X312 – FLIGHT TO HELL (1971)

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O início da década de 70 foi um ponto de virada na carreira do diretor Jesus Franco. No espaço de pouco tempo ele interrompeu sua colaboração de alguns anos com o produtor Harry Alan Towers e, acima de tudo, houve a trágica morte da atriz Soledad Miranda, musa do diretor. É nesse período também que Franco parte para a Alemanha e conhece o grande produtor Artur Brauner, que topa realizar os seus projetos, dentre os quais alguns dos mais famosos filmes de Franco, como VAMPYROS LESBOS e SHE KILLED IN ECSTAZY (ambos ainda filmados com Soledad). Um dos últimos filmes que resultou dessa colaboração foi este X312 – FLIGHT TO HELL, que assisti recentemente.

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A trama é sobre um grupo de passageiros que sobrevive à queda de um avião, vindo do Chile para o Rio de Janeiro, em plena floresta amazônica. Entre os sobreviventes estão o jornalista (Thomas Hunter) que narra a história, um comissário de bordo sem escrúpulos, um banqueiro e outros indivíduos aleatórios. Acontece que o banqueiro saiu às pressas do Chile com uma maleta cheia de milhões de dólares em diamantes, o que desperta muitas suspeitas, especialmente de Paco (vivido pelo ator espanhol Fernando Sancho), o comissário de bordo, que rapidamente percebe que o banqueiro esconde um verdadeiro tesouro.

Ao mesmo tempo que a sobrevivência na selva para essas pessoas consiste em se unir para poder sair dessa, cada um pensa em seus interesses pessoais, especialmente quando descobrem o que contém na famigerada maleta. Além disso, um grupo de guerrilheiros que se esconde nas proximidades, cujo lider é interpretado pelo Howard Vernon, eterno colaborador do diretor, também resolve colocar as mãos nas pedras. E como se isso tudo não bastasse, Franco ainda joga no meio da selva uma tribo de índios caçadores de cabeças no caminho dos sobreviventes… Portanto, a jornada promete… Ou talvez não.

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Apesar desse saladão todo, X312 – FLIGHT TO HELL nem é tão excessivo quanto aparenta. É até bastante classicista para um diretor como o Franco. Para quem conhece seu trabalho, sabe que o homem se destaca sobretudo em excesso e excesso… E não é bem o que acontece por aqui. A jornada desse desse punhado de personagens pela selva acaba parecendo mais como um circuito em um parque ornitológico do que uma aventura cheia de ideias absurdas brotando na tela… Na maior parte do tempo, Franco não consegue tirar o espectador de um certo estado de letargia. Até os atores favoritos do diretor são pouco aproveitados e reduzidos a papéis mínimos: Vernon como lider de guerrilheiros nas selvas brasileiras merecia um filme só pra ele, e Paul Muller acaba tendo apenas tem duas ceninhas.

Quem está muito bem e aproveita o momento é o protagonista, o galã Thomas Hunter (americano, que acabou fazendo filme de gênero na Europa), e o renomado Fernando Sancho, mais conhecido pela contribuição para o ciclo de Spaghetti Western. Para não se afastar da regra, Franco maliciosamente consegue colocar algumas ceninhas eróticas para fazer a alegria dos cuecas. E quem se destaca é a atriz Esperanza Roy (de EL ATAQUE DE LOS MUERTOS SIN OJOS, de Amando de Ossorio) que revela seus encantos em algumas ocasiões.

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Mesmo assim, suponho que Jess Franco ainda não tivesse se recuperado totalmente da morte de sua musa, Soledad, e se contentou em seguir as instruções de seu produtor, que provavelmente queria um produto mais “formatado”. Mas não chega a ser nenhum desastre, tem várias cenas curiosas, principalmente as que envolvem o personagem de Vernon (a sequência que sua amante e Esperanza Roy “colocam as aranhas para brigar” e ele assiste tudo com um sorriso na cara é uma das melhores do filme e um aperetivo do que poderia ter sido todo o restante caso Franco estivesse mais inspirado). Um bocado de nudez gratuita e alguns tiroteios também ajudam, são sempre divertidos de se ver e não vai faltar por aqui. Mas de uma forma geral, X312 – FLIGHT TO HELL não é dos melhores trabalhos do diretor…

MOMENTO JESS FRANCO: LORNA – A EXORCISTA (1974)

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Não há exorcistas em LORNA – A EXORCISTA (Lorna – The Exorcist), mas todo mundo estava tentando lucrar com o sucesso do clássico de William Friedkin, lançado em 1973, O EXORCISTA. Então para o diretor Jess Franco (e muitos outros realizadores da época) o título provavelmente parecia uma boa ideia. Portanto, esqueçam os exorcistas e sigamos em frente.

A trama de LORNA – A EXORCISTA é bem simples, mas a narrativa de Franco, como sempre, não é fácil de acompanhar. A história acaba sendo entremeada de ambiguidades e mistérios que acabam fazendo mais sentido na cabeça de Franco, que já devia estar pensando nos dois ou três próximos filmes que faria à seguir à toque de caixa.

Patrick Mariel (Guy Delorme) é um empresário bem sucedido cujo passado volta para assombrá-lo quando se aproxima o aniversário de 18 anos de sua filha (Lina Romay). Durante o decorrer da trama, ficamos sabendo que a riqueza de Patrick chegou de modo bem fácil. Ele estava na pior e desesperado e conheceu a exótica Lorna (Pamela Stanford), uma espécie de demônio/bruxa que controla a mente e os impulsos sexuais, obviamente, de suas vítimas. Ela garante que Patrick teria sucesso se ele aceitasse um acordo muito simples. Tudo o que ele precisava fazer era transar com ela, depois voltar para casa e fazer amor com sua esposa. Patrick, com sua mente nublada tanto pela luxúria quanto pela ganância, concorda com o pacto.

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Depois de nove meses, vem o resultado, como já dizia o É o Tchan. A esposa (Marianne, interpretada por Jacqueline Laurent) concebeu uma menina, Linda. No entanto, segundo o pacto de Lorna, a criança seria sua quando completasse dezoito anos. LORNA – A EXORCISTA se passa exatamente às vésperas do aniversário de Linda, durante uma viagem em família em que Patrick leva sua mulher e filha para um balneário no sul da França, ao mesmo tempo em que Lorna reaparece para cumprir o pacto realizado quase duas décadas antes.

Enquanto isso, os elementos sobrenaturais típicos de Jess Franco vão tomando conta do enredo. Nunca temos certeza se estamos lidando com manifestações reais do sobrenatural ou se tudo pode ser explicado como coincidência, loucura, ou algum tipo de hipnose. Como nos melhores filmes de Franco, não há uma linha divisória clara entre o real e o imaginário. E é aí que franco se aproveita para explorar longas cenas eróticas, com as personagens femininas se encontrando sem qualquer preocupação lógica de tempo e espaço. A quantidade de sexo e nudez em LORNA – A EXORCISTA são prodigiosas, com direito a sexo lésbico explícito, mas isso é mais ou menos esperado em um filme do diretor nesse período.

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E como nos melhores trabalhos de Franco, a perversidade e o sexo são o núcleo do filme. As dimensões psicológicas do sexo e do sobrenatural se reúnem num coquetel perturbador. Alguns diretores são obcecados por temas e passam anos trabalhando para tentar se expressar perfeitamente na tela. Franco não tinha tempo a perder, e trabalhava seus temas obsessivamente FAZENDO FILMES, tentando expressá-los em caráter de acumulação. Por esse motivo que o sujeito tem uma filmografia tão extensa. E é também a razão pela qual uma série de trabalhos de Franco, em determinados períodos, são tão similares. Enfim, é impossível compreender a obra do homem até que tenha visto um bocado de seus filmes… E LORNA – A EXORCISTA é um desses exemplares que deve ser visto no contexto de um ciclo de filmes de Franco da primeira metade dos anos 70. Um ciclo que inclui alguns de seus filmes de terror eróticos mais provocativos, controversos e perturbadores.

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O elenco contribui bastante, os quatro personagens principais se entregam ao projeto. Com destaque para Lina Romay, que está perfeita, atribuindo à Linda uma mistura inquietante de inocência e depravação. Temos uma breve, mas divertida, aparição de Howard Vernon como mordomo de Lorna. E o próprio diretor faz sua habitual participação como um médico numa subtrama que envolve uma mulher seminua num sanatório que poderia literalmente ser cortada do filme sem qualquer prejuízo… Mas esse tipo de bagunça narrativa também faz parte da graça na obra de Franco.

Vale destacar ainda as locações. LORNA – A EXORCISTA Foi filmado na cidade ultramodernista de Grand Motte, em Camargue, no sul da França, num espetacular resort à beira-mar. E Franco abusa desse cenário com sua câmera recheada de zoons… Er… Não é dos seus melhores trabalhos de direção, mas tem alguns momentos mais inspirados. Especialmente filmando a arquitetura dos prédios modernos do local.

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LORNA – A EXORCISTA foi restaurado e lançado há alguns anos lá fora pela Mondo Macabro, uma das melhores distribuidoras de home video que existe atualmente. A qualidade da imagem está impecável dentro do possível… Recomendo aos experts em Jess Franco que ainda não conferiram. Quem não conhece muito bem o trabalho do diretor, existem outros exemplares mais acessíveis para adentrar no sórdido mundo de Jess Franco.

JESS FRANCO EM DVD

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Obras-Primas do Cinema apresenta, CINEMA TRASH: JESS FRANCO, coleção que reúne quatro grandes sucessos do pai do cinema trash espanhol. Inédita edição com quatro filmes REMASTERIZADOS, distribuídos em 2 DVD ‘s.

Disco 01:
– Ela Matou em Êxtase (Sie tötete in Ekstase / She Killed in Ecstasy, 1971, 80 min.)
Direção: Jess Franco. Elenco Principal: Soledad Miranda, Fred Williams, Paul Muller
Depois de suas experiências com embriões humanos, um famoso médico é condenado à prisão. Revoltados com a sentença, ele tira a própria vida. Porém, sua amante inconformada com a perda, jura vingança. Ela então, através da sedução, começa a matar todos os responsáveis pela morte do seu amado.

– Santuário Mortal (Marquis de Sade: Justine / Marquis de Sade’s Justine, 1969, 124 min.)
Direção: Jess Franco. Elenco Principal: Klaus Kinski, Romina Power, Maria Rohm
Baseado na obra do Marquês de Sade, o filme conta a triste história de uma jovem chamada Justine. Ela e a irmã Juliette são expulsas de uma luxuosa escola particular quando sua mãe morre. Juliette resolve prostituir-se e leva uma vida de rainha com o dinheiro que ganha; Justine, por outro lado, tenta viver uma vida normal e honesta, porém, acaba no castelo de um sádico, onde será torturada e abusada sexualmente.

Disco 02:
– Vampiros Lesbos (Vampyros Lesbos, 1971, 89 min.)
Direção: Jess Franco. Elenco Principal: Soledad Miranda, Dennis Price, Paul Muller.
A Condesa Oskudar atrai vítimas femininas para uma ilha remota, para curti-las, amá-las e matá-las eventualmente. Mas ela comete o erro de se apaixonar por sua última vítima, a bela Linda Westinghouse. Uma versão lésbica do livro “Drácula”, de Bram Stoker.

– Lua Sangrenta (Die Säge des Todes/ Bloody Moon, 1981, 85 min.)
Direção: Jess Franco. Elenco Principal: Olivia Pascal, Christoph Moosbrugger, Nadja Gerganoff.
Miguel, um jovem com o rosto desfigurado, ajuda sua irmã a administrar uma escola de línguas para garotas, ali se encanta por uma aluna chamada Angela, ficando obcecado a ponto de segui-la por todos os lados, enquanto isso os amigos da garota passam a ser assassinados um a um.

MAIS DE 1 HORA DE EXTRAS!
Contendo entrevistas com o diretor Jess Franco; Stephen Thrower autor de “Murderous Passions – The Delirious Cinema of Jesús Franco”; depoimentos e muito mais!

Mais informações, confira no site da Obras-Primas do Cinema.

MOMENTO JESS FRANCO: RESIDENCIA PARA ESPÍAS (1966)

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Se fosse realizado uma década depois, RESIDENCIA PARA ESPIAS provavelmente teria excelentes motivos para que o mestre espanhol Jess Franco explorasse a sua maior especialidade: putaria. Ele iria às favas com a trama (roteiro acabaria se tornando um objeto quase obsoleto para o diretor) e passaria o filme inteiro dando zoons em prexecas cabeludas de atrizes robustas, certamente Linna Romay, sua musa e esposa, teria um papel de destaque. Mas estamos em 1966 e Franco ainda não havia descambado para essas peculiaridades da forma como vemos em seus filmes a partir dos anos setenta.

RESIDENCIA PARA ESPIAS acaba soando até simpático, adjetivo estranho para elogiar um filme do prolífico diretor, mas é um bom termo para definir esta obra de início de carreira (era o décimo primeiro filme do homem, mas pra quem já fez quase duzentos não é nada). Além de ser uma leve comédia, o filme é um autêntico Eurospy – subgênero criado na esteira dos filmes do agente 007 e que gerou uma infinidade de cópias, paródias, homenagens e picaretagens no velho continente, principalmente na Itália, Espanha e França. Continuar lendo

MOMENTO JESS FRANCO: VIRGIN REPORT (Jungfrauen-Report, 1972)

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A virgindade sempre foi tema de interesse na obra de Jess Franco. Vez ou outra aparece uma virgem como elemento de reflexões filosóficas e… ok, quem eu tô tentando enganar? O fato é que Franco resolveu realizar VIRGIN REPORT, o pseudo-documentário definitivo sobre o assunto, para dar vazão à uma de suas obsessões, examinar a questão da virgindade em diversas culturas diferenciadas ao logo dos séculos e em vários locais ao redor do planeta. Obviamente, tudo uma mera desculpa para filmar mulheres nuas. Continuar lendo

MOMENTO JESS FRANCO: O EXORCISTA DIABÓLICO (Exorcism, 1974)

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A primeira coisa que me chamou a atenção nesta obra do grande mestre espanhol do exploitation europeu, Jesús Franco, foi a presença e atuação do próprio diretor no papel principal. Eu já vi muitos filmes do Franco em que ele se coloca em pequenos papeis, personagens sem muita importância, para compor elenco, mas aqui em O EXORCISTA DIABÓLICO é a primeira vez que o vejo numa tentativa de criar um personagem com um maior destaque dramático e o resultado me impressionou muito. Continuar lendo