SAMARITANO (2022)

Preciso voltar a cobrir umas coisas recentes, acho que vai me manter mais ocupado aqui no blog. Nem que seja pra falar mal de uns filmes de ação meia boca, como é o caso de SAMARITANO (Samaritan), último veículo de ação do Sylvester Stallone, dirigido por um tal Julius Avery, produção da MGM lançado direto no Amazon Prime.

Meu amor pelo Sly nunca vai cessar, o cara simplesmente é um dos responsáveis por me fazer gostar de cinema. No entanto, o cara só deu bola fora nos últimos anos. Vai tomar no c#@&! Qual foi o último grande filme do Stallone? Acho que “grande filme” é até injusto… Deve ter mais de 10 anos que o sujeito não protagoniza algo desse porte. Então, ok, qual foi o último BOM veículo de ação do homem? Eu respondo: ESCAPE PLAN, de 2013. É tempo pra burro…

RAMBO – LAST BLOOD (2019) foi decepcionante e as continuações de ESCAPE PLAN (HADES, de 2018, e THE EXTRACTORS, de 2019) são nível dos piores DTVs que temos atualmente. Nem falo nada de BACKTRACE (2018), porque é simplesmente pavoroso. E não vou contar com CREED (2015), porque ele não é o personagem central (mas sim, aqui temos o bom e velho Sly no seu melhor). Enfim, SAMARITANO até acho melhor dos que esses últimos veículos do Sly, mas ainda tá muito abaixo do que sabemos que o cara sabe fazer.

Esperava-se algo minimamente divertido quando anunciaram que o sujeito faria um filme de herói. Um herói envelhecido e cansado, tendo que voltar à ativa. Poderia ter uma pegada meio CORPO FECHADO, do Shyamalan, mas brucutu, com pancadaria e muita ação. Nah! Ficou na promessa. Primeiro que o filme é mais focado no ponto de vista de um moleque (Javon Walton) que é obcecado pela lenda do Samaritano, um super herói que combatia o crime pelas ruas da cidade e lutava contra seu irmão gêmeo, Nemesis, que causava o terror no local. Stallone aparece lá depois de meia hora de filme (o tempo de tela dele antes disso é escasso), ele vive um lixeiro solitário, morando num conjunto de prédios de classe baixa – vizinho do moleque, que está convencido de que ele é o velho Samaritano. Na trama, ficamos sabendo que esse herói está desaparecido há mais de vinte anos após um confronto final com seu malvado irmão. O que se sabe é que Nemesis foi morto e o Samaritano desapareceu.

O moleque é um bom garoto, mas tem se envolvido com uma gangue criminosa liderada por Cyrus (Pilou Asbaek), que invade um depósito da polícia e rouba a arma de Nemesis, um poderoso martelo forjado por fogo e ódio, com a intenção de renascer Nemesis e tirar o elusivo samaritano de seu esconderijo.

Então esse moleque acaba sendo o protagonista. Javon Walton até é bom ator, mas dá aquele gostinho de desperdício um filme que Sly poderia desenvolver um personagem, mas na maior parte do tempo é relegado ao status de um coadjuvante sem muita expressão. O roteiro também não ajuda muito em desenvolver algo dramático com mais consistência, em criar um universo mais autêntico nessa cidade fictícia, e a relação que o garoto estabelece com Sly é bem genérica. Aliás, quase tudo no filme é genérico, e o que poderia ter sido um sopro de frescor para o cânone dos filmes de super-heróis atuais é, lamentavelmente, uma mediocridade que tenta se beneficiar da figura e carisma de Sly.

Quando o filme resolve botar pra quebrar na ação, já é meio tarde demais. Mas aqui é preciso fazer um elogio. No clímax, temos Sly encarando vários bandidos com seus super poderes, dá até pra chamar de uma boa sequência de ação. Dá pra dar um gostinho do que o filme poderia ter sido em mãos mais competentes. Até a grande reviravolta no final, apesar de previsível, é bem colocada.

Acredito que um pouco dos problemas de SAMARITANO seja até falta de orçamento pra fazer algo mais movimentado (a produção sofreu também com algumas paralizações durante a covid, era pra ter sido lançado ainda em 2020). Não tô dizendo que é um filme barato. Dá pra ver que não foi filmado a toque de caixa num fim de semana, mas também não tem a grandeza visual que esse tipo de material exigia, levando em consideração que não tem uma pegada mais séria. Mas não é desculpa pra fazer algo tão sem graça, tão desinteressado em abordar esse universo de super heróis; ou um drama mais contundente sobre um herói mais humano e envelhecido. Falta uma melancolia… O que temos é clichê dos mais rasteiros e uma traminha que demora muito pra ganhar força.

O próximo projeto do Sly é TULSA KING, uma série de máfia, cujos trailers me agradaram bastante. Acho que o formato pode contribuir pra termos um Sly mais comprometido com um personagem como há muito tempo não víamos. Boto fé. E vamos ter tbm OS MERCENÁRIOS 4, que aparentemente vai ser a despedida do Sly na série, passando o bastão pro Jason Statham. Tudo bem, contanto que o filme seja bom e não seja na mesma linha que aquela porcaria d’OS MERCENÁRIOS 3.

O fato é que Sly tá velho, cansado e cada vez mais desinteressado em fazer filmes. Perdeu boas oportunidades também de se consolidar como diretor (embora os poucos filmes que dirigiu tenham demonstrado que o homem é um talento acima da média no cinema americano) e agora me parece tarde demais pra tentar algo novo. Fica fazendo esses filmecos usando sua figura icônica pra atrair seus fãs, mas o resultado, pelo menos nos últimos tempos, tem decepcionado bastante.

E SAMARITANO decepciona. Não que eu esperasse muita coisa, já sou galo véio e pelo histórico recente do sujeito as chances de sair algo fraco era grande. Mas sempre pinta uma centelha de esperança. Não foi dessa vez.

FIRST BLOOD em Cannes

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Passa hoje no Festival de Cannes numa cópia restaurada, em 4K, a obra-prima FIRST BLOOD, de Ted Kotcheff, mais conhecido no Brasil como RAMBO – PROGRAMADO PARA MATAR, um dos meus filmes de cabeceira. A sessão vai contar com a presença do próprio Sylvester Stallone (apresentando também as primeiras imagens do novo filme do personagem, RAMBO V – LAST BLOOD). Mas o que eu quero realmente saber é: será que agora, que vai passar num festival de tamanho prestígio e conceito, FIRST BLOOD vai finalmente receber o devido valor daquela parcela da crítica preconceituosa e cinéfilos elitistas que acham que o filme é só um exemplar exagerado de ação oitentista? Será que finalmente vão reconhecer a sua magnitude colossal? Espero que sim…

FALCÕES DA NOITE (Nighthawks, 1981)

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Ontem revi FALCÕES DA NOITE, um trabalho um tanto atípico do Sylvester Stallone que nunca recebeu a devida atenção que merece. Não sei como foi a recepção na época, mas hoje quando se fala de cinema de ação/policial dos anos oitenta, estrelado pelo Stallone, é quase impossível para seres humanos normais não imaginar filmes recheados de sequências de ação mirabolantes, explosivas, e pancadaria ou tiroteios exagerados. Mas eis que se deparam, por acaso, com este aqui, um drama policial com tom mais realista e com clima de ressaca setentista, que está longe dos exageros de um COBRA ou TANGO & CASH, chega até a ser compreensivo a decepção de alguns… Por outro lado, tem que ser muito chato para não perceber a beleza de FALCÕES DA NOITE e reconhecer que se trata de um bom filme do gênero.

Curiosamente, FALCÕES DA NOITE teria se chamado OPERAÇÃO FRANÇA III. E no lugar do Stallone, Gene Hackman reviveria seu icônico policial, Popeye Doyle. É sério isso. O estilo setentista e mais intimista da obra não é uma simples coincidência. Mas, por alguns motivos (o principal foi que Hackman “deu pra trás”), o projeto de uma segunda continuação do clássico de William Friedkin acabou não dando certo e o roteiro foi adaptado para outros personagens. No entanto, ao que tudo indica, o plot básico permaneceu, mesmo com as constantes interferências que o Stallone fazia no roteiro.

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Portanto, teríamos Doyle enfrentando um sádico terrorista alemão pelas ruas de Nova York. Daria tudo pra ver esse filme… Mas ok, temos FALCÕES DA NOITE, que apresenta Wulfgar (Rutger Hauer), um terrorista que acaba perdendo a linha nos seus negócios, que se resume em explodir lugares e pessoas, e precisa sair de cena por uns tempos após um ataque, antes que seus ex-companheiros o traia ou a polícia o prenda. Então decide ir para Nova York, lugar perfeito para se abrigar terroristas foragidos sem ser incomodado, principalmente depois de uma cirurgia plástica facial.

O que Wulfgar ainda não sabe é que um especialista anti-terrorismo, Peter Hartman (Nigel Davenport) antecipou seus movimentos e já está em Nova York planejando uma forma de capturá-lo. Para isso conta com uma ajudinha extra formada por alguns dos melhores homens do departamento de polícia local: Deke DaSilva (Stallone) e Matthew Fox (Billy Dee Williams), os cabras perfeitos para essa missão. Típicos tiras cascas-grossas, sabem lidar com a bandidagem e conhecem cada canto do submundo nova-iorquino. Logo no início, o filme apresenta a tática da dupla de pegar vagabundos: DaSilva se veste de senhora indefesa e anda pelas ruas escuras à noite. Quando os bandidos se aproximam achando que vão faturar mais uma bolsa, é tarde demais pra perceber que a mulher tem barba e tem uma arma apontada pra eles.

Apesar da experiência, ambos passam por um treinamento anti-terrorismo que martela na cabeça dos policiais a necessidade de matar Wulfgar de qualquer maneira, nem que coloque em risco a vida de inocentes, algo que DaSilva é totalmente contra e quase abandona o barco. Mas no fim das contas, decide permanecer no grupo depois de vários momentos de pura reflexão profunda e filosófica.

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Stallone e Williams estavam em ótima fase, e possuem uma química que funciona legal como parceiros policiais. Williams (mais conhecido por ser o Lando de STAR WARS) é o que chamamos de parceiro cool. Sabemos que é coadjuvante, que não vai ter o mesmo destaque que o protagonista, mas é sempre bom vê-lo em ação ou como contraponto do herói. O que chama a atenção é Stallone estar longe do seu habitual estereótipo do policial brucutu que se acha acima da lei , como em COBRA, por exemplo. Embora seja de fibra, o sujeito se apresenta em FALCÕES DA NOITE um pouco mais comedido, introspectivo, demonstrando uma faceta mais frágil, tentando se reaproximar da ex-mulher… Algo bem diferente da imagem action man dos anos oitenta e noventa que ajudou a solidificar. Se bem que analisando friamente os personagens de Stallone, a grande maioria é bem mais complexa do que aparenta. E filmes como RAMBO (o primeiro), OVER THE TOP, LOCK UP e até mesmo o próprio COBRA, podem revelar como protagonista uma figura com sensibilidade… Mas FALCÕES DA NOITE é um dos exemplos mais claros de que Stallone não é só músculos como muitos imaginam por puro preconceito. E o Oscar deste ano vai reconhecer isso. Estamos na torcida! Há ainda uma pequena participação do grande Joe Spinnel, como chefe de policia, que é sempre um deleite.

Mas o melhor do filme é definitivamente Rutger Hauer  (em seu primeiro filme americano), muito convincente, com um olhar expressivo, louco, fazendo o terrorista sangue frio que mata sem piedade. E o fato é que Stallone percebeu que Hauer estava chamando mais a atenção e resolveu mexer alguns pauzinhos. Como já mencionamos, constantemente Sly era visto conversando com o roteirista David Shaber para alterar algumas cenas, diálogos, a fim de tirar o destaque de Hauer e tentar colocar os holofotes pra si. Não deu muito certo… Digo, Stallone manda bem sempre, é um dos meus atores favoritos. Mas competir com Rutger Hauer é praticamente impossível… Desculpa aí, Sly…

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Há até uma história curiosa envolvendo os dois atores e vai rolar uns spoilers… Se não quiserem saber nenhum detalhe importante do filme, sugiro pular o parágrafo. A primeira cena que gravaram em FALCÕES DA NOITE foi justamente o desfecho, na qual Hauer leva uns tiros do Stallone, que engana o vilão vestido de mulher. Haviam uns cabos amarrados no holandês para que fosse puxado pra trás a cada bala alvejada no personagem. E Sly, não sei porque diabos, pediu aos técnicos que puxassem o sujeito com uma força acima do esperado, o que causou sério, digamos, desconforto em Hauer. Quando descobriu que Stallone que havia pedido que o puxassem com tanta força, o holandês emputeceu, enfiou o dedo na cara de Sly e o restante das filmagens pairou um climão no ar… Mas Hauer estava decidido a não desperdiçar a sua primeira chance em solo americano e mandou bem na performance. Tanto que foi durante as filmagens de FALCÕES DA NOITE que a mãe do ator faleceu, o que não o impediu de continuar fazendo o filme.

Já Sly estava com moral na época. A direção do filme, por exemplo, é creditada a Bruce Malmuth, que mais tarde viria a fazer DIFÍCIL DE MATAR, um dos melhores filmes de Steven Seagal. Mas as filmagens iniciaram sobre a batuta do veterano Gary Nelson. Quando este último pulou fora, por mais confusões com Stallone, pra variar, Malmuth assumiu justamente quando deveriam filmar a sequência de perseguição no metrô de NY. Mas na pressa de substituir o diretor e para não perder um dia de filmagem, quem assumiu a direção foi o próprio Sly, o que gerou até uns problemas no sindicato de diretores. Mas é um dos grandes momentos do filme, uma perseguição tensa e realmente bem filmada, que mostra o talento de Sly atrás das câmeras, algo que já havia demonstrado em PARADISE ALLEY, sua estreia na direção. O filme até oferece alguns ótimos momentos de ação mais agitados e explosivos, mas não é esse o foco de FALCÕES DA NOITE, filme policial de atmosferas, dramas e personagens…

Apesar de tudo, FALCÕES DA NOITE sofreu com vários problemas de finalização. Um primeiro corte teria aproximadamente duas horas e meia e de tanto mexe e remexe, o filme acabou levando a pior em alguns momentos em que se percebe que falta algo, ou que o ritmo não tá legal. Há um certo choque entre o “tema policial urbano” e a “trama de terrorismo internacional” que é meio estranho. Deixa o filme torto, mas não tira o brilho e a diversão do resultado final. que permanece um filmaço, sem dúvida alguma.

TOP 10 SYLVESTER STALLONE

O velho Sly recebeu o Globo de Ouro de melhor ator coadjuvante pela sua atuação no belo CREED (2015) no último domingo e hoje foi indicado ao Oscar pela mesma performance. Para comemorar, resolvi fazer um Top 10 das minhas atuações favoritas do sujeito. Portanto, não levo em consideração a qualidade dos filmes, apenas o trabalho dramático do ator. Podem discutir à vontade:

cobra10. COBRA (1986), de George P. Cosmatos

over-the-top-stallone-face-109. OVER THE TOP (1987), de Menahem Golan

Sylvester-Stallone-creed08. CREED (2015), de Ryan Coogler

lock-up07. CONDENAÇÃO BRUTAL (Lock Up, 1989), de John Flynn

paradise06. A TABERNA DO INFERNO (Paradise Alley, 1978), de Sylvester Stallone

fist-51005. F.I.S.T. (1978), de Norman Jewison

maxresdefault04. COP LAND (1997), de James Mangold

7591275286_Rocky_Balboa_2006_BluRay_720p_x26403. ROCKY BALBOA (2006), Sylvester Stallone

tumblr_npl57iplgG1qetb0ho1_128002. ROCKY (1976), de John G. Avildsen

rambo201. FIRST BLOOD (1982), de Ted Kotchef
(bastavam os dez últimos minutos finais deste aqui pra colocá-lo em primeiro lugar)