
É uma pena que o LOBISOMEM AMERICANO EM LONDRES seja o único filme de horror do John Landis a ser mais lembrado. Até quem não faz ideia de quem seja o diretor geralmente conhece, ou pelo menos ouviu falar do filme. Quero dizer, é óbvio que possui todos os méritos, mas acho injusto hoje ninguém lembrar de INNOCENT BLOOD. Claro, é compreensível quando se trata de uma produção que foi muito mal nas bilheterias, como é o caso aqui, mas não deixa de ser um dos melhores trabalhos do Landis.
Temos aqui um filme de vampiro de premissa original, bem dirigido, com elenco finíssimo, efeitos especiais práticos, sangrentos e ótima maquiagem. Sem falar na trilha sonora jazzística que encaixa uns Frank Sinatra… E mesmo assim, veio o fracasso. Alguns distribuidores ainda tentaram desesperadamente aproveitar o sucesso do outro filme do Landis para atrair público, como na Austrália, onde o filme foi lançado como A FRENCH VAMPIRE IN AMERICA.

Esse lance de títulos é algo sempre divertido. No Brasil foi chamado de INOCENTE MORDIDA. Até aí tudo bem, nada de mais. Só não chega aos pés dos nossos amigos de Portugal, onde foi lançado com um hilário NÃO HÁ PESCOÇO QUE AGUENTE, ou os nossos hermanos argentinos que colocaram TRANSILVANIA MI AMOR! 😀
Mas o filme realmente tem uma francesa, a Anne Parillaud (NIKITA), que interpreta Marie, uma bela e sexy vampira que só mata gente má do mundo do crime para saciar sua sede de sangue. Numa noite qualquer, ela arranca a garganta de um gangster italiano (Chazz Palminteri) e acaba se envolvendo com a mafia de Nova York. O grande Robert Loggia vive Sallie “The Shark”, o chefão do bando, que também acaba se tornando vítima de Marie. Só que depois de mordê-lo, nunca tem chance de matá-lo em definitivo. Depois, Marie descobre que Sallie se transformou num vampiro e agora cria um exército de mordedores de pescoço na mafia de Nova York! No meio dessa confusão, Anthony LaPaglia desempenha o papel de um policial infiltrado no grupo de Sallie, tendo que lidar com a bela vampira e com a máfia de chupadores de sangue!

A cena inicial de INNOCENT BLOOD mostra Anne Parillaud nua em pêlo, belissimamente iluminada. Claro, uma das melhores coisas do filme é o estilo de John Landis, um sujeito que nunca precisou demonstrar virtuosismos com a câmera, mas sabe compor enquadramentos com muito talento e é um mestre da mise en scène. O filme é um luxo nesse sentido e um dos melhores trabalhos de direção de Landis, junto com LOBISOMEM AMERICANO, OS IRMÃOS CARA DE PAU e UM ROMANCE PERIGOSO. Mesmo o lado cômico, que é sempre muito forte no trabalho Landis, funciona muito bem aqui.
Depois de dois terços do filme, o ritmo diminui um bocado, mas sempre com um detalhe ou outro para manter o interesse. E com o elenco que temos aqui, fica difícil desgrudar os olhos da tela. Parillaud está deslumbrante, mas quem rouba a cena é mesmo Robert Loggia. O elenco ainda conta com David Proval, Tony Sirico, Kim Coates, Luis Guzman e um hilário Don Rickles. E claro, uma das marcas registradas da Landis são as pequenas aparições de figuras cultuadas ou outros diretores em seus filmes, e aqui temos Frank Oz, Dario Argento, Sam Raimi em momentos bem divertidos. Também Tom Savini, Forrest J. Ackerman e até Linnea Quigley!

Outra marca registrada de Landis é que não importa o gênero que seja o filme, se é comédia, ação, horror, enfim, qualquer trabalho de John Landis você pode esperar uma televisão ligada passando uma cena de um clássico do horror e monstros.
Não dá pra deixar de destacar também os maravilhosos efeitos especiais. Um dos melhores que eu já vi dos anos 90. Os efeitos de maquiagem de Steve Johnson são simplesmente incríveis e há uma cena quando um dos personagens se queima do sol que é deslumbrante – está quase no mesmo nível da transformação do lobisomem em UM LOBISOMEM AMERICANO EM LONDRES. O filme também não economiza em sangue e gore, e os fãs desse tipo de coisa não precisam se preocupar com isso. Já eu curto mais o lado erótico que Landis conseguia incluir, mesmo num filme mainstream.

Uma curiosidade, o filme inicialmente seria dirigido pelo grande Jack Sholder (diretor subestimadíssimo), e teria Lara Flynn Boyle e Dennis Hopper. Quando Sholder pulou fora do projeto, Landis assumiu o lugar e substituiu, seja lá por qual motivo, os dois atores por Parillaud e Loggia. E apesar de amar o Loggia por aqui, daria tudo para ver uma versão surtada de um vampiro mafioso vivido por Dennis Hopper. Teria sido lindo!
Mas do jeitinho que é, mesmo com seus problemas, INNOCENT BLOOD ainda é um dos meus filmes de vampiros favoritos. Está lá junto com alguns exemplares da Hammer, o DRACULA de John Badham, MARTIN de George Romero, THE HUNGER de Tony Scott, DRÁCULA do Coppola e, claro, BLOOD FOR DRACULA, de Paul Morrissey.