Já que estamos no mês de Halloween, nada mais justo que ver uns filmes de horror pra variar… Como se eu já não assistisse coisas do gênero o ano inteiro. Mas enfim, há alguns dias resolvi rever a franquia PSICOSE. Sim, o clássico de Alfred Hitchcock de 1960 teve algumas continuações nos anos 80 e 90, caso alguém não saiba. Eu já tinha visto quando era moleque e não me lembrava de nada. E foi uma boa jornada. Quero dizer, pelo menos alguns valeram muito a pena. Outros nem tanto. Então resolvi listar os filmes da série em ordem de preferência, do pior ao melhor.
6. BATES MOTEL (1987), de Richard Rothstein
O pior filme da franquia PSICOSE disparado é isso aqui. Entre PSICOSE III (1986) e PSICOSE IV (1990), tentaram fazer um spin-off da coisa toda, uma série de TV que acabou não indo pra frente. O piloto acabou virando esse TV movie meia boca que ignora as continuações produzidas até ali e imagina como seria se o serial killer Norman Bates tivesse ficado amigo de um garoto dentro da instituição que estava preso logo após os eventos do primeiro filme. 27 anos depois, Bates morre e deixa o famigerado motel de herança pro rapaz, que precisa reformar e reabrir o local… É o multiverso PSICOSE.
É fraquinho, uma comédia dramática sobre esse sujeito chamado Alex West (Bud Cord), um deslocado social tentando lidar com a vida fora da instituição onde passou a vida inteira preso, as burocracias para reabrir o motel, fazendo amizade com novas pessoas e, de vez em quando, encarando uma ou outra situação de horror, como se o mal que assombrou a família Bates ainda estivesse ligado ao local. Se o trabalho de suspense e horror não fosse nulo, talvez rendesse algo, mas nem pra isso BATES MOTEL presta. O arco da escritora, por exemplo, no terceiro ato, uma historinha de fantasmas totalmente deslocada da trama principal, é constrangedor e provavelmente dá um gostinho do que seria a série. Da mesma forma, a revelação final, ao estilo desfecho de Scooby Doo é um dos troços mais ridículos que já vi. Enfim, não vale muito a recomendação, a não ser que você seja um completista obcecado.

5. PSICOSE (1998), de Gus Van Sant
É o único filme que não revi, então nem vou me prolongar muito. Um experimento que o Van Sant fez de refilmar o clássico de Hitchcock quadro a quadro… Há quem defenda, mas eu particularmente acho uma inutilidade. Prefiro rever o original trocentas vezes. Mesmo assim, pelas minhas lembranças, ainda é melhor que BATES MOTEL.

4. PSICOSE IV (1990), de Mick Garris
O quarto e último da série PSICOSE também é um filme feito pra TV. Ao longo de quase 90 minutos assistimos Norman Bates (Anthony Perkins já imortalizado pelo personagem) tentar desempacotar toda a sua bagagem emocional e psicológica ao telefone num programa de rádio, com um monte de flashbacks da sua infância e adolescência, explorando as origens que o levaram a ser um serial killer e sua relação edipiana com a mãe (Olivia Hussey). Também descobrimos que Norman agora se casou e está tentando acabar com seus demônios para sempre. O que inclui matar sua esposa grávida para que o mal não passe para a próxima geração…
Mas é tudo meio decepcionante. Até curto algumas coisas do Mick Garris, mas acho que sempre foi mais simpatia pela sua boa vontade com o gênero do que realmente talento, mas temos alguns momentos aqui e ali mais inspirados em PSICOSE IV, como quando Henry Thomas (o garotinho do E.T. O EXTRATERRESTRE) assume o papel de Norman Bates adolescente, lutando com seus sentimentos inquietantes por sua mãe e propensão a esfaquear mulheres. Mas num geral as coisas não funcionam muito bem, é tudo muito chato e nem trazer o roteirista do original e a trilha sonora de Bernard Herrmann ajuda muito…

3. PSICOSE III (1986), de Anthony Perkins
Aqui começam as surpresas. Não lembrava que este terceiro filme era tão legal. Foi dirigido pelo próprio Anthony Perkins, que não se aguenta em criar uns fan service para homenagear o filme original (com alguns detalhes e enquadramentos que copiam o filme de 1960) e o próprio Hitchcock (a sequência inicial das freiras remete muito a VERTIGO), mas ao mesmo tempo transporta o material para o slasher dos anos 80 em toda sua essência: exagerado, com grande dose de nudez, um bocado de violência, muito neon, só coisa boa… Pode não ter um trabalho psicológico tão complexo, como o de PSICOSE II (1982), mas todos esses elementos típicos do horror oitentista compensam pra diversão.
Perkins, particularmente, tá um bocado over, mas ainda é maravilhoso assisti-lo como Norman Bates. E ainda demonstra um bom domínio na direção, na condução das coisas, construção de atmosfera tão peculiar do slasher e da estética do horror dos anos 80 num geral… Podia ter investido mais no ofício. Mas o que realmente se destaca em PSICOSE III é a presença insana do grande Jeff Fahey. O cara tá sensacional!

2. PSICOSE II (1982), Richard Franklin
Uma sequência que consegue expandir o cânone do primeiro filme, que é um dos maiores da história (e a essa altura já sabem que ficou em primeiro lugar neste ranking), ao mesmo tempo em que se aprofunda nos seus mistérios. Um filme com grande interesse em examinar essa figura que é Norman Bates (Anthony Perkins simplesmente genial aqui) sem transformá-lo em um rato de laboratório, simpático ao espaço mental do personagem, interessado em descompactar as camadas de uma vida inteira de trauma, culpa e medo na sua psique, 22 anos depois dos eventos do primeiro filme.
Há também uma boa dosagem de momentos de tensão e horror para equilibrar o drama, com algumas mortes realmente divertidas (e como já estamos nos anos 80 aqui, um pouco mais de violência gráfica que o clássico) e algumas boas reviravoltas. Ótimo roteiro de Tom Holland e a direção sempre competente de Richard Franklin, o “Hitchcock australiano”. Pode não chegar aos pés do original (poucos filmes do gênero chegam) mas temos aqui um dos melhores filmes de psicopatas dos anos 80.

1. PSICOSE (1960), de Alfred Hitchcock
Por fim, a cereja do bolo. Não tinha como ser diferente. E talvez neste momento, revisto pela milésima vez, PSICOSE seja o meu Hitchcock preferido… Desses filmes que eu já coloquei numa prateleira especial dos exemplares que nunca vou cansar de rever. É perfeito. Quantos filmes podem se orgulhar de terem reformulado um gênero? Não acho exagero nenhum dizer que essa obra-prima de Hitchcock, talvez o mais famoso filme de serial killer da história, criou o horror moderno.
Dessa vez fiquei atento nos detalhes da atuação de Anthony Perkins como o jovem Norman Bates – seu rosto, no final, é uma das mais terríveis expressões do mal já vistas. É tão antológica que não surpreende o sujeito nunca mais conseguir se livrar do papel. Mas o que faz mesmo de PSICOSE um filme extraordinário é a brilhante construção de planos que Hitchcock usa para costurar uma história que é simplesmente fantástica. Desde o plano inicial, a Janet Leigh de sutiã, o domínio do suspense durante cada segundo de sua “fuga”, a trilha sonora do Herrmann entoando, o encontro com Bates, até chegar na cena do chuveiro, que é uma das mais icônicas da história e que desconstruiu toda a noção de protagonismo que o cinema havia trabalhado até então.
É brutal, tenso, tesudo pra cacete e com aquela ironia macabra tão inerente ao velho Hitch.
Enfim, tudo já foi dito sobre PSICOSE. Essa revisão, mesmo depois de tantas e tantas ao longo de décadas, foi primordial só pra perceber ainda mais o quanto amo esse filme.