Por aqui a gente só assiste a filme novo pra fazer listinha de final de ano. Brincadeira, tem muita coisa boa saindo e aqui está a prova disso, uma relação de filmes realmente notáveis e que valeram uma conferida. Pelo menos pra mim…
Como sempre faço, a minha lista de favoritos tem uma margem de um ano, pra incluir e contemplar os filmes do ano passado que acabei assistindo no ano vigente. Portanto, alguns filmes de 2021 que só fui assistir pela primeira vez em 2022 estão presentes.
Deste ano, a única coisa que resolvi deixar de fora foi a obra-prima chamada “Final da Copa do Mundo entre Argentina e França”, que foi um dos maiores espetáculos audiovisuais dos últimos anos… Enfim, mantendo a tradição, segue um top 20 dos meus favoritos de 2022:

20. VORTEX (2021), de Gaspar Noé
Retrato de um casal de idosos lidando com a demência da esposa e a fragilidade crescente do marido, interpretado por ninguém menos que o mestre do horror italiano Dario Argento. O filme tem aquelas frescurites do Noé, tela dividida durante todo o filme, uns blackouts, ao mesmo tempo em que é também o trabalho mais “discreto” do diretor em termos de câmera e ritmo. O resultado não deixa de ser tão amargo, barra-pessada e trágico quanto os filmes mais frenéticos de Noé.

19. OCCHIALI NERI (2022), de Dario Argento
Por falar em Argento, não poderia faltar também o filme que ele dirigiu. Acho que todos que assistiram a isso aqui concordam que tá longe dos melhores trabalhos do homem, mas a essa altura do campeonato, pela idade do Argento e pelo próprio contexto histórico do cinema italiano de gênero nos últimos 20, 25 anos, é bobagem ficar esperando algo do nível de SUSPÍRIA ou PROFONDO ROSSO. Dito isso, o filme mostra que o sujeito ainda tem bala na agulha para construir um thriller tenso, divertido e cheio de novas possibilidades a serem exploradas.

18. SHIN ULTRAMAN (2022), de Shinji Higuchi
Essa brincadeira do Hideaki Anno (criador de Neon Genesis Evangelion) de atualizar filmes kaiju e tokusatsus conhecidos da cultura pop japonesa ao seu imaginário peculiar tem rendido coisas curiosas. Esse SHIN ULTRAMAN, por exemplo, que Anno escreveu o roteiro e é o segundo que lançaram até o momento (o primeiro foi SHIN GODZILLA em 2016, esse dirigido por Anno), é um barato, um espetáculo de estética, cores, composições e MUITA pancadaria entre o herói do título contra monstros gigantes. Pode não ter a mesma complexidade e seriedade de SHIN GODZILLA, mas me deixou sorrindo durante toda a sessão. Agora aguardo ansiosamente por SHIN KAMEN RIDER que deverá sair em breve.

17. IN FRONT OF YOUR FACE (2021), de Hong Sang-Soo
O cinema de Sang-Soo me encanta de um jeito que não sei explicar. Acho que são os pequenos detalhes, gestos, interações desajeitadas, revelações que vão surgindo em situações tão simples e banais. Uma mancha de molho numa roupa, um ponto de encontro alterado, um sonho que não se pode contar, uma gargalhada que não se sabe bem se é de desespero ou de zoeira… E nisso já tô completamente imerso nesses micro universos, diante de mais uma pequena obra gigante desse diretor que filma coisa pra cacete. Este é o primeiro filme do homem – de dois – que consta nesta lista.

16. THE BANSHEES OF INISHERIN (2022), de Martin McDonagh
Muitos anos depois de IN BRUGES, McDonagh reúne novamente Colin Farrell e Brendan Gleeson para outra comédia dramática bizarra, sobre a separação complicada de dois amigos, que termina mais sombrio e melancólico que eu esperava… Gosto do McDonagh e ele novamente consegue fazer o que Michael Mann conseguiu em MIAMI VICE e Woody Allen em CASSANDRA’S DREAM: convencer a todos de que Collin Farrel é um ator de primeira.

15. VIKRAM (2022), de Lokesh Kanagaraj
2022 foi o ano que entrei numa de me interessar pelo cinema indiano de ação. Acabei não vendo tantos filmes quanto queria, mas a quantidade já foi maior do que assisti em uma década. VIKRAM é um desses exemplares que merece estar nessa lista, um thriller de ação intrigante, com personagens fantásticos, e sequências de ação de arrepiar. Vikram é um dos meus personagens favoritos do ano e o ator que o interpreta, Kamal Haasan, até pode ter aparência daquele seu tio que vive no bar com uma lata de Brahma na mão, mas o sujeito é mais cool e badass que 99% dos heróis de ação que Hollywood nos enfia goela abaixo no cinema atual.

14. KARNAN (2021), de Mari Selvaraj
Mais cinema indiano… Eu posso até não entender com profundidade alguns aspectos políticos e culturais do que acontece na Índia, mas KARNAN é um filme quase didático que consegue pôr em evidência questões que as castas mais baixas enfrentam no país. Isso sem deixar de ter uma abordagem que visa em primeiro lugar o entretenimento. O que significa que a pancadaria rola solta em vários momentos. Mas o melhor do cinema indiano ainda está por vir mais aí pra baixo… Sim, serão três filmes indianos na minha lista.

13. ARMAGEDDON TIME (2022), de James Gray
Um James Gray “menor” ainda é melhor que MUITA coisa que o cinema atual produz. E esse trabalho autobiográfico é um conto de moral muito bonito e bom de acompanhar, ambientado no Queens de 1980, com atuações magníficas de Anthony Hopkins, Anne Hathaway, Jeremy Strong e o jovem Banks Repeta, o sensível protagonista, que faz amizade com um garoto negro ao mesmo tempo que descobre a realidade de uma escola particular e o racismo descarado de seus colegas.

12. NOPE (2022), de Jordan Peele
O que acho massa no Jordan Peele é que me parece que ele não se acomoda, é um daqueles raros diretores do mainstream hollywoodiano que não tem medo de se arriscar sem ficar seduzindo o espectador com obviedades. Aqui ele funde ficção científica, horror e faroeste para criar um novo tipo de filme de monstro. O resultado é uma obra estranha, que não tá isenta de falhas (como todo bom filme que se arrisca) mas que é enervante, perturbador e ocasionalmente engraçado, iluminado pela performance de Keke Palmer e de um estoico Daniel Kaluuya. Mas o que realmente perdura é a meditação elegíaca sobre pessoas negras em uma indústria que transformou seu sofrimento em espetáculo.

11. STARS AT NOON (2022), de Claire Denis
A Claire Denis lançou dois filmes este ano. Só gostei realmente deste aqui. Um thriller político, adaptação atualizada de um romance de Denis Johnson dos anos 1980, sobre uma jornalista americana (Margaret Qualley, numa das grandes performances que eu vi este ano) à deriva na Nicarágua sob ditadura militar e atraída por intrigas misteriosas na fronteira ao se relacionar com um britânico de terno branco. O filme também abre espaço para algumas coisas que interessam à Denis, como o erotismo latente de seu cinema.

10. THE FABELMANS (2022), de Steven Spielberg
Ah, esse sentimentalismo açucarado de Spielberg sempre me encanta, incomparável em sua capacidade de fazer o que em outras mãos poderia parecer muito piegas, e como transforma em arte, em filmes genuinamente comoventes. E THE FABELMANS não é diferente – um relato semi-autobiográfico da juventude de Spielberg na casa tumultuada, mas amorosa, de seus pais e sua descoberta como cineasta. A sequência final que o jovem protagonista encontra um John Ford desbocado interpretado pelo David Lynch de tapa-olho e fumando um charutão é uma das melhores do ano.

09. BLONDE (2022), de Andrew Dominik
Aproveitem que essa vai ser das poucas listas de melhores do ano com BLONDE em posição tão privilegiada. Filme que gerou um certo desconforto por um suposto viés misógino, muita problematização, etc, os quais não entro em detalhes. Cada um interprete, goste ou deixe de gostar pelos motivos que quiser. Do lado de cá, gostei muito, o pesadelo hollywoodiano filmado por Dominik é uma das experiências visuais mais interessantes de 2022. E que performance da Ana de Armas!

08. AFTER BLUE (2021), de Bertrand Mandico
O cinema de Mandico foi uma das grandes descobertas que fiz este ano. Mesmo atrasado. Sejam em curtas metragens psicodélicos, clipes musicais ou seu primeiro longa, o fantástico LES GARÇONS SAUVAGES, percebe-se um artista bem consciente de suas influências e do tipo de imagem que quer colocar na tela. AFTER BLUE é o seu segundo longa e pode ser definido como um faroeste sci-fi de fantasia lésbica surreal e espiritual, com estética colorida dos anos 70 e sem um único plano, composição ou enquadramento desperdiçado, que parece ter saído direto das páginas de alguma comic book européia. Muito vanguardista ou experimental para quem gosta de filmes de super heróis da Marvel, e muito filosófico e reflexivo para quem quer ver apenas bizarrices trash. Uma maravilha.

07. RRR (2022), de S. S. Rajamouli
Último filme indiano da lista, prometo. Mas esse aqui não poderia faltar. Foi a sensação que conquistou os nossos corações este ano. Situado na Índia dos anos 20, ele se concentra num soldado e um aldeão que se unem contra o Império Britânico em busca de uma garota sequestrada. A partir disso, o diretor Rajamouli joga todos os ingredientes que maximizam o cinema indiano em termos de ação em escala épica e, como pano de fundo, uma bela história de fraternidade e companheirismo. Ah, e vários números musicais de encher os olhos que não poderiam faltar na receita…

06. THE NOVELIST’S FILM (2022), de Hong Sang-Soo
Aqui tá o outro filme do Sang-Soo da lista. É sobre uma escritora que a partir de encontros casuais resolve fazer um filme. Tudo que disse sobre o outro lá em cima cabe aqui, os pequenos detalhes em situações banais, conversas fiadas em interações desajeitadas… Só que o nível de fascínio e imersão deste foi ainda maior.

05. AMBULANCE (2022), de Michael Bay
É um VELOCIDADE MÁXIMA para a geração GTA 5. Ou uma bela maneira de matar saudades do Tony Scott, um dos caras mais influentes no cinema de Bay. O que poderia ter sido um conto de crime rápido e discreto (como o filme dinamarquês original), recebe o tratamento completo do homem: um filme de ação como uma visão poética da desunião americana contemporânea, ação essa quase ininterrupta num filme que é praticamente uma longa perseguição, com tiros, explosões e carros colidindo aos montes; Gyllenhaal tá surtadíssimo. Filmaço!

04. TOP GUN MAVERICK (2022), de Joseph Kosinski
Por falar em Tony Scott, taí a continuação do clássico oitentista que dirigiu. Superou todas as minhas expectativas, é um dos filmes de ação dos mais puros, sinceros e anacrônicos do blockbuster americano dos últimos anos, com toda a carga de adrenalina que o fã do original merece. Tom Cruise tem uma dos seus melhores desempenhos como herói de ação, constrói um personagem que finalmente aceita o peso da idade, falho e mortal. As sequências aéreas, aliás, são um deleite, um espetáculo vertiginoso de tão bem filmadas e editadas. Joseph Kosinski, vou ser obrigado a te dar mais uma chance…

03. CRIMES OF THE FUTURE (2022), de David Cronenberg
O aguardado retorno de Cronenberg ao seu universo do body horror só poderia resultar em coisa boa. Escrevi sobre o filme aqui. Então vou poupá-los de mais um mini-comentário. Podem continuar rolando aí pra baixo que já tá acabando.

02. THE FIRE WITHIN: REQUIEM FOR KATIA AND MAURICE KRAFFT (2022), de Werner Herzog
“Eu Nunca tenho medo porque vi tantas erupções em 23 anos que, mesmo que eu morra amanhã, não me importaria”, é o que diz Maurice Krafft diante das câmeras nesse documentário que mostra como o casal Kraftt se colocava no limite para filmar vulcões de forma inacreditável. Herzog concorda “Eles desceram ao inferno para arrancar aquelas imagens das garras do próprio diabo”. Herzog é um dos meus diretores favoritos justamente por ter criado algumas das imagens mais fascinantes da história do cinema, mas aqui ele se depara com um tipo de material que nem ele mesmo conseguiu superar e as usa para dar um novo significado. Acabou criando um dos filmes mais poderosos visualmente do ano.

01. AVATAR: THE WAY OF WATER (2022), de James Cameron
James Cameron tem lugar reservado no céu. E é isso. O filme que mais me fascina, que mais me empolgou, que mais me emocionou, a maior experiência que tive dentro de uma sala de cinema este ano foi AVATAR: THE WAY OF WATER. Um filme cheio de emoção e ideias para absorver e, sim, um épico de ação sublime. Ao longo de mais de uma década fico feliz em perceber que Cameron não perdeu o tato pra contar boas histórias, par a criar personagens cativantes, não perdeu o senso de grandeza do tipo de aventura que se propõe a criar e, principalmente, não perdeu o talento para fazer de cada plano, cada imagem, cada frame de AVATAR: THE WAY OF WATER uma experiência visual arrebatadora.
Enfim, o ano acabou. Já não quero saber de mais nada. Em 2023 retornamos. Sigam-me no instagram e outras redes. Tem uns links aí do lado. Até breve.