
Preciso voltar a cobrir umas coisas recentes, acho que vai me manter mais ocupado aqui no blog. Nem que seja pra falar mal de uns filmes de ação meia boca, como é o caso de SAMARITANO (Samaritan), último veículo de ação do Sylvester Stallone, dirigido por um tal Julius Avery, produção da MGM lançado direto no Amazon Prime.
Meu amor pelo Sly nunca vai cessar, o cara simplesmente é um dos responsáveis por me fazer gostar de cinema. No entanto, o cara só deu bola fora nos últimos anos. Vai tomar no c#@&! Qual foi o último grande filme do Stallone? Acho que “grande filme” é até injusto… Deve ter mais de 10 anos que o sujeito não protagoniza algo desse porte. Então, ok, qual foi o último BOM veículo de ação do homem? Eu respondo: ESCAPE PLAN, de 2013. É tempo pra burro…

RAMBO – LAST BLOOD (2019) foi decepcionante e as continuações de ESCAPE PLAN (HADES, de 2018, e THE EXTRACTORS, de 2019) são nível dos piores DTVs que temos atualmente. Nem falo nada de BACKTRACE (2018), porque é simplesmente pavoroso. E não vou contar com CREED (2015), porque ele não é o personagem central (mas sim, aqui temos o bom e velho Sly no seu melhor). Enfim, SAMARITANO até acho melhor dos que esses últimos veículos do Sly, mas ainda tá muito abaixo do que sabemos que o cara sabe fazer.
Esperava-se algo minimamente divertido quando anunciaram que o sujeito faria um filme de herói. Um herói envelhecido e cansado, tendo que voltar à ativa. Poderia ter uma pegada meio CORPO FECHADO, do Shyamalan, mas brucutu, com pancadaria e muita ação. Nah! Ficou na promessa. Primeiro que o filme é mais focado no ponto de vista de um moleque (Javon Walton) que é obcecado pela lenda do Samaritano, um super herói que combatia o crime pelas ruas da cidade e lutava contra seu irmão gêmeo, Nemesis, que causava o terror no local. Stallone aparece lá depois de meia hora de filme (o tempo de tela dele antes disso é escasso), ele vive um lixeiro solitário, morando num conjunto de prédios de classe baixa – vizinho do moleque, que está convencido de que ele é o velho Samaritano. Na trama, ficamos sabendo que esse herói está desaparecido há mais de vinte anos após um confronto final com seu malvado irmão. O que se sabe é que Nemesis foi morto e o Samaritano desapareceu.

O moleque é um bom garoto, mas tem se envolvido com uma gangue criminosa liderada por Cyrus (Pilou Asbaek), que invade um depósito da polícia e rouba a arma de Nemesis, um poderoso martelo forjado por fogo e ódio, com a intenção de renascer Nemesis e tirar o elusivo samaritano de seu esconderijo.
Então esse moleque acaba sendo o protagonista. Javon Walton até é bom ator, mas dá aquele gostinho de desperdício um filme que Sly poderia desenvolver um personagem, mas na maior parte do tempo é relegado ao status de um coadjuvante sem muita expressão. O roteiro também não ajuda muito em desenvolver algo dramático com mais consistência, em criar um universo mais autêntico nessa cidade fictícia, e a relação que o garoto estabelece com Sly é bem genérica. Aliás, quase tudo no filme é genérico, e o que poderia ter sido um sopro de frescor para o cânone dos filmes de super-heróis atuais é, lamentavelmente, uma mediocridade que tenta se beneficiar da figura e carisma de Sly.

Quando o filme resolve botar pra quebrar na ação, já é meio tarde demais. Mas aqui é preciso fazer um elogio. No clímax, temos Sly encarando vários bandidos com seus super poderes, dá até pra chamar de uma boa sequência de ação. Dá pra dar um gostinho do que o filme poderia ter sido em mãos mais competentes. Até a grande reviravolta no final, apesar de previsível, é bem colocada.
Acredito que um pouco dos problemas de SAMARITANO seja até falta de orçamento pra fazer algo mais movimentado (a produção sofreu também com algumas paralizações durante a covid, era pra ter sido lançado ainda em 2020). Não tô dizendo que é um filme barato. Dá pra ver que não foi filmado a toque de caixa num fim de semana, mas também não tem a grandeza visual que esse tipo de material exigia, levando em consideração que não tem uma pegada mais séria. Mas não é desculpa pra fazer algo tão sem graça, tão desinteressado em abordar esse universo de super heróis; ou um drama mais contundente sobre um herói mais humano e envelhecido. Falta uma melancolia… O que temos é clichê dos mais rasteiros e uma traminha que demora muito pra ganhar força.

O próximo projeto do Sly é TULSA KING, uma série de máfia, cujos trailers me agradaram bastante. Acho que o formato pode contribuir pra termos um Sly mais comprometido com um personagem como há muito tempo não víamos. Boto fé. E vamos ter tbm OS MERCENÁRIOS 4, que aparentemente vai ser a despedida do Sly na série, passando o bastão pro Jason Statham. Tudo bem, contanto que o filme seja bom e não seja na mesma linha que aquela porcaria d’OS MERCENÁRIOS 3.
O fato é que Sly tá velho, cansado e cada vez mais desinteressado em fazer filmes. Perdeu boas oportunidades também de se consolidar como diretor (embora os poucos filmes que dirigiu tenham demonstrado que o homem é um talento acima da média no cinema americano) e agora me parece tarde demais pra tentar algo novo. Fica fazendo esses filmecos usando sua figura icônica pra atrair seus fãs, mas o resultado, pelo menos nos últimos tempos, tem decepcionado bastante.
E SAMARITANO decepciona. Não que eu esperasse muita coisa, já sou galo véio e pelo histórico recente do sujeito as chances de sair algo fraco era grande. Mas sempre pinta uma centelha de esperança. Não foi dessa vez.