
Uma das provas definitivas de que o box Clássicos Sci-Fi da Versátil vale a pena é o fato de terem incluído essa pequena obra-prima do mestre italiano Mario Bava no meio de outras belezinhas. Poderia passar batido, não é filme dos mais populares atualmente, a moçada de hoje definitivamente não vai correr atrás, embora seja essencial a qualquer fã do gênero… Caramba, é uma das principais influências de ALIEN – O OITAVO PASSAGEIRO! Enfim, demonstra o bom gosto que a distribuidora dispõe em termos de curadoria. Já tinha assistido a PLANETA DOS VAMPIROS há alguns anos, mas me senti na obrigação de rever agora com o box em mãos e mais uma vez fui surpreendido com o refinamento das imagens de Bava, com a atmosfera de horror cuidadosamente elaborada ao narrar o conto sci-fi aterrorizante de uns astronautas que se metem em um monte de problemas no planeta Aura.
Duas naves interestelares, Argos e Galliot, estão em plena jornada espacial quando decidem investigar um misterioso sinal de SOS que emana do tal planeta chamado Aura. No momento em que chegam em órbita a merda é lançada no ventilador: As tripulações de ambas naves, após ficarem inconscientes, inexplicavelmente começam a atacar brutalmente uns aos outros com verdadeiras intenções assassinas. Apenas o capitão Markary (Barry Sullivan), da nave Argos, consegue se tocar da situação e evita maiores desastres. Os tripulantes passam a especular e fazer um balanço da bizarra situação, do que poderia ter causado todo o pandemônio e a relação com Aura, o planeta, que embora possua uma atmosfera respirável, possui uma paisagem infernal, borbulhando poços de lava e uma névoa onipresente…

Mas será que a equipe da Galliot teve a mesma sorte? Uma mensagem desesperada chega a Argos vindo da outra nave, mas o contato é subitamente perdido. Markary organiza a sua tripulação para a busca, mas quando encontram a espaçonave irmã todos estão mortos. Aparentemente o mesmo surto de loucura psicótica que afetou Argos teve um efeito mortal sobre a tripulação da Galliot. Aos poucos, a coisa vai ficando cada vez mais esquisita, especialmente quando os corpos de alguns membros da tripulação da Galliot desaparecem misteriosamente e surgem logo a seguir controlados por uma força alienígena. Markary e seus oficiais tentam descobrir as intenções dessa inteligência extraterrestre desconhecida.
Em determinado momento, Markary encontra outra nave, gigantesca, com enormes aliens fossilizados a bordo. Foi de lá que veio o misterioso sinal… Várias situações surgem a partir desse plot e que não vale a pena ficar entrando em mais detalhes, mas claramente dá pra perceber que Dan O’Bannon provavelmente assistiu a PLANETA DOS VAMPIROS antes de escrever o roteiro de ALIEN (além, é claro, de IT! THE TERROR FROM BEYOND THE SPACE, outra referência óbvia que inspirou o filme de Ridley Scott). Mas é realmente impressionante quando os personagens deste aqui encontram a tripulação fossilizada dentro de uma nave abandonada. Recentemente revi com a minha mulher ALIEN pela milésima vez e, poucas semanas depois, assistimos a PLANETA DOS VAMPIROS. Eu ainda não tinha contado a ela sobre a influencia que um tinha pelo outro, mas no fim das contas nem precisei, de tão descarada que é essa sequência específica. Ela mesmo percebeu o óbvio.

Os aliens fossilizados de PLANETA DOS VAMPIROS…

… e os de Ridley Scott em ALIEN (1979).
Mas no que Ridley Scott busca um terror mais claustrofóbico, dark e realista em ALIEN, Bava exibe em PLANETA DOS VAMPIROS sua fascinação pelas histórias em quadrinhos, com um suspense de matinée divertidão e seu habitual uso de paletas de cores extravagantes para compor um visual mais fantasioso, com uma atmosfera exótica e irreal, mas ao mesmo tempo densa e sufocante à sua maneira. Bava já era um mestre de efeitos especiais e fotografia antes de se tornar diretor e um dos seus maiores talentos, inigualável na história do cinema, é sua capacidade de comandar produções de orçamento risível e dar a impressão de suntuosidade, grandeza e de que o dinheiro gasto era muito maior.
No caso de PLANETA DOS VAMPIROS, Bava reaproveitou cenários de HERCULES NO CENTRO DA TERRA, o seu peplum sensacional, para criar o visual do planeta Aura. Trabalhou sua habitual iluminação, com cores fortes e predominantemente vermelho e verde e jogou uma quantidade enorme de fumaça, neblina e voilá, temos aqui um planeta original e aterrador para uma aventura espacial! Já as naves em miniatura não são lá de encher os olhos e algumas cenas são até meio toscas, mas isso é o tipo de detalhe que confere um charme a mais à obra… E, mesmo assim, Bava é capaz de tirar leite de pedra, um autêntico mago dos efeitos especiais que era. A sequência do desembarque de Argos é muito eficaz visualmente, especialmente quando fica claro que a miniatura está sendo mergulhada num tanque de peixes com iluminação colorida que brilha através do vidro. Só mesmo Bava e sua equipe poderia fazer efeitos especiais tão baratos e toscos parecerem tão legais!


Mas o filme não se resume a efeitos especiais. Uma das coisas que mais gosto em PLANETA OS VAMPIROS é como Bava utiliza vários elementos do horror gótico que ele mesmo ajudou a estabelecer na Itália nos anos 50 e 60, mas numa ficção científica no espaço sideral. Temos mortos-vivos, personagens saindo de sepulturas, o abuso de nevoeiros, até mesmo a construção atmosférica de horror que causam uma tensão bem mais intensa que os filmes do gênero naquele período estavam acostumados a causar. Na verdade, o filme funciona tão bem como um horror sombrio quanto o filme de ficção científica que ele pretende ser… É o conjunto disso tudo que torna o PLANETA DOS VAMPIROS tão singular.
No elenco, uma curiosidade, além de Barry Sullivan, temos a brasileira Norma Bengell fazendo um membro da tripulação de Argos e que se sobressai com um desempenho notável. O restante do elenco é formado por atores da Itália e Espanha, países que dividiram a produção de PLANETA DOS VAMPIROS. Um dos meus filmes favoritos do Bava, que ficou ainda melhor a cada revisão.