FORÇA CRUEL (1982)

Por trás de um título nacional meio genérico como FORÇA CRUEL (Raw Force) esconde-se uma pequena preciosidade do cinema exploitation americano-filipino oitentista que precisa urgentemente ser redescoberto. Na verdade, tenho certeza que todos vocês já, no mínimo, ouviram falar ou leram sobre esse petardo. Se não, agora é a hora. E não se preocupem, podem acusar o filme de qualquer coisa, mas genérico é algo que ele não é.

Na trama, um grupo de praticantes de artes marciais embarca numa aventura num pequeno cruzeiro pelo Pacífico, pros lados das Filipinas, que promete ser, digamos, muito agradável. A começar pelo capitão da embarcação ser interpretado por ninguém menos que Cameron Mitchell.

Exibições de artes marciais, uma paradinha na cidade pra compras, bar de striptease, bordéis e uma festinha em alto mar cheia de moças de topless são alguns atrativos. O básico de um bom cinema de exploração. Mas um dos principais destaques desse passeio é visitar uma tal Ilha do Guerreiro, que dizem ser local sagrado, onde grandes mestres das artes marciais estão enterrados. Só alegria.

Outra atividade local é ser um ponto de operação de tráfico de mulheres em troca de pedras de jade entre um sujeito com bigodinho de Hitler – e seus capangas motoqueiros nazistas – com uma ordem de monges canibais que acredita ter o poder de ressuscitar os mortos ao comerem carne das jovens.

Eventualmente, toda essa rapaziada acaba na Ilha do Guerreiro, onde acontece uma batalha envolvendo os turistas das artes marciais, os traficantes nazistas de mulheres, os monges canibais e até os zumbis guerreiros que estavam enterrados ali e que ganharam vida novamente…

Sim, FORÇA CRUEL é tão bom que parece uma produção do Roger Corman ou dirigido pelo mestre do cinema grindhouse filipino Cirio H. Santiago.

Mas essa impressão tem força sobretudo pela presença de atores como Vic Diaz, que tá em quase tudo que o Cirio H. Santiago fez, e Jillian Kesner, que estrelou o clássico FIRECRACKER, que comentei por aqui há um tempinho. No entanto, FORÇA CRUEL não tem nada de Cirio nem do Corman (exceto por algumas imagens de arquivos das paisagens filipinas que a New World Pictures, do Corman, forneceu para esta produção), mas pra quem espera encontrar uma série de elementos típicos do cinema de exploração filipino que esses caras faziam nesse período, numa trama que só serve a este pretexto, o diretor estreante Edward Murphy nos entrega tudo particularmente bem.

Um monte de coisa bizarra tá incluída no cardápio como podem ter notado na sinopse. É até difícil listar a quantidade de absurdos; e mesmo sendo um filme que não necessariamente brilha por sua coerência narrativa, sabe trabalhar os elementos que agradam o seu público específico. E o essencial: com um ritmo que nunca diminui. Uma verdadeira metralhadora dos ingredientes do cinema grindhouse, com a total negligência assumida por um realizador que sabe muito bem que o seu filme não é uma obra-prima.

Mas é quase lá, dependendo do seu bom gosto pra cinema.

Tudo é realmente pensado para deixar as coisas boas que o cinema de exploração tem a nos oferecer. E, o melhor, com humor, sem se levar muito à sério – basta a longa sequência da festinha no barco, que tem o tom das melhores comédias oitentistas, cheia de personagens e situações cômicas pra gerar boas risadas – mas sem nunca tentar parecer um filme bobo. É tudo bem consciente, bem escrito… Er… “Bem escrito” é uma expressão forte, mas tudo funciona tão bem…

Até teria sido fácil tentar fazer uma espécie de autoparódia de, sei lá, filmes de artes marciais em ilhas exóticas. Mas paródias são geralmente muito menos divertidas da coisa real, consciente, que é o que temos em FORÇA CRUEL. Existe uma linha tênue entre maluquice e estupidez, e Edward Murphy é um maluco de primeira linha. O filme inteiro é uma coleção de momentos genuínos de humor, com diálogos que são autênticas pérolas, várias situações com um toque de comédia involuntária, tudo misturado a instantes absurdos de violência e gente pelada. E é o que torna isso aqui simplesmente mágico.

No quesito ação, temos MUITAS sequências de pancadaria, que são decentes até certo ponto. As pessoas lutam em todo lugar – clubes de striptease, cemitérios, barcos – você escolhe. A parte do ataque à embarcação, logo depois da festinha, é bem divertida, tem até alguma coreografia e certa criatividade, é uma das melhores do filme, com destaque para a sequência que uma moça completamente nua está amarrada numa cama, num quarto apertado, enquanto rola uma pancadaria à sua volta.

A ação que acontece no cemitério, já na tal ilha, é outro petardo dentro do filme, cheia de momentos notáveis. E, claro, a ação final, quando os zumbis samurais, ninjas e guerreiros de todas as espécies pintados de cinza aparecem pra dar trabalho para os nossos heróis fecha o filme lá em cima, com chave de ouro. É tudo muito doido, mas que faz valer a experiência de assistir algo único como FORÇA CRUEL.

Temos um elenco divertido para apreciar. Um monte de gente que não conheço, mas que parecem estar se divertindo; temos a já citada Jillian Kesner, que é boa de porrada… Mas nada se compara com o grande Cameron Mitchell marcando presença bem mais que o habitual nesse período, mostrando todo seu entusiasmo, claramente embriagado em todas as cenas que aparece. O grande Vic Diaz também se destaca como monge malvado. E por ser um monge malvado ele ri muito. Por quê? Não faço a menor ideia, mas toda vez que ele faz isso é fantástico. E Ralph Lombardi tá bem engraçado como o Hitler fake, com seu terno branco, sotaque ruim e o olho trêmulo sequestrando mulheres filipinas nuas…

Sem grandes arcos dramáticos, redenções, estudos sociais, filosóficos, psicológicos, contextos políticos… FORÇA CRUEL é apenas uma bagunça majestosa em forma de filme. Quero dizer, é uma obra que apenas joga tudo o que é possível no liquidificador e o resultado é fascinante, um épico do mau gosto cinematográfico que funciona lindamente para paladares finos que apreciam cinema exploitation. Só faltou uns robôs, alienígenas e vampiros saltitantes.

Obviamente FORÇA CRUEL não é recomendável ao cinéfilo brioche que só assiste Truffaut e Bergman… Mas os apreciadores de uma tralha vão aproveitar este festival de nudez, violência e várias bobagens que ele proporciona. O único problema grave é que o filme termina com um letreiro dizendo que teria uma continuação. nunca aconteceu, o que é uma pena…

Netflix: ARMY OF THE DEAD (2021)

Nada contra o Zack Snyder, ainda tenho curiosidade e perco meu tempo vendo os filmes que lança. Mas já faz um bom tempo que o sujeito não faz algo que presta. Lembro que curti WATCHMEN (carece de revisão) e desde então pouca coisa salva… Só aí já passa de uma década. O último embuste foi o tal Snyder Cut da LIGA DA JUSTIÇA, 4 horas da minha vida jogadas no lixo. Mesmo assim, resolvi encarar seu novo trabalho, a mega-produção da Netflix ARMY OF THE DEAD, que me deixou até animado, prometia, pelo trailer, ser uma espécie de ONZE HOMENS E UM SEGREDO com zumbis, um conceito bacana e, enfim, achei que pudesse render algo interessante também por ser o retorno do Snyder ao subgênero zombie movie, já que seu primeiro filme é o bom remake de DAWN OF THE DEAD, de George A. Romero.

Assisti a ARMY OF THE DEAD, portanto, na firmeza, de coração aberto, sem preconceito. Não deu outra: é mais um exemplar decepcionante do cara, mais um filmeco todo errado… Saudades de WATCHMEN.

Depois que um surto de zumbis infecta Las Vegas, a cidade inteira é cercada e a zumbizada vive de boas lá dentro. Ninguém entra, ninguém sai. Mas a trama é sobre o ex-herói de guerra interpretado pelo grandalhão Dave Bautista, que é contratado pelo dono de um cassino bilionário, vivido Hiroyuki Sanada, para montar uma equipe com a missão de ir a Vegas infestada de zumbis, entrar no cofre de seu cassino e retirar $200 milhões de dólares que ficaram lá. É tudo dinheiro extra, o seguro já cobriu as perdas do ricaço. Ele só quer tirar um a mais… Mas será realmente só isso? O tempo torna-se uma questão essencial: o presidente dos EUA ordenou, sabe-se lá porque, que Vegas fosse varrida do mapa com uma bomba nuclear em quatro dias – quando seria exatamente 4 de julho… Acho que o Trump ainda estava no cargo no universo que o filme se passa.

Durante um tempinho o filme consegue dar aquela enganada e mantém o interesse – o prólogo e créditos iniciais são ótimos; a ideia de que toda a merda da infecção de zumbis se dá por conta de um boquete é engraçada; temos o tigre zumbi de Siegfried & Roy; e Snyder não economiza na hora da ação e violência. Mas ARMY OF THE DEAD tem 146 minutos de duração e simplesmente colapsa num amontoado de personagens, subtramas, clichês estúpidos, situações idiotas e escolhas que tornam o filme intragável (toda e qualquer situação envolvendo a personagem da filha do Bautista, por exemplo, tira qualquer possibilidade desse filme ser bom).

Há uma sequência que Snyder atinge os extremos, vai do céu ao inferno, da excelência à mediocridade, quando certa personagem rodeada de zumbis precisa agir para sobreviver, numa sequência de ação excepcional (prova que o diretor, quando quer, manda bem), para logo em seguida, essa mesma moça acabar encurralada, sem escapatória e sem ajuda, mesmo com os companheiros a 1,5 metro de distância, podendo atirar nos zumbis. Em vez disso, os caras ficam olhando ela morrer. Eu confesso que fiquei sem entender… O filme mostra de forma clara que os amigos dela estavam literalmente a poucos metros dela e não fizeram nada. Que troço idiota. Até aqui ARMY OF THE DEAD ainda parecia, no mínimo, decente. Mas depois dessa cena, a coisa foi ladeira abaixo.

Por exemplo, há momentos de ARMY OF THE DEAD que prenunciam coisas legais, mas que acabam frustrando as expectativas simplesmente porque… porque sim. Em determinada cena, ficamos sabendo que todos os zumbis mortos queimados voltam à vida quando chove. Ah, então vai ser incrível, quando chover mais tarde e houver uma enorme horda de zumbis! Isso nunca acontece… Temos esse personagem que carrega uma serra circular gigante? Vai ser maneiro vê-lo fatiar zumbis! Não, isso não rola também. Então vamos arriscar TODA a missão para salvar essas moças das quais ninguém dá mínima para o gran finale do filme? Aposto que vai ser frenético e épico, mal posso esperar para ver! Ah, que pena, nem sequer ficamos SABENDO o que aconteceu com as mulheres que foram salvas. Snyder deve ter esquecido de mostrar. Foi tudo em vão. Não serviu para um caralho!

Enfim, acho que já dá pra ter uma noção da desgraça, uma pequena amostra da coleção de bobagens que é. Daria para preencher vários parágrafos só com as cagadas que Snyder fez por aqui. O pouco prazer que pode ser encontrado em ARMY OF THE DEAD – algumas sequências de ação, visual, efeitos especiais, o conceito dos zumbis “inteligentes” – não supera nem remotamente a grande quantidades de estupidez e decepção. Roteiro, Snyder, você precisa de um roteirista. Dos bons. Mas, aparentemente, a rapaziada tem curtido essa porcaria, já estão planejando continuações, prequels e séries animadas desse universo. Fiquem à vontade. Eu paro por aqui.

BLACK DEMONS (1991)

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Há alguns anos eu comentei por aqui os dois filmes da série DEMONS, dirigidos pelo Lamberto Bava e produzidos pelo Dario Argento. Quem nunca leu, pode conferir clicando aqui e aqui. Mas o que isso tem a ver com BLACK DEMONS, de Umberto Lenzi? A princípio, nada. No entanto, como a picaretagem italiana não tem fim, resolveram lançar o filme na Itália com o título DEMONI 3, mesmo não tendo absolutamente nenhuma relação com os filmes anteriores… Só que os caras foram ainda mais longe e a série DEMONS acabou ganhando outras “continuações” sem qualquer sentido… Mas isso é assunto pra outros posts.

Hoje vamos de DEMONI 3, ou melhor, BLACK DEMONS, que é como prefiro chamar… Não é dos filmes mais lembrados do Umberto Lenzi, talvez porque não seja mesmo lá grandes coisas em comparação com a fase de ouro do horror italiano e com a própria obra do diretor, mas não deixa de ser uma dessas tralhas divertidas do gênero que foram esquecidas ao longo dos anos. A história é simples, mas eficaz: três estudantes estrangeiros vem parar aqui no Brasil, no Rio de Janeiro, para pesquisar sobre religiões africanas, vodu e coisas do tipo. Dick (Joe Balogh), ao se afastar dos outros, acaba se envolvendo em um ritual de macumba e, de alguma forma, é possuído pelo misterioso poder da magia negra.

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Do Rio, o trio parte para Belo Horizonte… Só que numa estradinha de chão rodeado de matagal, porque é exatamente assim as rodovias que vão do Rio à BH, né? Mas tudo bem, a gente entende que Lenzi quer fazer o público de fora pensar que o Brasil é só mato, animais selvagens e voodoo, ao mesmo tempo em que todos os brasileiros falam inglês. Durante a viagem, o veículo do trio quebra e acabam sendo ajudados por um casal que mora nas proximidades e que lhes oferece repouso enquanto resolvem o problema do carro.

A casa é uma dessas antigas mansões de algum barão do café do século IXX que usava escravos como mão de obra. Não muito longe dalí, há justamente um cemitério com os túmulos de seis escravos que, segundo uma lenda, foram mortos por seus senhores um século antes e que em algum momento retornariam em busca de vingança. Quando Dick, possuído por seja lá o que for, é levado quase em transe a este cemitério e começa a tocar a música que gravou durante o ritual de magia negra, ele acaba tornando a lenda em realidade. Os escravos saem das tumbas e começam a realizar sua sangrenta vingança…

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Mas para chegar a até aqui não é das tarefas das mais fáceis… BLACK DEMONS tem um ritmo lento, a produção é barata e acaba não tendo tantos atrativos como outros exemplares do horror italiano. No entanto, consegui entrar na onda do filme, até porque Lenzi tem bom domínio narrativo, mesmo trabalhando com tão pouco e com roteiro e atores tão ruins. O uso que o sujeito faz das locações, das paisagens do Rio de Janeiro, das favelas e do interior são muito bons. Sem contar que a iconografia dos rituais e do universo de magia negra tornam a história genérica um pouco mais interessante.

E quando a violência finalmente acontece, Lenzi não hesita em mostrar tudo graficamente nos mínimos detalhes. Há pelo menos três mortes mais explícitas, com direito a olhos arrancados e gargantas cortadas com muito sangue. Os próprios zumbis são muito bem feitos, com feridas nojentas e a deterioração mostrada em detalhes.

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Um dos maiores problemas de BLACK DEMONS acaba sendo os atores. Joe Balogh é quem se destaca, mas o restante do elenco, principalmente os “talentos” brasileiros locais, são terríveis. A exceção é a mulher que interpreta a criada da casa, tem carisma, mesmo falando um inglês péssimo. O próprio Lenzi afirma em entrevista que os problemas de atuação foram um dos motivos de tornar o filme mais fraco do que previa que fosse. Também é divertido que o filme tenha um toque levemente político, a ideia de escravos negros, agora zumbis de pele escura, atacando pessoas brancas, é uma peculiaridade curiosa. Lenzi fala um pouco sobre isso no extras do DVD, mas ainda sente que é apenas um filme de terror sem significados mais profundos.

Mesmo com seus problemas, não achei tão ruim BLACK DEMONS. A violência é das boas, os zumbis são brutais e matam sem piedade e a direção de Lenzi é inspirada, apesar da precariedade da produção. E é só isso o que eu poderia querer de um filme como esse…

★ ★ ★

CANNIBAL APOCALYPSE (1980)

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Apesar do título, é no mínimo questionável classificar CANNIBAL APOCALYPSE dentro do subgênero cannibal, tão comum no final dos anos 70 e início dos 80 no cinema popular de exploração italiano. Caso seja classificado, que seja então como um representante bastante alternativo, não compartilha virtualmente quase nada em comum com os outros filmes do subgênero. Não é uma aventura na selva, com exploradores se metendo com tribos canibais, por exemplo. E, embora eu não tenha do que reclamar da brutalidade por aqui, o nível de violência não chega nem perto dos excessos de um CANNIBAL HOLOCAUSTO, CANNIBAL FEROX e outros similares. Mas há comedores de carne no filme, obviamente, só que eles são habitantes “civilizados” da cidade de Atlanta, infectados por um vírus que lhe despertam desejo de carne humana.

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No entanto, CANNIBAL APOCALYPSE inicia realmente nas selvas, só que do Vietnã, durante a guerra, quando o oficial das Forças Especiais do Exército dos EUA, Norman Hopper (John Saxon), lidera um pelotão de soldados em uma missão de busca num complexo de cavernas Vietcong onde são mantidos prisioneiros de guerra. Depois de eliminar o inimigo num espetáculo de tiros e explosões, eles descobrem um buraco onde estão dois americanos capturados, Charlie Bukowski (sim, podem acreditar que esse é o nome do personagem vivido por Giovanni Lombardo Radice) e Tommy (Tony King).

Hopper fica feliz de vê-los ainda com vida – até porque conhece os sujeitos, ambos são de sua cidade natal – mas ao mesmo tempo, acaba tendo a visão aterradora deles devorando avidamente a carne de uma guerrilheira inimiga que havia caído lá dentro. Então, num rosnado selvagem, Tommy salta e dá uma mordida no braço estendido de Hopper.

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Nesse ponto, Hopper acorda de um pesadelo febril, na cama com sua esposa Jane (Elizabeth Turner) em Atlanta, anos depois da guerra. A sequência de abertura do filme foi um flashback/sonho de Hopper no Vietnã revelando um incidente que realmente aconteceu. Hopper está preocupado com o sonho; ultimamente ele desenvolveu uma estranha atração pela carne crua. Lutar contra esse desejo torna-se cada vez mais difícil, colocando uma pressão até sobre o seu casamento (isso sem falar na vizinha adolescente que lhe “atormenta” a vida com visitas inusitadas…).

Enquanto isso, Bukowski é libertado de uma ala psiquiátrica local, onde está encarcerado desde o fim da guerra. Supostamente curado, em seu primeiro dia de liberdade ele entra em conflito com uma gangue de motoqueiros, ataca uma mulher em um cinema (morde um pedaço sangrento do pescoço), depois mata duas pessoas em um mercado e fica encurralado enquanto os policiais cercam o prédio. Fiquei com a impressão que o sujeito não estava tão curado assim…

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Daqui pra frente, CANNIBAL APOCALYPSE se transforma num festival de mordidas violentas! Ao saber da situação de Bukowski, Hopper aparece no local e consegue convencê-lo a se entregar. Mas Charlie morde um policial no momento de ser colocado pra dentro do camburão. Em vez da prisão, Bukowski é transportado de volta para o hospital psiquiátrico, onde ele se reúne novamente com seu companheiro de guerra, Tommy. Este, acaba mordendo a perna de uma enfermeira, que o deixa amarrado a uma maca ao lado de Charlie, na ala de alta segurança.

Os médicos determinam que ambos são portadores de um vírus misterioso que de alguma forma os transforma em canibais. Mais tarde Hopper aparece no hospital e resolve libertar Charlie e Tommy e fugir com eles sabe-se lá pra onde… A enfermeira infectada por Tommy se junta a eles depois de morder a língua de um médico excitado. O inusitado quarteto rouba uma ambulância e parte para a noite deixando algumas vítimas no caminho, enquanto a polícia, liderada pelo Capitão McCoy (Wallace Wilkenson), se engaja em uma caçada frenética para deter os canibais antes que eles possam espalhar ainda mais o suposto vírus.

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Pois é, CANNIBAL APOCALYPSE é essa loucura absurda, mas interessante e divertido exemplar que se beneficia bastante da direção imaginativa e segura de Margheriti, que eleva o filme um ou dois níveis acima do habitual do cinema de exploração, além das performances sólidas do elenco, com destaque para Saxon e Radici. O conceito de um vírus canibal também é certamente uma das melhores ideias do filme, a de um fenômeno social representado no canibalismo como uma doença contagiosa, que é algo bem mais, digamos, reflexivo do que as filmagens de mortes de animais reais usadas nos cannibal movies tradicionais.

Eu sei, os efeitos especiais de CANNIBAL APOCALYPSE são de Giannetto De Rossi, que possui no currículo obras contendo algumas das mais extremas imagens do cinema italiano de gênero. Portanto, não é que não existam cenas de extrema violência gratuita e muitos efeitos sanguinolentos por aqui, só acho que não é somente nisso que Margheriti estava interessado… Mas os fanáticos por tais elementos mais impactantes não precisam se preocupar e vão se esbaldar, especialmente na cena de morte do personagem de Radice, filmado em toda a sua glória visceral. Não é a toa, portanto, que CANNIBAL APOCALYPSE tenha sido marcado por um histórico de censura e cortes em lançamentos pelo mundo. No Reino Unido, por exemplo, até 2005 o filme estava banido, assim como em outros países. No Brasil, foi exibido sem cortes em 1981 sob o título OS CANIBAIS DO HOLOCAUSTO. 

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DVD REVIEW: MORTOS VIVOS (The Burning Dead, 2015); A2 FILMES

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Um dos primeiros títulos originais que MORTOS VIVOS recebeu durante sua produção foi VOLCANO ZOMBIES. Mudaram depois para THE BURNING DEAD, provavelmente para aproveitar de alguma maneira o sucesso da série THE WALKING DEAD. Mas o título original provisório, VOLCANO ZOMBIES, era simplesmente perfeito porque sintetiza tudo o que um indivíduo poderia querer saber sobre a obra em apenas duas palavras. Temos um vulcão e temos zumbis, que são er… Literalmente cuspidos do vulcão em erupção!

Depois de saber disso, qualquer outro detalhe sobre MORTOS VIVOS torna-se irrelevante. Mas vamos lá… Um vulcão entra em erupção nos arredores de uma pequena cidade do norte dos EUA, causando alarde e a evacuação de sua população. Alguns tontos, no entanto, não querem deixar suas casas. É o caso do velho Ben, que acaba colocando sua filha e neta em risco por conta disso. Além deles, outros personagens acabam presos nos arredores do vulcão, como o xerife local e dois vulcanólogos que trabalham na região. Só que o que esse povo todo não sabe é que o vulcão é o menor dos seus problemas e uma maldição envolvendo mortos-vivos acada despertando juntamente com toda a estrutura geológica.    

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Apesar da trama simplória, MORTOS VIVOS é bem sucedido em pelo menos uma coisa: não perde o humor. Quero dizer, a premissa e os efeitos especiais, por exemplo, são tão ridículos que é preciso ter muito bom humor da parte dos realizadores para mantê-los num filme que fizeram com tanto carinho. Temos aqui uma lista variada de elementos que, vistos com bom humor, vão te fazer soltar algumas boas risadas. Estou falando, obviamente, da lava de CGI mais falsa que nota de três reais; os intestinos das vítimas sendo puxados e mordiscados pelos zumbis; uma cena totalmente gratuita onde uma moça resolve fazer um topless do nada; e claro, o meu favorito, a horda de zumbis sendo arremessada de dentro do vulcão como foguetes rodeados de gosma verde. Uma coisa linda e neste exato momento estou rindo de mim mesmo enquanto escrevo isso só de lembrar.

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Enquanto não temos um roteiro decente, boas atuações, efeitos especiais de primeira qualidade, nem mesmo um clima pra ser chamado de filme de horror,  MORTOS VIVOS ainda assim possui seu charme, com um humor involuntário que não vai decepcionar.

E o Danny Trejo? Seu personagem aparece muito nas artes promocionais do filme, não é? Bem, na verdade, sua participação é mínima, como um índio Cherokee que conta histórias ao redor da fogueira sobre a maldição do vulcão. Seu trabalho é decente, de longe a melhor atuação, mas percebe-se claramente que a imagem do ator só foi utilizada para atrair os desavisados. Seu personagem realmente não participa de nada na ação.

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Como um filme de horror ou catástrofe, MORTOS VIVOS precisaria de muito trabalho… É basicamente um filme amador nesse sentido. No entanto, não tem receio algum de ser ridículo e diverte tranquilamente os fãs que possuem um espaço no coração reservado para esse tipo de tralha.

MORTOS VIVOS foi lançado no Brasil pela A2 Filmes, através do selo Focus Filmes, que está disponível em DVD para aluguel ou compra, assim como em serviços ‘on demand’ como o Looke e o NOW.

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A NOITE DOS MORTOS VIVOS (The Night of the Living Dead, 1968)

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Morreu George A. Romero. Talvez o público mais jovem não tenha ainda muita noção, mas a importância que esse homem teve para o cinema, não só para os filmes de zumbis, não só para o gênero horror, é para o CINEMA mesmo, é algo simplesmente extraordinário. Pessoalmente, o cara foi responsável por algumas obras fundamentais na minha formação cinéfila, como DIA DOS MORTOS, OS CAVALEIROS DA NOITE e, claro, A NOITE DOS MORTOS VIVOS, seu primeiro trabalho.

Antes de A NOITE DOS MORTOS VIVOS, os zumbis eram trazidos à vida nos filmes, em sua grande maioria, em cerimônias voodoo como peões para seguir as ordens de seus mestres. De vez em quando alguns exemplares faziam algo diferente e mostravam mortos-vivos agindo em hordas bem parecidos com o que Romero viria a fazer, como em MORTOS QUE MATAM (64) ou O PARQUE MACABRO (62). Mas tudo mudou mesmo em 1968, com A NOITE DOS MORTOS VIVOS, quando Romero entra em cena e transforma a figura do zumbi numa metáfora político-social do indivíduo moderno. Além de injetar nessas criaturas um terror mais visual. Uma criatura putrefata que se levanta do túmulo para devorar as tripas dos vivos não era algo tão comum nos anos 60.

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O primeiro zumbi de Romero

Romero também estabeleceu as regras básicas para o milhares de zombie movies que viriam a seguir, como por exemplo a maneira de matar um morto-vivo… Como você pode matar algo que já está morto? Fácil! Atire na cabeça! Outra regra: Se você for mordido por um zumbi, você se transformará em zumbi! As causas e origens dos mortos voltarem à vida, no entanto, nunca são claramente explicadas nos filmes de Romero. Mas quem se importa?

A NOITE DOS MORTOS VIVOS começa com Barbra (Judith O’Dea) e Johnny (Russell Streiner), dois irmãos que chegam a um cemitério para colocar flores no túmulo do pai e se deparam com um zumbi lhes aporrinhando. Depois de matar Johnny, o morto-vivo persegue Barbra, que procura abrigo em uma fazenda aparentemente abandonada. Mas, não demora muito, Ben (Duane Jones) chega ao local fugindo desse inesperado horror e ajuda Barbra a bloquear a casa do iminente ataque de zumbis. As tensões aumentam também dentro da casa, quando uma família escondida no porão é revelada e instaura outros tipos de conflitos dentro desse pequeno universo particular, num complexo estudo do comportamento humano em situações extremas. Não é a toa que Romero escolhe o gênero terror para expressar sua desilusão no ser humano e mostrar pela imagem a que ponto podemos chegar na ânsia de nos devorar. No caso dos zumbis, o ato de devorar o outro é literal, mas por trás disso há uma grande metáfora de passar por cima, de engolir o próximo em nome dos interesses pessoais. Continuar lendo

THE BEYOND (1981)

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E eis que resolvi rever mais uma vez THE BEYOND este último fim de semana. Não é apenas o meu filme favorito do diretor Lucio Fulci, que considero um dos maiores autores do gênero, como é também a experiência de pesadelo definitiva no cinema, ou seja, do horror puro e cristalino em todos os sentidos possíveis. E não é lá muito fácil descrever o fascínio que tenho pela obra, a maneira como me impressiona a cada revisão. Mas a gente vai levando do nosso jeitinho de sempre…

THE BEYOND foi lançado no Brasil com o título TERROR NAS TREVAS e depois relançado como A CASA DO ALÉM, o que é estranho, já que o horror transcorre a partir de um hotel amaldiçoado e não de uma casa. O título original em italiano é L’ADILÀ, ou “o outro lado”, “o lado de lá”. Mas ainda tem um título mais longo: …E TU VIVRAI NEL TERRORE! L’ADILÀ. Nos Estados Unidos, o filme foi lançado primeiro como 7 DOORS OF DEATH, que foi bastante retalhado até o lançamento da versão definitiva: THE BEYOND, que é como eu gosto de chamar o filme mesmo.

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THE BEYOND começa na Louisiana, em 1927, com o assassinato de um pintor acusado de bruxaria no tal hotel. Em seguida, pula para 1981, altura em que uma jovem que herdou este mesmo hotel está prestes a reformá-lo e reabri-lo. O local, no entanto, aparentemente foi construído em uma das sete portas do inferno! Coisas estranhas começam a acontecer, pessoas são acometidas por mortes violentíssimas, no fim surge uma horda de zumbis e o Além… Os motivos para a maioria desses acontecimentos, no entanto, permanecem um tanto obscuros e sem qualquer sentido. Mas se levarmos em conta a lógica de sonho que Fulci propõe aqui, então na verdade tudo FAZ sentido.

O que o diretor faz é trabalhar os elementos sobrenaturais de maneira que desafiam a compreensão racional, abandona as estruturas tradicionais de um enredo para desorientar e confundir o público, que se vê diante de um estado de sonho e de pavor irracional. E a grande sacada de THE BEYOND é justamente levar até as últimas consequências esta lógica. É um pesadelo filmado, a imprevisibilidade reina, a sensação é de que qualquer coisa pode acontecer e que tudo é inesperado. O importante é como toda a estrutura narrativa é solta, como o filme se preocupa apenas na imagem e em construir uma atmosfera de puro horror.

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Eu sei, parece muito vago, muito abstrato… Na verdade, THE BEYOND até possui uma trama bem definida, mas é só um fiapo e Fulci não se interessa muito em desenvolvê-la nem se preocupa com a lógica, se o desencadeamento dos acontecimentos faz sentido… A chave é não fazer muitas perguntas, tal como nos comportamos nos sonhos. Durante essas horas de atividade cerebral, aceitamos o que está acontecendo, seja um pesadelo assustador ou um sonho divertido, mas raramente o questionamos. É assim que THE BEYOND deve ser visto. Por favor, não façam como o Roger Ebert

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O roteiro de Fulci, escrito com o grande Dardano Sacchetti, é, segundo o próprio diretor, “Uma sucessão de imagens impactantes, caóticas e sem um fio condutor muito claro“. Já no prólogo se percebe o que Fulci quer dizer com isso, com a imagem em tom de sépia, em movimentos de câmera que guia o nosso olhar para os detalhes enquanto a edição faz o encadeamento das situações: uma garota encontra um antigo livro com as profecias de Eibon, que falam sobre os sete portões do Inferno, os quais, quando abertos, libertarão o Mal sobre a face da Terra; o pintor que realiza seu trabalho num quadro mórbido retratando o “Mar dos Mortos”; e homens carregando tochas e correntes se aproximando do local.

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Em seguida vemos as tais “imagens impactantes” que Fulci comenta, quando o pintor é espancado à correntadas, com cada pancada abrindo feridas enormes, mostradas em planos detalhes com direito a carne dilacerando e o sangue escorrendo para todos os lados. O sujeito é aprisionado pelos habitantes da cidade, ao mesmo tempo em que argumenta dizendo que o lugar foi construído sobre uma das sete portas do Inferno e que se o matarem não haverá como conter o Mal que ali vive. Claro que não adianta avisar: furiosos, os cidadãos pregam o sujeito na parede, com a câmera colada nos pregos penetrando nas mãos do coitado, e para finalizar corroem seu rosto com cal.

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RATOS E ZUMBIS: DOBRADINHA MATTEI/FRAGASSO

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Anunciaram essa semana que vão lançar em breve um blu-ray com dois filmes da dupla Bruno Mattei e Claudio Fragasso, RATS – NOTTE DI TERRORE (84) e VIRUS – L’INFERNO DEI MORTI VIVENTI, aka HELL OF THE LIVING DEAD (80). Claro que a qualidade de imagem em alta definição não vai fazer muita diferença para quem já considerava esse tipo de produção puro lixo cinematográfico. Não vai transformá-los em obras-primas do horror oitentista. Mas para quem, como eu, sabe admirar essas tralhas italianas (ou seja, tem um puta mau gosto), será uma delícia poder rever essas belezinhas numa resolução mais adequada. Se é que vão mesmo fazer um bom trabalho de restauração. Esperamos que sim.

Dica para quem não conhece o trabalho dos realizadores e que serve também para uma porrada de outros nomes. Primeiro, Bruno Mattei e Claudio Fragasso (que não foi creditado em nenhum dos dois filmes) são considerados alguns dos piores diretores de todos os tempos pela crítica “séria” e cinéfilos coxinhas. Tendo isso em mente, já conhecendo o terreno no qual estamos pisando, ninguém vai sentar para assistir a um filme desses caras achando que vai ver encontrar algo do nível de um Mario Bava ou Dario Argento, certo? Esqueça qualquer tipo de virtuose cinematográfica. Segundo: arranje algumas bebidas, uns petiscos, chame uns dois amigos que tenham bom humor e que gostem pelo menos um pouco de filmes de terror sem grandes pretensões e pronto, não tem como não errar.

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Foi exatamente assim que me deparei com RATS há alguns anos. A diversão é garantida e foi impossível não ficar tirando sarro das situações absurdas, as atuações ridículas de todo o elenco e do trabalho técnico da produção que parecia não ter dinheiro nem pra bancar um lanchinho para a equipe nos intervalos das filmagens. A trama se passa num futuro pós-apocalíptico, quando um grupo de figuras simpáticas, que parecem saídos dos filmes MAD MAX, chega numa cidade devastada e abandonada onde resolve passar a noite. Mas algo terrível acontece: eles são atacados por perigosos e terríveis ratos!

E entre alguns momentos bizarros e outros que só servem para encher linguiça e dar sono, dá-lhe baldes de ratinhos de borracha pra cima dos atores! Ok, eu entendo que o Bruno Mattei não queria que sua obra virasse motivo de chacota, mas é bem melhor que tenha se tornado essa comédia involuntária divertidíssima que realmente é do que uma simples porcaria sem degustação que não serve para nada. E a revelação final é um dos momentos mais SUBLIMES de toda a história do cinema eurocult!

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VIRUS é outra peça de rara beleza da  sétima arte. Eu vi mais recentemente e não foi exatamente nas condições que eu alertei ali em cima. Claro, havia um inebriante para acompanhar, mas assisti sozinho. Não sei se posso me chamar de experiente nesse universo, o que importa é que mesmo assim eu curti pra cacete essa tosqueira do Mattei. Eu falo que é do Mattei porque ele é mesmo o diretor, o Fragasso dirigiu algumas poucas cenas e chegou a ser creditado como assistente de direção.

Na trama, um experimento numa fábrica, em um país subdesenvolvido qualquer, dá errado e espalha um gás pelo resto do mundo! Um gás que transforma os mortos em zumbis, diga-se de passagem. Uma equipe da SWAT (!?), cujos uniformes são idênticos aos dos personagens de DAWN OF THE DEAD, do George A. Romero, é enviado até a tal fábrica para recolher alguns documentos e vestígios que possam ser úteis para esclarecer que raios aconteceu ali. No caminho, resgatam uma antropóloga (Margit Evelyn Newton) e seu cinegrafista, e enfrentam os perigos de uma região infestadas por zumbis.

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VIRUS é uma das maiores provas “vivas” da picaretagem desses italianos. Como grande parte da história se passa numa selva, Mattei/Fragasso e companhia utilizaram cenas de documentários para contribuir na ambientação, para não precisar viajar e levar equipe de filmagens e registrar a fauna, flora e tribos indígenas de outros continentes, afinal, o orçamento não era dos melhores. Uma prática comum, na verdade, em filmes como CANNIBAL HOLOCAUST, por exemplo, percebe-se várias cenas recicladas de stock footage retiradas de um National Geographic qualquer e tal, mas aqui a coisa é bizonha!

A título de curiosidade, utilizaram cenas de um documentário chamado NUOVA GUINEA, L’ISOLA DEI CANNIBALI (74) e também o doc clássico francês DES MORTS (79), mas é muito provável que tenha mais coisas por aí…

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Em determinado momento vemos elefantes africanos na tela, em outros instantes, tribos indígenas e animais silvestres da fauna da Nova Guiné, e por aí vai… Em que mundo se passa o filme? Os caras perderam totalmente a noção. E a maneira exagerada que essas imagens são colocadas e abusadas no meio da narrativa é impressionante, são cenas inteiras que “dialogam” de maneira esquisita com a película do filme, seja pelo o aspecto dessas imagens, que é totalmente diferente em termos de granulação, iluminação, cores, seja porque simplesmente a coisa não cola… E é por isso que eu amo esse cinema!

Só por esses detalhes já valeria a pena dar uma olhada em VIRUS. O roteiro de Fragasso garante, ainda, outros vários momentos da mais pura elegância narrativa. Mesmo nas partes chatas, há sempre algo que te surpreende, uma frase que te deixa feliz. Uma das minhas cenas favoritas é quando a personagem da Newton precisa entrar numa tribo antes dos demais, pois conhece os costumes do local e não quer correr riscos de algum tipo de confronto. Ela diz  “Eu vou na frente… E sozinha“, pra logo em seguida começar a arrancar a roupa na maior seriedade do mundo, sob o olhar dos outros personagens, apenas para o filme ganhar um pouco de nudez gratuita.

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Ah, esses italianos… Destaque também para a trilha sonora do Goblin, que se não é das mais inspiradas do grupo, pelo menos funciona para o tipo de filme que temos aqui. E a violência, claro, também chama a atenção, com muito sangue e efeitos de maquiagens caseiros, mas até que bem feitos. Não faltam cabeças alvejadas e esmagadas, mordidas que arrancam pedaços, personagens morrendo da maneira mais estúpida possível, enfim, tem de tudo e mais um pouco para toda a família. São todos ingredientes e ideias que Mattei e Fragasso conseguiram aproveitar de outros filmes de zumbis da época – chamam isso de inspiração – e que fazem de VIRUS um dos mais divertidos zombie movies do país da bota.

[REC] (2007) & [REC]² (2009)

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[REC], de Jaume Balagueró e Paco Plaza é um Zombie Movie espanhol que inicia quando uma repórter de TV, Ângela, e seu cameraman, Pablo, visitam um departamento de bombeiros para realizar uma matéria sobre esta profissão. Quando soa o alarme, os dois acompanham os bombeiros responsáveis pela chamada até um prédio onde a polícia já se encontra em cena e quase todos os moradores estão na portaria.

A coisa fica feia quando uma mulher em um apartamento ataca um dos policiais enquanto Pablo e Ângela gravam tudo. Na tentativa de sair do prédio para levar o ferido, eles são impedidos e o edifício fica bloqueado prendendo todos os residentes, os repórteres, policiais e os bombeiros do lado de dentro sem qualquer explicação.

O filme todo é acompanhado pela câmera subjetiva de Pablo. É a linguagem found footage que estava em voga no momento, principalmente para filmes de terror, como foi em CLOVERFIELD e o DIÁRIO DOS MORTOS, de George Romero. Embora este tipo de montagem renuncie elementos que poderiam fornecer uma atmosfera mais densa, é uma forma interessante de narrar os fatos absurdos com certo realismo e veracidade. Não chega a ser um filmaço surpreendente de outro mundo, mas está acima da média, assim como sua continuação, que é muito boa e consegue manter o nível.

REC² inicia 15 minutos após o desfecho do primeiro filme, agora com a câmera de um esquadrão da polícia servindo como ponto de vista para que o espectador acompanhe cada momento dentro do mesmo prédio do filme anterior. A sacada do roteiro foi acrescentar um outro elemento de terror na trama. Não vou contar pra não estragar o vislumbre, mas o final do primeiro criava essa possibilidade. A direção de atores continua excelente e o elenco corresponde muito bem às situações aterradoras da trama com ótimas encenações, muita criatividade e veracidade. Quem curtiu REC vai gostar de revisitar o velho prédio do centro de Barcelona recheado de zumbis.