Vi outro Godzilla. Tô ficando viciando nesses filmes de monstro japoneses, também conhecidos como filmes de monstros de roupa de borracha destruidores de maquetes. Tenho assistido aos poucos, devagar quase parando, os tempos atuais não me permitem assistir tudo de uma vez, mas tá bacana acompanhar essa franquia em sequência e perceber a progressão de cada produção, como cada obra se esforça para superar o filme anterior especialmente em termos de destruição e grandiosidade.
Em GHIDORAH – THE THREE-HEADED MONSTER, o diretor Ishiro Honda e sua turma chutaram o pau da barraca e colocaram quatro monstros no mesmo filme (um deles o Godzilla), que não apenas lutam entre si, mas também se unem para encarar um inimigo em comum, que neste caso é Ghidorah, o monstro espacial de três cabeças. E essa é uma fórmula que vai marcar a franquia para sempre, que passa a povoar cada filme da série com o maior número de monstros possíveis em alianças e tretas em escalas gigantescas.
A trama começa com uma chuva de meteoros que chamam a atenção da população que observa os céus maravilhado. Um meteorito específico cai numa região montanhosa e intriga os cientistas com suas propriedades magnéticas poderosas. Numa história paralela a essa, a princesa de uma pequena nação é misteriosamente poupada da morte, saltando instantes antes de seu avião explodir no ar. Quando a garota atordoada, que milagrosamente sobreviveu à queda devido a uma força alienígena, aparece em público, ela sofre de amnésia e fala para todos que veio de outro planeta. Além disso, a moça começa a fazer premonições, como a que Godzilla e Rodan irão ressurgir e causarão destruição mais uma vez.
Mas o verdadeiro problema é um monstro do espaço chamado Ghidorah, que ela alerta com mais ênfase, dizendo ser capaz de destruir toda a raça humana. Eventualmente, o tal meteorito ultra magnético que caiu nas montanhas se abre e liberta o grandioso Ghidorah.
Em algum lugar no Japão, Godzilla e Rodan aparecem e começam a brigar. Mothra (que eu já apresentei aqui no blog) intervém na briga e pede aos outros dois monstros para que ajudem a defender a humanidade do monstro espacial de três cabeças. GHIDORAH – THE THREE-HEADED MONSTER marca portanto um importante ponto de virada na história da série Godzilla. Afinal, é aqui que o famoso monstro japonês se torna um defensor da raça humana… Claro, na cena em que surge ele explode um navio cheio de inocentes tripulantes, mas no decorrer da trama acaba convencido a virar a casaca… Então, no fim das contas temos Godzilla, Mothra e Rodan vs. Ghidorah. Parece covardia, mas Ghidorah é foda pra cacete e daria uma surra em qualquer um deles caso resolvesse bancar o fodão sozinho…
A subtrama com os humanos também evolui e se desdobra num thriller de ação interessante com a descoberta de que o avião da princesa fora sabotado. Como ela ainda se contra viva, mesmo com amnésia, há toda uma conspiração para matá-la e assassinos profissionais são enviados com esse objetivo. Um policial resolve se meter à guarda-costas da moça, o que nos leva a algumas sequências rápidas de tiroteios em meio ao festival de destruição de cidades em miniatura causada pelos monstrengos.
Godzilla e Mothra são duas figuras já conhecidas por aqui, embora este último só compareça em GHIDORAH na sua forma de larva, do jeito que termina o filme anterior, MOTHRA VS GODZILLA. Quem faz estreia na série é Rodan, que já havia estrelado seu próprio kaiju, RODAN (1956), também dirigido por Honda, e Ghidorah, que acaba por ser um dos mais poderosos vilões dentre os quais Godzilla e sua turma tiveram que encarar. Mesmo que demore um pouco para que todos os kaijus apareçam juntos na tela e comecem a esmagar as coisas e bater uns nos outros, ainda temos sempre alguns momentos absurdos proposto pelo roteiro que, apesar de risíveis e altamente questionáveis, é o que fazem a obra ser ainda mais divertida, como a sequência em que Mothra consegue interferir na batalha entre Godzilla e Rodan para convencê-los de encarar Ghidorah, enquanto as duas gêmeas em miniatura (sim, elas estão de volta!) narram o que os monstros estão falando… Desses momentos inacreditáveis que de tão constrangedor acaba por ser também hilário!
No comando da coisa toda, Ishiro Honda manda bem novamente nas sequências de pancadaria de kaijus, abusando de efeitos especiais cada vez melhores e miniaturas cada vez mais realistas sendo destruídas enquanto os monstros trocam golpes e raios, com um trabalho de câmera bem legal, enquadramentos tortos, planos abertos, à distância, que dão noção da grandiosidade dessas batalhas…
GODZILLA (1954) ainda pode ser o melhor exemplar, com sua seriedade e um contexto histórico relevante, e fica evidente que nenhuma das sequências são refinadas em termos de roteiro, narrativa e atuações, como o clássico que deu origem a isso tudo, mas isso não importa muito. Esses filmes são sobre monstros destruindo miniaturas e trocando socos entre si. E a esse respeito, GHIDORAH – THE THREE-HEADED MONSTER definitivamente não decepciona, especialmente por Honda acertar em cheio ao escalar vários monstros nipônicos para tretarem num único filme, o que acaba por ser um registro importante de uma época onde a imaginação e a inocência eram cruciais para encantar o público. Tá certo que tudo isso não passou de um ensaio para o que estaria por vir, já que em 1968, Honda ainda faria um compêndio de monstros ainda maior, em DESTROY ALL MONSTERS. Mas a gente ainda chega lá.