
PIG não é nada daquilo que eu esperava. Não sei se mais interessante, melhor ou pior, mas com certeza algo de fascinante e emocional que quebrou minhas espectativas. E não, o filme não é um “John Wick com uma porca”.
Na trama temos Nic Cage como Robin Feld, um ermitão que vive na floresta com sua única companheira, uma porquinha, caçadora de trufas. Uma noite qualquer, um grupo de pessoas invade sua cabana e sequestra o animal. Agora, Robin deve se aventurar de volta ao mundo civilizado da grande cidade para rastrear a porca. No papel, PIG soa estranho e até cômico. Na prática, o que vemos é um exercício quase espiritual sobre como as pessoas escolhem canalizar suas emoções. Robin deixou de funcionar no mundo exterior depois de um acontecimento trágico, optando por uma vida de isolamento. Antes, um chef de cozinha celebrado. Agora, evita o contato humano, encontrando consolo na reconexão com a natureza.

O único elo com a humanidade vem na forma de Amir (Alex Wolff), que compra as trufas de Robin para venda na cidade. Após o ataque noturno, voltar a encarar o resto do mundo é inevitável. E a partir daqui, o diretor e roteirista estreante Michael Sarnoski vai contra todos os clichês de gênero imagináveis, optando por não desencadear o que se espera de um CAGESPLOITATION. Não há perseguições, lutas, tiroteios, nem mesmo um suspense… Em vez disso, Robin inicia uma jornada existencial, uma reconciliação com seu passado. E realiza visitas discretas feitas a pessoas na indústria de restaurantes de Portland em busca de respostas: onde raios foi parar a porca?, mas sem a intenção de partir pra violência. A exceção talvez seja uma sequência num submundo dos restaurantes onde os funcionários parecem participar de uma espécie de “Clube da Luta”, o que justifica a cara de Robin toda arrebentada nas imagens que circulam. Mas até nisso o filme tenta fugir dos padrões.
A direção é minimalista, com foco nesses personagens (o rapaz, Amir, também possui um arco interessante pra ser resolvido), tratando de temas com certa sensibilidade. É evidente que alguns poderão sair frustrados com o ritmo lento. Enquanto para outros, PIG é um bom registro do porquê Nicolas Cage permanece único. Num grau de comprometimento absurdo com o projeto, Cage é uma potência aqui, numa performance que traduz o trauma e a tristeza de uma forma muito física. Não canso de repetir que Nic Cage é, pra mim, o melhor ator que temos hoje em atividade, o único que consegue me deixar num estado de suspensão em qualquer merda que faça.