O PRÍNCIPE DA CIDADE (1981)

Tava em dúvida de qual filme assistiria para homenagear o grande Treat Williams, que faleceu recentemente. O cara tem várias bagaceiras deliciosas no final dos anos 90, muita coisa que eu ainda não vi, mas tem também algumas pérolas mais sérias na carreira, que é o que acabei optando… Revi então essa obra-prima do mestre Sidney Lumet, que já fazia uns bons anos que não assistia.

Entre os muitos filmes do final dos anos 70 e início dos 80, quando diretores famosos se tornaram mais extravagantes em produções, orçamentos e abordagem em geral, O PRÍNCIPE DA CIDADE (Prince of the City), com suas duas horas e quarenta e sete minutos, pode ser o mais “simplificado” de todos. O que não é surpresa alguma considerando que Lumet, com seu estilo nada exibicionista, não parece o tipo de diretor que se “descontrolaria”, como Friedkin, Cimino ou Coppola.

Apesar disso, embora O PRÍNCIPE DA CIDADE possa ter sido uma tentativa de retornar ao sucesso que Lumet alcançou com SERPICO oito anos antes, é também um dos seus projetos mais ambiciosos. Um filme épico sobre corrupção policial, dentro de seu estilo visual mais simples, e que parece uma tentativa de examinar o quanto de informação ele poderia empacotar em uma narrativa, o quanto as pessoas realmente poderiam processar toda essa carga de informação.

Mas vamos à trama, que é baseada no caso real do policial de Nova York Robert Leuci. O PRÍNCIPE DA CIDADE conta a história do detetive Daniel Ciello (Treat Williams) do Departamento de Polícia de Nova York, da Unidade de Investigação Especial, uma equipe de investigadores de narcóticos que praticamente não presta contas a ninguém, sendo considerados verdadeiros “príncipes da cidade” aos olhos de todos. Depois que Danny se envolve em algumas ações questionáveis, ele começa a ter discussões com um grupo de assuntos internos e concorda em ajudá-los a expor os casos de corrupção dentro da Força Policial com a única condição de não denunciar nenhum de seus parceiros. O que eles aceitam.

No entanto, à medida que os anos vão passando, Ciello se vê cada vez mais afundado nisso, uma situação que já durou e ainda vai durar muito mais do que ele jamais imaginou e da qual talvez ele nunca consiga sair. E mais pessoas acabam sendo envolvidas, os interesses lá do alto escalão vão transformando e o sujeito começa a perceber que manter essa promessa de nunca denunciar seus parceiros pode ser quase impossível.

A partir disso, a única coisa que posso indicar é que deixem um bloco de anotações do lado na hora de assistir para ir escrevendo detalhes de nomes, eventos, relacionamentos de Ciello com seus parceiros, suas decisões, suas interações, o que precisa acontecer com ele e assim por diante… Definitivamente não é uma obra de narrativa simples. O roteiro de Jay Presson Allen e do próprio Lumet nunca nos oferece uma cena sequer que explique as coisas com mais clareza, não temos nenhuma fala mais expositiva do protagonista que revela exatamente o porquê dele ter aceitado estar nessa posição.

Um policial que certamente não é puro, mas que acredita que pode fazer tudo funcionar em seus próprios termos enquanto lida com algum tipo de culpa que nem ele consegue admitir para si mesmo. Muito menos para os outros. Mas é impossível pra ele saber totalmente o quão grande é a máquina contra a qual se vê enfrentando e suas esperanças iniciais de resolver tudo rapidamente desmoronam debaixo dele, assim como acontece com a cadeira em que ele se senta durante sua primeira visita aos Assuntos Internos.

Tudo funciona no interior do personagem, que passamos em algum momento ter uma noção dos seus sentimentos. Nada 100% claro, mas como quase tudo é mostrado do ponto de vista de Ciello, a gente chega em algumas conclusões sobre suas motivações.

E o desempenho do Treat Williams é fundamental pra percebermos tudo isso. Olhando pra carreira do cara, nunca foi lá um gigante da atuação. E Lumet certamente conseguiria um outro ator de peso para viver Ciello, como um Pacino, De Niro (que esteve cotado numa época em que o De Palma esteve ligado ao projeto) ou Mickey Rourke, sei lá… Mas calhou de ser o Williams e o sujeito entregou a atuação de uma vida. Seu carisma como um desses príncipes é evidente; seu desespero é palpável e sua crença sincera de que ele pode fazer tudo funcionar é o verdadeiro sustento de suas ações durante todo o filme. Contracenando com ele, temos alguns bons nomes no elenco, em destaque para Jerry Orbach. Bob Balaban, James Tolkan e Lance Henriksen também marcam presença.

Como mencionei, em uma fase inicial da pré-produção, O PRÍNCIPE DA CIDADE poderia ter sido dirigido por Brian De Palma e é fácil imaginar como seria um filme completamente diferente, mais exuberante visualmente, mais formalista… Não entro no mérito do que seria melhor ou pior, até porque eu adoro o estilo de ambos. Mas a direção seca e naturalista do Lumet tá perfeita aqui, o modo como retrata uma Nova York suja, cinza, chuvosa e decrépita, um mestre mais preocupado na condução de um monumento em forma de filme do que em questões visuais, com foco maior nessa narrativa complexa de 167 minutos, que faz sentir o peso da duração para dar uma ideia de como tudo é avassalador para o personagem central.

E é interessante a habilidade de Lumet em explorar diferentes ângulos sobre a mesma coisa. Tanto O PRÍNCIPE DA CIDADE quanto SERPICO giram em torno de um detetive de Nova York que luta contra a corrupção policial, enfrentando grandes custos pessoais. A diferença crucial aqui é nas motivações: enquanto o personagem de Al Pacino é impulsionado por seus princípios, Ciello é moralmente ambíguo. E essa ambiguidade permeia toda a essência de O PRÍNCIPE DA CIDADE, que se torna uma exploração bem mais ampla e novelesca, que evita respostas fáceis, do que SERPICO, que acabou se tornando bem mais famoso na filmografia do diretor.

O PRÍNCIPE DA CIDADE até tem muitos admiradores, mas definitivamente nunca foi um dos títulos mais populares de Lumet. O que é uma pena porque acho um dos filmes mais puros do homem, tanto para o bem quanto para o mal. Não é uma experiência fácil de assistir, acho que deixei isso bem evidente durante todo o texto… Mas prefiro admirar um filme que se recusa em fornecer as coisas de “mão beijada”. E Lumet faz exatamente isso com O PRÍNCIPE DA CIDADE. Quase nos força a descobrir as coisas por nós mesmos, até que todo esse um volume imenso de coisas, nomes, situações acontecendo começam a fazer sentido, a ter um efeito em determinado ponto, e o filme alcança seu poder máximo por meio de sua densidade. E, no fim das contas, se torna essa obra-prima que é.

RIP Treat Williams.

DELTA HEAT (1992)

DELTA HEAT era pra ser uma série de televisão que acabou não despertando muito interesse dos produtores. Nem quando ainda estava no papel. Então, o roteiro do piloto foi estendido pra ser se tornar este longa, totalmente esquecido atualmente, mas que vale uma descoberta. Até porque eu não resisto em indicar um filme que é basicamente um buddy cop movie estrelado pelo Anthony Edwards (MIRACLE MILE), com mullets e brinquinho pendurado no formato de algemas, e principalmente o Lance Henriksen (O ALVO), como um ex-policial badass, com um gancho no lugar de uma das mãos.

Situado nos pântanos da Louisiana, em DELTA HEAT temos Mike Bishop (Edwards), um policial de Los Angeles que viaja até o local para descobrir quem matou seu parceiro, também de LA, que estava na cola uns traficantes de drogas. A sequência inicial, que mostra o assassinato do policial é um primor de iluminação, cores, enquadramentos e estilização. E não é a toa. A direção do filme é de Michael Fischa. Falo mais dele a seguir…

O assassinato do policial, aparentemente, tem as características de um chefão do crime local chamado Antoine Forbes. No entanto, o que se sabe é que Forbes morreu em um tiroteio anos atrás. E o mistério paira no ar. E como o departamento de polícia local é pouco cooperativo, Bishop é forçado a pedir a ajuda do ex-policial Jackson Rivers (Henriksen), se ele quiser descobrir o que realmente aconteceu e os responsáveis pela morte de seu parceiro.

Digamos que, apesar da trama parecer simples e genérica, DELTA HEAT não é o filme pra quem se preocupa com a verossimilhança dos procedimentos de investigação e resolução de crimes. E acaba sendo prejudicado por complicar demais em vez de fazer o feijão com o arroz do cinema policial. Mas pra quem não se importa muito com isso, há um outro lado… Todo o trabalho de detetive aqui é apenas um pretexto para explorar essas figuras e esgotar ideias e situações de “peixe fora d’água” desse policial yuppie de LA vagando pelos pântanos da Louisiana, tendo que trocar seu terno limpinho toda vez que se suja nas mais diversas situações.

E nesse sentido, DELTA HEAT é até mais interessante do que um filme policial mais tradicional. Henriksen, em especial, deita e rola com seu personagem, um sujeito fascinante, uma espécie de capitão gancho (que perdeu a sua mão com a bocada de um crocodilo) e que possui traumas por também ter perdido seu parceiro quando era policial. E se a química entre ele e Edwards não chega aos pés de um Mel Gibson e Danny Glover, na maior parte do tempo é eficaz, gera situações divertidas, com um humor que se encaixa estranhamente bem.

O filme também tem seus momentos mais calientes… Betsy Russell, musa dos anos 80 em filmes como PRIVATE SCHOOL, protagoniza algumas ceninhas com um toque especial. Sua personagem é filha do chefão que está supostamente morto, e acaba sendo um elo da investigação de Bishop. Mas o policial acaba tendo outros interesses pela mocinha, se é que me entendem. A sequência que ela o seduz, fazendo uma dança sensual com pouquíssima roupa é um dos destaques. E a cena que ela sai da cama completamente nua e passa pelos detestáveis ​​policiais locais que resolveram invadir o quarto é um dos pontos altos do filme. E ela está maravilhosa!

Sobre o diretor, Michael Fischa é um sujeito que filma bem pra cacete e com parcos recursos. Seu CRACK HOUSE (1989), produzido pela Cannon, é obrigatório. Ele fez também o cult de horror DEATH SPA (1988) e a comédia de horror MINHA MÃE É UM LOBISOMEM (1989). O fato desses filmes e DELTA HEAT não terem conseguido mais sucesso é um tanto lamentável, mas valem para demonstrar o talento do homem, um diretor subestimado, que filmou pouco, mas que merecia ser mais lembrado.

Mas vamos deixar claro por aqui que DELTA HEAT não é um MÁQUINA MORTÍFERA ou 48 HORAS. É apenas um bom filme de ação policial, com boa dose de humor. Um buddy cop movie torto, mas assistível e divertido, uma brincadeira memorável graças, sobretudo, aos dois personagens principais, Edwards e Henriksen, uma relação que por si só faz com que DELTA HEAT mereça sua atenção e que supera o enredo policial bobo e falho para oferecer entretenimento o suficiente para se justificar.

No Brasil chegou a sair em VHS com o título A CAMINHO DO INFERNO.

O ALVO (1993)

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A REVERBERAÇÃO DO MULLET

Antes de falar do filme em si, eu queria aproveitar alguns parágrafos iniciais para apontar um dos principais fatores pelo qual O ALVO é lembrado pelos fãs do cinema de ação. E não é por se tratar do primeiro filme hollywoodiano de John Woo, que havia despontado como um dos maiores mestres do gênero na década anterior. Ou as eletrizantes sequências de ação que pontuam a narrativa. Trata-se de um elemento estético que o personagem principal carrega em sua caracterização. O que quero dizer é que é simplesmente impossível não associar O ALVO aos mullets de Jean-Claude Van Damme.

Já perdi as contas de quantas vezes, numa conversa sobre filmes de ação, comentam sobre O ALVO e alguém lembra: “Ah, é o filme que Van Damme tá de mullets…

Mullet é um corte de cabelo que se caracteriza pelo aspecto curto na frente, em cima e nos lados, mas longo na nuca. Foi muito popular no início dos anos 80 e perdeu força na virada da década. Mas em 1993, ano de produção de O ALVO, JCVD aparece com esse corte fora de moda, um corte até inconveniente, uma coisa em descompasso com o mundo. É evidente que os mullets de Van Damme não estão ali por acaso. Ninguém iria pensar na figura do belga de mullets àquela altura com a intenção de ficar “maneiro”, até porque o visual do cabelo do personagem como um todo é bem ridículo. No entanto, os mullets de Van Damme conferem uma dimensão maior como elemento de composição artística do filme, porque pelas câmeras de John Woo ela ganha valor estético.

O Inácio Araújo tem um comentário bacana nesse sentido, mas era sobre o chapéu do detetive Popeye Doyle, interpretado por Gene Hackman em OPERAÇÃO FRANÇA, de William Friedkin. Ele dizia que às vezes se pensa que o difícil em cinema é ter grandes idéias, quando na verdade o difícil é achar um pequeno detalhe que dá vida aos filmes e os mantém vivos. Como o chapéu de Popeye Doyle. Como os mullets de Van Damme…

A lógica do mullet como consciência estética para Woo fica bem clara já na primeira aparição de Van Damme em O ALVO. Dentro de um restaurante, o personagem come sua refeição diária de trabalhador honesto. Woo filma o sujeito de costas e os planos seguintes, mais aproximados, e cada corte, dão ênfase ao excesso de cabelo que o personagem possui na parte de trás da cabeça. Quando, logo a seguir, Van Damme precisa entrar em ação, os mullets começam a fazer mais sentido, ganhando forma e deslocamento no firmamento com imponência aos gestos, aos golpes desferidos por Van Damme contra os meliantes que mexeram com a mocinha.

E isso se repete no decorrer da trama em momentos dignos de antologia. Por exemplo, quando Van Damme dá um soco numa cobra para lhe arrancar o seu chocalho com os dentes e montar uma armadilha. Ou numa das cenas que nunca vai sair da minha mente, quando Van Damme está em cima de uma motocicleta como se estivesse surfando uma prancha, pegando uma onda, atirando nos bandidos, de carro, indo em sua direção. E no quadro, os mullets se descobrem  íntegros, sempre criando uma aura que cinge esse indivíduo na luta contra o mal. Na verdade, o que se vê por aqui é uma certa reverência ao se filmar Van Damme. Um respeito pela figura de Van Damme, de uma maneira que nunca havia se dado em nenhum filme do ator até ali. Nem mesmo em suas obras mais pessoais.

É como se Woo tivesse a oportunidade de filmar Marlon Brando. Ora, não se filma Marlon Brando de qualquer jeito. É preciso uma certa consideração ao ator mediante à sua grandiosidade. E Woo a tem por Van Damme, que a merece. O diretor transforma a figura do belga numa entidade mística em O ALVO e, sob suas lentes, Van Damme nunca esteve tão simbólico. O elemento máximo da construção do seu cânone por aqui, é sem dúvida alguma, seus mullets.

Vamos ao filme. Van Damme é Chance Boudreaux, um Cajun de New Orleans que cai de paraquedas numa situação envolvendo uma moça em busca de seu pai, numa trama que é mais uma variação do clássico THE MOST DANGEROUS GAME, que no cinema teve sua primeira adaptação em 1932, dirigido por Irving Pichel e Ernest B. Schoedsack (que foi diretor de KING KONG, a primeira versão dos anos 30). No Brasil, é conhecido como ZAROFF – O CAÇADOR DE VIDAS, e conta a história de um caçador maluco que arranja um navio cheio de gente para ser afundado perto de uma ilha onde ele bota em prática seus dotes como caçador pra cima dos passageiros sobreviventes.

Em O ALVO, temos Lance Henriksen e Arnold Vosloo, como dois empreendedores (e também um “casal”, aparentemente) muito bem sucedidos nos seus negócios, que consiste em proporcionar a Milionários – que querem passar o tempo de lazer aliviando seus desejos mais íntimos, primitivos e sádicos – a oportunidade de praticarem uma boa e velha caçada humana. As vítimas geralmente são homens sem nada na vida, moradores de rua, sem dinheiro, família e com uma chance de ganhar uma pequena fortuna… se sobreviverem à caçada. Se não sobreviverem, bem, já estarão mortos, não ganham nenhum prêmio de consolação.

Numa pequena falha na escolha de uma nova vítima, o pai de Nat Binder (Yancy Butler) acaba morto em uma dessas caçadas humanas. E o cajun ajuda a moça a descobrir o que aconteceu. Eventualmente, Chance é arrastado para um desses “jogos” e tem que se virar para sobreviver. Obviamente, sobreviver neste caso é inverter a situação, e Van Damme utiliza todos os seus conhecimentos do local para pregar armadilhas e atrair os mercenários para dentro de um velho galpão no qual são guardados carros alegóricos do carnaval de Mardi Gras e onde acontece uma das melhores sequências de ação de toda a carreira de JCVD.

É a combinação perfeita. Woo, que chega no ocidente com toda a pompa e prestígio, tendo realizado alguns dos melhores filmes de ação do período, como THE KILLER, BALA NA CABEÇA e FERVURA MÁXIMA, e Van Damme, um dos maiores astros do cinema de ação do período sendo filmado da maneira correta, imponente badass e com um mullet inesquecível. O ALVO acaba tendo muito de Woo, com todas as singularidades do diretor jogadas na tela: cenas de ação estilizadas e cartunescas, filmadas em múltiplos ângulos, o uso dos espaços (o visual da sequência final em meio aos carros alegóricos é um deslumbre), câmera lenta estilosa, malabarismos com corpos e veículos que desafiam as leis da gravidade, até os pombos brancos voando pra lá e pra cá se materializam aqui, uma das assinaturas do diretor.

A já citada sequência final, que se desenrola em um armazém cheio de carros alegóricos, é uma autêntica aula de cinema. E apresenta ao público americano, com uma produção americana, todo o arsenal do estilo vindo direto de Hong Kong. Mostra o que é capaz de fazer um diretor que pensa a ação e tiroteios como uma linguagem cinematográfica própria, na sua escala mais épica possível, especialmente quando dispõe de um orçamento gordo, muitas câmeras, gruas, e efeitos especiais pirotécnicos de primeira. Van Damme encarna uma espécie de Chow Yun Fat cajun e de mullets, e com duas pistolas em cada mão aproveita-se da superabundância de munição que os filmes de ação orientais se privilegiam para encher seus oponentes de balas – e alguns chutes de vez em quando – enquanto Woo conduz o seu balé de corpos, balas, sangue e fogo.

Woo ainda faria alguns belos exemplares de ação em Hollywood, como A ÚLTIMA AMEAÇA e MISSÃO: IMPOSSÍVEL 2, e pelo menos uma obra-prima,  A OUTRA FACE.  O nível foi baixando no novo milênio e há tempos não lança uma obra com o mesmo patamar de outrora. Filmes como O ALVO precisam, portanto, voltar à tona para lembrar como Woo era bom, seja pelas sequências de ação, seja pelo valor artístico dado a um detalhe tão simples, como os mullets de Van Damme, mas que mantém o filme vivo na lembrança de quem assistiu nos anos 90 em VHS ou na programação da TV, como uma marca registrada nostálgica e um forte elemento estético. Mesmo que o público atual, acostumados com os produtos  de ação contemporâneos, ache um adorno ridículo.

Não tenho nada contra o que é feito hoje em termos de ação, adoro JOHN WICK e VELOZES E FURIOSOS, por exemplo, mas O ALVO e outras produções do período possuem um outro conceito de ritmo narrativo, que toma seu tempo e constrói as coisas com mais cuidado. Como disse, Woo conduz a ação e os corpos como um balé. Vale a pena livrar os olhos do preconceito e de certos cacoetes do cinema de ação atual e aproveitar toda a beleza do cinema de Woo/Van Damme. Agora, quem cresceu assistindo a filmes desses caras, O ALVO é obrigatório para se rever e rever…

Texto escrito originalmente para o site Action News, em 12/02/19

DAMIEN: A PROFECIA II (Damien: Omen 2, 1978)

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Com o sucesso de A PROFECIA, era óbvio que os produtores não iriam perder a chance de fazer uma continuação. Só que o diretor do original, Richard Donner, estava muito ocupado fazendo SUPERMAN. Chamaram o britânico Mike Hodges (GET CARTER), que por diferenças criativas acabou sendo demitido e substituído por Don Taylor, que nunca passou de um diretor bate-estaca de estúdio, sem muita personalidade. O roteirista que havia concebido o primeiro filme, David Seltzer, não quis se meter numa continuação, e é muito provável que as pessoas que o substituíram não tivessem na mesma vibe… O resultado de DAMIEN: A PROFECIA II está bem abaixo do anterior. Longe de ser ruim, é verdade, e não faz feio como uma continuação, mas me parece que falta uma certa classe e a sobriedade que faz o primeiro ser aquela maravilha que é.

De qualquer modo, valeu a pena rever DAMIEN: A PROFECIA II para refrescar a memória. E não se preocupem, este texto será bem menor que o anterior…Hehe!

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Damien (Jonathan Scott-Taylor), agora um adolescente, vive com seus tios e um inseparável primo, e não parece se lembrar dos acontecimentos trágicos que ocorreram em A PROFECIA. Ele é enviado para estudar numa escola militar, o que me parece um bom local para colocar o Anticristo, afinal, qualquer ambiente que envolva militares deve ser literalmente o inferno na terra…

O grande William Holden interpreta o irmão de Gregory Peck, que é agora o guardião legal de Damien e dono de um rico conglomerado empresarial. Como no primeiro filme, aos poucos coisas malignas e mortes misteriosas começam a cercar a família do sujeito, que demora a acreditar que possui o filho do demo dentro de casa.

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Desta vez Damien tem um corvo de estimação que faz com que uma tia velhota (interpretada pela grande Sylvia Sydney) tenha um ataque cardíaco e arranca os globos oculares de uma repórter intrometida, que é atropelada por um caminhão (numa das piores cenas de atropelamento que eu já vi…). Há também uma boa sequência de afogamento num lago gelado, onde um sujeito fica preso debaixo do gelo… Todas essas cenas ainda dão impressão de acidentes e a ambiguidade que havia em A PROFECIA. Mas só até determinado ponto. Depois, A PROFECIA II abre as pernas para o sobrenatural e deixa claro que uma força diabólica é que está eliminando os desafetos do garoto. A sequência mais marcante é quando um médico é cortado ao meio pelo cabo de um elevador. A cena do trem também é bem tensa e explicita o mal de Damien e o final, mais uma vez niilista, é especialmente memorável.

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Uma das coisas que gosto em A PROFECIA II é que é mais focado em Damien, e é interessante acompanhá-lo nas descobertas de sua verdadeira natureza. Mas me parece que o filme não consegue desenvolver completamente a complexidade desse processo em todo o seu potencial, já que Damien basicamente aceita que ele é o Anticristo muito fácil, sem afetar muito sua vida adolescente. O grito perturbador na cena em que ele derrete o cérebro de seu primo é a única sequência que trabalham um pouco isso. Um outro problema é que por mais focado em Damien, A PROFECIA II apresenta personagens demais, alguns totalmente desnecessários para o que realmente interessa na trama… Até mesmo o Holden acaba sendo pouco aproveitado, longe de ter a força que Peck teve no filme anterior.

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Mas ainda temos a brilhante trilha de Jerry Goldsmith pontuando alguns momentos, e o elenco mais uma vez merece destaque. Lee Grant faz a tia defensora de Damien. O grande Lance Henriksen também faz um bom trabalho na sua participação, Scott-Taylor se sai bem como Damien adolescente – com certas expressões faciais de dar calafrios – e, bom, William Holden dispensa apresentações. Como disse no texto do primeiro filme, Holden recusou o papel que acabou parando nas mãos de Peck porque aparentemente não gosta de filmes de horror e não queria trabalhar em um. Ainda bem, não dá pra pensar em A PROFECIA sem o Peck. Mas como o original foi um enorme sucesso, resolveu encarar a continuação. Valeu também, entrega um ótimo trabalho, mas merecia um roteiro melhorzinho.

Sem a carga atmosférica aterradora, a elegância da direção de Donner, fica difícil comparar os dois filmes. A PROFECIA II perde feio. Mas ainda é um bom horror, com algumas boas atuações e momentos de tensão e mortes que fazem a sessão não virar um desperdício. Veremos como vai ser o terceiro agora…

[CAGESPLOITATION] MOM AND DAD (2017)

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Brian Taylor e Mark Neveldine são os diretores que formaram uma das parcerias mais interessantes do cinema recente. Há quem não goste, claro, mas eu acho animal o estilo de câmera frenético e montagem nervosa dos caras, que entrava em perfeita harmonia caótica com o tipo de histórias que queriam contar em obras como CRANK, CRANK 2 e GAMER. Um cinema cheio de influências pop de gosto duvidoso, mas que de alguma maneira acabou dando certo. O último filme da parceria foi MOTOQUEIRO FANTASMA 2 – O ESPÍRITO DA VINGANÇA, que eu nunca vi, e logo depois, não sei dizer os motivos, cada um seguiu seu caminho… Neveldine fez um terror, EXORCISTAS DO VATICANO, em 2015, e Taylor lança agora seu primeiro trabalho solo, MOM AND DAD, com Nicolas Cage (que já tinha trabalhado com ele em MOTOQUEIRO) e Selma Blair.

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E é assim que a gente acaba descobrindo o lado talentoso da dupla. Quero dizer, eu não vi ainda EXORCISTA DO VATICANO, mas MOM AND DAD possui tanta consonância com os outros filmes que Taylor esteve envolvido, com todas as características convulsivas dos seus trabalhos anteriores, que não dá pra imaginar o Neveldine fazendo algo parecido… A trama niilista, politicamente incorreta e ridiculamente exagerada, brinca da forma mais cruel possível com a ideia de uma histeria psicótica em massa de origem desconhecida que faz com que os pais se voltem violentamente para seus próprios filhos, sem que o filme lhe dê qualquer explicação dos motivos que tenham causado isso. Alguma estática aleatória aparece dos aparelhos eletrônicos que precedem esse comportamento, mas nunca diz o que é ou como isso parece afetar esses pais. Nicolas Cage e Selma Blair são um casal e têm dois filhos, uma adolescente e um menino lá pelos seus dez anos. O filme mexe com todo um simbolismo da figura paterna/materna, dialética pais x filho, toda a essência que envolve ser pai/mãe e as transformações da vida diante do nascimento de um filho, questões que obviamente Taylor não tem nada de profundo para dizer… E não é este o ponto.

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O que vale são sequências como a de Cage destruindo uma mesa de bilhar, usando uma camisa do Misfits, enquanto canta Pokey Hockey e depois recita um monólogo surtadíssimo sobre crise da meia idade… Ah, Nicolas Cage finalmente livre e solto para ser tudo que o Cage pode ser em todo seus excessos e resplendor. Obrigado, Brian Taylor, por ser uma alma tão demente. O plano num hospital onde vários pais observam seus recém-nascidos e não vêem a hora de colocar as mãos nas crianças e, sei lá, destroçá-las… Também é um pequeno aperitivo do humor perverso de Taylor nessa crônica sobre relações paternas… E claro que uma das coisas mais geniais que veremos este ano é quando surge o velho Lance Henriksen em cena, empunhando uma faca, querendo matar seu filho, que é o personagem de Cage. MOM AND DAD é divertido pra cacete, só tem 83 minutos, um fiapo de trama, mas várias situações, gags e incidentes que fica difícil tirar os olhos da tela. E, obviamente, qualquer um que seja fã de Cage sendo Cage vai tirar muito proveito disso aqui.

ALIENS – O RESGATE (Aliens, 1986)

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James Cameron é fã de carteirinha de ALIEN – O OITAVO PASSAGEIRO (1979), de Ridley Scott, e precisou colocar em prova sua capacidade e talento – que não eram tão claros naquele período, – para ter seu nome escrito na cadeira de diretor desta continuação. Ainda estamos em 1980, passado apenas um ano do lançamento do original, os produtores já começam a viabilizar a idéia de uma sequência. O problema maior é encontrar um script que justificasse mais um filme.

Os produtores David Giler e Walter Hill chegaram ao pobre Cameron através do projeto de O EXTERMINADOR DO FUTURO (que ainda não havia sido realizado) e resolveram marcar um encontro para trocar idéias. Lá pelas tantas, depois de algumas doses de whisky, comentaram o desejo de realizar a continuação de ALIEN e Cameron se interessou subitamente. O tempo foi passando e, pós vários roteiros recusados, Cameron, que mal havia dirigido PIRANHA 2 e trabalhou apenas na parte técnica de algumas produções de ficção científica de baixo orçamento, conseguiu colocar na mesa dos executivos uma história que finalmente chamou-lhes a atenção. O roteiro ainda não estava pronto (e muita coisa foi mudada com outras pessoas metendo o bedelho), mas já era meio caminho andado; a base desse script eram idéias que o diretor estava desenvolvendo para um filme chamado MOTHER.

No entanto, era um risco colocar nas mãos de James Cameron a direção de um filme que exigia muito investimento, muita estrutura, muita coisa que aquele sujeitinho ainda não havia provado que sabia fazer. Ninguém podia assegurar que ele era realmente capaz de administrar todo o aparato que seria colocado em suas mãos. A prova de fogo foi o filme que Cameron estava realizando, ainda em fase de pré-produção. Se conseguisse ser bem sucedido, teria o emprego na continuação de ALIEN. Bem, todos nós sabemos que O EXTERMINADOR DO FUTURO foi um sucesso, então…

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ALIENS recebeu este título (e não ALIEN 2) porque em 1980, um italiano chamado Ciro Ippolito produziu, escreveu e dirigiu uma “sequência picareta” de ALIEN chamado ALIEN 2, com a trama se passando na terra. Mas ALIENS é um nome que se encaixa perfeitamente ao filme de Cameron, pois uma das principais diferenças do original é que, desta vez, Ripley (Sigourney Weaver) encara um exército de baratas espaciais ao invés de um único como no primeiro filme.

Sendo assim, o diretor de AVATAR tomou um caminho diferente ao de Ridley Scott. O primeiro filme da série era um exercício de claustrofobia, atmosférico ao extremo e trabalha muito bem o suspense. Sem dúvidas é um dos filmes contemporâneos mais eficazes nesse sentido e até hoje impressiona. Já o filme de James Cameron segue uma proposta que impõe um ritmo mais frenético à narrativa, com bastante ação, longos tiroteios, explosões, correrias, muita carnificina, etc (Cameron estava trabalhando também no roteiro de RAMBO 2 antes de começar este aqui, talvez estivesse muito focado nesses elementos…). O mais impressionante disso é que o respeito de Cameron pelo original é fundamental para balancear o tom entre os dois filmes. ALIENS possui atmosfera de horror suficiente para permanecer ao lado de ALIEN como clássico do gênero espacial e possui ação de tirar o fôlego suficiente para garantir a proposta de Cameron.

A trama de ALIENS se passa 57 anos após os acontecimentos do primeiro filme. Ripley desperta do seu sono criogênico depois de ter sua nave encontrada pela companhia na qual trabalhava; toma conhecimento de que toda sua família morreu; mal se recupera e já é persuadida para retornar ao planeta alienígena do primeiro filme numa missão para averiguar a situação dos colonos que agora habitam o local, já que a comunicação com eles fora interrompida. Ela se faz de difícil, etc, mas acaba aceitando e desta vez terá ajuda de um grupo de fuzileiros carregando um grande poder de fogo.

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O que se segue a partir daí é suspense intenso da melhor qualidade com altas doses de ação em cenários de ficção científica e atmosfera dark inspirados nas artes de H. R. Giger e intensificados pela ótima trilha sonora de James Horner; a contagem de corpos é altíssima, muitos fuzileiros matando aliens, sendo mortos também pra dar uma balanceada, embora o número de aliens seja bem maior, até chegar a um ponto em que Sigourney Weaver questiona James Cameron sobre o filme estar muito violento, ter muitas mortes e armas cuspindo fogo, e essas baboseiras, mas a resposta do diretor já demonstrava um sujeito que não se deixa levar por frescuras de ator: “Então vamos fazer uma cena que um Alien lhe ataca e você tenta bater um papinho com ele”.

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Além de Weaver, que recebeu uma indicação ao Oscar pela sua atuação, o restante do elenco merece uma atenção à parte. Temos Michael Biehn voltando a trabalhar com o diretor, Lance Henriksen fazendo um andróide para o desespero de Ripley (quem não se lembra de Ian Holm no primeiro filme?), Bill Paxton como alívio cômico involuntário, Paul Reiser, William Hope, Jenette Goldstein e outras feras que compõem um excelente time. E é curioso como grande parte deles são subestimados atualmente.

A versão que revi e recomendo fortemente é a estendida, na qual James Cameron realiza um estudo humano muito interessante com a personagem de Sigourney Weaver e ajuda bastante na compreensão de seus atos, no instinto materno com o qual ela acolhe e protege a garotinha, única sobrevivente dos colonos, enxergando a oportunidade de ter uma família novamente, já que a verdadeira se perdeu ao longo dos 57 anos. O confronto final entre Ripley e a alien rainha toma proporções épicas visto dessa forma. A protagonista tentando proteger sua “filha” e a criatura também com um instinto de proteção pelos seus ovos.

Get away from her, you bitch!

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Sobre a rainha e seu aspecto visual impressionante, vale destacar os incríveis efeitos especiais da equipe comandada pelo genial Stan Winston. É um troço realmente assustador! Não só ela, mas todos os aliens aparentam bem mais flexibilidade, agilidade e realismo em relação ao alien solitário do primeiro filme, embora o conceito de Giger ainda permaneça intacto. É a prova de que o talento manual de um verdadeiro gênio dos efeitos especiais sempre vai superar o resultado de um CGI.

Aliens é um filme inovador nos quesitos técnicos, afirmativa que pode ser reaproveitada em qualquer texto sobre os filmes dirigido pelo Cameron. Todas as suas obras seguintes revolucionaram o cinemão americano comercial de alguma maneira, seja nos efeitos especiais, sonoros ou até mesmo na forma como contar uma história, transformando seus trabalhos em experiências únicas para o público. Este aqui não foge à regra. É um espetáculo em todos os sentidos.

Feliz 2017 parra todos!

WALTER HILL EM TALES FROM THE CRYPT

Uma das coisas mais legais dessas séries que eu via na infância e mexiam com o fantástico, como AMAZING STORIES e TWILIGHT ZONE, era poder conferir a seleção dos diretores e roteiristas interessantes daquele período que ficavam responsáveis pelos episódios. Walter Hill, por exemplo, era um dos produtores de TALES FROM THE CRYPT e chegou a dirigir três episódios nas três primeiras temporadas da série. Como venho escrevendo sobre alguns filmes dele atualmente, como forma de preparação para o lançamento de BULLET TO THE HEAD no ano que vem, não custa nada comentar essas pequenas produções que levam a sua assinatura.

THE MAN WHO WAS THE DEATH foi o primeiríssimo episódio de toda a série, lançado em 10 de Junho de 1989. Conta com o subestimado William Sadler encabeçando o elenco, vivendo um carrasco dos tempos modernos. Para ser mais exato, é o sujeito que liga a cadeira elétrica na execução dos condenados. E ele preza bastante pelo serviço que presta. O problema é quando surge uma lei abolindo a pena de morte e o personagem decide, simplesmente, continuar a fazer o seu trabalho, como uma espécie de vigilante, arranjando maneiras de eletrocutar meliantes. Nada sensacional, mas uma delícia de se ver. Hill sabe muito bem onde colocar a câmera, sem fazer firulas, constrói tudo no equilíbrio entre o humor e o clima de suspense. Mas o destaque mesmo é a grande atuação de Sadler, que narra o episódio e vez ou outra resolve olhar diretamente para a câmera, para o público, enquanto constrói a narrativa. Bom episódio pra começar uma das séries mais bacanas que eu assistia na TV na pré adolescência.

Já o CUTTING CARDS, terceiro episódio da segunda temporada, é sensacional! Eu já não me lembro tanto, mas deve ser um dos mais legais da série inteira! Hilário, macabro, tenso… A trama é a seguinte: dois jogadores viciados e rivais, encarnados com genialidade por Lance Henriksen (que trabalhou com Hill em JOHNNY HANDSOME) e Kevin Tighe (que esteve em 48 HORAS – PARTE 2), decidem, em apenas uma noite, resolver as suas diferenças fazendo apostas extremas e perigosas. A atenção do episódio se divide entre ver esses dois magníficos atores contracenando e a habilidade de Hill em manter a dose de humor negro e a tensão das situações. Uma roleta russa malfadada e um jogo de poker macabro, onde a cada rodada, o perdedor tem um dedo decepado pelo seu adversário. Depois, outro dedo, e outro… a mão, braço e por aí vai… Só não digo que é das melhroes coisas que o Hill já filmou porque o sujeito tem coisa boa até dizer chega em sua carreira, mas é mais uma boa prova da maestria deste grande diretor.

Apesar disso, DEADLINE, da terceira temporada, não é tão bom quanto esses dois acima, infelizmente. Aqui temos Richard Jordan como um jornalista desempregado, por causa dos problemas com álcool, tentando de tudo conseguir seu emprego de volta. Para isso precisa de uma boa história que será colocada no caderno policial e vai conseguir, nem que tenha, de fato, criar a notícia, se é que me entendem… A história é boa e Jordan está excelente como sujeito desesperado tentando não surtar. Mas o que pega é que falta uma certa leveza… aquele equilíbrio entre um humor ácido com os elementos do horror e suspense não aparece tão bem em relação ao que Hill havia conseguido anteriormemente. Esperava mais. No entanto, vale a pena a conferida para os fãs que desejam ver tudo do homem.

Aliás, os três episódios podem ser conferidos no youtube.