Apesar de não conter alguns dos elementos visuais que ajudam a fundamentar o gênero giallo, AMUCK!, de Silvio Amandi, não deixa de ser um belo exemplar. É um suspense bem construído, com alta dose de erotismo e duas das grandes musas do cinema de gênero europeu bem à vontade para nossa contemplação. Portanto, independente de rótulos, há motivos de sobra para conferir essa pequena jóia.
O filme tem a estonteante Barbara Bouchet como protagonista. Ela interpreta Greta, uma secretária contratada por um escritor ricaço, Richard Stuart (Farley Granger), para datilografar seus escritos. O sujeito tem um casarão em uma ilha aos arredores de Veneza e vive com sua esposa Eleonora (a também deliciosa Rosalba Neri), ambiente perfeito para um autor de livros e muito propício para um suspense all’italiana. O problema é que Greta não está exatamente no local por causa do trabalho. Sua melhor amiga e amante Sally (Patrizia Viotti) trabalhou para Richard anteriormente e desapareceu em circunstâncias misteriosas, sem deixar rastros. E Greta quer meter o nariz para descobrir o que se passou. Não demora muito para perceber que o casal Richard e Eleonora vive uma vida sexual open-minded, com festinhas de swing, orgias e tudo mais… É numa dessas que Greta vê Sally num porn movie caseiro e entende que está muito próxima de desvendar o mistério ou acabar por fazer parte dele.
AMUCK! é um exemplo perfeito de um enredo simples, mas muito eficaz. O roteiro do próprio Amandi é engenhoso ao contar a história sob a dialética do que é verdade ou ficção, o que é ameaça ou paranóia, trabalhando flashbacks e devaneios da protagonista. Como quando Greta desconfia, após acordar, se colocou ou não a “aranha pra brigar” com Leonora na noite anterior, ou se tudo foi apenas um sonho… Nós, espectadores, ao menos ficamos agraciado pelas duas musas trocando carícias.
E é mesmo por esse lado que o filme caminha, mais erótico do que sangrento. A contagem de corpos é mínima em comparação com outros thrillers italianos do período, especialmente no auge do giallo, mas a quantidade de cenas calientes compensam a falta de qualquer outra coisa, assim como a maneira como a história é contada é tão boa que não sentimos falta de sangue derramado. Os personagens são interessantes, os cenários ajudam a compor o clima (é basicamente os três atores principais num jogo de mistérios no casarão e arredores durante quase todo o filme) e o uso inteligente da tal dialética torna a coisa mais fácil de prender a atenção. Outro destaque é a banda sonora de Teo Uselli, que não é um Morricone, mas seu trabalho é fantástico na construção atmosférica, uma sonoridade que beneficia o tom erótico e onírico do filme.
Farley Granger, para quem não se lembra, é um dos protagonistas do clássico PACTO SINISTRO (51), de Hitchcock, e acabou tendo uma carreira em filmes de gênero na Europa, como vários outros atores americanos também tiveram. Tem aqui em AMUCK! uma oportunidade para mostrar seu talento acompanhado das duas beldades, Bouchet e Neri. Ambas atrizes, além de belíssimas, estão bem em seus papéis, especialmente Neri, com uma certa ambiguidade nas suas intenções, na relação com outros homens/mulheres, em especial com Greta, que embora esteja numa corajosa “missão”, demonstra uma fragilidade adorável.
Gosto bastante de como AMUCK! é tão simples, tão pequeno, mas ao mesmo tempo cheio de detalhes e personagens interessantes, combinando um bom suspense com nudez e erotismo – uma mistura que quase nunca falha. Altamente recomendado aos admiradores do cinema eurocult.
Valeu pela dica. Vou procurar por esse filme.