HOLLYWOOD CHAINSAW HOOKERS (1988)

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Começando as atividades de 2017 com um dos filmes que me fez apaixonar pelo cinema B de uns caras como Jim Wynorski, Fred Olen Ray, Charles Band e outras figuras dessa mesma laia: HOLLYWOOD CHAINSAW HOOKERS, de Fred Olen Ray! Um clássico do cinema exploitation oitentista divertidíssimo, curto e cheio de mulher pelada, filmado em cinco dias com um orçamento abaixo dos 50 mil dólares.

O filme já começa de forma sensacional, com esse aviso:

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Depois, temos a majestosa Michelle Bauer fazendo um strip tease e, totalmente nua, destroça um sujeito com uma motosserra! Os efeitos gore, se é que podemos chamar assim, são tão ridiculamente baratos que não podem ser levados a sério… Aliás, o filme inteiro não deve ser levado assim.

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Na trama, temos Jack Chandler (Jay Richardson), um detetive obviamente inspirado em Raymond Chandler, com direito a narração de Film Noir, cansado do mundo, sem dinheiro, fodido trabalha na procura de uma moça desaparecida, Samantha (a lindeza Linnea Quigley), nos arredores de Los Angeles.

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Enquanto ele segue as pistas da moça, a polícia local vem investigando uma bizarra série de assassinatos cujas vítimas são feitas picadinho por motosserras, como é mostrado na cena de abertura… Entre uma investigação e outra, Jack encontra um paralelo entre os assassinatos com a sua garota desaparecida, o que o leva a Mercedes, a prostituta interpretada por Bauer. Jack arranja um encontro com Mercedes num bar de strip tease e ao mesmo tempo em que investe na prostituta ele vê Samantha girando no palco. Pouco depois desta revelação Jack cai inconsciente por causa de uma droga que Mercedes colocou em sua bebida.

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Jack desperta para encontrar-se numa situação bem bizarra, amarrado e na presença de Mercedes, Samantha e um terceiro sujeito chamado de “The Master” numa espécie de seita misteriosa. E o filme vai ficando cada vez melhor. “The Master” (que é encarnado pelo próprio Leatherface do original O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA, Gunnar Hansen) explica um bocado sobre a as propriedades sagradas da motosserra. WTF!!!

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O lance é que Samantha foi parar nesse culto da motosserra formado por prostitutas e stripers. O tal Mestre explica que a motosserra é a ligação cósmica que une todas as coisas no universo, num culto secreto que se originou há muito tempo no antigo Egito… Naturalmente! haha! Prestes a ser sacrificado e virar picadinho, Jack consegue escapar quando uma das serras fica sem gasolina e foge com Samantha.

De volta a seu escritório, os dois arranjam tempo para um pequeno romance, que serve também para preencher o tempo do filme, que já é breve demais. Logo, Samantha e Jack descobrem a localização secreta do templo cerimonial do culto de motosserra (ajuda muito que haja um cartaz de papelão apontando o caminho) e antes que você perceba, terá testemunhado um duelo de motosserras e o espetáculo cultural que é A Dança Virgem das Serras Elétricas Duplas!!!

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Dá pra perceber que o diretor e roteirista Fred Olen Ray não tem absolutamente nenhuma pretensão com HOLLYWOOD CHAINSAW HOOKERS, a não ser nos divertir com essa historinha besta, uma boa dose de humor pastelão e de um elenco feminino lascivo que não tem receio de mostrar alguns pares de peitos, que é o grande e verdadeiro atrativo do filme. Os fãs das rainhas do VHS, como Michelle Bauer e Linnea Quigley, vão desfrutar bastante disso aqui. Principalmente quando estão com pouca roupa empunhando motosserras… Um fetiche estranho, mas que o filme entrega com perfeição.

MOMENTO JESS FRANCO: VIRGIN REPORT (Jungfrauen-Report, 1972)

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A virgindade sempre foi tema de interesse na obra de Jess Franco. Vez ou outra aparece uma virgem como elemento de reflexões filosóficas e… ok, quem eu tô tentando enganar? O fato é que Franco resolveu realizar VIRGIN REPORT, o pseudo-documentário definitivo sobre o assunto, para dar vazão à uma de suas obsessões, examinar a questão da virgindade em diversas culturas diferenciadas ao logo dos séculos e em vários locais ao redor do planeta. Obviamente, tudo uma mera desculpa para filmar mulheres nuas. Continuar lendo

SHE MOB (1968)

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A Something Weird Video é uma famigerada distribuidora americana especializada em bagaceiras undergroundtrash, exploitations, responsável por lançar petardos dirigidos por Herschell Gordon Lewis, Doris Wishman e diversos outros diretores. Um bom exemplo é SHE MOB, uma tralha que só mesmo a SWV teria a cara de pau de distribuir. É um verdadeiro achado, mas tenho o dever de avisar que só vai prestar mesmo para os trashmaniacos profissionais, é o típico filme que de tão mal feito, tão horrível em diversos aspectos, acaba sendo genial. Ou como diz um sujeito no imdb: “its incompetently made, but it has that special and rare sort of ineptitude that crosses the line over into surrealism“. Continuar lendo

MOMENTO JESS FRANCO: O EXORCISTA DIABÓLICO (Exorcism, 1974)

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A primeira coisa que me chamou a atenção nesta obra do grande mestre espanhol do exploitation europeu, Jesús Franco, foi a presença e atuação do próprio diretor no papel principal. Eu já vi muitos filmes do Franco em que ele se coloca em pequenos papeis, personagens sem muita importância, para compor elenco, mas aqui em O EXORCISTA DIABÓLICO é a primeira vez que o vejo numa tentativa de criar um personagem com um maior destaque dramático e o resultado me impressionou muito. Continuar lendo

AMUCK! (Alla ricerca del piacere, 1972)

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Apesar de não conter alguns dos elementos visuais que ajudam a fundamentar o gênero giallo, AMUCK!, de Silvio Amandi, não deixa de ser um belo exemplar. É um suspense bem construído, com alta dose de erotismo e duas das grandes musas do cinema de gênero europeu bem à vontade para nossa contemplação. Portanto, independente de rótulos, há motivos de sobra para conferir essa pequena jóia.

O filme tem a estonteante Barbara Bouchet como protagonista. Ela interpreta Greta, uma secretária contratada por um escritor ricaço, Richard Stuart (Farley Granger), para datilografar seus escritos. O sujeito tem um casarão em uma ilha aos arredores de Veneza e vive com sua esposa Eleonora (a também deliciosa Rosalba Neri), ambiente perfeito para um autor de livros e muito propício para um suspense all’italiana. O problema é que Greta não está exatamente no local por causa do trabalho. Sua melhor amiga e amante Sally (Patrizia Viotti) trabalhou para Richard anteriormente e desapareceu em circunstâncias misteriosas, sem deixar rastros. E Greta quer meter o nariz para descobrir o que se passou. Não demora muito para perceber que o casal Richard e Eleonora vive uma vida sexual open-minded, com festinhas de swing, orgias e tudo mais… É numa dessas que Greta vê Sally num porn movie caseiro e entende que está muito próxima de desvendar o mistério ou acabar por fazer parte dele.

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AMUCK! é um exemplo perfeito de um enredo simples, mas muito eficaz. O roteiro do próprio Amandi é engenhoso ao contar a história sob a dialética do que é verdade ou ficção, o que é ameaça ou paranóia, trabalhando flashbacks e devaneios da protagonista. Como quando Greta desconfia, após acordar, se colocou ou não a “aranha pra brigar” com Leonora na noite anterior, ou se tudo foi apenas um sonho… Nós, espectadores, ao menos ficamos agraciado pelas duas musas trocando carícias.

E é mesmo por esse lado que o filme caminha, mais erótico do que sangrento. A contagem de corpos é mínima em comparação com outros thrillers italianos do período, especialmente no auge do giallo, mas a quantidade de cenas calientes compensam a falta de qualquer outra coisa, assim como a maneira como a história é contada é tão boa que não sentimos falta de sangue derramado. Os personagens são interessantes, os cenários ajudam a compor o clima (é basicamente os três atores principais num jogo de mistérios no casarão e arredores durante quase todo o filme) e o uso inteligente da tal dialética torna a coisa mais fácil de prender a atenção. Outro destaque é a banda sonora de Teo Uselli, que não é um Morricone, mas seu trabalho é fantástico na construção atmosférica, uma sonoridade que beneficia o tom erótico e onírico do filme.

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Farley Granger, para quem não se lembra, é um dos protagonistas do clássico PACTO SINISTRO (51), de Hitchcock, e acabou tendo uma carreira em filmes de gênero na Europa, como vários outros atores americanos também tiveram. Tem aqui em AMUCK! uma oportunidade para mostrar seu talento acompanhado das duas beldades, Bouchet e Neri. Ambas atrizes, além de belíssimas, estão bem em seus papéis, especialmente Neri, com uma certa ambiguidade nas suas intenções, na relação com outros homens/mulheres, em especial com Greta, que embora esteja numa corajosa “missão”, demonstra uma fragilidade adorável.

Gosto bastante de como AMUCK! é tão simples, tão pequeno, mas ao mesmo tempo cheio de detalhes e personagens interessantes, combinando um bom suspense com nudez e erotismo – uma mistura que quase nunca falha. Altamente recomendado aos admiradores do cinema eurocult.

LA BESTIA NELLO SPAZIO (1980)

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Em 1977, os cinemas do mundo assistiram a estreia de STAR WARS, o clássico de George Lucas que, para o bem e para o mal, revolucionou o gênero sci-fi e o próprio universo do chamado “filme de verão americano”, ou blockbuster. O grande sucesso do filme inevitavelmente gerou imitações menos abastadas, mas, em alguns casos, até mais divertidas que o próprio filme estrelado por Mark Hammil e Harrison Ford. STARCRASH, de Luigi Cozzi, por exemplo. Os turcos fizeram sua versão, nos Estados Unidos choveu rip-offs, e até Os Trapalhões, no Brasil, aproveitaram da fórmula. Mas um sujeito que realmente se beneficiou com a exploração do filme de Lucas foi o italiano Alfonso Brescia (que assinava sob o pseudônimo Al Bradley para o mercado internacional). Entre 1977 e 1980, o homem escreveu e dirigiu cinco exemplares que desfrutavam das ideias de STAR WARS e do seu êxito comercial naquele período.

O modelo de realização desses filmes era bem simples e contribuíam para o baixo orçamento que tinham essas produções. Os realizadores construíram alguns cenários e uma única leva de objetos cenográficos, como vestuários e elementos de efeitos especiais, de forma que tudo pudesse ser reaproveitado mais de uma vez em filmes diferentes. Em seguida, os roteiros que escreviam eram adequados de acordo com o que possuiam de antemão. Daí surgiram WAR OF THE PLANETS (aka Anno Zero: Guerra Nello Spazio, 77); WAR IN SPACE (Battaglie negli Spazi Stellari, 78); WAR OF THE ROBOTS (La Guerra dei Robot, 78)  e SPACE ODYSSEY (Sette Uomini D’Oro nello Spazio, 79). Faltou, claro, LA BESTIA NELLO SPAZIO. Mas a gente chega lá…

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Os três primeiro filmes citados eram sci-fi‘s que se esforçavam em ser produtos mais, digamos, sérios. Já o quarto exemplar, chutava o balde e parodiava esses rip-offs de STAR WARS, que haviam se tornado tão comuns naquela época. O problema é que na entrada da década de 80, esses filmes já começavam a demonstrar  sinais de cansaço criativo, embora no caso do Brescia ainda houvesse fôlego para mais. E então, o que fazer?

Bem, por que não acrescentar um estímulo erótico para apimentar as coisas? Ou seja, uma dose da boa e velha sacanagem! Vindo desses italianos picaretas, até que não era má ideia. No entanto, como a crise de criatividade parecia estar mesmo brava, até pra colocar sexo no filme precisaram buscar inspiração em outra produção. A vítima foi LA BÊTE, de Walerian Borowczyk, lançado cinco anos antes. Brescia não apenas aproveitou as ideias bizarras de LA BÊTE, o monstro peludo e pirocudo interessado nas reentrâncias de vestais desavisadas num bosque, como também pegou a atriz principal do filme do Boro, Sirpa Lane, para estrelar sua ficção científica. E foi pegando um pouco daqui, um bocado dalí, um quê de Buck Rogers, STAR TREK, O BURACO NEGRO da Disney, além de STAR WARS, obviamente, e assim surgiu LA BESTIA NELLO SPAZIO.

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Nossa história começa com o Capitão da Frota Espacial Larrry Madison (Vassili Karis). Antes de zarpar para uma nova missão, o sujeito passa num boteco, pede um leite de Urânio, e dá uma paquerada nas moças. Ao adentrar o recinto, logo avista a sexy Sondra (Lane), mas precisa trocar umas porradas com a concorrência para conquistá-la. Seu oponente é Juan (Venantino Venantini), uma espécie de Han Solo de araque e, durante a briga, Larry descobre que Juan possui Anatalium, um raro elemento mineral bastante visado.

No fim das contas, Larry leva Sondra pro coito. Durante a noite, a moça acorda após ter um pesadelo recorrente no qual ela está no filme LA BÊTE, do Boro… Quer dizer, na verdade ela está sendo perseguida num bosque por um sujeito que é metade homem, metade animal. A metade animal é da cintura pra baixo, e, por consequência, a manjuba do sujeito é de fazer inveja a qualquer homem dentro do padrão médio de medição de órgão sexual masculino. Mas Larry não dá muita bola pro sonho de Sondra.

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No dia seguinte, Larry é escalado para liderar uma missão até Lorigon, um planeta aparentemente inexplorado, em busca do tal mineral. E, vejam só, por uma coincidência daquelas, Sondra faz parte da tripulação, que é composta por quatro homens e três mulheres… Portanto, pelos meus cálculos, alguém vai ficar chupando o dedo. No trajeto, chegando perto de seu destino, a nave do capitão Larry é atacada por uma outra, comandada pelo desafeto do bar, Juan, e precisa fazer um pouso forçado em Lorigon.

Já no local, com a nave avariada, decidem explorar a região e seguir com os planos iniciais enquanto o trabalho de reparação é realizado. Não sei dizer porquê, mas o planeta parece um pouco o interior da Itália já visto em outros filmes…  Ao longo do caminho em busca do Anatalium, utilizando um detector que rastreia o mineral, o grupo avista um cavalo e uma égua acasalando e, por alguma razão, faz com que todos fiquem deslumbrados e as moças com um tesão danado, coçando a periquita. Em seguida, eles continuam o caminho sem nunca mencionar o ocorrido… Mas deu pra perceber que o planeta estava mexendo com a libido desses respeitáveis astronautas.

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A medida em que o grupo avança, Sondra atenta constantemente sobre as semelhanças que todo aquele ambiente tem com os seus sonhos. O que inclui um castelo que encontram e descobrem que o planeta não é tão inexplorado assim. Dentro do recinto, são bem recebidos por Onaph, o único humano de Lorigon. Ele explica para seus visitantes que o Anatalium é o bem mais precioso do local, que diminui o seu envelhecimento e que todo o planeta e seu recurso mineral é controlado por um super computador chamado Zocor.

Mas os astronautas já não parecem muito interessados naquilo. Aparentemente Zocor também controla as mentes das pessoas. Depois de servir um banquete, inclusive com a presença de Juan que resolveu dar o ar da graça, agora todo amigável, o filme se torna num verdadeiro bacanal. Ninguém é de ninguém e, na versão xxx que eu assisti, rola até cenas de sexo explícito inseridas na edição. São claramente filmadas com outros atores, em outro momento, com outra iluminação, mas até que ficaram convincentes em alguns takes.

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De qualquer forma, no meio da putaria, Onaph acaba se revelando o indivíduo metade homem, metade besta dos sonhos de Sondra, que termina estuprada por ele, apesar de depois do ocorrido, ela fique querendo um repeteco… vai entender. O único que não participa da festa é Juan, que sabe dos esquemas de bastidores e toma pílulas que bloqueiam o controle mental do super computador. Decidido a estragar a suruba, o sujeito espalha a pílula para a tripulação, que sai do transe erótico e entra em outro tipo de ação, agora com raios laser e sabres de luz contra um exército de robôs com perucas loiras vindo de um outro filme do Brescia, para destruir o Zocor e roubar o Anatalium.

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Enquanto um STAR WARS da vida tem lá sua narrativa bem estruturada e ritmada, LA BESTIA NELLO SPAZIO possui o padrão tipicamente europeu, com toques que poderíamos chamar de surrealistas, ou oníricos, mas que, na maioria das vezes não passa de insanidade desses realizadores italianos, como Bruno Mattei, Claudio Fragasso, Andrea Bianchi… E o Brescia vai pelo mesmo caminho por aqui, especialmente quando se trata de situações envolvendo sexo. Sempre que pode, o sujeito gasta bastante tempo da narrativa explorando detalhes ginecológicos de seu elenco. Fazer o que se foi esse o diferencial que Brescia encontrou para justificar mais uma produção de ficção científica? E só mesmo no final que há um clímax mais movimentado, com batalhas, lutas e explosões.

Até que não tenho muito do que me queixar das cenas de sexo, embora não sejam lá muito excitantes. Mas mostram nudez suficiente para manter o público alegre. A exceção é a atriz finlandesa Sirpa Lane, que além de possuir uma beleza escandinava exótica, não tem pudores de ficar sem roupa na frente das câmeras e entrega um bom desempenho, seja nos poucos momentos “dramáticos”, seja nas muitas e insaciáveis sequências de sexo. Outro que merece destaque é Vassili Karis, que apesar de não ter o tipo físico de herói, consegue convencer no papel do capitão. O resto do elenco são figurinhas carimbadas do universo eurocult e não se esforça mais do que lhe é exigido.

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Os iniciados no universo eurocult vão se esbaldar com os diálogos ruins, as atuações péssimas, os efeitos especiais que parecem de uma ficção científica da década de 30, as situações ridículas e absurdas e a maneira como Brescia encontra para filmá-las, é uma surpresa atrás da outra. O episódio do casal de equinos copulando, por exemplo, é hilário! Percebe-se claramente que as imagens foram inseridas de qualquer jeito sem qualquer tipo de preocupação: são stock footage filmados numa janela diferente do filme e acaba aparecendo esticados na tela; os cavalos estão com as rédeas e, pasmem, no fundo há um celeiro aparecendo na cara dura… E isso porque era pra ser um planeta inexplorado! A cena em que Onaph revela sua “identidade” da cintura pra baixo, e tudo que rola a partir daí, pode ser constrangedor, mas é digna de antologia do cinema eurotrash! Da mesma forma a batalha com os robôs dourados no final, conduzida de maneira tosca e desajeitada, mas com um charme e picaretagem de fazer inveja! Quando os personagens sacaram os sabres de luz eu simplesmente fui ao delírio!

E é por essas e outras que LA BESTIA NELLO SPAZIO vale uma conferida. Deixando bem claro que não quero pintá-lo como uma obra prima, ou algo de qualidade, pelo contrário, tenho plena consciência de que se trata de uma bobagem sem tamanho que não se deve levar a sério. Mas que acaba divertindo exatamente por esses detalhes toscos e pelo grau de insanidade e picaretagem que encontramos nesse tipo de produção. Acho até que para o espectador “comum”, sem muito contato com o cinema eurocultLA BESTIA NELLO SPAZIO não seria uma recomendação muito acertada. É preciso ter consciência que não é sempre que esses realizadores vão entregar um TERRORE NELLO SPAZIO (65), do maestro Mario Bava, esse sim uma obra -prima da ficção científica. Mas se querem assistir a um bom rip-off de STAR WARS pra começar, que seja STARCRASH, do Cozzi! Enfim, pra finalizar, deixo de presente essa bela imagem de Onaph, o Fauno bizarro e tarado do filme. Só espero que não tenham pesadelos como a Sondra…

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DIRTY LOVE (Amore Sporco, 1988)

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Aqueles filmes dos anos 80 que retratam a dura vida no universo da dança profissional, tipo FLASHDANCE, DIRTY DANCING e FOOTLOOSE, serviram de inspiração para Joe D’Amato em DIRTY LOVE. A trama é sobre uma moça que resolve encarar a cidade grande em busca do sonho de fazer parte de uma companhia de dança e conseguir uma acirrada vaga numa peça musical. Bem básico. Mas quem já conhece o trabalho do diretor sabe muito bem que D’Amato não está nem um pouco interessado no drama de sua protagonista em busca do seu lugar ao sol. Poucos diretores tiveram colhões quanto D’Amato, e sua obra é das mais ousadas, corajosas e picaretas e toda e qualquer idéia, por mais perturbadora, iconoclasta, sádica e imoral que tivesse, era muito bem aproveitada em seus filmes. Portanto, o interesse principal do D’Amato em DIRTY LOVE é este aqui:

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Ou seja, é bem melhor que qualquer FLASHDANCE da vida…

Dois pontos a se destacar. Primeiro, a direção do D’Amato, que me surpreendeu e é realmente boa, com um acabamento bem acima do nível de algumas bagaceiras que o sujeito tinha no currículo. Não sei o que deu no homem, mas demonstra habilidade de um Verhoeven nos movimentos de câmera, enquadramentos elaborados, ritmo. Pena que a produção do filme não devia ter dinheiro pra contratar coreógrafos mais talentosos para as cenas de dança, que são bem fraquinhas, chega a ser constragedor. Mas D’Amato consegue extrair até demais com a câmera. Se bem que isso não importa tanto…

Fiquei na dúvida por um momento se o próprio D’Amato se encarregou do trabalho de diretor de fotografia, algo comum em sua obra, sempre assinando com seu nome verdadeiro, Aristide Massaccesi. Aqui aparece um tal de Federico Slonisco. Mas, já confirmei, trata-se mesmo de D’Amato inventando mais um pseudônimo. Verdade seja dita, o homem é um baita diretor de fotografia e, além dos seus próprios filmes, realizou essa função para alguns nomes importantes do cinema popular italiano, como Demofilo Fidani, Alberto de Martino e Massimo Dallamano.

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O segundo ponto que merece atenção só poderia ser essa belezinha aí em cima. Valentine Demy não é atriz de profundo talento dramático, mas é deslumbrante, fogosa e não tem receio algum de tirar a roupa. Perfeita para o papel num filme como este, em que é explorado mais a sua avidez sexual do que o talento pra dança ou drama.  Mas não pensem que a personagem é vagabunda, pelo contrário, é uma mulher forte, liberta e de disponibilidade safa que faz questão de esnobar os boçais, machistas e provincianos que tentam lhe tirar proveito. Nascida na região da Toscana, Valentine começou a trabalhar como atriz no fim dos anos 80 com diretores do calibre de D’Amato e Tinto Brass. No anos 90 não conseguiu segurar o fogo entre as pernas e entrou no universo dos filmes hardcore. Chegou a atuar sob a direção de grandes autores do gênero no país da bota, como Silvio Bandinelli e Mario Bianchi. Curioso que nunca mais voltou a trabalhar com D’Amato, que passou a década de 90 quase toda fazendo pornografia. Ainda hoje na ativa, já não vale muito a pena vê-la em ação. Não por ser mais velha, isso não é problema, mas por ter se dedicado alguns anos como fisiculturista, seu corpo ganhou uma forma que já não me agrada tanto, além de ter enchido os seios de silicone…

No entanto, DIRTY LOVE e outros exemplares da época estão aí, para serem vistos e revistos. Em tempos púdicos como os que vivemos, sob a égide do politicamente correto, um filme como este aqui chega a ser um frescor.

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PS: É preciso apontar também a presença de Laura Gemser numa pequena participação. Musa de D’Amato, tendo estrelado vários filmes do homem, ela aparece aqui como uma massagista que resolve colocar as mãos em áreas, digamos, mais erógenas da protagonista…