ALDRICH – PARTE 5: 1971– 1975

Provavelmente a minha fase favorita da filmografia do homem.

RESGATE DE UMA VIDA (The Grissom Gang, 1971)
A “síndrome de Estocolmo”, sob a ótica nada sutil de Aldrich. Uma moça rica é sequestrada e mantida como refém. Ao longo do tempo (provavelmente um par de anos), ela se apaixona pelo seu algoz, um sujeito doente vivido pelo Scott Wilson. Foi um fracasso na época do seu lançamento comercial e pelo que pude perceber é bem achincalhado até hoje mesmo pelos admiradores do Aldrich. Tem seus defensores ferrenhos, e agora finalmente posso me juntar a eles. Não que se trate de uma obra-prima, mas é o tipo de coisa que eu adoro, ainda mais que o filme tem aquele aspecto de filme de gangster vagabundo do Roger Corman dos anos 70. Mas é desses filmes que precisa de um pouco mais atenção pra aproveitar suas riquezas. Ele até aparenta tentar pegar uma carona no sucesso de um BONNIE & CLYDE, de Arthur Penn, e de certa forma o faz, mas também te leva a alguns lugares interessantes nessa trama simples de sequestro durante a lei seca nos EUA, que se desdobra pra um estudo de psicopatia muito interessante – e Scott Wilson tem um bom papel nisso. Há bastante força nessas imagens, nas performances e em como Aldrich trabalha esse tipo de material. O trecho final revela um aspecto mais sentimental do cinema do diretor. Transmite um belo espírito libertário na qual as instituições personificadas pelo pai da garota (enojado com a filha agora ‘impura’) não valem mais que os próprios sequestradores, a família Grissom, que ao menos têm o mérito de mostrar sua monstruosidade à luz do dia, embora paradoxalmente tenham representado a única unidade familiar relativamente coesa do filme.

A VINGANÇA DE ULZANA (Ulzana’s Raid, 1972)
Esse ainda me faltava assistir e, caramba, que petardo! Um dos melhores faroestes revisionistas dos anos 70 sem dúvida alguma. A trama é um jogo de gato e rato entre Apaches e a cavalaria americana que se desenrola na paisagem árida do Arizona, mas toda pontuada por episódios de violência gráfica que devem ter feito Sam Peckinpah orgulhoso e claramente uma alegoria mais confrontadora sobre o Vietnã, sobre hipocrisias e atrocidades coloniais. Aldrich tá implacável na representação da violência por aqui. Há uma sequência onde uma mãe e um filho atravessam um terreno hostil com um único guarda como proteção. Os apaches atacam. O guarda executa a mulher com um tiro na testa sem pensar duas vezes e foge, mas acaba tirando a própria vida com uma bala na cabeça quando seu cavalo cai. O clichê “é melhor morrer do que cair nas mãos dos índios” é levado às últimas consequências de forma explícita. E o sangue jorra como nunca. “É assim que eles são”, diz o aliado Apache da cavalaria sobre a violência de sua tribo. No entanto, o filme não faz muitas concessões ao atribuir a barbárie em nenhum dos lados, nem encontra espaço para heroísmo. É um filme sobre a estupidez humana e a inevitabilidade sinuosa da morte.

Foi a terceira parceria entre Aldrich e Burt Lancaster, que tá excepcional aqui, como não poderia ser diferente.

O IMPERADOR DO NORTE (Emperor of the North, 1973)
“You ain’t stoppin’ at this hotel, kid. My hotel! The stars at night – I put ‘em there. And I know the presidents – all of ‘em. And I go where I damn well please. Even the chairman of the New York Central can’t do it better. My road, kid, and I don’t give lessons and I don’t take partners. Your ass don’t ride this train!” (Number One)

A filmografia do Aldrich nos anos setenta é uma coisa impressionante e este filme aqui é um dos melhores. Provavelmente o filme do diretor que mais vezes assisti na vida (sim, mais até que OS DOZE CONDENADOS). E tem uma das tramas mais cascas-grossas do período: durante a época da depressão, Lee Marvin interpreta Number One, o mais famoso vagabundo caronista clandestino de trens do país; do outro lado temos Ernest Borgnine, o mais sádico e durão condutor que já existiu e que não hesita em colocar pra fora qualquer um que queira viajar sem comprar um ticket, seja na base da martelada na cabeça, no uso de correntes e os mais diversos recursos que vem a calhar, mesmo que o pobre coitado caia nos trilhos e termine partido ao meio. O confronto entre esses dois obviamente será inevitável. E quando finalmente ocorre, é como duas nuvens carregadas que se chocam, causando estrondos ensurdecedores!

Belo filme, cinematograficamente potente, tem ótima recriação do clima da época, os traços da miséria, os programas de rádio, as roupas velhas e rasgadas, um sentimento que parece saído de um livro de John Steinbeck e Jack London, mas sem perder tempo com estudos sociológicos do período em questão (embora as classes estejam obviamente demarcadas nas duas figuras centrais). O IMPERADOR DO NORTE é um filme solto, mais em clima de aventura do que um recorte fiel e chato da depressão americana, e se desenvolve mais em cima do duelo físico e psicológico desses gigantes do cinema americano. Obra-prima.

GOLPE BAIXO (The Longest Yard, 1974)
Na visão de Aldrich, o sistema e suas hierarquias sociais, militares, judiciárias são tão podres que até os degenerados tornam-se heróis. Foi assim em OS DOZE CONDENADOS e é também por aqui. Burt Reynolds (numa das minhas atuações favoritas do sujeito) é um ex jogador de futebol americano que por conta de algumas travessuras acaba preso. Agora, precisa reunir um time de futebol formado pelos prisioneiros da penitenciária para jogar contra o time dos guardas. Ao mesmo tempo em que sua alma é colocada à prova, ele promete uma chance aos seus companheiros de quebrar uns dentes dos sádicos adversários, na longa sequência do jogo de futebol, que é também das mais belas e divertidas alegorias anti-sistema do período. Mais “aldrichiano” que isso é impossível…

CRIME E PAIXÃO (Hustle, 1975)
Eu sempre achei engraçado que a capa do DVD deste filme mostra um carro explodindo, promete um filme de ação deflagrador e tal. Até que um dia decidi assistir e minha sensação se resumia a: “Que diabos é isso? Onde está o velho Burt em ação? Cadê os tiros? As explosões?” Pois é, o filme não tem nada disso, e achei uma porcaria. Deve ter mais de dez anos atrás que vi pela primeira vez…

Fazendo agora essa retrospectiva de Aldrich estava até ansioso para revisitar CRIME E PAIXÃO com outros olhos, já preparado. E aí, meus amigos, não deu outra: é uma maravilha! Um desses filmes que é difícil explicar sua existência. Me deixou até desnorteado… Porque ele realmente tinha todos os ingredientes para ser mais um filme policial com investigação, perseguições e tiroteios, no estilo de OPERAÇÃO FRANÇA e PERSEGUIDOR IMPLACÁVEL, e o diretor certo para isso, um dos grandes nomes do gênero ao lado de Don Siegel, Sam Peckinpah e alguns outros da época. Mas aí, Aldrich resolveu simplesmente pegar tudo isso e transformar em um estudo anti-clímax sobre indivíduos emocionalmente feridos, fragmentados, e jogar a narrativa para um campo mais abstrato. Até existe um enredo definido, uma trama a ser seguida, mas meio que tudo que envolve a investigação da morte de uma jovem é cada vez menos importante dentro das intenções de Aldrich; entra algo mais amplo em jogo, o filme meio que se constrói a partir de uma série de eventos ou circunstâncias que têm o efeito de destruir moralmente os personagens.

Eu não sei o que Aldrich estava passando naquele momento (os EUA eu sei que estavam em um estado de espírito caótico, cheio de crises, o desfecho do Vietnã, Watergate, etc.), mas o fato é que o sujeito fez o seu filme mais amargo, com um Burt Reynolds complexo, dividido entre o dever, embora seja um policial amoral com um código de ética que não vale nada, e o seu relacionamento com a prostituta de alta classe de Catherine Deneuve, com todas as implicações psicológicas que um homem pode ter nessa situação. Filme fortíssimo, um tanto cruel e que carrega um estado de melancolia que poucos filmes policiais dos anos 70 possuem.

Próximo post, vem a derradeira parte desta peregrinação pelo cinema de Robert Aldrich.

ALDRICH – PARTE 4: 1967– 1970

OS DOZE CONDENADOS (The Dirty Dozen, 1967)
Foi bom rever depois de tantos anos, sobretudo nesse contexto de maratona do Aldrich. Não é a obra-prima que eu lembrava, é um filme bem falho – em ritmo, tom em alguns momentos, decupagem – mas não dá pra deixar de citá-lo como o filme por excelência do subgênero Men on a Mission na Segunda Guerra, com seu elenco de machões fodões dos anos 60, que obviamente tem seu valor como entretenimento. E até por isso é bem provável que os críticos americanos na época não tenham entendido muito a abordagem de Aldrich e rotularam o filme como fascista, excessivamente violento, cínico. Ao contrário de ATTACK!, que é mais austero, OS DOZE CONDENADOS nunca esconde seu status de entretenimento espetacular.

Mas há muito a se pensar aqui, o filme apresenta a ideia de que a guerra não é nobre, é suja. E os motivos podem não parecer mais tão puros e honrados como eram antes. Claro que pelo tom, pela ação e atos de heroísmo, os sacrifícios dos personagens, pode-se passar batido o teor anti-guerra. Por outro lado, a atitude anti-autoritária e anti-militar exibida, uma história de criminosos condenados (que é algo tão aldrichiano) forçados a realizar um ataque contra o alto comando alemão não esconde suas reais intenções, especialmente como alegoria do Vietnam…

No mais, as atuações são notáveis e o caráter não convencional dos personagens lhes confere um carisma sem precedentes para a época, estabelecendo um novo tipo de herói, com o John Cassavetes em destaque como um rebelde individualista; Jim Brown como um soldado negro em busca de respeito – e seu ato final cheio de simbolismo; e, é claro, Charles Bronson e Lee Marvin, dois dos maiores atores de todos os tempos dividindo a tela, impecáveis.

A LENDA DE LYLAH CLARE (The Legend of Lylah Clare, 1968)
Um diretor de cinema arrogante e autoritário (Peter Finch) planeja filmar uma cinebiografia de uma estrela de Hollywood renomada (Kim Novak), mas que havia falecido uns anos antes. E contrata uma atriz desconhecida (também Kim Novak), que é sósia da personagem, para interpretar o papel principal.

Mais uma fábula ácida de Aldrich sobre Hollywood, só que agora me parece mais direcionado ao contexto do studio system daquele período, no fim dos anos 60, com todas as mudanças que estavam acontecendo no surgimento da Nova Hollywood… Só que o olhar melancólico e melodramático para os indivíduos que habitam esse universo aqui não chega a ser tão bom quanto THE BIG KNIFE. Sequer chega ao nível do camp divertido… É um dos filmes do Aldrich que menos gostei de descobrir nessa peregrinação. Até curto o Peter Finch e Kim Novak aqui, mas o filme se arrasta com longas sequências de conversas monótonas com ausência de qualquer coisa remotamente interessante acontecendo na tela na maior parte do tempo, com raras exceções.

Pelo menos tem um dos finais mais inesperados, absurdos, originais, ousados e geniais da história do cinema americano! Sério, não vou contar o que acontece, é preciso ver para crer…

TRIÂNGULO FEMININO (The Killing of Sister George, 1968)
Com o sucesso de OS DOZE CONDENADOS, Aldrich comprou seu próprio estúdio e embarcou num breve período independente, cujos dois primeiros filmes foram sérias apostas artísticas. O primeiro foi o filme acima, que não curto muito. E o outro foi este aqui, que é melhor, aborda questões mais ousadas, notório pela forma como trata lesbianismo, incluindo uma sequência perto do final que deve ter escandalizado os puritanos da época… Não à toa, foi um dos primeiros filmes a receber a classificação X sob o novo código. Antes de X se tornar sinônimo de pornografia. A trama é sobre uma atriz de novela na Inglaterra (Beryl Reid), cujo mundo começa a desmoronar quando teme que seu personagem será retirado da série, o que abala sobretudo o relacionamento com Childie (Susannah York), sua companheira bem mais jovem. Enfim, ainda não acho que Aldrich esteja na sua melhor forma como narrador nesses dois filmes pós-DOZE CONDENADOS. O sujeito já foi mais vistoso com a câmera e por aqui é tudo muito teatral (é preciso destacar pelo menos que os atores estão ótimos) e um bocado monótono, mas sem dúvida não dá pra negar que o homem continuava a ser um dos diretores mais provocadores e subversivos do cinema americano daquele período.

ASSIM NASCEM OS HERÓIS (Too Late the Hero, 1970)
OS DOZE CONDENADOS é um clássico absoluto do Aldrich, um de seus trabalhos mais famosos, além de ter um dos elencos mais fodas da história. Mas dentre seus men on a mission, meu favorito é este menos conhecido ASSIM NASCEM OS HERÓIS. Até tem algumas semelhanças com OS DOZE CONDENADOS, com um pelotão formado para uma missão suicida durante a segunda guerra, só que aqui a trama se passa numa ilha dominada por japoneses.

O negócio é que tudo é mais bem resolvido, mais direto, mais cínico, violento e até mais divertido que o filme de 67. Há uma situação tensa que se estabelece a partir da metade que é de tirar o fôlego, com os soldados em fuga e se escondendo na selva, e os japoneses na cola, um drama de sobrevivência conduzido com habilidade pelo Aldrich. Cliff Robertson tá longe de ser um Lee Marvin ou Charles Bronson, mas o filme compensa com quem realmente rouba o filme pra si, que é o grande Michael Caine, fazendo uma figura moralmente ambígua e que é também um dos personagens mais fascinantes da filmografia do Aldrich.

OS PROFISSIONAIS (1966)

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O diretor Richard Brooks vinha de um fracasso com sua adaptação de Joseph Conrad, LORD JIM, de 1965, e resolveu não correr muitos riscos no seu projeto seguinte. Embora o western na sua forma clássica estivesse em relativo declínio, estava na moda em meados dos anos 60 reunir astros de grande calibre para dividirem às telas em épicas aventuras. Dos filmes de guerra, como FUGA DO INFERNO, passando pelos “Men in a Mission“, como OS CANHÕES DE NAVARONE, até os faroestes, especialmente com SETE HOMENS E UM DESTINO, a ideia de aglomerar atores de peso poderia garantir o sucesso de uma produção. E foi exatamente isso que Brooks resolveu fazer por aqui, em OS PROFISSIONAIS (The Profissionals), um western de aventura que reuniu Lee Marvin, Burt Lancaster, Robert Ryan e Woody Strode na missão de resgatar Claudia Cardinale de um revolucinário mexicano vivido por Jack Palance e seu exército.

Sim, é como se fosse uma versão dos anos 60 de OS MERCENÁRIOS. E se você olhar para este elenco e não sentir a mínima vontade de ver OS PROFISSIONAIS, você deve ter sérios problemas… Melhor ir assistir um Wong Kar Wai ou Apichatpong Weerasethakul…

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Enfim, revi OS PROFISSIONAIS esta semana e continua um dos meus westerns favoritos dessa época, ficando ali meio intermediário entre a aventura divertida na tradição de SETE HOMENS E UM DESTINO ao mesmo tempo que possui uma densidade revisionista pré-MEU ÓDIO SERÁ SUA HERANÇA, que foi quando Sam Peckinpah redefiniu de vez o gênero nos EUA (algo que já vinha acontecendo gradualmente, em especial com os faroestes de Monte Hellman com Jack Nicholson, DISPARO PARA MATAR e A VINGANÇA DE UM PISTOLEIRO).

A premissa de OS PROFISSIONAIS é estruturada de maneira clássica e bastante simples. Um magnata do Texas contrata quatro experientes mercenários, cada um com uma característica especializada específica, para resgatar sua esposa sequestrada por um revolucionário mexicano, que a mantém do outro lado da fronteira. Lee Marvin vai interpretar o líder do grupo, o estrategista e especialista em armas. Burt Lancaster é experiente no manuseio de explosivos. E aqui estamos falando tanto de dinamites quanto de uma mulher fogosa (a cena que apresenta o personagem é impagável nesse sentido). Woody Strode é um atirador virtuoso com seu arco e flechas e um ótimo rastreador. E Robert Ryan é o especialista em cavalos e a consciência moral da equipe.

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Apresentados os personagens e a missão, os quatro sujeitos partem para o México numa jornada cheia de perigos num cenário de desertos e os estreitos montanhosos da região. Brooks mantém o ritmo e a ação firme para deixar as coisas mais animadas. A sequência do resgate da moça, especificamente, é um espetáculo à parte, com Woody Strode atirando flechas explosivas. Enfim, a sequência é um prodígio de pirotecnia. Depois vem a peregrinação de volta para os EUA em meio a uma reviravolta que coloca uma grande interrogação na cabeça dos nossos heróis… Considerando o contexto e o período no qual OS PROFISSIONAIS foi feito, fica óbvio o subtexto sobre a guerra do Vietnã: uma unidade de combate selecionada enviada para outro país por razões problemáticas questionando seus motivos.

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Embora seja evidente que os protagonistas da trama sejam Marvin e Lancaster, os únicos que possuem um pano de fundo, um histórico que envolve outras lutas armadas durante a revolução mexicana, é preciso destacar como Woody Strode recebe igual importância no grupo, o que já é notável para um ator negro da época no meio do elenco formado por brancos em uma produção de grande estúdio. O mesmo não dá pra dizer sobre a equipe de marketing da Columbia, que não colocou seu nome nas artes de divulgação do filme…

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O restante do elenco é fenomenal. Jack Palance, como já mencionei, surge em cena como um mexicano, queimado de sol e bigodudo. E está incrível como sempre. Eleva o seu personagem imbuindo-o de dignidade, evitando qualquer clichê maniqueista óbvio. O dramático reencontro entre Lancaster e Palance, depois de um longo tiroteio para atrasar o bando do mexicano, um jogo de gato e rato entre as rochas que é um dos grandes momentos do filme, demonstra porque Palance (e Lancaster, numa performance física impressionante) foi um dos maiores de todos os tempos. Cardinale é outro caso interessante. Sua beleza descomunal chama a atenção, mas Brooks não a utiliza como mero colírio sexual (embora haja umas ceninhas bem calientes pra época). Sua personagem é provavelmente a mais forte do filme, lutando pelo homem que ama e pela causa em que acredita. E o rico rancheiro que financia a missão é retratado perversamente por Ralph Bellamy.

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A direção de Brooks não chega nem a ser um primor, mas é de uma competencia, de uma secura, coerente com o material que filma e com a jornada desses indivíduos. Com bom senso de tensão e aventura. Não é a toa que o sujeito foi indicado ao Oscar de melhor diretor naquele ano (e também de roteiro). Adiciona-se ainda a luxuosa fotografia de Conrad Hall (que também foi indicado por seu trabalho), a trilha sonora de Maurice Jarre, uma tonelada de diálogos incríveis e OS PROFISSIONAIS se torna um filme que eu admiro cada vez mais sempre que revejo.

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Uma curiosidade: na época do lançamento, o sucesso do filme levou o estúdio a considerar uma sequência, mas com a condição de que todos os quatro atores principais estivessem envolvidos. Não queria correr riscos por causa do fiasco em torno da sequência de SETE HOMENS E UM DESTINO, no qual apenas Yul Brynner havia retornado. No entanto, durante muito tempo a agenda dos atores nunca batia para que a coisa acontecesse… Quando finalmente as agendas casaram, a saúde de Robert Ryan (devido ao câncer de pulmão) tornou impossível pra ele realizar o trabalho físico necessário para o filme. Após sua morte em 1973, qualquer plano para uma sequência de OS PROFISSIONAIS foi descartado.

ESPECIAL DON SIEGEL #18: OS ASSASSINOS (The Killers,1964)

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por DANIEL VARGAS

A terceira adaptação do conto de Ernest Hemingway no cinema, (A primeira, um longa de 1946 de Robert Siodmak, e a segunda, o primeiro curta-metragem, de 1956, de Andrei Tarkovsky) esse OS ASSASSINOS de Don Siegel é, com certa facilidade, a melhor de todas. Originalmente era fruto para ser o primeiro de uma série de outros filmes para televisão chamada “Projeto 120”, mas foi considerado tão brutal que resolveram lançar para o cinema. O filme em momento algum tem medo de mostrar cenas gráficas de violência, contra mulheres inclusive. Chega a ser chocante até mesmo para quem o vê hoje. O fato do Siegel ter filmado em Scope também ajudou bastante.

O filme muda completamente o ponto de vista do original, colocando-o sob a perspectiva dos assassinos contratados para matar Johnny North (John Cassavetes), que chocados pela reação submissa diante à própria morte, não tentando escapar do seu destino por nenhum momento sequer, vão atrás da verdadeira história por trás daquele contrato. Eles acabam descobrindo que Johnny se envolveu em um roubo de 1 milhão de dólares, mas esse dinheiro acabou sumindo. Eles então vão atrás dos conhecidos do Johnny, um por um, para descobrirem de fato do porquê sua vítima não tentar fugir, quem os contratou para o serviço, e o paradeiro do dinheiro. Descobrem que Johnny se envolveu com Sheila Farr (Angie Dickinson), a namorada do mentor do plano, Jack Browling (Ronald Reagan, surpreendentemente bem).

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Vendo hoje, é quase impossível não enxergar a forte influência que esse filme exerceu sobre PULP FICTION. Toda a essência do filme em colocar a camaradagem (e química) entre os dois assassinos está lá. Enquanto Lee (Clu Gulager) faz a vez de Vincent Vega do Travolta, silencioso, intempestuoso, e sempre o mais disposto à atos violentos, Charlie Strom (Lee Marvin) fica com a essência do Jules, de Sam Jackson; o mais falante e intimidador, e realmente o cérebro da dupla, sempre pensando pelos dois. Sem falar que enquanto Lee parece estar no auge da sua “carreira” como criminoso, Charlie já tem um semblante amargo e esgotado, tentando justificar sua busca pelo dinheiro como sua “aposentadoria” garantida, e sair da vida de matança uma vez por todas.

O filme também parece tirar o melhor de cada integrante do elenco. Além de Ronald Reagan fazer a performance da sua vida (infelizmente iria se aposentar da carreira artística para se dedicar a política de vez logo depois), Angie Dickinson merece destaque exclusivo e está em seu esplendor como uma femme fatale (contra o tipo) que assim como todo o resto dos personagens, não parece ter qualidades redentoras nenhuma. Ela conhece e seduz o personagem do Cassavetes, e como uma boa e clássica femme fatale, o manipula com sexo e acaba com sua carreira como piloto de corrida, o obrigando a entrar no plano do assalto do seu igualmente inescrupuloso namorado. Sheila Farr é a perfeita Lady MacBeth, que demonstra simpatia para onde o vento estiver soprando. Cassavetes também está excelente como o pato arrogante da vez no gênero.

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OS ASSASSINOS é um grande “pulp” neo-noir, que parece sempre estar tentando se engrandecer, apesar do baixo custo de produção. Em um plano aéreo incrível vendo pessoas saindo de um hotel, descobrimos que estamos de fato diante de uma câmera subjetiva de um sniper que começa à atirar em seus alvos. Orçamentos à parte, é de fato, um grande filme. E o começo do melhor momento da carreira do Siegel.

ESPECIAL DON SIEGEL #4: ONDE IMPERA A TRAIÇÃO (The Duel at Silver Creek, 1952)

Primeiro filme colorido da carreira de Don Siegel e, mais importante, seu primeiro western. Tá certo que o diretor nunca chegou a fazer uma obra-prima do gênero, mas seus esforços sempre renderam excelentes exemplares, como OS ABUTRES TÊM FOME (1970) e O ÚLTIMO PISTOLEIRO (1976), que marca o encerramento da carreira do maior ator de faroeste de todos os tempos, John Wayne. Se formos considerar O ESTRANHO QUE NÓS AMAMOS (1971) como um western, aí é outra história… Mas talvez a maior contribuição de Siegel no gênero tenha sido a de mentor de dois cabras porretas, Sam Peckinpah (seu assistente por muitos anos) e Clint Eastwood, o que o coloca merecidamente no panteão dos grandes mestres do faroeste. Continuar lendo

LEE MARVIN EM DEZ FILMES

O leitor Nivaldo Luiz quer saber quais são os meus dez filmes (e desempenhos) preferidos do grande Lee Marvin. Como se trata do meu ator favorito, fica difícil colocar em alguma ordem de preferência a questão da atuação, então resolvi apenas listar os filmes em ordem cronológica, comentar a seleção e eventualmente apontar algumas performances do homem que se destacam mais que outras.

Só escolhi os filmes em que o Marvin é protagonista, ou algo próximo disso, já que em alguns casos divide a tela com outros grandes atores. Deixei de fora, portanto, alguns momentos ótimos do “início” da carreira dele, como OS CORRUPTOS (1955) e O HOMEM QUE MATOU O FACÍNORA (1962), que não possui tanto tempo em cena. E como ainda me falta assistir vários títulos, pode ser que dêem falta de algum exemplar… Continuar lendo

O IMPERADOR DO NORTE (Emperor of the North, 1973)

Sou da mesma opinião do velho amigo Osvaldo Neto, meu filme favorito estrelado pelo Ernest Borgnine, que faleceu essa semana aos 95 anos, é O IMPERADOR DO NORTE, do mestre Robert Aldrich. Mas não tinha como ser diferente. Borgnine sempre cativou o público com seus personagens simpáticos e sorridentes, mesmo em exemplares mais duros, como MEU ÓDIO SERÁ SUA HERANÇA, de Sam Peckinpah (que seria o diretor deste aqui, após Martin Ritt desistir, mas acabou não concordando com o orçamento).

“O que aquele gordinho de cara engraçada está fazendo no meio dessa corja?!” Era essa a tônica de Borgnine… Mas aqui não! Em O IMPERADOR DO NORTE essa áurea de bonzinho vai às favas, num dos personagens mais brutais e sádicos que alguém poderia imaginar sobre a figura de Ernest Borgnine! Ele vive o condutor responsável de um trem de carga, durante o climax da depressão americana, que ganhou fama por não dar moleza aos viajantes clandestinos que resolvem pegar “carona” em sua preciosa locomotiva. Apesar disso, outra grande figura surge em cena para o confronto, Lee Marvin, cujo persoangem também possui um reputação a zelar: a de maior caronista clandestino de trem que existe!

Sem perder tempo com estudos sociológidos do período em questão (embora as classes estejam obviamente demarcadas nas duas figuras centrais), O IMPERADOR DO NORTE é um filme solto, mais em clima de aventura do que um recorte fiel e chato da depressão americana, e se desenvolve em cima do duelo físico e psicológico desses gigantes, o “vagabundo” liberto e o durão empregado da ferrovia. E Aldrich é de uma inteligência impressionante, conduzindo todas as situações de modo que o confronto seja inevitável, intensamente dramático… E quando finalmente ocorre, é como duas núvens carregadas que se chocam, causando estrondos ensurdecedores!

Belo filme, cinematograficamente potente, ótima recriação do clima da época, os traços da miséria, os programas de rádio, as roupas velhas e rasgadas, um sentimento que parece saído de um livro de John Steinbeck (apesar de inspirado em Jack London). E aqui vai o meu adeus ao velho Borgnine. O bom é que o sujeito deixou alguns duzentos filmes para estarmos sempre nos reencontrando…

BAD DAY AT BLACK ROCK (1955)

bad-day-at-black-rock-2Acho que já não deve ser mistério pra ninguém que o gênero ação é o meu predileto, então nada mais justo que conferir de vez em quando as raizes de tudo, não? O problema é que são tantos títulos do cinema físico e de ação clássico que fica difícil escolher por onde começar… que tal então BAD DAY AT BLACK ROCK (adoro o título original), um dos grandes precursores do cinema badass, dirigido pelo casca-grossa John Sturges (FUGINDO DO INFERNO, SETE HOMENS E UM DESTINO) e com um puta elenco formado por vários monstros consagrados do cinema americano?!

Começando pelo protagonista, Spencer Tracy, fazendo um tipo misterioso que chega de trem em uma minúscula cidade no meio do nada. O visual do filme é de encher os olhos desde os primeiros segundos, com um largo CinemaScope sendo preenchido com planos abertos, riqueza de detalhes, formas, cores e segue assim até o fim. A trama se passa nos anos 50 mesmo, mas o local parece que não acompanhou o decorrer do tempo e ficou preso no século anterior, com sua aparência de velho oeste. Há quatro anos o trem não para na estação local, então esta simples chegada do personagem ao local equivale à Copa do Mundo para aqueles habitantes.

Do mesmo modo que o objetivo de Tracy é totalmente desconhecido para os moradores, ao espectador a coisa não muda de figura. A princípio, Tracy parece um detetive da cidade grande, investigando pessoas e locais, todo engomadinho, com chapéu, maleta e… apenas um braço! Aos poucos, percebemos que algo naquele lugar realmente não cheira muito bem, e Robert Ryan logo surge em cena como o cínico dono da cidade e seus capangas, Lee Marvin e Ernest Borgnine, tentam transformar a vida de Tracy num inferno, intimidando o visitante, fazendo perguntas de um jeito não muito agradável sobre as intenções dele no local… obviamente, não gostam da presença dele ali.

E eu já vou soltar logo o maior spoiler de BAD DAY! Não, não estou falando do segredo que aquela pequena cidade esconde. Quero dizer algo que realmente me surpreendeu: o personagem de Spencer Tracy luta karatê! Há uma cena que é o paroxismo do cinema badass, no qual Tracy está tomando qualquer coisa no bar e Borgnine chega para atazanar a sua vida sem ter a mínima idéia que está diante de um especialista em artes marciais maneta… mas quem poderia saber? Tracy lhe aplica vários golpes com uma facilidade de fazer Steven Seagal se morder de inveja!

Apesar disso, o ritmo é bem lento para os padrões do cinema de ação moderno. E não estou criticando o trabalho do Sturges, pelo contrário, acho que o que falta na maioria dos filmes atuais, não só de ação, é justamente um ritmo mais lento, uma narrativa mais elaborada e cadenciada, com diálogos e situações “estáticas” tão tensas e emocionantes quanto explosões e tiroteios frenéticos! Uma das melhores coisas em BAD DAY, por exemplo, é a maneira como Sturges lentamente conduz o mistério da trama e o revela gradativamente. Isso sem contar que a descoberta aborda um assunto que nunca sai de moda.

Não é a toa que o diretor Don Siegel disse que o roteiro de BAD DAY AT BLACK ROCK foi o melhor que ele já leu! O filme consegue ser divertido, cheio de mistério e ação, mas com substância inesperada por trás de tudo. E se você ainda curte karatê com pessoas de apenas um braço, então este filme é pefeito pra você.

OS FILMES QUE LEE MARVIN NÃO FEZ

Lee Marvin tem uma das carreiras mais respeitáveis do cinema. Fora que dedicou boa parte de sua filmografia a alguns dos gêneros que eu adoro e, não foi a toa que acabou se tornando o meu ator favorito.

Trabalhou em noir’s, como OS CORRUPTOS, de Fritz Lang, protagonizando o famoso cafezinho quente no rosto de Gloria Grahame.

Ação e policial! THE KILLERS, PRIME CUT, POINT BLANK, CANICULE, etc… até COMANDO DELTA, seu último filme, dividindo a tela com Chuck Norris.

Fez um bocado de westerns sendo dirigido pelos melhores do ramo, como John Ford e Budd Boetticher. Inclusive ganhou o oscar de melhor ator de 1965, com CAT BALLOU, quando encarnou dois personagens no mesmo filme.

Não faltam produções de guerra também. OS DOZE CONDENADOS, de Robert Aldrich, AGONIA E GLÓRIA, de Samuel Fuller, a lista é longa e vou parar por aqui… até porque não são dos filmes que ele participou que eu gostaria de falar, mas sim dos filmes que ele NÃO participou.

Fiquei impressionado com a quantidade de papéis importantes que Lee Marvin recusou!

Não quis interpretar, por exemplo, o General George S. Patton em PATTON – REBELDE OU HERÓI. Acabou nas mãos de George C. Scott, que venceu o Oscar daquele ano.

Lee Van Cleef ficou com o papel do Coronel Douglas Mortmer, em POR UNS DÓLARES A MAIS, de Sergio Leone, após Lee Marvin ter rejeitado pra fazer CAT BALLOU.

Recusou até Sam Peckinpah, com quem teve alguns desentendimentos, no personagem que viria  a ser de William Holden em MEU ÓDIO SERÁ SUA HERANÇA.

As escolhas iniciais de John Boorman em AMARGO PESADELO eram Marlon Brando e Lee Marvin, mas o nosso ator favorito alegou que estavam velhos demais para aquilo e os papéis foram para Burt Reynolds e Jon Voight.

Também resolveu deixar de lado o Coronel Trautman no primeiro filme da série RAMBO.

Nem quis saber de trabalhar com o diretor William Friedkin e recusou OPERAÇÃO FRANÇA e COMBOIO DO MEDO.

Não consigo imaginar Dirty Harry sem a face de Clint Eastwood em PERSEGUIDOR IMPLACÁVEL, mas por pouco teríamos o rosto carrancudo de Lee Marvin.

A mesmíssima coisa o Paul Kersey de Charles Bronson em DESEJO DE MATAR.

Ainda teve TUBARÃO, de Steven Spielberg, onde deveria ter feito Quint, personagem que acabou com Robert Shaw, e o GUERRA DOS MUNDOS original, onde faria o protagonista.

Francis Ford Coppola chegou a escrever um bilhetinho pedindo ao Marvin para que atuasse em APOCALYPSE NOW na pele do Coronel Kurtz (quando ainda era Coronel Karnage):

clique na imagem para não forçar demais as vistas.

Com um bilhetinho desses, até o David Caruso teria recusado.

Fico imaginando o que Lee Marvin teria aprontado com todos esses personagens… talvez um dia chegasse aos pés desse mestre da interpretação aqui:

THE KLANSMAN (1974), de Terrence Young

Para começar bem o ano, revi essa preciosidade dos anos 70, estrelado pelo meu ator favorito, Lee Marvin, o qual vive um xerife casca grossa de uma pequena cidade americana que precisa tomar certas atitudes quando um grupo da Ku Klux Klan resolve botar pra quebrar em cima dos negros.
THE KLANSMAN é um filme interessante, desses que ninguém teria coragem de realizar hoje dentro de um estúdio americano, uma fábula cruel e violenta sobre racismo.

Naquele período o politicamente incorreto não era visto com o rabo de olho como é hoje (na verdade, era, só que os produtores ainda tinham audácia para financiar certas coisas). Brancos estuprando negras, castrando e assassinando negros à sangue frio, são pequenos detalhes presentes aqui, entre outras coisas, inimagináveis na Hollywood atual.

A primeira versão do roteiro, baseado num romance de William Bradford Huie, foi escrita pelo mestre Samuel Fuller – ele também seria o diretor do projeto – mas muito pouco do que fora filmado estava realmente nos manuscritos do diretor de CÃO BRANCO. O personagem de Marvin, por exemplo, não era um xerife, mas um membro da KKK cujo ponto de vista sobre o racismo se transformaria durante a trama. Havia também outros detalhes que provocaram os executivos da Paramount e fizeram com que fossem impostas as modificações, o que deixou Fuller puto da vida ao ponto de chutar o balde e pular fora. Mesmo assim, ele recebeu crédito pelo roteiro. Marvin pensou em fazer a mesma coisa, mas como já havia assinado o contrato acabou ficando.

Para o lugar de Fuller na direção, contrataram o veterano Terence Young, um nome raramente lembrado, mas possui no currículo alguns bons filmes de ação dos anos 60 e 70 realizados em sua maioria na Europa. Era um artesão de fato, mas sabia posicionar e movimentar muito bem a câmera com segurança, sabia contar uma boa estória. Foi ele quem dirigiu os dois primeiros filmes da série estrelada pelo espião 007, com Sean Connery.

Além de Lee Marvin, que está sempre perfeito em tudo que faz, temos também o britânico Richard Burton encabeçando o elenco. Dizem as colunas de fofocas que os dois bebiam todo tempo enquanto filmavam. Burton teve que parar em uma clínica para tratar do alcoolismo assim que as filmagens terminaram. O elenco se completa com o grande Cameron Mitchell, outro ator subestimado, e O.J. Simpson, aquele ex-jogador de futebol americano acusado de ter assassinado sua ex-mulher. Mas muitos se lembram dele como o policial Nordberg de CORRA QUE A POLÍCIA VEM AÍ.

O tema de THE KLANSMAN é tratado de maneira muito clara durante a trama e não possui muitas pretensões reflexivas, algo com o qual o roteiro de Fuller provavelmente proporcionaria. Tampouco é um filme de muita ação. Temos o final quando o grupo de KKK, fantasiados à caráter, encurrala o Xerife e seus amigos – estes respondem com chumbo grosso sem piedade, e só.

Mas é um bom filme que valoriza seus personagens e suas excelentes atuações, como os grandes momentos de Marvin contracenando com Burton, além da brutalidade habitual do cinema americano dos anos setenta. Um charme cultuado hoje, mas o filme pagou um preço sendo colocado no mesmo patamar das produções do cinema de exploração e, como acontece com quase todo esse tipo de filme, acabou encalhado e esquecido.

SEVEN MEN FROM NOW (1956)

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Meu primeiro contato com o cinema de Budd Boetticher. SEVEN MEN FROM NOW é um western inteligente, puramente cinematográfico e alegoricamente interessante. O elenco é encabeçado por Randolph Scott e, que inicia aqui uma pareceria com o diretor que rendeu alguns clássicos famigerados (aliás, os outros filmes desta parceria eu já tenho e vou comentando na medida em que for assistindo). Com roteiro do grande Burt Kennedy, o filme gira em torno de Scott, que interpreta um ex-xerife atrelado numa caçada por sete sujeitos que assassinaram sua esposa em um assalto; ao longo do caminho ele encontra algumas pessoas que o acompanha nessa jornada, como um casal que ruma para Califórnia numa carroça e um antigo desafeto do protagonista, vivido por Lee Marvin (fazendo um belo contraste, o sempre robusto Marvin x Scott e seu jeitão lacônico). Boetticher é bem seguro narrativamente e sabe utilizar as simbologias do gênero, a paisagem, o espaço, as cores, tudo em favor de um estilo simples e respeitador dos princípios da expressão da imagem cinematográfica, o que torna cada plano um espetáculo visual único.