Como tem brotado muita lista na horta do Dementia¹³, vamos postar mais uma para enriquecer o Inventário Eurocult. A relação de filmes de hoje vem do sul do Brasil, de um dos sujeitos mais gente fina que eu conheço nesse universo blogueiro. Ainda vou descer nessa região só para conhecer pessoalmente e tomar umas com o Paulo “Blob” Teixeira. Dono de um gosto cinematográfico peculiar, que era explorado num dos melhores blogs de gênero em língua portuguesa, o Blog do Blob, sua lista contribui extremamente para o inventário pelos seus títulos, comentários especialíssimos e por levar em consideração as listas anteriores.
Primeiramente devo agradecer ao Ronald Perrone pela honra de participar desse inventário. Embora o Eurocult/Eurotrash seja bem amplo, resolvi colocar uma limitação para mim, após ler as maravilhosas listas anteriores do Osvaldo Neto e do Leopoldo Tauffenbach, conclui que muitos dos filmes citados pelos meus queridos amigos acabariam também respingando na minha lista, mas como citei acima, o terreno é amplo, então decidi não repetir nenhum título que teria sido citado anteriormente, por mais que eu goste, em contrapartida colocarei outros que tem lugar seguro no meu coração, e que suponho também tenha lugar no coração dos amantes do cinema de gênero do Velho Continente.
Assim como os ilustres companheiros, também mandei mais de 10, são 15 ao todo, e ficou uma porrada de fora (cadê o Jesus franco, por exemplo?). Quem sabe fica para uma outra hora, né?
1. TORSO (I Corpi Presentano Tracce di Violenza Carnale, Itália, 1973);
Dir. Sergio Martino, com Suzy Kendall e Luc Merenda
O giallo em sua essência mais pura e brutal! A simplicidade é seu maior trunfo. Um assassino mascarado sai matando universitárias, anos antes de Michael Myers e Jason Vorhess transformar isso em modinha. Se você nunca viu um dos filmes “amarelos” italianos, recomendo que comece por esse. Um exercício de violência e tensão.
2. ZOMBIE – A VOLTA DOS MORTOS-VIVOS (Zombie a.k.a. Zombi 2, Itália, 1979); Dir. Lucio Fulci, com Tisa Farrow, Richard Johnson e Al Cliver
O meu filme preferido de zumbis! Fulci com sua criatividade e fúria a todo vapor, depois desse sua própria filmografia nunca mais foi a mesma.
3. VAMOS A MATAR, COMPAÑEROS (Itália/Alemanha/Espanha, 1970)
Dir. Sergio Corbucci, com Franco Nero, Tomas Milian e Jack Palance
Esse clássico do spaghetti western é um dos meus filmes favoritos. Ação, humor e política em doses cavalares. O que dizer da dupla Franco Nero e Tomas Milian? E o vilão bizarro de Jack Palance? Tudo emoldurado pela inesquecível trilha do mestre Enio Morricone. Antológico demais.
4. O DIA DA BESTA (El Día de la Bestia, Espanha, 1995)
Dir. Álex de la Iglesia, com Álex Angulo, Armando de Razza e Santiago Segura
Um dos meus filmes preferidos. A história do padre que vai tentar impedir o nascimento do anticristo no natal de 1995 em Madrid, com a ajuda de um headbanger e um apresentador de televisão de programas sensacionalistas sobre ocultismo mostra o diretor de la Iglesia no auge da forma: misturando humor negro, horror, critica social e personagens bizarros ele satiriza tudo e todos: cristãos, satanistas, metaleiros, extrema direita. Sem sobrar pedra sobre pedra. Olé!
5. PHENOMENA (Itália/Inglaterra/Alemanha/Suiça/Dinamarca, 1985)
Dir. Dario Argento, com Jennifer Connelly, Daria Nicolodi e Donald Pleasence
O filme síntese da carreira do Argento e sua penúltima obra-prima (depois ele faria Opera em 1987, para perder o rumo). Elementos sobrenaturais, de giallo, cenas de assassinato, trilha mesclando Iron Maiden, Motörhead, entre outros, junto com o Goblin, Jennifer Connelly estrelando, Donald Pleasence, cenas inesquecíveis como a piscina de vermes. São tantas coisas legais aqui, simplesmente demais!
6. AS TRÊS MÁSCARAS DO TERROR (I Tre Volti della Paura a.k.a. Black sabbath, Itália/Inglaterra/França, 1963); Dir. Mario Bava, com Boris Karloff
O Mestre Bava nos presenteia com três belos contos, dando uma síntese no cinema de horror italiano e uma aula de cores e climas. Destaque para a segunda, e melhor história, com o Boris Karloff como um patriarca de uma família de camponeses que vira vampiro. Simplesmente sublime.
7. ¿QUIÉN PUEDE MATAR A UN NIÑO? (Espanha, 1976)
Dir. Narciso Ibañez Serrador, com Lewis Fiander e Prunella Ransome
Não tem para ninguém, do filão de crianças sinistras e assassinas, dos quais podemos citar “A Cidade dos Amaldiçoados” e “A Colheita Maldita” como exemplos, nenhum deles é mais perturbador que essa obra, realizado por um uruguaio radicado na Espanha chamado Narciso Ibañez Serrador. A abertura do filme é antológica: um mini-documentário em preto-ebranco mostrando vários conflitos ao redor do mundo, dando ênfase na mortalidade infantil. O filme ganha cores, mostrando o cadáver de um adulto boiando no litoral espanhol. Os protagonistas são um casal de férias (ela grávida), que vão parar num a ilha aparentemente abandonada, mas descobrem estar tomada de crianças que insistem em matar todos os adultos. A boa direção do elenco infantil fará você gelar com esses moleques de semblantes diabólicos. Tensão em estado bruto. Essencial.
8- NEKROMANTIK (Alemanha, 1988); Dir. Jörg Buttgereit, com Beatrice M.
Este e a sua continuação em 1991, são as obras definitivas sobre necrofilia. A história do casal que leva um cadáver para casa, e inclui ele em seus joguinhos sexuais, foi banido em boa parte do globo, “Nekromantik” é daquelas obras de arte extremas que vai te desperta fascínio e repulsa ao mesmo tempo.
9. ANGST (Áustria, 1983); Dir. Gerald Kargl, com Erwin Leder
É da Áustria que vem um dos mais perturbados/perturbadores retratos sobre um serial-killer. O filme mostra um homem (Erwin Leder) siando da prisão após cumprir pena de dez anos por um assassinato que cometeu. Sem perspectivas, ou como se diz, sem eira nem beira, ele resolve morar numa casa que encontra, o problema são as moradoras da residência que ele terá que matá-las, uma jovem e sua mãe cadeirante. Desde a cena de abertura, que mostra a panorâmica de uma cidade austríaca, com seus telhados, ao som de uma goteira, dá para sacar que estamos diante de uma obra diferente e sem concessões. Um filme barra-pesada.
10. LA ROSE DE FER (França, 1973);
Dir. Jean Rollin, com Françoise Pascal, Hugues Quester e Natalie Perrey
Um casal, um cemitério, meia dúzia de figurantes e pronto! É o que basta para o mestre Rollin criar pura poesia. Essa obra minimalista é a minha preferida do Mestre francês. Aqui segue aquela máxima que os amantes do punk rock sabem faz tempo: a de que, às vezes, menos é mais.
11. AS FILHAS DE DRÁCULA (Vampyres, Inglaterra, 1974)
Dir. José Ramón Larraz, com Marianni Morris e Anulka Dziubinska
O espanhol Larraz rodou na Inglaterra um dos mais absurdos e tesudos filmes sobre vampiras. Duas belas vampiras, que insistem em ficar nuas, ficam rodando por aí fazendo vitimas, precisa de mais alguma coisa? As cenas de ataque das duas se destacam pela não economia no sangue e pelo frenesi da dupla, pontos para a Marianne Morris e a Anulka Dziubinska.
12. LA NOTTE DEI DIAVOLI (Itália/Espanha, 1972)
Dir. Giorgio Ferroni, com Gianni Garko, Agostina Belli e Roberto Maldera
Ferroni, mais conhecido pelo “Dólar Furado”, realizou apenas dois filmes de terror em toda a sua carreira: “Il Mulino delle Donne di Pietra” (1960) e este “La Notte dei Diavoli”. Segunda adaptação do conto “A Familia do Wurdulak” de Aleksei Tolstoy (a primeira versão foi justamente o segmento “I Wurdulak” de “As Três Mascaras do Terror” do Bava). Gianni Garko é o estranho misterioso que para em um hospício e através de flashbacks descobrimos o contato dele com uma família que foi atacada pelo mal do vampirismo. A transposição da história para a era contemporânea não perdeu em nada a atmosfera gótica do conto original. A única coisa a se lamentar é o fato do diretor não ter investido mais em filmes de terror.
13. VIY (União Soviética, 1967); Dir. Konstantin Yershov, Georgy kropachyov e Alexander Ptushko, com Leonid Kuravlyov, Natalya Varley e Aleksey Glazyrin
Considerado o primeiro filme de terror da então União Soviética, foi inspirado no conto “Viy” de Nikolai Gogol, que serviu de base também para Mario Bava criar seu clássico “La maschera del demônio” (1961). Aqui um jovem padre fanfarrão (Leonid Kuravlyov) se vê em maus lençóis quando terá que velar por três noites o cadáver de uma jovem moça, filha de um rico fazendeiro local, na verdade a garota é uma bruxa que convocará todas as forças do inferno para atormentar o pobre religioso. Um filme que ainda tem seu encanto e seu charme.
14. THE NIGHT THAT EVELYN LEFT THE TOMB (La notte che Evelyn uscì dalla tomba, Itália, 1971); Dir. Emilio Miraglia, com Anthony Steffen, Giacomo Rossi-Stuart e Erika Blanc
O italiano Miraglia é famoso por brindar o mundo com dois belos gialli embebedidos em elementos de terror gótico, não a toa gosto de brincar dizendo que são “gialli à moda Scooby-Doo” que são “La Dama Rossa Uccide Sette Volte” de 1972, e esse “La dama rossa uccide sette volte” realizado um ano antes. Aqui temos o galã ítalo-brasileiro Anthony Steffen como um nobre atormentado pala morte da esposa Evelyn, como passatempo ele captura prostitutas ruivas aonde leva para seu castelo e as tortura e mata, numa reviravolta que só poderia acontecer no cinema de gênero carcamano, logo nosso protagonista psicótico vira o herói da historia quando acaba sendo atormentado pelo fantasma da falecida e suspeito de outros crimes. Realmente instigante.
15. MATADOR IMPLACÁVEL (L’Assassino è Costretto ad Uccidere Ancora a.k.a. The killer Must Kill Again, Itália/França 1975); Dir. Luigi Cozzi, com George Hilton e Antoine Saint-John
Meu filme predileto do Cozzi! Aqui ele foge da fórmula tradicional do giallo, entregando os vilões ao público de cara, preferindo um jogo de gato e rato Hitchcockniano. George Hilton é um playboy cafajeste que, para se livrar da esposa e ficar com a herança, contrata um assassino mal encarado (Antoine Saint-John). O assassinato é cometido, mas o s problemas começam quando um casal de hippies rouba o carro do assassino, com o cadáver da mulher no porta-malas, para ir até o litoral. Inicia-se uma caçada ao casal de ladrões, que desconhecem a bagagem que levam. Suspense e ironia de primeira.
