CINE POEIRA – EPISÓDIO 09

O programa desta semana do Cine Poeira celebra o diretor que nos entregou alguns dos melhores filmes dos anos 80: JOHN LANDIS. O trio de comentaristas se debruça sobre UM ROMANCE MUITO PERIGOSO (Into the Night, 1985) com Jeff Goldblum, Michelle Pfeiffer e um elenco repleto de figuras conhecidas e vários outros diretores de cinema.

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INNOCENT BLOOD (1992)

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É uma pena que o LOBISOMEM AMERICANO EM LONDRES seja o único filme de horror do John Landis a ser mais lembrado. Até quem não faz ideia de quem seja o diretor geralmente conhece, ou pelo menos ouviu falar do filme. Quero dizer, é óbvio que possui todos os méritos, mas acho injusto hoje ninguém lembrar de INNOCENT BLOOD. Claro, é compreensível quando se trata de uma produção que foi muito mal nas bilheterias, como é o caso aqui, mas não deixa de ser um dos melhores trabalhos do Landis.

Temos aqui um filme de vampiro de premissa original, bem dirigido, com elenco finíssimo, efeitos especiais práticos, sangrentos e ótima maquiagem. Sem falar na trilha sonora jazzística que encaixa uns Frank Sinatra… E mesmo assim, veio o fracasso. Alguns distribuidores ainda tentaram desesperadamente aproveitar o sucesso do outro filme do Landis para atrair público, como na Austrália, onde o filme foi lançado como A FRENCH VAMPIRE IN AMERICA.

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Esse lance de títulos é algo sempre divertido. No Brasil foi chamado de INOCENTE MORDIDA. Até aí tudo bem, nada de mais. Só não chega aos pés dos nossos amigos de Portugal, onde foi lançado com um hilário NÃO HÁ PESCOÇO QUE AGUENTE, ou os nossos hermanos argentinos que colocaram TRANSILVANIA MI AMOR! 😀

Mas o filme realmente tem uma francesa, a Anne Parillaud (NIKITA), que interpreta Marie, uma bela e sexy vampira que só mata gente má do mundo do crime para saciar sua sede de sangue. Numa noite qualquer, ela arranca a garganta de um gangster italiano (Chazz Palminteri) e acaba se envolvendo com a mafia de Nova York. O grande Robert Loggia vive Sallie “The Shark”, o chefão do bando, que também acaba se tornando vítima de Marie. Só que depois de mordê-lo, nunca tem chance de matá-lo em definitivo. Depois, Marie descobre que Sallie se transformou num vampiro e agora cria um exército de mordedores de pescoço na mafia de Nova York! No meio dessa confusão, Anthony LaPaglia desempenha o papel de um policial infiltrado no grupo de Sallie, tendo que lidar com a bela vampira e com a máfia de chupadores de sangue!

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A cena inicial de INNOCENT BLOOD mostra Anne Parillaud nua em pêlo, belissimamente iluminada. Claro, uma das melhores coisas do filme é o estilo de John Landis, um sujeito que nunca precisou demonstrar virtuosismos com a câmera, mas sabe compor enquadramentos com muito talento e é um mestre da mise en scène. O filme é um luxo nesse sentido e um dos melhores trabalhos de direção de Landis, junto com LOBISOMEM AMERICANO, OS IRMÃOS CARA DE PAU e UM ROMANCE PERIGOSO. Mesmo o lado cômico, que é sempre muito forte no trabalho Landis, funciona muito bem aqui.

Depois de dois terços do filme, o ritmo diminui um bocado, mas sempre com um detalhe ou outro para manter o interesse. E com o elenco que temos aqui, fica difícil desgrudar os olhos da tela. Parillaud está deslumbrante, mas quem rouba a cena é mesmo Robert Loggia. O elenco ainda conta com David Proval, Tony Sirico, Kim Coates, Luis Guzman e um hilário Don Rickles. E claro, uma das marcas registradas da Landis são as pequenas aparições de figuras cultuadas ou outros diretores em seus filmes, e aqui temos Frank Oz, Dario Argento, Sam Raimi em momentos bem divertidos. Também Tom Savini, Forrest J. Ackerman e até Linnea Quigley!

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Outra marca registrada de Landis é que não importa o gênero que seja o filme, se é comédia, ação, horror, enfim, qualquer trabalho de John Landis você pode esperar uma televisão ligada passando uma cena de um clássico do horror e monstros.

Não dá pra deixar de destacar também os maravilhosos efeitos especiais. Um dos melhores que eu já vi dos anos 90. Os efeitos de maquiagem de Steve Johnson são simplesmente incríveis e há uma cena quando um dos personagens se queima do sol que é deslumbrante – está quase no mesmo nível da transformação do lobisomem em UM LOBISOMEM AMERICANO EM LONDRES. O filme também não economiza em sangue e gore, e os fãs desse tipo de coisa não precisam se preocupar com isso. Já eu curto mais o lado erótico que Landis conseguia incluir, mesmo num filme mainstream.

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Uma curiosidade, o filme inicialmente seria dirigido pelo grande Jack Sholder (diretor subestimadíssimo), e teria Lara Flynn Boyle e Dennis Hopper. Quando Sholder pulou fora do projeto, Landis assumiu o lugar e substituiu, seja lá por qual motivo, os dois atores por Parillaud e Loggia. E apesar de amar o Loggia por aqui, daria tudo para ver uma versão surtada de um vampiro mafioso vivido por Dennis Hopper. Teria sido lindo!

Mas do jeitinho que é, mesmo com seus problemas, INNOCENT BLOOD ainda é um dos meus filmes de vampiros favoritos. Está lá junto com alguns exemplares da Hammer, o DRACULA de John Badham, MARTIN de George Romero, THE HUNGER de Tony Scott, DRÁCULA do Coppola e, claro, BLOOD FOR DRACULA, de Paul Morrissey.

OS IRMÃOS CARA DE PAU (The Blue Brothers, 1980)

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Revi OS IRMÃOS CARA DE PAU recentemente e foi como redescobrir um clássico transcendental. Havia milhares de cenas e detalhes que eu tinha simplesmente apagado da mente. Eu já tinha visto o filme dezenas de vezes nos anos 90, mas realmente desde então não tive mais contato algum. Às vezes esqueço de como o tempo tem andado tão rápido e vinte anos atrás foi logo ali…

Mas o grande prazer do cinema, essa arte que eu tanto amo, é a possibilidade de rever um IRMÃOS CARA DE PAU e sentir como se fosse a primeira vez. O filme me fez chorar de rir, vibrar com as cenas de perseguição e relaxar ouvindo as excelentes canções que o filme dispõe. É disparado o melhor musical realizado nos últimos, sei lá, 40 anos… (e sim, é um musical porque os números musicais ajudam a avançar a história). É o filme mais divertido surgido do programa Saturday Night Live (a dupla central interpretada por Dan Arkroyd e John Belushi foi criada como esquete do programa), e um dos melhores filmes perseguição de carros de todos os tempos! É também é um dos melhores filmes que o grande John Landis já dirigiu… Perde somente, talvez, para UM LOBISOMEM AMERICANO EM LONDRES e INTO THE NIGHT.

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O enredo é simples. Jake Blues (Belushi) sai da prisão e junto com seu irmão, Elwood (Dan Aykroyd), começam a reunir a velha banda de volta para uma causa nobre, conseguir dinheiro suficiente para salvar o antigo orfanato em que passaram suas infâncias. A trama é mais ou menos um fio condutor para um monte de números musicais R&B cheios de energia. Além de tocarem um par de músicas maravilhosas, The Blues Brothers também compartilham o momento com James Brown, Ray Charles, Aretha Franklin, John Lee Hooker e Cab Calloway.

Se OS IRMÃOS CARA DE PAU não passasse de números musicais, já teria sido ótimo, mas Landis demonstra talento na direção, na composição dos quadros, nos momentos mais singelos, como quando Jake chega no apartamento apertado de Elwood pela primeira vez e, em poucos planos, Landis dá uma aula de cinema, edição e composição.

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Também oferece algumas das mais impressionantes acrobacias de carros em alta velocidade já testemunhadas. O Bluesmobile (um velho Dodge, carro da polícia, usado pela dupla) é um dos carros mais icônicos do cinema. Mais de três décadas depois, não houve um carro que pudesse superar essa lata velha.

No coração do filme temos duas ótimas performances de Belushi e Arkroyd. Nunca tiveram uma química tão boa na tela, com um timing cômico impecável. Sejam discutindo seus planos em longos takes dentro do Bluesmobile, seja em cima de um palco cantando e dançando. Seus números musicais são simplesmente incríveis. O elenco ainda tem Charles Napier, Carrie Fisher, John Candy e até uma pontinha do Spielberg (que era muito amigo de Landis, até acontecer o que aconteceu aqui).

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Aykroyd e o diretor John Landis voltariam a se reunir mais vezes, inclusive 18 anos depois de OS IRMÃOS CARA DE PAU para uma continuação, inferior, mas ainda divertida e bem mais exagerada, em OS IRMÃOS CARA DE PAU 2000. Dessa vez, sem John Belushi, que morreu em 1982, aos 33 anos, de overdose. No lugar dele, temos o grande John Goodman.

THE TWILIGHT ZONE: THE MOVIE (1983)

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Aproveitando a maratona ALÉM DA IMAGINAÇÃO, que comecei esses dias, vamos falar então da atualização que este clássico da televisão, criado pelo grande Rod Serling, recebeu nos anos 80. Mas estou falando do filme, THE TWILIGHT ZONE – THE MOVIE, e não da própria série de TV que retornou nos anos 80 e que teve três temporadas entre 1985 e 1989.

Em 1983, Steven Spielberg produziu e co-dirigiu THE TWILIGHT ZONE – THE MOVIE, versão cinematográfica do seriado. A ideia era reunir alguns dos nomes mais interessantes do cinema de fantasia e horror do período e compilar no formato de antologia um longa que fizesse uma homenagem aos clássicos episódios de ALÉM DA IMAGINAÇÃO, mas também aproveitar dos novos recursos e tecnologias que os anos 80 possuíam em relação ao período em que o seriado clássico fora produzido.

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Além do próprio Spielberg na direção, temos Joe Dante (GREMLINS), George Miller (série MAD MAX) e o grande John Landis (UM LOBISOMEM AMERICANO EM LONDRES), que é um sujeito que eu tenho dado uma atenção especial aqui no blog recentemente. E obviamente não poderia deixar de citar  THE TWILIGHT ZONE – THE MOVIE como um dos seus principais trabalhos. Não apenas pelo seu talento envolvido nesse projeto, mas por ter acontecido aqui, exatamente aqui, sob a sua direção, a maior TRAGÉDIA já ocorrida e filmada na história do cinema. Mas já vamos falar sobre isso…

Antes, é preciso ressaltar que Landis é o único dos quatro diretores que teve um trabalho extra em THE TWILIGHT ZONE – THE MOVIE e realizou também o prólogo. Esta introdução é uma história bem curtinha, no qual temos os astros Dan Aykroyd e Albert Brooks num carro ao longo de uma estrada no meio da noite. Entediado, eles começam a fazer joguinhos para passar o tempo, como tentar adivinhar temas de programas de TV, discutem a série ALÉM DA IMAGINAÇÃO clássica e até que ponto era assustador e tal…. O diálogo é ótimo e eu poderia ver duas horas de filme só com esses dois papeando! Até que em determinado momento, Aykroyd decide mostrar a Brooks algo REALMENTE assustador…

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É uma boa maneira de começar as coisas. Mantém o público ligado porque desconfiamos que alguma coisa vai acontecer, mas não se sabe o que… E configura de forma eficiente o clima do que está por vir em THE TWILIGHT ZONE – THE MOVIE. Aykroyd e Brooks têm uma química excelente e é uma pena que nunca tenham trabalhado juntos de novo. Esse pequeno segmento é um dos mais memoráveis de todo o filme – se não for uma das melhores cenas de abertura de qualquer filme de qualquer gênero, de qualquer época…

É de John Landis também o primeiro episódio da antologia. Chama-se TIME OUT e é um típico conto clássico de ALÉM DA IMAGINAÇÃO. Estrelado por Vic Morrow, vivendo um sujeito preconceituoso, que entra em um bar e insulta todas as minorias possíveis. Quando sai do local, ele simplesmente volta no tempo e se encontra na Segunda Guerra Mundial, na Alemanha, e todos os nazistas pensam que ele é judeu. Então o prendem e tentam levá-lo para um campo de concentração. Mas então outras viagens temporais entram inexplicavelmente na sua jornada. É, por exemplo, confundido pela KKK, que pensam que ele negro e tentam pendurá-lo pelo pescoço, ou logo depois, quando termina no Vietnã em mais situações em que se vê confrontado pela sua raça ou cor de pele…

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Mas para além da “lição de moral” que o episódio passa, fica um gosto amargo assisti-lo depois de saber que foi  durante as filmagens deste pequeno segmento que Vic Morrow morreu tragicamente num acidente. Mas a coisa foi bem mais desagradável. A cena do episódio é a seguinte: Morrow carregava duas crianças em seu colo enquanto um helicóptero sobrevoava para resgatá-los. E agora já não é mais ficção, é a realidade: O helicóptero deu pane por conta das explosões no cenário, caiu e sua hélice em movimento simplesmente decapitou Morrow E AS DUAS CRIANÇAS. E as câmeras filmaram tudo isso. Apesar de não dar para ver muita coisa (a cena acontece num lago e quando a hélice bate nas vítimas, vê-se mais água do que alguma possível violência), não vou postar o video aqui, mas é fácil de encontrar no youtube.

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THE KENTUCKY FRIED MOVIE (1977) & AMAZON WOMEN ON THE MOON (1987)

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THE KENTUCKY FRIED MOVIE segue a cartilha de um tipo de comédia que surgiu nos anos 70 com inspirada no programa Saturday Night Live. A coisa era estruturada emulando uma “zapeada na TV”. Sabem como é? Como se você, espectador, estivesse segurando um controle remoto, mudando os canais, ou seja, eram produções concebidas como uma série de esquetes que imitava comerciais, fazia paródias de seriados e filmes, e mostrava programas de auditório ou reportagens absurdas. Alguns exemplos deste tipo de filme incluem THE GROOVE TUBE, de Ken Shapiro, PRIME TIME, de Bradley R. Swirnoff, TUNNELVISION, de Neal Israel e Swirnoff, e esta belezinha aqui, que é o segundo trabalho de John Landis.

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Então temos coisas do tipo, um fake trailer para um filme que nunca existiu: o exploitation Catholic School Girls in Trouble, estrelado pela musa de Russ Meyer, Uschi Digard; Bill Bixby, o eterno Bruce Banner do seriado HULK, fazendo um comercial de dor de cabeça; Jack Baker aprendendo a ter relações sexuais num documentário instrucional; um trailer para um filme catástrofe chamado That’s Armageddon (estrelado por Donald Sutherland como “The Clumsy Waiter“); Henry Gibson como apresentador do The United Appeal for the Dead, uma esquete hilária sobre o que fazer com nossos defuntos, e muitas outras coisas mais… A peça central de KENTUCKY FRIED MOVIE, no entanto, é uma paródia de OPERAÇÃO DRAGÃO, do Bruce Lee, chamado de A FISTFUL OF YEN. De rolar no chão…

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Várias participações especiais tornam a sessão ainda mais interessante, como Rick Baker – vestido do gorila que ele modelou como teste para o filme KING KONG de 1976 -, o ex-James Bond George Lazenby, Felix Silla, Tony Dow, Forrest J. Ackerman, que sempre aparece nos filmes do Landis…

Escrito pela equipe ZAZ – David Zucker, Jim Abrahams e Jerry Zucker – que mais tarde faria algumas das mais representativas comédias dos anos 80, como APERTEM OS CINTOS, O PILOTO SUMIU e CORRA QUE A POLÍCIA VEM AÍ – o filme custou algo em torno de 650 mil dólares, considerado baixo já em 1977. Originalmente, os realizadores cogitaram chamar o filme de FREE POPCORN ou CLOSED FOR REMODELING, mas no fim das contas ficou mesmo KENTUCKY FRIED MOVIE. Com seu sucesso, Landis acabou contratado para dirigir ANIMAL HOUSE no ano seguinte.

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Uma década depois, Landis se reuniu com outros diretores e produtores e fez uma espécie de sequência de KENTUCKY FRIED MOVIEAMAZON WOMEN ON THE MOON. Landis dirigiu alguns dos segmentos deste filme, que também apresentam vinhetas humorísticas de Joe Dante, Peter Horton, Robert K. Weiss e Carl Gottleib. Steve Forrest e Sybil Danning protagonizam o “filme central”, o tal Amazon Women on the Moon, uma homenagem aos sci-fi e B movies dos anos 50, que é intercalado com uma variação de esquetes que se estruturam como a tal zapeada na TV.

Com um orçamento melhorzinho, deu pra atrair uma lista imensa de figuras interessantes (muitos dos quais não eram muito conhecidos no momento), mas temos Michelle Pfeiffer, Dick Miller, Monique Gabrielle – pelada, pra variar – Griffin Dunne, Steve Guttenberg, Rosanna Arquette, Arsenio Hall, David Allen Grier, Russ Meyer, Kelly Preston, Andrew “Dice” Clay, apenas para citar alguns…

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Não é tão engraçado quanto KENTUCKY. O segmento do funeral Celebrity Roast com Steve Allen, Henny Youngman e Rip Taylor, por exemplo, demora mais do que deveria e acaba perdendo a graça. Mas temos The Son of the Invisible Man (com Ed Begley, Jr.), que dá pra soltar algumas boas risadas. A paródia do clássico programa de TV, que no Brasil ficou conhecida como Acredite se Quiser, apresentada aqui por Henry Silva também é ótima.

Mas de uma forma geral, AMAZON WOMEN ON THE MOON fica abaixo de KENTUCKY FRIED MOVIE, que veio num momento mais propício pra esse tipo de ideia, enquanto este aqui tentava integrar o lance do boom do Video-Cassete, o que é interessante, mas não tem a mesma força. Ainda assim, obviamente, ganha de lavada de 99% do cenário da comédia atual.

SCHLOCK (1973)

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Meu “diretor favorito do fim de semana” foi o John Landis (UM LOBISOMEM AMERICANO EM LONDRES), que peguei pra passar a régua em alguns dos seus trabalhos que eu ainda não tinha visto, como ANIMAL HOUSE, KENTUKY FRIED MOVIE e este SCHLOCK, que é o seu primeiro filme como diretor. Uma comédia deliciosa que presta homenagem aos filmes B dos anos 50 e 60, cheio de clichês de filmes de monstro.

A trama é simples e direta. Uma espécie de “pé-grande” chamado Schlock, que ficou congelado por 20 milhões de anos, acorda de seu longo sono e toca o terror em uma pequena cidade no sul da Califórnia, deixando um rastro de corpos, comendo muitas bananas e criando o caos em qualquer lugar que se mete. Em meio às investigações policiais e reportagens sensacionalistas da mídia local, o monstro encontra uma garota temporariamente cega e se apaixona, mas infelizmente ela acha que Schlock é apenas um cachorro. Depois que seus olhos melhoram, ela vê a criatura peluda à sua frente e grita desesperada, machucando o coração do pobre macaco pré-histórico…

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O plot é basicamente isso. O resto do filme se constrói em como os indivíduos da cidade reagem a Schlock, numa série de situações engraçadas e absurdas. O que não quer dizer que teremos 78 minutos de pessoas correndo e gritando ao ver a criatura sedenta de sangue. O que torna este filme tão único é que é totalmente imprevisível. Não temos a menor ideia de como Schlock ou alguém da cidade reagirá um ao outro nos mais diversos tipos de ambientes, locais e interação. Uma mais ridícula que a outra…

Há uma cena em que as pessoas estão assistindo a polícia e cientistas investigarem a cena de um crime na entrada de uma caverna e Schlock espreita por trás da multidão. Uma senhora acaba percebendo e em vez de fugir, diz: “Por que você não corta esse cabelo? Por que não arruma um emprego?“. O chefe da polícia vê Schlock, mas não parece assustado e tenta algemá-lo enquanto lê seus direitos. Assim, na maior naturalidade… Umas ceninhas bestas, mas que fazem uma sutil alegoria ao estado de espírito americano do período, a reação da sociedade com o outsider, com as pessoas que não se encaixam no padrão “certinho” que as instituiçõs idealizam… É por isso que no fim das contas acabamos por nos simpatizar por Schlock, essa criatura desajustada com suas atitudes rebeldes diante dos chatos e hipócritas que erguem os bastiões da moral, bons costumes e do politicamente correto… Felizmente, nosso grande Schlock quebra as algemas com facilidade e continua tocando o terror.

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Na sua jornada, Schlock varia desde atitudes violentas para o extremamente amigável. Em um minuto ele arranca o braço de um repórter sensacionalista e no instante seguinte vai tomar sorvete com algumas crianças. Num outro momento, ele destroça o carro de um sujeito, e é hilário porque ele fica sentado no seu assento e não faz nada. Mas a minha parte favorita de SCHLOCK é quando o monstro vai ao cinema! Pra começar, ele senta ao lado do grande Forrest J. Ackerman, de quem rouba a pipoca, e os filmes que assiste são deliciosos B movies antigos – como THE BLOB, com o Steve McQueen – e um monte de coisa acontece para atrapalhar a sessão do macaco… E eu só posso dizer que vi essa cena com um largo sorriso no rosto.

Vale destacar o visual de de Schlock, um dos primeiros trabalhos do maquiador Rick baker, apesar do baixo orçamento, e a performance da criatura, ou o ator dentro da “fantasia de macaco”. Um belo trabalho inusitado e espontâneo de expressão corporal e que, curiosamente, é o próprio John Landis quem o faz.

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Há muitos outros detalhes que Landis joga pra dentro, há muitas referências a outros filmes, alguns bem conhecidos, como uma genial paródia da famosa cena de esmagamento de ossos de 2001: UMA ODISSEIA NO ESPAÇO, de Stanley Kubrick, e, obviamente, o clímax do clássico KING KONG original. No geral, SCHLOCK é uma bobagem divertida, uma produção capenga de apenas 60 mil dólares que se destaca devido à sua estranheza, às referências apaixonadas de seu diretor e a uma espécie de humor cretino que raramente é visto hoje em dia.

BURKE AND HARE (2010)

Eu não ando muito ligado nas comédias atuais, mas resolvi me arriscar neste aqui porque a) me pareceu ser um bom caso do típico humor britânico; b) além do tipo de humor, me pareceu ter uma mescla interessante com mistério e terror; c) tem o Simon Pegg, que é dos poucos rostos do gênero que acho bacana atualmente e d) o motivo principal, é que BURKE AND HARE é o retorno de John Landis à direção depois de não sei quantos anos sem fazer algo para cinema.

Duas escolas de anatomia na cidade de Edimburgo, por volta de 1820, competem pelo posto de melhor instituição, uma liderada pelo Dr. Monro (Tim Curry) e outra pelo Dr. Knox (Tom Wilkinson), que se vê obrigado a adquirir corpos por meios ilegais, já que Dr. Monro consegue um monopólio sobre a oferta de cadáveres na cidade. É aí que entram Burke (Pegg) e Hare (Andy Serkis), dois malandros que estão dispostos a tudo para ganhar uns trocados, o que incluí conseguir alguns defuntos para o Dr. Knox, mesmo que nem sempre encontrem o artefato sem vida.

O filme é ligeiramente baseado em histórias verdadeiras, inspiradas em assassinatos reais da época, e possui um tema interessante para criar situações engraçadas. Pena que na prática a coisa não funcionou tão bem pra mim. BURKE AND HARE não é ruim ao ponto de você desistir no meio do filme, mas também não possui nada de mais para chegar ao fim como uma experiência agradável. É longo demais e perde tempo com situações desinteressantes (como o romance de um dos protagonistas) e, já que estamos falando de algo assumidamente dentro do gênero comédia, falha por ser sem graça na maior parte do tempo. Não existem sequências memoráveis que ficam marcadas na mente, a não ser a curta cena onde Christopher Lee dá as caras.

Por outro lado, John Landis mantém a mão firme para o suspense e em alguns momentos envolvendo uma atmosfera mais densa o filme ganha um pouco de força. Não deixa ainda de ser meia boca o resultado final, mas prefiro um Landis ou John Carpenter fazendo filmes menores como este do que vê-los “coçando o saco em casa”.