LADO A LADO COM O INIMIGO (2005)

Se tem uma palavra que descreve boa parte dos desempenhos do ícone do cinema de ação Steven Seagal à partir desse período, meados dos anos 2000, é “preguiçosa”. Estático, frases curtas, às vezes dublado, e com muita, mas MUITA MESMO, utilização de dublês de corpo. Até em sequências de diálogos, em contraplanos, dá pra perceber que quando o seu personagem está de costas é um dublê que está ali. Mas não tem jeito, claro que eu adoro ver essas tralhas dessa sua fase Direct to Video. Não tem como um fã de bagaceira não se divertir com Seagal na sua fase gorducha. E esse estilo dele já virou marca registrada. O filme pode ser uma porcaria, ou pode ser uma maravi… Não, nenhum filme dele desse período chega a tanto, mas temos alguns muito bons. De qualquer forma, independente do resultado da obra, quero ver o Seagal fazendo essa performance preguiçosa de sempre mesmo. Foda-se.

Mas para ser honesto com nosso querido Seagal, há uma sequência em especial aqui em LADO A LADO COM O INIMIGO (Submerged), de Anthony Hickox, que vale a pena destacar. Uma das minhas favoritas do filme, boa de forma legítima. E, mais, Seagal participa dela ATIVAMENTE. É justamente a sequência de ação final, que começa numa tensa sequência numa ópera, passa para uma perseguição de carros em alta velocidade pelas ruas de “Montevideo” (a produção foi rodada na Bulgaria), até colidir com um helicóptero que o vilão estava prestes a escapar e que logo depois adentra um recinto onde Seagal troca tiros com vários capangas, com direito a uma luta rápida com um grandalhão, que ele finaliza estourando os miolos do sujeito à queima-roupa.

O diretor Hickox também demonstra aqui seu ótimo olhar pra ação, algo que é sua especialidade, e dá um gostinho de como seria o resultado deste filme se ele fosse BOM, utilizando bem a figura de Seagal, de forma cool e badass… Pena que num geral não foi bem isso que aconteceu.

Hickox já tinha vivido dias melhores até ser escalado pra dirigir LADO A LADO COM O INIMIGO – tirando as continuações de WARLOCK e HELLRAISER que trabalhou, nunca chegou a dirigir muitas produções do mainstream, só que dentro do ciclo independente de ação e horror tem uma filmografia bem respeitável e que vale a pena conhecer. Este aqui era um projeto originalmente concebido como uma espécie de filme de monstro em um submarino, com criaturas subaquáticas à solta, até que Steven Seagal entrou a bordo e resolveu meter o dedão. O filme virou outra coisa, totalmente diferente do planejado, como veremos a seguir. Seagal mudou todo o roteiro e também começou a assumir o controle do filme, gerando problemas com outros atores e até com o próprio Hickox.

Hickox, que também é ator, fazendo aqui uma participação hitchcockiana.

O que é uma pena, porque eu pagaria pra ver essa espécie de THE THING do Seagal. E gostaria de ver também uma parceria do sujeito com um diretor do calibre de Hickox, mas que não gerasse dor de cabeça entre eles, que o resultado pudesse sair minimamente como planejado sem a interferência do astro de rabinho de cavalo (que aliás, aqui ele devia tá sem muita grana, seu cabelo tá mal cuidado pra cacete, com um mullets duro, uma coisa horrorosa). Mas com o ego que esse filho da puta tem, seria pedir demais que tudo acontecesse de forma tranquila e agradável aos envolvidos. O ego era inflado mesmo nesse período de, digamos, “decadência”, quando só fazia produções direct to video, já acima do peso e com muita preguiça de filmar qualquer coisa…

Mas pra não dizer que tudo está perdido, é preciso deixar registrado que eu gosto dessa tralha aqui do jeito que saiu. A história é bizarra, tem muita ação, tem cientista maluco, tem Vinnie Jones e Gary Daniels, tem filtros carregados e edição afetada dos anos 2000 tentando imitar o Tony Scott de DOMINO e CHAMAS DA VINGANÇA. Não tem monstros subaquáticos… Mas tudo bem. A capa do filme é Steven Seagal com uma arma! E um submarino! Esses caras sabem o que nós, fãs indiscriminados de cinema de ação de baixa qualidade desejamos! Enfim, dá pra se divertir com isso aqui. Sobretudo se você não estiver num dia muito exigente e quiser apenas 90 e poucos minutos de um filminho que entra fácil na categoria “é ruim, mas é bom“.

Apesar do título original (Submerged) e a arte da capa apontarem para um thriller ambientado em um submarino (antes de ver o filme eu pensava em algo como MARÉ VERMELHA ou CAÇADA AO OUTUBRO VERMELHO, ou no mínimo uma variação de A FORÇA EM ALERTA, só trocando o navio de guerra por um submarino), a trama me parece mais inspirada no clássico thriller político dos anos 60 SOB O DOMÍNIO DO MAL, de John Frankenheimer, com a ideia de um cientista que cria dispositivos para controlar a mente de indivíduos.

Mas é uma inspiração bem superficial… O filme, na verdade, se passa praticamente no Uruguai, sabe-se lá porquê, onde um drone enviado pela embaixada dos Estados Unidos descobre uma base militar escondida dentro de uma represa. Os soldados que comandam o local ficam um pouco assustados ao saber que os americanos descobriram sobre a base, mas o misterioso Dr. Lehder (Nick Brimble) não se preocupa: ele pressiona alguns botões em seu telefone celular e de repente os agentes secretos na embaixada americana abatem todos os presentes antes de atirar em suas próprias cabeças. O sujeito, na real, está criando um exército de soldados controlados mentalmente em seu laboratório. E as suas cobaias são equipes americanas que são enviadas para eliminá-lo e acabam caindo em emboscadas. É o que acontece com a equipe de Gary Daniels, logo no começo do filme.

Depois dessas missões malfadadas, só lhes resta uma última solução. E quem é a única pessoa que os militares, desesperados para parar Lehder, acreditam que pode destruir os esquemas malignos do cientista? Entra em cena Steven Seagal. Câmera lenta, guitarras elétricas ressoando na trilha sonora, vestido de preto, é claro, pra esconder um pouco a barriga, e algemado! O velho clichê: o sujeito é um ex-agente mega-ultra-hiper treinado em todo tipo de combate, mas por conta de alguma operação mal sucedida, acabou atrás das grades. Não só ele, mas todo o seu time. Mas aí o governo faz uma daquelas ofertas únicas na vida: se Seagal e sua equipe de mercenários – o que inclui o grande Vinnie Jones – conseguirem derrubar o cientista, todos receberão indultos completos e cem mil dólares cada. É óbvio que eles aceitam.

Não demora muito pra Seagal e sua turma atacarem ao laboratório subterrâneo, eliminando muitos bandidos, resgatando prisioneiros, explodindo o local… Mas o astuto Lehder já se foi. A próxima parada é roubar um submarino de fuga. Então é agora que o filme se transforma num thriller de submarino, certo? Bem, mais ou menos. A gente presume, por tudo que já mencionei, que a maior parte de LADO A LADO COM O INIMIGO seria Seagal se esgueirando dentro de um submarino, gotas de suor se acumulando em seu queixo enquanto troca tiros e socos com bandidos que estão sob controle mental e, sei lá, eventualmente assumem o comando e agora Seagal precisa salvar a tripulação.

Não acontece nada disso. Depois de uns quinze minutos de filme dentro do veículo de guerra, por “problemas técnicos” a turma do Seagal pula fora do submarino, que acaba explodido. E nunca mais um submarino aparece de novo. Mas pelo menos deu tempo de ter uma luta entre Seagal e Gary Daniels, que depois de capturado pelo cientista passa a ter a mente controlada. Quero dizer, é mais ou menos uma luta. Numa entrevista há alguns anos, Daniels diz que a peleja com Seagal foi originalmente concebida para ser mais longa e vistosa pelo coordenador de dublês. Só que Seagal resolveu assumir a coreografia no dia da filmagem e, preguiçoso pra caralho, tornou a luta muito mais curta e unilateral (óbvio que só o Seagal bate). Mas, ok, ver esses dois astros do cinema de ação juntos, numa ceninha de luta, numa tralha como essa, já me deixou feliz.

O resto do filme já entra o terceiro ato, que se resume numa longa sequência de tensão e ação, que é legitimamente boa, como já mencionei no início do texto. E no fim das contas, LADO A LADO COM O INIMIGO acaba se saindo bem, um filme bacana por seus próprios méritos. É rápido, bobo, tem o diferencial de não se levar tão a sério, o que ajuda bastante. Os limites do orçamento são evidentes (apesar de ser um dos mais altos tanto pro Seagal quanto pro Hickox no período), principalmente nos efeitos digitais. Hickox usa todos os truques de edição que era modinha nos anos 2000 para tentar manter as coisas em um ritmo frenético, apesar da imobilidade impressionante de Seagal. Muitos cortes rápidos que pontuam de vez em quando para dar ao espectador a sensação dos personagens sob o efeito do controle mental (o que gera algumas imagens bem esquisitas), além de colocar o público nesse submundo confuso de agentes duplos, alianças duvidosas e missões explosivas. Embora todo esse efeito pode apenas nos dar uma dor de cabeça daquelas…

Mas tudo isso até que confere um charme na produção. Dá pra rir e tirar sarro dos seus absurdos, do seu lado tosco e mal feito, das atuações péssimas (o elenco ainda conta com William Hope, P.H. Moriarty e, no lado feminino, Christine Adams e Alison King), do roteiro bagunçado e que não faz o menor sentido em alguns momentos, mas dá também para admirar e se divertir quando o filme apresenta coisas boas, como a participação de Vinnie Jones na segunda metade do filme, as boas sequências de ação do último ato, quando Hickox consegue impor seu talento de mestre da ação… Enfim, pode ser um filme que não agrade a todos, mas não deixa de ser uma dessas experiências únicas que o cinema de ação de baixo orçamento tem pra oferecer.

A FORÇA EM ALERTA (1992)

A FORÇA EM ALERTA é o filme mais acessível para o público que não é fã de Steven Seagal. Acho que até pra quem realmente não gosta do sujeito deve funcionar. Trata-se da primeira incursão de Seagal no mundo mainstream das grandes produções hollywoodianas. Até então, seu cinema era mais “bairrista”, foram quatro exemplares de ação policial urbano. Inclusive, aqui Seagal volta a trabalhar com o Andrew Davis, que o dirigiu em seu primeiro – e bem mais modesto – filme, NICO – ACIMA DA LEI.

Estamos no início dos anos 90 aqui. A modinha dos filmes de ação americanos possuia algumas vertentes, mas há duas que eu gosto de destacar:

a) Os inspirados pelos filmes do John Woo;
b) Variações de DURO DE MATAR.

O que surgiu, a partir dos anos noventa, de filmes imitando o estilo do Woo, repleto de protagonistas voando em câmera lenta com uma pistola em cada mão, descarregando os pentes em seus alvos, não é brincadeira. Mas não é o caso de A FORÇA EM ALERTA, que segue a fórmula da letra “b”. Claro, muda-se vários detalhes da trama, porque os roteiristas são extremamente criativos, e transporta a ação dentro de um navio de guerra das forças armadas americanas. E pronto, temos um autêntico rip-off de DURO DE MATAR.

Seagal interpreta Casey Ryback, um cozinheiro militar, que trabalha preparando os banquetes do seu capitão e tripulação de bordo. Sério! Steven Seagal é o cozinheiro! Qual é o problema nisso? Tá certo que no passado ele era integrante do SEALs, uma das principais forças de operações especiais da marinha dos Estados Unidos, altamente treinado e capacitado no uso de armas, explosivos e artes marciais. E numa operação liderada por ele no Panamá, toda sua equipe acabou morta, ele deu um soco no seu superior, acabou aposentado dessa vida e se tornou cozinheiro… mas é apenas um detalhe e quem já viu o filme sabe que isso não interfere muito na narrativa*.

* Spoiler: mentira, interfere sim.

A história se passa exatamente no dia do aniversário do capitão do tal navio de guerra, que está no Havaí durante eventos que relembram os ataques em Pearl Harbor. E um dos seus comandantes, Krill (Gary fucking crazy Busey), está organizando os preparativos e surpresas para a comemoração desta data. Duas delas são bem interessantes. A primeira inclui um conjunto musical, cujo membro principal é o Tommy Lee Jones encarnando uma espécie de Mick Jagger mais afetado que o verdadeiro. E a outra, bem mais estimulante, é a coelhinha da Playboy, Miss Julho, que sai do bolo pra fazer um topless pra alegria da moçada!

Outro ponto importante é que a intenção principal de Krill nesta data especial é tomar o controle do navio, matar o capitão, e fazer toda a tripulação de refém, até que suas exigências baseadas em suas causas políticas ($$$) sejam cumpridas pelo governo americano… Tudo isso, vestido de mulher, pra enfatizar ainda mais a insanidade de Gary Busey. Tommy Lee Jones se revela um ex-agente da CIA renegado, que se sente traído, que possui as mesmas intenções de Krill. Miss Julho não sabe de nada e fica esperando o momento de exibir seus atribudos… E o cozinheiro vivido por Seagal vai precisar utilizar dos seus dotes culinários para salvar todo mundo.

O trabalho de roteiro aqui é árduo: conseguir manter a narrativa em movimento e com uma certa regularidade de coisas interessantes acontecendo. Porque este tipo de filme de ação específico é frágil e qualquer divisão de cenas e situações equivocadas podem tornar o filme chato e cansativo. Temos o herói, geralmente zanzando pra lá e pra cá, bolando estratégias mirabolantes para salvar o dia, enquanto os bandidos demonstram o quão malvados podem ser, revelando suas intenções maquiavélicas. Temos os reféns, a parte burocrática das negociações, o drama do par romântico do herói, e por aí vai…

Mas o filme se sai muito bem em todas esses registros, a coisa toda transcorre numa boa, num ritmo bem divertido. E com o elenco escalado que temos aqui, fica bem mais fácil de acompanhar. Um filme cujo herói tem Gary Busey e Tommy Lee Jones como inimigos mortais é quase impossível de dar errado. Seagal já tinha enfrentado vários grandes vilões, como Henry Silva (NICO – ACIMA DA LEI), William Forsyth (FÚRIA MORTAL), William Sadler (DIFÍCIL DE MATAR) e jamaicanos feiticeiros do voodoo (MARCADO PARA A MORTE), mas nunca dois vilões de peso ao mesmo tempo, como em A FORÇA EM ALERTA. Do lado feminino, Erika Eleniak, que passa da moça sexy e frágil à mulher badass num estalar de dedos. Ainda marcam presença por aqui Damian Chapa, Troy Evans, Bernie Casey, Raymond Cruz, Colm Meaney, entre outros…

A direção de Andrew Davis é segura, apesar de salientar a intrigante teoria de que o Davis não gosta muito do rabinho de cavalo do Seagal. É a segunda parceria dos dois e em ambas o astro precisou passar a tesoura na nuca. Mas em termos de ação, não dá pra reclamar muito. Seagal faz bem o seu trabalho, alternando entre pancadaria, tiroteios bem elaborados, promovendo explosões e termina com um bom duelo de facas entre Seagal e Jones, que poderia ser melhor trabalhado, percebe-se claramente que nesse quesito o personagem de Jones não era sequer uma ameaça, e Seagal não tem lá tanta dificuldade para despachá-lo, o que é um deslize. Um bom vilão geralmente tem que dar mais trabalho pro herói, tem que ser um desafio. Aqui a dificuldade de Ryback no clímax, no duelo FINAL, foi quase zero… Mas acho a coreografia boa e o desfecho violento acaba compensando.

Primeira super produção estrelada por Steven Seagal precisava de alguns incrementos para diferenciar um pouco dos filmes anteriores mais urbanos, especialmente a persona habitual do ator. Apesar da estrutura grandiosa dos cenários e efeitos especiais de ponta pra época, Ryback é mais do mesmo em se tratando de figuras dramáticas vividas pelo Seagal, até porque não se pode ter a exigência com ele da mesma forma como teríamos com um Daniel Day Lewis, por exemplo.

Mas em A FORÇA EM ALERTA Seagal não é um policial! Um grande avanço, já que todos seus filmes anteriores ele era um homem da lei. Aqui é uma ocupação extremamente diferente: cozinheiro. O que gera uma série de diálogos sobre filosofia culinária. Além das frequentes mensagens politicamente corretas e de cultura oriental e artes marciais, que não poderiam faltar… Acho que a partir deste aqui, Seagal se tornou praticamente um ator completo e versátil!

Aqui inaugura uma nova fase na qual a carreira de Steve Seagal chegaria ao ápice em termos de qualidade, sucesso financeiro e até de autorismo (não é a toa que o próximo filme de Seagal, EM TERRENO SELVAGEM, é justamente dirigido por ele mesmo), mas começa a entrar em um lento e gradativo declínio depois de um início de carreira excelente. Calma, ele ainda faria grandes filmes no decorrer da década de 90, e ainda gosto da maioria das coisas que Seagal fez depois. Só acho que nunca mais obteve o nível de alguns trabalhos anteriores, como FÚRIA MORTAL, que é a obra-prima do homem, um dos melhores filmes de ação daquela década. Mas não vamos chorar! A FORÇA EM ALERTA continua bom pra cacete!

E teve uma continuação que se passa num trem sequestrado por terroristas. Apesar de inferior, também é legal.

Texto atualizado, publicado inicialmente no site Action News.

FÚRIA MORTAL (1991)

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O ponto principal que favorece FÚRIA MORTAL (Out for Justice) é ter um dos grandes mestres do cinema americano de ação conduzindo a bagaça. Estou falando do John Flynn, diretor subestimado de filmaços como THE OUTFIT, ROLLING THUNDER, BEST SELLER e CONDENAÇÃO BRUTAL, autênticas aulas de cinema que devem valer muito mais que alguns semestres de uma faculdade de cinema. Sendo assim, FÚRIA MORTAL é o tipo de filme que seria bom independente de quem fosse o protagonista, especialmente com a quantidade de bons astros de ação do período (fico pensando como seria se fosse estrelado por um Bruce Willis, Stallone ou até um Wesley Snipes), mas calhou de ser Steven Seagal.

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A simplicidade do enredo sem muita frescura também contribui para a grandeza da obra. Evidente que as mensagens de bom moço do Seagal prevalecem algumas vezes, jogando na cara como ele é um sujeito integro, ético e bondoso com os animais, mesmo interpretando um policial casca-grossa em busca de vingança. Mas nada que perturbe a paz de quem está assistindo (contanto que ele não deixe de matar os caras maus com tiro na cara, não vejo problema algum). Seagal interpreta o policial nova-iorquino, descendente de italianos, Gino Felino (putz, mas que nomezinho cretino) que após a morte de seu parceiro, Bobby, resolve fazer justiça com as próprias mãos (pedindo ao seu superior apenas uma espingarda e um tempinho pra realizar a tarefa).

O cenário da jornada é o submundo do Brooklyn. Gino cresceu no local, rodeado de gangsters, e conhece todo mundo, inclusive o assassino de seu parceiro. O facínora é Richie, interpretado por William Forsythe com a máxima personificação do mal. O sujeito é tão impulsivo, que logo após matar Bobby à sangue frio, atira na cabeça de uma senhora em pleno trânsito lotado, pelo simples motivo que o carro dela estava congestionando a via… E se para o sucesso de um bom filme ação um dos elementos é a criação de um bom vilão, então temos aqui um exemplar de primeira qualidade. E Forsythe desempenha seu ofício com extrema perfeição.

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Só que Richie não conta com a ajuda de ninguém nas ruas, a não ser alguns capangas. O sujeito é drogado, maluco e quer entrar para o crime organizado, mas com as atitudes que eu citei ali em cima e até a suposição da policia de que já esteja ligado ao crime organizado, faz com que a máfia queira sua cabeça numa bandeja. Ainda há a própria policia comum que quer prendê-lo pelos crimes, com toda burocracia que envolve os processos de prisão, algo que Gino não quer de jeito algum.

Gino possui, portanto, dois problemas em sua missão:
1° Problema: Encontrar Richie antes da máfia e da policia, para que possa aplicar sua vingança com paz e tranquilidade, mas Richie encontra-se desaparecido e é meio complicado encontrá-lo. Pelo menos para quem está procurando, porque o sujeito está sempre nos lugares mais óbvios.
2° Problema: O roteiro ainda acrescenta novas idéias para deixar a jornada de Gino mais complexos que um um filme do Tarkovsky. Gino cresceu no mesmo bairro de Richie e considera o pai deste seu segundo pai, e isso gera um conflito psicológico que bota o herói para esquentar os miolos, embora Steven Seagal, que é ator de alto nível, consiga manter a pose sem modificar a expressão (talvez algum músculo da parte inferior do queixo tenha contraído com mais força quando a mãe de Ritchie pede para não matar o seu filho).

Atuação por atuação, vamos ficar com o Forsythe que entra para uma galeria de vilões mais malvados e interessantes do cinema dos anos 90. Forsythe é um puta ator expressivo e até hoje rouba a cena em qualquer filme ou série que aparece, nem que seja pra fazer uma pontinha. Sem dúvida alguma seu Ritchie merece um destaque.

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Assim como o Seagal não chega nem aos pés de Fosythe em termos de construção dramática, pelo menos se sai bem nas cenas de luta. Ah, nisso o cara é demais! E o John Flynn, magistral, se aproveita disso de forma magnífica. Especialmente em duas cenas: a primeira é uma perseguição de carro em alta velocidade que desemboca dentro de um açougue onde Gino arrebenta uns cinco sujeitos utilizando objetos dos mais inusitados – dos quais deve ter aprendido no aprofundamento de sua arte marcial no Japão – uma linguiça, por exemplo. Outro momento espetacular é a da briga num bar com as mesas de sinuca. Simplesmente A MELHOR sequências de luta que o Seagal protagonizou em toda a sua filmografia.

Não precisa nem ser fã de carteirinha de Steven Seagal para curtir OUT FOR JUSTICE. Se você aprecia um bom filme de ação policial, então este aqui já está qualificado. Com uma história simples, curta, mas muita diversão garantida, boa dose de ação e violência, Seagal distribuindo tiros, porradas e frases politicamente corretas, além de contar com direção de John Flynn, é indiscutivelmente um filme imperdível. Se tivesse que eleger o melhor filme de Steven Seagal, sem dúvida seria este aqui.

MARCADO PARA A MORTE (Marked for Death, 1990)

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Mais conhecido pelos admiradores do Steven Seagal como “o filme em que ele enfrenta traficantes jamaicanos macumbeiros”, MARCADO PARA A MORTE é o terceiro dos quatro filmes do ator que correspondem à fase de ouro de sua filmografia, ou seja, produções com um nível de qualidade interessante, que independente de ser o Seagal o protagonista, renderiam ótimos exemplares de ação casca-grossa: NICO – ACIMA DA LEI, DIFÍCIL DE MATAR, este aqui e OUT FOR JUSTICE.

MARCADO PARA MORTE não podia começar de forma melhor. Seagal persegue a pé ninguém menos que Danny Trejo, numa pequena participação, quando nem sonhava que estrelaria um filme chamado MACHETE. Seagal é o policial John Hatcher e que está trabalhando disfarçado em uma missão perigosa para desmascarar uns traficantes mexicanos. A operação dá toda errada e o nosso herói tem que se virar para sair do local, um puteiro mexicano, com a carcaça intacta, atirando, cortando pescoços com um facão e abrindo caminho a golpes de Aikido.

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Uma pena que seu parceiro não tenha a mesma sorte. Em certo momento o sujeito dá bobeira em frente a uma prostituta nua que o crava de balas. Seagal não pensa duas vezes, mesmo sem ver seu alvo atrás da porta, e atira também, mandando a pobre moça pro outro mundo. A morte de seu parceiro e matar à sangue frio uma mulher deixa Hatcher meio transtornado. E para resumir a descrição da trama, digamos apenas que o personagem se aposenta da polícia e tenta arranjar um lugar de paz para viver junto de sua irmã e sobrinha em uma cidade mais tranquila. Isso tudo com dez minutos de filme.

Como sabemos que não vamos ter nenhum filminho familiar estrelado por Steven Seagal, o sujeito acaba encontrando de tudo no local, menos a paz e tranquilidade que tanto almeja. A encrenca surge quando Hatcher começa a reparar na ação de uns traficantes jamaicanos e, depois de algumas situações, resolve agir por conta própria para limpar a cidade, contando com a ajuda de um velho amigo que ele reencontra depois de muitos anos, interpretado pelo sempre ótimo Keith David (aquele mesmo que luta durante 50 minutos contra o Roddy Piper em ELES VIVEM, de Jonh Carpenter).

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A direção desses primeiros filmes do Seagal é sempre de gente, no mínimo, competente. Dwight H. Little, que realizou HALLOWEEN 4, o último bom filme da série, e o excelente veículo de ação de Brandon Lee, RAJADA DE FOGO, é o homem que comanda MARCADO PARA A MORTE. Talvez ele tenha sido responsável por alguns detalhes que tornam o filme ainda mais interessante. Porque de Steven Seagal temos o mais do mesmo. Claro que eu adoro vê-lo fazendo esse personagem badass que não dá mole para a bandidagem e basicamente repete o mesmo papel de sempre, com algumas mínimas variações. Mas o que diferencia este aqui dos seus demais trabalhos é maneira como o diretor utiliza da violência. É provável que seja o filme mais sanguinolento e visceral de Steven Seagal. Vê-lo quebrando braços de meliante é algo bacana, agora, assistir em detalhes o osso partindo, é melhor tirar as crianças da sala…

E Seagal está extremamente sádico neste aqui. Os bandidos, a certa altura, mexem com a família de Hatcher, que não pensa duas vezes antes de partir com tudo pra cima deles. Execuções à sangue frio, braços decepados, cabeças cortadas, olhos perfurados com os dedos, espinhas partidas ao meio com joelho, são alguns exemplos do que o homem é capaz em toda sua fúria. Os vilões jamaicanos também são um destaque a parte, acrescentando um tom mais sinistro ao filme com algumas sequências de vodu, sacrifícios humanos e elementos de magia negra. Basil Wallace, que encarna o líder jamaicano, é de dar medo. O sujeito é muito expressivo e sua aparição no final, após uma reviravolta das boas, é uma grande sacada do roteiro e garante ainda mais algumas cenas de pura diversão!

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Na minha opinião, MARCADO PARA A MORTE fica atrás num ranking dos quatro primeiros filmes da fase de ouro do Seagal. Mas as posições variam de acordo com cada um, é lógico. É inegável, no entanto, o fato de que os quatro filmes possuem quase o mesmo nível de qualidade e qualquer fã de cinema de ação old school tem mais que a obrigação de assisti-los!

DIFÍCIL DE MATAR (Hard to Kill, 1990)

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Para os fãs de Steven Seagal, pode-se dizer que o homem entrou no mundo do cinema com pé direito com NICO – ACIMA DA LEI, um puta filme policial de ação ignorado ou subestimado pelo fato de ser estrelado pelo ator de rabinho de cavalo. E olha que ele nem usava ainda o rabinho em sua estreia! DIFÍCIL DE MATAR é o seu segundo trabalho e confirma que o sujeito veio para ficar, detonar com muitos bandidos e fazer a alegria da moçada! Pode até não ser melhor que NICO, mas para quem quer apenas sentar no sofá e assistir ao nosso herói distribuindo bala, quebrando alguns braços e jogando os malandros por vidraças, este aqui é o filme ideal.

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Para quem não se lembra (o que eu acho improvável, já que o filme passava toda semana nas tardes do SBT), a trama é uma variação da velha história do sujeito que quase morre após ser atacado pelos seus adversários, se recupera e volta para se vingar. Em DIFÍCIL DE MATAR Seagal interpreta o policial Mason Storm, que depois de ter a carcaça perfurada a balas, entra em coma, acorda após alguns anos, descobre que sua mulher e seu filho foram mortos, treina para ficar forte de novo e sai para vingar-se dos responsáveis que estragaram sua vida. Lembrando que KILL BILL veio muito tempo depois deste aqui…

Storm, já na cena de abertura, aparece espreitando por entre os becos escuros de uma doca com uma câmera para tentar registrar a reunião de um grupo suspeito. Acaba descobrindo um plano para matar um importante político. Mas sua presença é logo notada e o sujeito resolve sair de cena sem precisar partir para a violência. Como ninguém viu seu rosto, segue tranquilo seu caminho, passa numa loja de licores para comprar um champanhe e estourar com a patroa mais tarde, mesmo tendo em mãos uma verdadeira bomba prestes a explodir. O que ele não sabe é que a organização que ele investigava, que conta com policiais corruptos, já sabe muito bem quem era o abelhudo das docas.

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A cena que se passa na loja de licores é interessante porque serve para explorar um pouco quem é o nosso herói, o que significa que vamos ter uma sequência de pancadaria… Totalmente à parte da trama principal, um grupo de ladrõezinhos de quinta categoria invade o local para assaltar, mas acaba deparando-se com Storm, que utiliza todo seu conhecimento em artes marciais par quebrar a cara dos malandros. Depois disso, leva o champanhe pra casa, porque ninguém é de ferro…

Chegando no conforto do lar, encontra a esposa já em trajes íntimos o esperando para estourar o inebriante. Mas bem na hora do “bem bom”, uns bandidos empatam a foda atirando pra tudo “quanté” lado, matando a esposa de Storm e alvejando o sujeito, que não morre, como já disse antes ele entra em coma e só vai acordar daqui a sete anos com sede de vingança. Porque como o título auto-explicativo informa, ele é DIFÍCIL DE MATAR!

O filho do casal acaba se safando pela janela deixando os meliantes putos da vida. Estes espalham cocaína pelo quarto pra dar a impressão de que se tratava de um dirty cop… não basta matar, tem que amaldiçoar as próximas gerações também. No hospital, o médico informa o que ninguém nem imagina. Mason Storm ainda está vivo, mas em coma. Kevin O’Malley, um dos poucos policiais confiáveis do distrito e amigo do herói, pede ao médico que não deixe vazar a informação ou Storm estaria correndo risco de vida. E assim ele passa sete anos sossegado, tendo a bundinha limpa por enfermeiras. Aliás, por uma enfermeira que eu faria questão de me machucar feio só pra ficar sob seus cuidados: Kelly Le Brock, a mulher nota 1000, musa dos anos 80 e esposa do Seagal na época.

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Resumo da ópera: Storm acorda com uma barba escrota, de pijamas e já precisa fugir do hospital, onde um assassino deseja terminar o serviço mal feito realizado sete anos antes. Le Brock ajuda o protagonista a escapar e o leva para a casa de um médico que está na China. Lá, Storm se recupera, treina como dar socos novamente, conta suas histórias de vida, de como aprendeu a lutar, etc, claro que vai aproveitar para apagar o fogo da enfermeira, que desde quando estava em coma, já elogiava a manjuba do sujeito. Porque além de fodão, o sujeito tem que ser o kid Bengala…

Enfim, depois de descobrir que seu filho não morreu e está muito bem sob os cuidados de O’Malley, é hora de limpar seu nome e vingar-se. O legal é que ele nem precisa ir atrás da bandidagem. Os próprios malfeitores o encontram na casa do tal médico que está na China, e vai levar um susto daqueles quando retornar e notar o estado de sua sala, cheio das decorações orientais estraçalhadas… Sem contar os corpos que Storm deixa antes de fugir com seu jipe à prova de balas. A sequência da fuga é bem bacana, com Seagal revezando tiros e golpes de Aikido em seus inimigos, cada vez mais convencidos de que o sujeito é realmente difícil de matar… Essa piadinha já deu, né?

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O filme tem muita ação, todas trabalhadas organicamente, servindo bem à narrativa. Onde quer que Storm passe, sempre há um engraçadinho pronto pra levar um pontapé, ou ser jogado através de uma vidraça. O principal alvo do nosso herói é o senador Vernon Trent, o mesmo de sete anos antes, quando ainda era um politico de classe menor e que planejava a morte do então senador. Quem encarna o vilão é ninguém menos que o William Sadler, ator subestimado, mas sempre marcando presença com ótimas performances. Especialmente quando encarna vilões, como em DURO DE MATAR 2.

O grande mérito de DIFÍCIL DE MATAR é o roteiro escrito por Steven McKay, na qual teve a sabedoria de contar uma história simples, sem rodeios, com todos aqueles clichês que sabemos previamente que vamos encontrar, mas de forma bem trabalhada, até porque é justamente o que buscamos ao assistir a um filme como esse. Ou alguém aí vai parar para assistir a um trabalho de Steven Seagal tentando encontrar reflexões humanistas que vão te inspirar a escrever um texto de treza parágrafos? Claro que não! Aqui, o máximo de humanismo que você encontra é o personagem de Seagal gritando “NOOOOO” no momento em que sua esposa leva um balaço de escopeta!

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O roteiro ainda é responsável por colocar bastante situações de ação acompanhadas de várias frases para os fãs de cinema bad ass se deliciarem, como quando Storm reconhece quem é o verdadeiro vilão da trama, o atual senador, comentando na TV que não acrescentaria novas taxas, impostos, etc, e que levassem isso para os bancos, e o protagonista diz para si mesmo, mas em voz alta, “I’m gonna take you to the bank, senator. To the blood bank”!!! Genial!

A direção é por conta de Bruce Malmuth, que não chega a ser um Andrew Davis, muito menos John Flynn (que viria a trabalhar com Seagal mais tarde), mas cumpre bem o papel com seriedade e eficiência como um bom artesão, algo meio difícil de se encontrar no cinema de ação americano atual. É o responsável por outro filme bem legal que eu comentei por aqui há algum tempo, FALCÕES DA NOITE, com Sylvester Stallone.

DIFÍCIL DE MATAR é um filme que eu realmente adoro e representa muito todo um cinema de ação dos anos 80 e 90 em sua essência non sense de exageros e falta de pretensão, a não ser a de divertir seu público, com muita liberdade criativa, elementos feitos sob medida, sem qualquer obrigação com a realidade. É isso que importa e por isso dou muito mais valor a este tipo de cinema do que essas frescuradas que compõem o grande cenário de cinema de ação e aventura atual.

NICO, ACIMA DA LEI (Above the Law, 1988)

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Primeiro, uma constatação óbvia, a de que a cinefilia anda em círculos. Por aqui já girou e girou e girou e retorno ao tipo de filme que realmente me dá prazer em ver, escrever e divulgar. Por mais que às vezes tente me desvencilhar, gosto mesmo é do bom e velho cinema de ação casca-grossa dos anos 80 e 90. Dos Dolphs, dos Van Dammes, dos Stallones, dos Seagals… Me peguei pensando nisso porque resolvi rever mais uma vez o primeiríssimo filme deste último, NICO, ACIMA DA LEI, e me deu uma baita vontade de escrever (embora já tenha até comentado alguma coisa no blog antigo). Pois é, tanto filme novo pra ver, acabo preferindo “perder meu tempo” revendo um bagulho que já vi tantas vezes, mas que me devolve o prazer de continuar “blogando”. Mas é sintomático e não posso fazer mais nada a respeito, a não ser aceitar minhas preferências e obrigações com o blog… E vamos ao filme:

NICO, ACIMA DA LEI, possui tanto caráter de “primeiro filme”que o Seagal nem tinha ainda seu característico rabinho de cavalo cretino. Mas não chega a ser um detalhe preocupante, porque a ausência do excesso de cabelo na nuca do ator não interfere em nada seu desempenho nas artes dramáticas ou ao distribuir pancadas e tiros nos meliantes de plantão. Com exceção, é claro, do aspecto visual dos enquadramentos, já que Steven Seagal sem cabelinho balangando é a mesma coisa que Jack Nicholson assistindo a um jogo dos Lakers sem óculos escuros. No entanto, o filme já apresenta todos os elementos essenciais, sejam eles físicos ou filosóficos, do cinema de Seagal. O que quero dizer com isso? Quero dizer que já aqui, neste debut, o sujeito esgota o seu arsenal ideológico e de braços quebrados de uma tacada só, definindo a sua persona singular para o restante de sua longa filmografia que viria a seguir nas próximas décadas e que perdura até hoje, independente da qualidade lamentável de alguns trabalho atuais.

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Seagal interpreta em NICO, ACIMA DA LEI o policial do título, Nico Toscani, personagem com tons auto-biográficos, já que a produção e o roteiro tem o dedo de seu criador (não é a toa que Seagal já tenha declarado que Nico foi o papel que mais gostou de fazer). O personagem é o próprio Seagal e o filme começa como um autêntico documentário sobre a vida do ator, incluindo uma sessão de fotos pessoais nos créditos de abertura e uma narração em off sobre os primeiros passos de Nico no mundo das artes marciais, mais especificamente do aikido, e que possui paralelo com a própria história do ator, assim como sua relação com a CIA . Na vida real, Seagal foi instrutor de artes marciais de agentes. Já no filme, Nico realmente torna-se um, tendo até uma passagem bem desagradável na guerra do Vietnã no início da década de 70.

Mas a trama transcorre mesmo quinze anos depois dos acontecimentos no Vietnã, com o protagonista trabalhando na polícia de Chicago – o sujeito é desses tiras durões que gostamos de ver neste tipo de filme – investigando um intrincado caso de tráfico de drogas, que acaba resultando em algo muito maior e mais perigoso e que põe a sua vida e a da sua família em risco a cada nova descoberta (a esposa do cara é ninguém menos que a delícia Sharon Stone). Nico e sua parceira (a musa Pam Grier) se vêem envolvido numa conspiração da CIA com objetivo de assassinar um senador. Barra pesada! A coisa esquenta ainda mais quando, e aí voltamos às questões do Vietnã, descobre-se que a mente maquiavélica por trás do plano é justamente um desafeto de Nico, interpretado pelo grande Henry Silva.

E aí, meu caros, é pancadaria, tiros, uma igreja explodida ali, mais pancadaria… Ação da boa!

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Um dos grandes baratos de NICO é ver Steven Seagal por aqui tão ágil e magro em contraste com sua forma física atual. Chega a ser um choque. Por isso que é tão fácil tê-lo como alvo de chacota e esquecer o quão badass e cool ele podia ser. A prova está aqui. Seagal se apresenta com muita expressividade física e realmente parece intimidante durante as cenas de luta, sem contar que seu desempenho como homem de ação é muito bom. Acreditem, ele é natural e parece mesmo confortável na frente da câmera. Não iria exigir isso de ninguém, até porque não quero perder os poucos leitores que tenho, mas sintam-se à vontade para comparar a performance do sujeito em seus primeiros filmes com seus posteriores, onde aparece visivelmente preguiçoso, duro e com má vontade até mesmo para proferir suas falas. Claro, existem algumas exceções…

Outro detalhe que vocês já devem ter percebido com NICO foi a capacidade de reunir um elenco dos bons para este primeiro filme de um sujeito até então meio desconhecido. A musa do blaxploitation Pam Grier, Sharon Stone e Henry Silva como vilão com planos diabólicos e risada maquiavélica e que possui uma boa variação de técnicas para torturar pessoas de língua presa? Puta merda! E ainda tem uma pontinha “piscou perdeu” de um jovem Michael Rooker, numa cena logo no início, no primeiro bar em que Seagal faz seu primeiro quebra-quebra da história do cinema.

seagal fodao

A direção de NICO ficou por conta de Andrew Davis, que era um cara legal no inicio da carreira. Realizou algumas coisas bacanas como CÓDIGO DO SILENCIO, com Chuck Norris, THE PACKAGE, com Gene Hackman e Tommy Lee Jones, e voltou a trabalhar com Seagal em A FORÇA EM ALERTA, que é um dos filmes mais divertidos do ator. Mas depois de O FUGITIVO, Davis deixou seu nível cair bastante. NICO é seu quarto trabalho e ainda tinha pulso firme para sequências de ação e porrada, elementos que não podem faltar num filme como este, especialmente quando se pode explorar as habilidades de um Steven Seagal em cenas de luta (a sequência com um facão é sensacional). Mas não só isso: tiroteios bem filmados e uma sequência de carro em alta velocidade com Nico no capô são grandes destaques em termos de ação por aqui.

Aliás, o fato de Davis ser o diretor tanto de NICO quanto de CÓDIGO DO SILÊNCIO é meio estranho, porque são filmes irmãos. Ambos se passam em Chicago, abordam temas de policiais corruptos (inclusive com os mesmos atores) e em ambos Henry Silva faz o vilão… É igual, mas é diferente, sabe como é? Uma sensação de déjà vu… Enfim, mas o principal elemento que os diferencia é Steven Seagal e seu personagem auto-biográfico. Isso, aliado a boa história, que não traz nenhuma novidade, mas também não inventa moda, fazem de NICO, ACIMA DA LEI uma bela estreia do ator e até hoje continua um dos melhores trabalhos de Steven Seagal.