A carreira da Linda Blair certamente tomou um rumo interessante após O EXORCISTA. Filmecos de terror, aproveitando sua imagem da garotinha endemoniada do clássico de William Friedkin, mas também participou de vários exploitation barra pesada. Já comentei, por exemplo, aqui no blog sobre RUAS SELVAGENS (1984). E agora me deparei com ela fazendo a personagem central nesse petardo do cinema de mulheres em penitenciárias, os famigerados WIP (Women in Prison), CHAINED HEAT, que no Brasil tem o título genial de CORRENTES DO INFERNO, dirigido por um tal Paul Nicholas, e certamente é um dos principais representantes do gênero nos anos 80.
Carol (Blair) é condenada por homicídio culposo em um atropelamento e é enviada para a prisão por dezoito meses. Embora a novata tenha sido “adotada” pela detenta durona Val (Sharon Hughes), todos os outros indivíduos que povoam o local parecem determinados a tornar a experiência de Carol na prisão um verdadeiro inferno.
A líder da gangue de branquelas, Ericka (Sybil Danning no auge da beleza – preciso dizer mais alguma coisa?), está interessada em Carol, mas depois de uma proposta durante um banho coletivo – sequência tão icônica do cinema de exploração que mesmo antes de ver o filme eu já conhecia – Carol a rejeita e começa uma jornada difícil para nossa pequena ex-menina possuída.
Somos apresentados à Capitã Taylor, interpretada pela grande Stella Stevens, em um papel fora do seu habitual, mas que desempenha perfeitamente. Ela está envolvida em uma busca pelo poder supremo contra o diretor Bacman, interpretado por John Vernon. Bacman provavelmente é o maior pilantra de todos. Você precisa ver seu escritório na prisão para acreditar! Ele leva as jovens bonitas da prisão para a sua jacuzzi particular (sim, isso mesmo, em seu escritório), dá a elas todas as drogas que querem e as filma fazendo striptease, entre outras coisas dentro da jacuzzi. Olha, no departamento sexo e nudez, CORRENTES DO INFERNO não tá pra brincadeira. A sequência que a musa Monique Gabrielle faz um strip pro Vernon sob as lentes de sua filmadora logo no início é um dos pontos altos do filme…
Há um sério problema de tráfico de drogas ocorrendo na prisão, e Bacman quer chegar ao fundo disso – afinal, ele ainda é o diretor do local. Sua “informante” (Gabrielle) que vemos no início do filme é morta por Ericka e suas cúmplices, todas em conluio no tráfico com a Capitã Taylor e seu amante traiçoeiro Lester, interpretado por ninguém menos que Henry Silva. Sim, o elenco é só surpresas das boas!
No entanto, Lester está secretamente envolvido com Ericka sem que Taylor saiba. Enquanto tudo isso se desenrola, a líder da gangue de mulheres negras, Dutchess, interpretada pela musa da blaxploitation Tamara Dobson, de CLEOPATRA JONES, busca vingança pelo assassinato bruto e violento de uma de suas amigas. Há um nível surpreendente de cenas brutais e sangrentas nessa obra, devo alertá-los.
Mais caos se desenrola quando Ericka e Dutchess lutam com correntes no pátio. Depois que Carol, (lembram dela? é a protagonista interpretada pela Blair) é estuprada por Bacman, a maré começa a mudar na prisão. Taylor quer o cargo mais alto, então ela e sua guarda-costas durona afogam Bacman em sua jacuzzi durante suas “brincadeiras”, agora com Val, a amiga de Carol, que estava ali com o objetivo de… Ah, nem lembro mais, mas acho que era uma tentativa de roubar as filmagens das câmeras do diretor que serviriam como prova de que ele estuprou a protagonista. Mas pra manter o assassinato em segredo, Val acaba brutalmente espancada até a morte.
Para garantir sua promoção, Taylor promete às autoridades que encontrará o assassino da pobre Val, plantando evidências em Ericka. Quando o porrete ensanguentado usado em Val é encontrada na cama de Ericka, as detentas decidem que já tiveram o bastante. E como todo bom e velho filme de prisão de mulheres só fica completo depois de uma revolta sangrenta no final, cá estamos.
Não tem como errar com CORRENTES DO INFERNO. Há tanta coisa acontecendo que eu deixei alguns desenvolvimentos da trama de fora dessa descrição toda. É praticamente um seriado de dez capítulos condensados em 90 minutos. Quase todo mundo nesse filme aparece sem roupa em algum momento – o que é esperado se Sybil Danning está envolvida – é corrupto, trafica drogas, é espancado ou espanca alguém de forma bruta.
A atuação num geral é boa, apesar da temática que envolve vários “temas” do cinema de exploração, tudo bastante exagerado, com Stella Stevens especialmente saboreando suas maldades. Linda Blair cumpre bem o que lhe é proposto, tem seu arco de transformação, se torna durona no final, o que é um alívio depois de todas as suas tribulações durante o filme. Ainda temos Robert Miano no papel mais abjeto e repulsivo do filme, o guarda estuprador. Os penteados são puro suco dos anos 80 e a música é inconfundivelmente datados, o que aumenta o fator de nostalgia geral.
Se alguém aí é adepto ou curiosso sobre o subgênero W.I.P. e não assistiu ainda a CORRENTES DO INFERNO, dê uma olhada. É um clássico, uma jornada frenética pelo mundo do cinema de exploração em seu melhor estilo intransigente. Teve três continuações, sem qualquer ligação com este primeiro, a não ser pelos títulos e por se passarem em prisões femininas…