmo que em alguns momentos tenham ficado datados, mas faz parte. Tudo somado, THE MATRIX é um filme de ação sci-fi inteligente, com uma filosofia de boteco que tem seu charme. É frenético, bem dirigido, com momentos e personagens icônicos que ainda fascinam, um visual interessante, enfim, continua incrível.

Depois de THE MATRIX, as Wachowski criaram muito barulho com a expansão do universo do filme. Vieram as animações compiladas em ANIMATRIX e terminou numa das trilogias mais célebres da primeira metade dos anos 2000’s. Para alguns. Extremamente decepcionante para outros… Eu incluso. Até tenho boas memórias de RELOAD. No entanto, REVOLUTIONS era simplesmente intragável. O legal é que quase tudo desse período revelou-se bons filmes em revisões recentes. E é gratificante quando isso acontece, adoro mudar de opinião e descobrir maravilhas de coisas que eu detestava. Por isso vou rever o restante da trilogia. Volto pra falar se melhoraram com o tempo ou se ainda são as porcarias que tenho na memória…

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E termino esse post com essa imagem maravilhosa das filmagens de THE MATRIX 4, que poderiamos ver mais cedo, mas graças à pandemia só será lançado em 2022. A Lana Wachowski parece feliz em dirigir mais um capítulo dessa saga…

THE NEON DEMON (2016)

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Gosto do cinema do Nicolas Winding Refn desde VALHALLA RISING, que é uma boa representação do que podemos chamar de “estilo” do sujeito. Mas o que tenho reparado é que as pessoas esperam sempre um novo DRIVE. Claro, também acho sensacional, um dos melhores filmes da década até agora (e meu favorito do homem), mas embora tenha muito a mão do dinamarquês, é uma obra muito bem equilibradinha nos pólos forma x conteúdo. Só que isso não é bem Refn. Não vou entrar nos méritos dos filmes antes de 2010, mas Refn nunca foi comercial. Ele é frio, leeeeeento, é atmosfera e ambiente, composições kubrickianas, cores e estética, personagens que fazem pose, poucos diálogos, sem muita explicação narrativa, carrega aquela merda toda de simbolismo e um monte de coisa estranha acontecendo, e você tenta entender isso tudo, interpretar, mas fica frustrado e prefere desfrutar como uma obra surrealista, poética e autoral, mas que funciona de forma literal também, porque… Bem, às vezes um charuto é apenas um charuto, como dizia Freud. Ou seja, é tudo que eu detesto em vários diretores atuais, mas que no caso do Refn me fascina de uma maneira singular… Refn é isso, é VALHALLA RISING, ONLY GOD FORGIVES e, agora, THE NEON DEMON.

Enfim, THE NEON DEMON é uma fábula para adultos sobre o universo cruel da moda, dos corpos magricelas de modelos que parecem meninos de 12 anos desnutridos, um padrão da beleza perfeita da atualidade. Sou muito mais uma gordinha, mas isso é outra história. “Beauty isn’t everything. It’s the only thing“, diz um dos personagens numa das falas mais simbólicas do filme. É no meio disso tudo que entra a inocente Jesse (Elle Fanning), uma aspirante a modelo que possui uma aura sobrenatural de encantamento que ao mesmo tempo em que tem sua acensão garantida pelo efeito que provoca com sua “beleza perfeita”, é também envolvida por todas as merdas que esse meio sórdido carrega. Mau pra moça, bom pra nós que acompanhamos a coisa toda se degradando pra ela. Não vou entrar em detalhes, só digo que a faceta violenta do Refn não dá moleza por aqui. E à medida em que a coisa caminha para o desfecho, THE NEON DEMON toma proporções épicas de bizarrices.

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E não importa o quão repugnante são as situações, Refn filma tudo com a maior elegância e beleza possível. O grotesco é lindo em THE NEON DEMON. Fica bem claro pra mim que a única preocupação de Refn é com estética, cores, enquadramentos simétricos, a beleza das imagens em detrimento à própria narrativa, o que causa certa frieza e desconforto, mas que condiz perfeitamente com o universo do filme, e aí cito de novo o que aquele personagem diz: “Beauty isn’t everything. It’s the only thing“. Tudo bem pra mim, gosto de apreciar o espetáculo visual/sensorial de Refn. THE NEON DEMON é um filme para se ver, ouvir e sentir. Se tá tudo bem pra você também, então vai saber apreciá-lo.

Sobre THE NEON DEMON dialogar com o horror – na verdade foi anunciado como tal – quem conhece o Refn sabe que um filme de Vikings nunca vai ser só um filme de Vikings (VALHALLA), um car chase movie nunca será um car chase movie (DRIVE) e um kickboxer movie nunca vai ser um kickboxer movie (ONLY GOD) nas suas mãos, apesar de trabalhar com todos os elementos tais quais os gêneros estabelecem. THE NEON DEMON até possui vários ingredientes para saciar os fãs do horror, mas o estilo autoral do sujeito deve espantar o espectador “comum”. Em termos de história o filme nunca transcende o superficial, pelo menos não na forma convencional ou para aqueles que esperavam um novo DRIVE. Sobre o elenco, só tenho a dizer que o desempenho de Fanning é bem bom, assim como a de todo o elenco de desconhecidos. Já o Keanu Reeves tá sensacional e se destaca em todos os momentos em que aparece. E pra finalizar, descobri que justamente hoje é aniversário do Refn. Felicidades, man, e continue fazendo filmes sem concessões.