O PLANETA DOS MACACOS (1968)

Deve ser a milésima vez que assisto ao clássico O PLANETA DOS MACACOS (Planet of Apes) original, de Franklin J. Schaffner. Tinha gravado da TV num VHS nos anos 90 e quando era adolescente não me cansava de rever este e as continuações… Até hoje, se bobear, este aqui ainda é um dos meus sci-fi de cabeceira. Mas já fazia uns bons quinze anos que não revia… Continua uma belezura. As continuações eu não sei. Precisava rever pra lembrar.

Mas este primeiro foi considerado um dos filmes de ficção científica mais fortes e influentes de seu tempo, um fenômeno que além de desencadear as quatro sequências, gerou também uma série de TV, desenhos animados, toneladas de memorabilia, parodiado até pelos Trapalhões no clássico O TRAPALHÃO NO PLANALTO DOS MACACOS, de 76, dirigido pelo J. B. Tanko.

O filme foi baseado em um romance francês chamado La Planète des Singes, de Pierre Boulle, e produzido como o projeto de estimação Arthur P. Jacobs, que lutou durante anos para que o filme pudesse existir. Acabou produzindo todos os 5 filmes da série original. Para o roteiro, foi contratado o criador de The Twilight Zone, Rod Serling, e, como era seu modo habitual de adaptação, mudou muitos elementos do livro, incluindo a adição do icônico final… E se for parar pra pensar, até que as coisas meio que se desenrolam como um episódio prolongado de The Twilight Zone

A história começa no ano de 1973. Uma tripulação de astronautas liderada pelo Coronel George Taylor (Charlton Heston) cai em um planeta remoto depois de ficar em hipersono por 2.000 anos em uma expedição espacial. Uma vez fora da nave, os membros restantes da tripulação eventualmente tropeçam em uma sociedade na qual a evolução aparentemente se inverteu: os macacos são altamente inteligentes, pensam, falam, têm até sua própria hierarquia social. Os macacos assumiram o papel da espécie dominante, enquanto os humanos são “animais” irracionais.

Subjugado e temido por seus captores por ser o primeiro humano com o poder da fala, Taylor luta para escapar com a ajuda de dois simpáticos cientistas chimpanzés, Cornelius (Roddy McDowall) e Zira (Kim Hunter). Sua luta leva a um dos finais mais impactantes da história do cinema.

O PLANETA DOS MACACOS acaba sendo uma espécie de reflexo da turbulência que foi os anos 60 em vários sentidos. O filme ataca e satiriza várias questões dominantes na consciência pública – guerra fria, direitos civis, etc. Embora a alegoria pareça simplista hoje, ainda não prejudica o poder do filme.

Grande parte do sucesso de O PLANETA DOS MACACOS pode ser atribuída também ao prazer que traz aos olhos (os primeiros trinta minutos de filme são um espetáculo Fordiano das paisagens do deserto, dignas dos mais belos westerns), os elementos visuais, o surpreendente trabalho de design de produção, os cenários, a maquiagem de John Chambers, que muito mereceu seu prêmio especial da academia. Embora primitiva para os padrões atuais, a maquiagem dos macacos foi uma conquista incrível de sua época. A direção de Schaffner é bem segura e até ousada em alguns momentos, especialmente em sequências de ação, com bons movimentos e trabalho com os ângulos.

Os elogios também podem ir para algumas performances notáveis ​​dos atores-macacos. McDowall e Hunter brilham em seus aparelhos faciais, assim como Maurice Evans como um dos melhores vilões da ficção científica do período, Dr. Zaius. Já Charlton Heston está magistral, engole o cenário com sua presença física, com toda sua desenvoltura, realmente dá tudo de si. É uma dos meus desempenhos favoritos do homem…

Vale destacar também a presença de Bob Gunner (que é quase um sósia do Sean Connery) e Jeff Burton, os astronautas que sobrevivem na expedição, mas que não duram muito tempo no planeta. Dianne Stanley, a astronauta que morre ainda no hipersono só faz praticamente uma ponta… Seria interessante ver como seria se uma mulher tivesse a possibilidade de participar da aventura dos astronautas nos primeiros 30 minutos de filme. Mas acharam mais fácil eliminá-la logo de cara até porque há a cena da cachoeira na qual os atores ficam nus para nadar e acho que em 1967, 68, um filme comercial de ficção científica ainda não estava muito preparado para mostrar uma mulher nadando sem roupa com seus companheiros de trabalho… O que é uma pena. Mas ainda do lado feminino, destacamos a presença da Linda Harrison, como uma das nativas humanas e que voltaria no segundo filme.

Ainda sobre o final, com o personagem de Heston se deparando com a Estátua da Liberdade em uma praia deserta devorada pelo tempo, por mais óbvia a metáfora, acaba sendo dessas imagens marcantes que nunca vai sair do imaginário cinéfilo. Tão copiada e parodiada, até hoje impressiona. Imaginem então o público da época, que ainda vivia com o temor contínuo de uma guerra que envolvessem bombas nucleares. O filme acabou reverenciado e estudado por gerações por sua mensagem atemporal sobre a crueldade e destrutividade que reside na natureza humana. E esse final de O PLANETA DOS MACACOS sintetiza tudo isso.

Vou rever o segundo filme, DE VOLTA AO PLANETA DOS MACACOS (70), pra ver como se sai hoje em dia…

ALÉM DA IMAGINAÇÃO 1.14: THIRD FROM THE SUN (1960)

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O cientista William Sturka (Fritz Weaver), certo de que uma guerra nuclear capaz de destruir todo o planeta é iminente, conspira com o piloto de teste Jerry Riden (Joe Maross) para roubar uma nave espacial experimental e fugir com suas famílias para um outro planeta. Após alguns contratempos, conseguem embarcar na nave e partem rumo ao desconhecido. No espaço, perguntam como será a nova casa. Das transmissões de rádio, sabem que é habitado por pessoas como eles mesmos, e que o nome do planeta é… Bom, não vou revelar para não estragar o prazer de quem ainda não viu THIRD FROM THE SUN. Um dos meus episódios favoritos da primeira temporada de ALÉM DA IMAGINAÇÃO.

Embora a revelação seja um bocado óbvia… Como o título já diz, é o terceiro planeta a partir do sol…

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O capítulo foi adaptado por Rod Serling a partir de um conto de mesmo nome escrito por Richard Matheson (que já estava trabalhando como roteirista na série). Ao contrário de AND WHEN THE SKY WAS OPEN, uma adaptação mais livre de Serling da história “Disappearing Act” de Matheson, este aqui é mais fiel ao seu material de origem. Serling simplesmente aprimorou um pouco a trama, adicionando um vilão (Edward Andrews) e mudando alguns detalhes para criar suspense. A história de Matheson é boa, mas muito sintética, não há o suficiente para transformá-la em um episódio de meia hora de uma série como ALÉM DA IMAGINAÇÃO sem adicionar outros elementos.

O episódio marca a estreia de Richard L. Bare como diretor da série. Faria um total de sete episódios ao longo dos anos. E uma das coisas que chama a atenção em THIRD FROM THE SUN é justamente o seu inventivo trabalho de direção. Basicamente, o episódio inteiro é filmado com a câmera em ângulos tortos e desconfortáveis e outros truques elaborados para brincar com a percepção do espectador, jogando visualmente evidências de que a trama transcorre num planeta estranho. E Bare consegue isso brilhantemente, empregando o uso de lentes grande angular que encobrem esse mundo em uma atmosfera de desorientação.

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Os atores também merecem destaque. Especialmente Fritz Weaver, que está fantástico aqui, carregando a culpa de ter contribuído para criar esse mundo horrível prestes a virar pó. Mas Edward Andrews é quem rouba a cena nos poucos momentos em que aparece. Seu personagem é o típico vilão que na superfície não há muito o que notar. Seus atributos maquiavélicos são encontrados não tanto no que ele diz, mas na maneira como diz e no clima desconfortável que parece se apegar a ele onde quer que vá. Um bom exemplo disso é durante a cena da mesa de pôquer (da imagem acima), quando Andrews entra na casa de Sturka enquanto ele e Riden estão traçando sua rota de fuga. O sujeito não diz nada de ameaçador durante a cena, mas a ameaça está lá, irradiando dele. Em um movimento, Andrews pega as pontuações de pôquer dos dois sujeitos, que coincidentemente tem o plano de fuga do outro lado da folha. Uma aula de gestos, olhares e suspense…

Mesmo com a grande revelação final de THIRD FROM THE SUN sendo totalmente óbvia e previsível, a história que a antecede apresenta uma reflexão interessantes sobre uma das maiores paranóias do período, a ameaça de uma guerra nuclear entre EUA e URSS durante a Guerra Fria. Além disso, temos personagens atraentes e uma trama tensa suficiente para o episódio merecer o carimbo de “diversão garantida”.

ALÉM DA IMAGINAÇÃO 1.13: FOUR OF US ARE DYING (1960)

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Soube há poucos dias que TWILIGHT ZONE está de volta em 2019, uma nova versão da série, agora capitaneada pelo diretor Jordan Peele (CORRA e NÓS), dando uma de Rod Serling, fazendo o mesmo que o criador do seriado original, o qual além de roteirizar grande parte dos episódios, fazia as famosas narrações que tornaram o programa tão peculiar. Não vi ainda nenhum episódio dessa série nova, mas pela lista de diretores, nomes da nova geração que, se não são grandes mestres, possuem alguns bons trabalhos da safra atual do horror, acho que vale a pena uma conferida. Qualquer hora dou uma chance. Por enquanto, vou continuar peregrinando aqui nos episódios clássicos, ainda na primeira temporada.

Entramos agora na década de 60, estamos no décimo terceiro capítulo. THE FOUR OF US ARE DYING foi escrito pelo próprio Serling e dirigido por John Brahm. A trama é sobre um sujeito, Arch Hammer (Harry Townes) que possui a habilidade especial de poder mudar seu rosto, literalmente metamorfosear sua face para se parecer com outras pessoas. Geralmente, pessoas que já morreram… Durante o episódio, Arch usa sua habilidade para tentar melhorar sua vida (amorosa, financeira…) independentemente de seu efeito sobre os outros à sua volta.

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Primeiro, personifica o falecido trompetista Johnny Foster para conseguir com que sua namorada, Maggie (Beverly Garland), uma cantora, concorde em fugir com ele. Mais tarde, ele se faz passar por Virgil Sterig, um gângster recentemente assassinado, para tirar dinheiro do Sr. Penell, o bandido que matou Sterig. Seu plano dá errado e foge sendo perseguido por dois brutamontes. Para escapar, Hammer assume o rosto de um jovem boxeador, Andy Marshak, que ele vê num cartaz estampado num beco escuro. No entanto, ele encontra o pai do verdadeiro Marshak, que pensa estar diante de seu filho, o qual partiu o coração de sua mãe e acabou com a vida de uma doce moça. Hammer empurra o homem para o lado e volta ao seu quarto de hotel. Mais tarde, no entanto, quando ele retoma o rosto de Marshak, a fim de fugir de um detetive de polícia, ele encontra novamente o pai de Marshak, só que desta vez o homem tem uma arma em punho…

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No início de 1959, George Clayton Johnson, um jovem escritor, que viria ainda a contribuir com a série, e amigo de Charles Beaumont (que já havia roteirizado o nono episódio desta primeira temporada, PERCHANCE TO DREAM), escreveu um conto intitulado “All of Us Are Dying“, que era sobre um jovem que se aproveita do fato das pessoas o enxergarem como ” o indivíduo que mais querem ver no mundo” (sua queda ocorre quando ele entra em um posto de gasolina e o atendente o vê como um homem que há dez anos ele queria matar). Johnson apresentou a história a um certo agente, que encaminhou para Rod Serling.

Serling gostou logo de cara da ideia de um homem que pudesse ser visto com outros rostos. Ele comprou a história, e começou o trabalho de adaptação para a série e intitulou THE FOUR OF US ARE DYING. Como era o habitual de Serling, apenas um conceito, uma premissa, era utilizado, e escreveu um história bem diferente do original.

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Inicialmente, a produção considerou trabalhar apenas com um ator e, através de processos de maquiagem, mudar sua aparência para se adequar a cada personagem. Essa ideia acabou sendo descartada por causa da intensa composição que o ator teria que sofrer e da grande quantidade de tempo que iria se gastar. O que não era o normal no processo de produção e filmagens desses episódios, curtos e de baixo orçamento. Depois de um longo processo de casting, foram escalados os quatro atores que aparecem como “protagonistas” em THE FOUR OF US ARE DYING, todos com o intuito de fazer acreditar que por trás daqueles quatro rostos existia um único personagem, um único homem. O que deixa evidente a ideia de uma certa busca por uma identidade, ou a fuga de ser “quem você é” como forma de sobrevivência, o principal tema a ser investigado pelo episódio.

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É o que dá sentido a THE FOUR OF US ARE DYING. E o roteiro de Serling é impiedoso ao tratar do assunto contando a história de um homem tão especial, mas que no fundo é triste e que tem um fim implacável. A direção de John Brahm – que já havia realizado dois episódios, JUDGMENT NIGHT e TIME ENOUGH AT LAST, que é um dos meus episódios favoritos – é bastante engenhosa, imaginativa, e aproveita bem os econômicos, mas muito criativos, espaços e cenários estilizados que representam a grande cidade, cheias de placas, neons e atrações noturnas de várias espécias. O elenco está bem afiado, especialmente os quatro atores “protagonistas” e vale destacar a participação de Beverly Garland, que curiosamente também participa do filme que comentei no último post, O EMISSÁRIO DE OUTRO MUNDO. Chama a atenção também a notável trilha sonora do grande Jerry Goldsmith, em relativo início de carreira.

THE FOUR OF US ARE DYING é desses episódios essenciais de TWILIGHT ZONE.

ALÉM DA IMAGINAÇÃO 1.12: WHAT YOU NEED (1959)

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Este décimo segundo episódio da clássica série ALÉM DA IMAGINAÇÃO tem como base algumas velhas lições de moral. “Cuidado com o que pedes“, “dá uma mão e já querem o braço todo“, ou algo do tipo… Na trama de WHAT YOU NEED, temos Pedott (Ernest Truex), um vendedor ambulante com a incrível capacidade de dizer o que as pessoas precisam antes delas precisarem. Para o bandido de segunda categoria, Fred Renard (Steve Cochran), ele dá uma tesoura. A princípio, o sujeito não entende o motivo de ter recebido o objeto, mas é justamente isso que lhe salva a vida, mais tarde, quando sua gravata fica presa nas portas de um elevador e quase morre estrangulado. Só que Renard quer mais, muito mais, e tenta usar os talentos do velho para seu próprio benefício, transformando a vida de Pedott num inferno.

Obviamente, em certo momento, a justiça cósmica de ALÉM DA IMAGINAÇÃO cai pra cima de Renard de modo fulminante…

O roteiro escrito pelo próprio Rod Serling, criador da série, é baseada num conto de uma dupla, Henry Kuttner e C.L. Moore, e tratava de um cientista que inventa uma máquina que pode ler o provável futuro das pessoas e, em seguida, dava-lhes algo que precisassem para serem guiados na direção correta. Serling gostou da ideia, mas aproveitou só o conceito básico do material de origem. Cortou fora o cientista e sua máquina e resolveu abordar o tema de forma mais simples e direta, como um conto de fantasia urbana, sobre o idoso vendedor ambulante de calçada que pode prever o futuro e vende itens triviais (removedor de manchas, sapatos, tesouras, um bilhete de viagem, etc), mas que acabam por ser peças extremamente valiosas para quem as recebe.

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Apesar de simpático e em alguns momentos bem sombrio, WHAT YOU NEED acaba sofrendo um pouco pela falta de ousadia no roteiro de Serling. A mesma historinha que o roteirista adaptou já era muito manjada na época, fora publicada e republicada em diversos cadernos voltados para a ficção científica e já havia sido até adaptada em outra série também. E não há nada de novo, nenhum frescor, na abordagem de Serling por aqui. No fim das contas, acaba sendo apenas um episódio escorado nas lições de moral sem atingir todo o potencial que o conceito de fábula urbana, um noir fantástico, poderia alcançar.

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A grande qualidade de WHAT YOU NEED fica a cargo da dupla central de atores. Truex, que faz aqui à perfeição o velho vendedor ambulante. Já era um veterano ator que desde 1908, aos nove anos de idade, atuava nos palcos da Broadway. Trabalhou especialmente nos teatros aristocráticos de Londres enquanto o cinema não era muito a sua praia, embora tenha uma obra com mais de cem créditos. Já nos últimos anos de carreira, dedicou-se à televisão. Em ALÉM DA IMAGINAÇÃO voltaria atuar em um episódio da terceira temporada, KICK THE CAN. Já o vilão da trama, Steve Cochran, embora seja muito unilateral, consegue passar de forma magnífica a imagem ameaçadora que seu personagem exige. O cara fez seu nome interpretando bandidos e policiais corruptos durante o ciclo do film noir nos anos 40 e 50, como em PRIVATE HELL 36, de Don Siegel, que já comentei aqui no blog. Cochran também interpretou o braço direito de James Cagney em WHITE HEAT, um dos melhores filmes de Raoul Walsh.

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Especialmente pelos dois atores acima, e algumas cenas bem resolvidas visualmente, graças ao belo trabalho do competente diretor Alvin Ganzer (que viria ainda a comandar mais três episódios da série: THE HITCH-HICKER, NIGHTMARE AS A CHILD e THE MIGHT CASE, todos da primeira temporada), o saldo final acaba sendo positivo. WHAT YOU NEED pode não atingir todo seu potencial, mas é um episódio bacana que passa com clareza a sua mensagem.

Para ler sobre os outros episódios já comentados aqui no blog, clique aqui.

ALÉM DA IMAGINAÇÃO 1.11: AND WHEN THE SKY WAS OPENED (1959)

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AND WHEN THE SKY WAS OPENED foi realizado quando a chamada corrida espacial estava à pleno vapor. O homem ainda não havia saído da estratosfera terrestre – algo que só viria a acontecer dois anos depois, em 1961, ironicamente com a Rússia saindo na frente com o astronauta Yuri Gagarin… Mas antes disso, os americanos ainda sonhavam em ser os primeiros a chegar tão longe. O que era um material fértil para a literatura sci-fi e filmes e séries de ficção científica. Óbvio que uma série como ALÉM DA IMAGINAÇÃO não ficaria de fora.

Quando o criador da série e principal roteirista, Rod Serling, escreveu o script de AND WHEN THE SKY WAS OPENED, ninguém poderia ter certeza do que aconteceria quando os homens se aventurassem no espaço. E toda a trama, que é intrigante e segura o espectador do início ao fim, gira em torno da exploração do pavor pelo desconhecido.

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Três astronautas retornam do primeiro vôo espacial realizado nos EUA. Major Gart (Jim Hutton) é hospitalizado com uma perna quebrada, mas os outros dois, Harrington (Charles Aidman) e Forbes (Rod Taylor), estão bem e resolvem comemorar a empreitada numa noitada num bar. No entanto, Harrington subitamente começa a ter um sentimento estranho. Ele vai a uma cabine telefônica e liga para seus pais, que atendem e dizem que eles não têm filhos. De repente, Harrington desaparece literalmente, sem que alguém lembrasse da sua existência, exceto Forbes.

Quando Forbes conta essa história a Gart no hospital, este último também diz que ele nunca ouviu falar na vida de um tal de Ed Harrington, o que deixa Forbes completamente devastado. De repente, Forbes tem uma sensação peculiar, como a de Harrington antes de desaparecer, e sai gritando pelos corredores do hospital. Gart chega ao corredor, mas já é tarde, Forbes também desapareceu e ninguém mais tem qualquer lembrança de sua existência, exceto Gart, que não demora muito, desaparece e, com ele, a nave que os levou pra fora da terra, limpando a última evidência da aventura.

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O roteiro de Serling para AND WHEN THE SKY WAS OPENED foi baseado no conto de Richard Matheson, “Disappearing Act” (que aparece na sua coletânea Third From the Sun), mas só mesmo uma ideia superficial foi utilizada por Serling no episódio. Na história original, temos um escritor sem sucesso que acha que as pessoas em sua vida, uma por uma, estão desaparecendo e só ele se lembra delas. Ele, em algum momento, também acaba por desaparecer. Ao comparar o episódio com o seu conto, Matheson dizia: “Meu  sentimento é idêntico ao que sinto sobre segunda versão do meu romance, I Am Legend (THE OMEGA MAN, com Charlton Heston): está tão distante que não há nada para se pensar.” Curiosamente, não demorou muito, Matherson se tornou um dos principais roteiristas da série.

AND WHEN THE SKY WAS OPENED marca a estréia de Douglas Heyes como diretor em ALÉM DA IMAGINAÇÃO. Heyes também era músico, pintor, ator, roteirista e habilidoso romancista. Ele começou sua carreira nos estúdios da Disney onde aprendeu a pensar no cinema como uma forma de arte visual, fazendo storyboards de cenas, onde tomou noção como mover a câmera e onde cortar o filme na sala de edição. O movimento fluido da sua câmera se tornaria uma característica definidora de seu estilo como diretor.

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Neste primeiro episódio que realizou, no entanto, seu estilo é mais reservado do que a maioria de seus episódios, até porque o roteiro de Serling foca principalmente na deterioração psicológica de seus personagem, então Heyes simplesmente deixa os atores fazerem a maior parte do trabalho. Mas existem algumas cenas incomuns no episódio que demonstram o talento de Heyes em dar ênfase no mistério e no medo do desconhecido. O uso de alguns elementos visuais são importantes para a narrativa, como o jornal que é constantemente mostrado como prova física do desaparecimento dos personagens.

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Mas os atores são em grande parte o que torna AND WHEN THE SKY WAS OPENED memorável. Charles Aidman e James Hutton estão muito bem, mas Rod Taylor é o tour de force do episódio e o nome mais reconhecível do elenco. Taylor é lembrado por seus papéis em A MÁQUINA DO TEMPO (1960), de George Pal, e OS PÁSSAROS (1963), de Alfred Hitchcock. Sua atuação como Forbes é brilhante, com expressões faciais e maneirismos físicos expressivos, especialmente quando contracena com Hutton, que dão gosto de vê-lo atuar. Taylor manteve uma carreira relativamente bem sucedida no cinema e na televisão até o final da vida. Seu último papel foi como Winston Churchill em BASTARDOS INGLÓRIOS, de Quentin Tarantino. Morreu em 2015 aos 84 anos de idade.

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AND WHEN THE SKY WAS OPENED é um episódio sólido, intrigante e com ótimas performances e boa direção, algo já habitual na série, que sempre escala bons diretores e atores. E Serling, a grande mente por trás de ALÉM DA IMAGINAÇÃO, reconheceu na ficção de Matheson o tipo temático de fantasia que tanto lhe fascinava: o medo do obscuro. E aqui temos um bom exemplo disso.

ALÉM DA IMAGINAÇÃO 1.10: JUDGMENT NIGHT (1959)

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Em JUDGMENT NIGHT, um sujeito chamado Carl Lanser (Nehemiah Persoff) se vê de repente num navio percorrendo o oceano Atlântico. Estamos em 1942, em plena Segunda Guerra Mundial, e o sujeito não sabe direito quem é, quem são as pessoas ele encontra – embora tenha a sensação de tê-los conhecido antes – e nem como chegou ali. No decorrer da trama, as coisas vão ficando cada vez mais misteriosas, até porque Lanser, de alguma maneira, tem a certeza de que um submarino nazista está perseguindo o navio e, pela sua premonição, algo vai acontecer à 1h15 da madrugada.

Seus temores acabam se confirmando e exatamente no horário esperado surge um submarino alemão numa ofensiva contra a sua embarcação. Olhando através de binóculos, Lanser tem uma visão aterradora ao perceber a identidade do capitão do submarino… Seu navio afunda, a tripulação é metralhada ainda tentando sobreviver na água, e a consequência de todas essas ações trágicas e sádicas resulta num dos mais perturbadores infernos que a série poderia nos proporcionar.

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O roteiro de Rod Serling para JUDGMENT NIGHT provavelmente foi inspirado no mito do Holandês Voador, a famigerada lenda do navio fantasma cuja tripulação é condenada a vagar pelos mares por toda a eternidade. A diferença aqui é que o tal inferno consiste na sentença de Lanser em reviver o naufrágio daquele navio infinitamente. Noite após noite, o sujeito de repente se vê na mesma situação, sem saber como chegou ali, mas tendo certeza de que à 1h15, vai dar merda…

A direção do episódio ficou por conta de John Brahm, que já havia realizado um dos meus episódios favoritos até aqui, TIME ENOUGH AT LAST, e ainda viria a contribuir pelo menos uma dezena de vezes. Seu trabalho não é tão ousado como a de Robert Stevens (WHERE IS EVERYBODY?, WALKING DISTANCE), com seus enquadramentos entortados, Brahm geralmente era mais sutil e apostava mais no visual sombrio e atmosfera carregada. De fato, JUDGMENT NIGHT parece um pesadelo e por um bom tempo a impressão é que o protagonista vai acordar a qualquer momento.

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Um nevoeiro sempre presente nas externas e o uso de imagens desfocadas contribuem bastante para impressão confusa de Lanser da situação. Brahm usou imagens semelhantes em 1944 para retratar as ruas cobertas de neblina da Londres vitoriana na sua refilmagem de THE LODGER, de Alfred Hitchcock. A sequência do ataque no final também é muito bem conduzida, com explosões e efeitos especiais cuidadosamente utilizados e sem receio algum de chocar o público da época mostrando inocentes passageiros, incluindo mulheres e crianças, sendo destroçados pelo ataque submarino.

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Embora possa ser um pouco previsível, JUDGMENT NIGHT ainda é um ótimo episódio com um roteiro intrigante de Serling, uma performance maravilhosa de Nehemiah Persoff (que ainda está vivo, aos 98 anos), e um momento inspirado do diretor John Brahm. Sem dúvida um dos pontos altos da primeira temporada.

ALÉM DA IMAGINAÇÃO 1.9: PERCHANCE TO DREAM (1959)

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Primeiro episódio da série ALÉM DA IMAGINAÇÃO que não foi escrito pelo seu criador, Rod Serling. Charles Beaumont, que viria a escrever algumas obras em parceria com Roger Corman, como ORGIA DA MORTE e THE INTRUDER, ficou responsável por PERCHANCE TO DREAM, que conta a história de Edward Hall (Richard Conte), um sujeito que está acordado há mais de 80 horas quando o episódio começa. Diagnosticado ainda muito jovem com uma doença cardíaca degenerativa, ele tem medo de adormecer e que um pesadelo recorrente envolvendo um cenário surreal e uma mulher misteriosa (Suzanne Lloyd) seja suficientemente chocante para fazer seu coração parar.

O capítulo começa com Hall procurando ajuda de um psiquiatra, o Dr. Eliot Rathmann (John Larch), a quem ele conta sua história. E a partir disso já não sabemos o que é relato, o que é sonho, o que é realidade, mas ao mesmo tempo temos uma das sequências visuais das mais impressionantes de toda a série.

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PERCHANCE TO DREAM foi uma produção agraciada com as pessoas certas em seus devidos lugares. Complementando a história psicologicamente aterrorizante escrita por Beaumont, havia um grupo de atores perfeitamente adequados para dar vida a este pequeno conto. O pequeno elenco incluiu três excelentes nomes, com Richard Conte, mais conhecido como o mafioso Barzini em O PODEROSO CHEFÃO, entregando uma performance especialmente angustiante como o condenado Edward Hall. John Larch, que viria aparecer em outros episódios da série, como DUST e IT’S A GOOD LIFE, tem uma atuação sutil num personagem muitas vezes estereotipado. E a atriz canadense Suzanne Lloyd que captura a essência da sedutora misteriosa que perturba os sonhos de Hall.

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O diretor do episódio, Robert Florey, não era nenhum estranho no gênero de mistério e horror, tendo co-roteirizado FRANKENSTEIN, de 1931, dirigido por James Whale (inicialmente Florey era cotado para dirigir), além de ter adaptado e dirigido OS ASSASSINATOS DA RUA MORGUE, de Edgar Allan Poe, com o o Bela Lugosi, e que eu já comentei por aqui. Florey faz um trabalho maravilhoso em PERCHANCE TO DREAM, conferindo à sequência do cenário alucinatório de pesadelo e imagens oníricas uma verossimilhança que consegue manter a atenção do espectador ao longo do ritmo acelerado e curto do episódio. É como se estivéssemos diante de alguns dos maiores pesadelos filmados do Expressionismo Alemão.

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E temos a estreia de um roteirista para dar uma nova cara à esta primeira temporada. Talvez o aspecto mais importante que Beaumont trouxe para a série tenha sido a propensão à fantasia sombria, às histórias de horror, quase sempre de natureza psicológica, que exploravam o aspecto mais sombrio da mente humana. Enquanto Serling trabalhava em grande parte dentro dos limites reconhecíveis da fantasia (robôs, viagens no tempo, medos coletivos, como a solidão, etc.), Beaumont chegou com um tratamento singular da fantasia e do horror psicológico. Com exceção de Serling, Beaumont foi o mais ativo roteirista de ALÉM DA IMAGINAÇÃO, tendo assinado 22 scripts ao longo das temporadas. E PERCHANCE TO DREAM é um dos melhores exemplos do processo imaginativo único de Beaumont.

ALÉM DA IMAGINAÇÃO 1.8: TIME ENOUGH AT LAST (1959)

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Hey! Já fazia um tempinho que não postava sobre algum episódio da série ALÉM DA IMAGINAÇÃO por aqui. Ainda estamos na primeira temporada e chegamos a um dos episódios mais divertidos e, ao mesmo tempo, cruéis de todo o seriado. TIME ENOUGH AT LAST é o nome do episódio que traz o grande Burgess Meredith no papel de Henry Bemis, um sujeito que não quer nada na vida além de um lugar calmo e tempo para apreciar as palavras de uma página… Sejam livros, revistas, jornais, se deixar, é capaz de ler até a bula de remédios. O cara só quer ler.

Uma atividade saudável, certo? Não para Bemis, que é tão obcecado pela leitura que prejudica seu convívio social, sua mulher lhe proíbe de ler, escondendo ou hachurando livros, interfere até no seu desempenho no trabalho como caixa de banco, sempre com um romance de Dickens escondido na gaveta para dar umas lidas ao mesmo tempo em que precisa atender as pessoas na fila, deixando seu chefe furioso. A única coisa que o sujeito gosta de fazer é ler, e é a única coisa que não lhe deixam fazer.

Como um dos temas habituais da série (e de vários outros veículos de ficção científica do período) é a paranoia da corrida atômica, Guerra Fria e bombas nucleares, o episódio avança justamente quando uma grande bomba finalmente acaba com toda a vida no planeta. Menos Bemis, que estava na sua pausa para o almoço e resolveu se esconder no cofre do banco para ler um pouquinho… Ao sair do local, descobre uma nova realidade, a de que ele é o único ser vivo vagando pela terra devastada.

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O nosso herói até tenta levar numa boa, mas a solidão que lhe angustia lhe faz pensar em acabar também com a sua própria vida. Tudo muda quando ele encontra uma biblioteca cujos livros milagrosamente sobreviveram intactos à explosão. Milhares e milhares de livros lhe esperando e todo o tempo do mundo para ler… Um verdadeiro paraíso para Bemis. Seria terrível se algo acontecesse para evitar que ele finalmente desfrutasse de uma paz literária, não é? Hehe!

Escrito pelo criador da série, Rod Serling (baseado num conto de Lynn Venable) TIME ENOUGH AT LAST é um episódio mais leve e divertido na maior parte do tempo, mas muito efetivo na sua “mensagem”, alertando para um contexto desesperador. Uma leveza que se contrapõe perto da complexidade de sentimentos que o episódio desperta, mas por isso mesmo tão interessante.

É o tipo de exemplar que vai se perdendo ao longo do seriado, que vai ficando cada vez mais sério e sombrio nas abordagens dos temas a cada episódio. Mas aqui, como estamos ainda no início, era possível ter um contexto sério num episódio bem humorado, embora em determinado momento a situação de Bemis fique mais dramática e o desfecho seja um soco muito bem dado na fuça do espectador. Mas TIME ENOUGH AT LAST é notável devido à astúcia do enredo, o final irônico e cruel é simplesmente inesquecível e a performance de Burgess Meredith, uma das mais marcantes de ALÉM DA IMAGINAÇÃO.

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Outro destaque de TIME ENOUGH AT LAST é o design de produção deslumbrante do cenário pós-apocalíptico, muito efetivo em sua desolação e bem utilizado pelo diretor John Brahm, que faz aqui sua estreia na série. Brahm foi um dos cineastas mais requisitados de ALÉM DA IMAGINAÇÃO, trabalhando em doze episódios ao longo do seriado. Nascido na Alemanha, o sujeito seguiu os passos de vários profissionais do cinema daquele país, que deram no pé quando Hitler assumiu o poder no início da década de trinta. Possui uma filmografia bem interessante, apesar de hoje não ser muito lembrado, e dedicou grande parte da carreira a fazer seriados.

Já o ator principal de TIME ENOUGH AT LAST, Burgess Meredith, apareceu em um total de quatro episódios de ALÉM DA IMAGINAÇÃO. Mas sem dúvida alguma foi aqui que fez seu desempenho mais conhecido da série, como o infeliz, abatido e ávido leitor Henry Bemis, numa atuação cativante. Os fãs da série de filmes ROCKY vão se lembrar dele como Mickey, o treinador de Rocky Balboa.

Se você não viu este episódio, dê uma conferida. deve ter no youtube. Mesmo que não vá assistir a série inteira, pelo menos TIME ENOUGH AT LAST é diversão garantida, uma pequena joia da ficção científica televisiva que não vai decepcionar.

ALÉM DA IMAGINAÇÃO 1.7: THE LONELY (1959)

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Mais um ALÉM DA IMAGINAÇÃO pra moçada bonita que acompanha o blog! É evidente que só vou conseguir definir os melhores e piores episódios quando terminar de assistir a essa primeira temporada por completo. Mas uma coisa pelo menos já posso confirmar: THE LONELY, sétimo episódio, corre sérios riscos de ser um dos meus favoritos. É bem simples e trata de um dos temas mais frequentes da série – o isolamento humano, como o título do capítulo já indica – mas a premissa é simplesmente genial e teria potencial para algo bem mais ambicioso.

James A. Corry (Jack Warden) é um prisioneiro que vive completamente sozinho num asteroide vagando no espaço, que consiste num novo e particularmente cruel, tipo de prisão. Sim, os condenados são jogados num asteroide no espaço e cumprem suas penas por lá! Isso é fantástico! Óbvio que o que realmente pega para Corry é a solidão, já que passa meses sem viva alma para interagir, jogar xadrez ou beber uma cerveja. Situação que o deixa completamente louco. De tempos em tempos, um foguete pousa no local para lhe trazer mantimentos, entre outras coisas. São esses mínimos contatos que mantêm a cabeça do sujeito no lugar. Mas depois de tanto tempo, nem isso basta.

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Felizmente, o gentil capitão Allenby (John Dehner) trouxe uma caixa a mais na sua última visita. Dentro, um robô chamado Alicia (Jean Marsh), que foi construída com características muito humanas. Incluindo sentimentos. Ela pode sentir dor e solidão, assim como Corry. Embora a rejeite num primeiro momento, o protagonista não está mais sozinho e se entrega à necessidade de uma companhia. Na próxima visita, Allenbe chega com boas notícias. Corry foi perdoado, o sistema de prisão espacial em asteroides foi cancelado e todos os prisioneiros estão voltando para a terra. O problema é que há espaço suficiente no foguete apenas para Corry, Alicia precisa ser deixada para trás.

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Dirigido por Jack Smight, e escrito pelo criador da série, Rod Serling, THE LONELY peca apenas por ser tão urgente, deixa um gostinho de “quero mais” e, talvez, não chegue a fundo no seu estudo sobre o homem em isolamento, nem na ideia de suprir essa necessidade numa relação com um robô. No entanto, a história é tão bem contada nesses vinte e poucos minutos, reduzindo toda a sua potencialidade à essência, que o episódio acaba passando seu recado de forma contundente e divertido às pampas.

Algumas cenas chaves são fantásticas nesse sentido, como quando Corry conhece Alicia e a rejeita porque ela não é uma pessoa real, apenas uma imitação. Mais tarde, ele se deixa consumir pela fantasia, não porque esteja apaixonado por um robô, mas porque ele precisa de algo tangível para se relacionar. No final, quando Allenby atira no rosto de Alicia, revelando nada mais do que fios em curto-circuito, Corry é imediatamente lembrado de quão perto ele chegou de perder a noção de realidade.

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Um dos destaque de THE LONELY é a solução que encontraram para a geografia do asteroide. Foi filmado principalmente no Parque Nacional do Vale da Morte, um lugar que serviria de cenários para muitos episódios da série que se passam em algum planeta distante. O deserto vazio e sem vida proporciona ao espectador a sensação de solidão perturbadora que os personagens encaram. É um oceano de nada. Quando Allenby e seus homens chegam ao local, são um lembrete para Corry que ainda há esperança, mas quando vão-se embora, não importa onde o protagonista vá, em qualquer direção que ele olhe sempre vai haver o vazio.

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Para quem não se lembra, Jack Warden é o jurado # 7 no clássico de Sidney Lumet, DOZE HOMENS E UMA SENTENÇA. Ator prolífico, marcou presença em várias produções de peso nas três décadas seguintes. E é notória sua participação em THE LONELY, numa atuação expressiva e convencendo como sujeito desesperado pela solidão. O diretor americano Jack Smight é um dos mais interessantes a pintar na série e manda bem na direção, com muito frescor e originalidade. É um sujeito que já fez de tudo um pouco: estudou psicologia, lutou na guerra, dirigiu teatro e até foi Disc-Jockey. No cinema, demonstrou grande talento, mas acabou sendo engolido pelos estúdios e relegado mais à televisão. Mas tem vários bons filmes no currículo. Voltou à ALÉM DA IMAGINAÇÃO mais três vezes: THE LATERNESS OF THE HOUR (1960), THE NIGHT OF THE MEEK (1960) e TWENTY TWO (1961), todos na segunda temporada.

ALÉM DA IMAGINAÇÃO 1.6: ESCAPE CLAUSE (1959)

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Da safra dos episódios cômicos da série, ESCAPE CLAUSE conta a história de Walter Bedecker (David Wayne) um homem tão paranoico com a morte que vive com a ideia de que está com doenças terminais e à beira de comer capim pela raiz, quando na verdade possui uma saúde de ferro e queixa-se de que seu médico e sua esposa estão lhe enganando. Na verdade, Bedeker é tão obcecado pelo medo da morte, fantasiando essas situações patológicas, que o próprio diabo o vê como uma boa fonte para assegurar mais uma alma para o inferno.

O próprio Belzebu (Thomas Gomez) aparece em seu leito e lhe oferece uma tentadora vida eterna. Em troca, Bedecker lhe daria a sua mercadoria mais valiosa. O contrato ainda diz que nada de mal pode lhe acontecer. Seu corpo é indestrutível, não importa que se jogue à frente de um trem ou entre num prédio em chamas… Bedecker não reluta muito e assina o papel…

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O episódio prossegue mostrando que a vida de um imortal pode ser bem entediante. E na sua busca por novas emoções (e muito se jogar no vão do metrô), Bedeker acaba provocando um acidente que mata a sua própria mulher (Virginia Christine). O sujeito acaba preso e é sentenciado à prisão perpétua, o que pra ele é passar toda uma eternidade trancafiado numa cela…

ESCAPE CLAUSE é o típico conto do “contrato com o diabo”, tão explorado na cultura popular. E aqui não foge muito da fórmula – um protagonista que faz um acordo com o tinhoso que vai lhe beneficiar, mas acaba prejudicado exatamente pelo seu desejo – exceto pelo fato de que Rod Serling, o roteirista do episódio e criador da série, tenha escolhido trabalhar o tema num tom de comédia. Se por um lado ESCAPE CLAUSE é simpático e curioso, por outro, essa opção pelo cômico tira imensa força que o episódio poderia ter.

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Acaba tudo soando de maneira leve demais, sem que o conceito desse tipo de história tenha o efeito de reflexão desejado no espectador. No entanto, ESCAPE CLAUSE é o que é. Ou seja, não vale a pena criar hipóteses do que poderia ter sido… E vale ainda como passatempo rápido e rasteiro, especialmente pelas atuações. David Wayne exagera um pouco na dose, mas funciona dentro da proposta do episódio. Mas quem realmente se destaca em ESCAPE CLAUSE é Thomas Gomez no papel do diabo, que se apresenta como o Sr. Cadwallader. Gomez desafia a imagem tradicional do Anjo das Trevas, atraente, refinada e sombria como é habitual, para aparecer aqui com sua aparência de gordinho sorridente e simpático. Toda a sequência em que convence Bedeker a assinar o contrato já vale uma conferida no capítulo.

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A direção de ESCAPE CLAUSE é de Mitchell Leisen, que já havia realizado THE SIXTEEN MILLIMETER SHRINE, o quarto episódio, e ainda viria a dirigir PEOPLE ARE ALIKE ALL OVER, também nessa primeira temporada.

ALÉM DA IMAGINAÇÃO 1.5: WALKING DISTANCE (1959)

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A maioria das pessoas tende a se identificar com WALKING DISTANCE. Quem nunca pensou em voltar no tempo, revisitar um local familiar do mesmo jeitinho que era há vinte, trinta, cinquenta anos, ver a si mesmo na infância, ver seus pais… É o que acontece com Martin Sloan (Gig Young), um homem de negócios de NY. Certo dia, numa viagem de trabalho, precisa parar num posto de gasolina/oficina à beira de estrada e percebe que está a 1,5 km de Homewood, a pequena cidade onde passou sua pequenez e que há 25 anos não retorna. Como seu carro ainda vai demorar algumas horas para fazer um reparo, decide fazer uma caminhada até lá.

Chegando em Homewood, Martin percebe que não só cruzou os 1,5 km, mas também retornou 25 anos de volta no tempo. Ele encontra as ruas, as lojas, o carrossel da praça, as pessoas que conheceu, do mesmo jeito que era na infância… E até bate na porta da sua própria casa. Seus pais atendem e, obviamente, não reconhecem seu filho. Martin se encontra com ele mesmo quando tinha cerca de dez anos de idade, mas afligido com toda essa situação, provoca um acidente que machuca a sua versão criança.

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Seu pai vem falar com ele e, dessa vez entende que está se dirigindo a seu filho adulto, que veio do futuro, pede-lhe para deixar o local porque ele não tem “nada para fazer aqui”. O tempo dele já passou e é a vez do pequeno Martin ter sua chance. Martin Sloan diz adeus ao pai e retorna à estrada de volta ao seu carro, dessa vez mancando da perna por conta do acidente que acabou de causar à criança que fora. Martin Sloan acabou de fazer uma curta viagem para ALÉM DA IMAGINAÇÃO.

As histórias de viagem do tempo sempre me fascinaram, mas a maioria cede às complexidades do conceito. Não vejo mal, mas é a simplicidade de WALKING DISTANCE que me encanta. Concentra-se na aventura humana e mais emocional de seu personagem sem se preocupar muito com com os efeitos paradoxais de viagem no tempo. É o sentimento físico e metafísico do tempo que passou, das coisas que cresceram e as que se foram.

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Gig Young tem uma performance fantástica como Martin Sloan. Os mais cascudos vão se lembrar dele em TRAGAM-ME A CABEÇA DE ALFREDO GARCIA, de Sam Peckinpah, fazendo um dos assassinos atrás de Warren Oates. Mas teve uma carreira sólida como coadjuvante, tendo sido indicado três vezes ao Oscar de melhor ator nessa categoria, com DEGRADAÇÃO HUMANA, de Gordon Douglas, UM AMOR DE PROFESSORA, de George Seaton, e A NOITE DOS DESESPERADOS, filmaço de Sydney Pollack em que Young acabou levando a estatueta. Teve uma morte trágica, poucas semanas após se casar com uma editora de revista alemã, Kim Schmidt. O casal foi encontrado morto e supostamente Young meteu bala na esposa e se matou.

A direção de WALKING DISTANCE é de Robert Stevens, que já havia dirigido um episódio da série, o primeiro, WHERE IS EVERYBODY?. Em ambos percebe-se um estilo próprio do diretor na composição dos enquadramentos, como a utilização dos espelhos e nas cenas mais tensas e climáticas, por exemplo, em que a câmera entorta os ângulos para dar um tom de estranheza.

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WALKING DISTANCE é considerado por muitos um dos melhores episódios desta primeira temporada. Mas o próprio roteirista do capítulo e criador da série, Rod Serling, não achava grandes coisas. Acreditava que tudo acontece depressa demais, como Sloan encontrar seus pais muito cedo. Mas estamos falando de uma historinha contada em vinte e poucos minutos, que era a duração habitual dos episódios da série (apenas na quarta temporada os capítulos tiveram uma duração maior), e nesse caso, não dava pra trabalhar tanto os acontecimentos, exceto de uma forma em que tudo se desenvolvesse rapidamente. Mas não sei ainda se concordo também que se trate de um dos melhores episódios, preciso continuar revendo os contos seguintes. Mas sem dúvida alguma é um que me cativa pela simplicidade e pela forma singela de passar sua mensagem.

ALÉM DA IMAGINAÇÃO 1.4 – THE SIXTEEN MILLIMETER SHRINE (1959)

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Este quarto episódio da primeira temporada de ALÉM DA IMAGINAÇÃO já se destaca por ter a maravilhosa Ida Lupino como protagonista. Num papel que remete à Gloria Swanson como Norma Desmond no clássico de Billy Wilder, CREPÚSCULO DOS DEUSES. Só que com os elementos fantásticos que são habituais da série criada por Rod Serling.

Na trama de THE SIXTEEN MILLIMETER SHRINE, temos a velha atriz que não se dá conta de que seu momento já passou, que não tem mais idade para papeis de mulheres jovens e bonitas, ou não quer acreditar nisso… Barbara Jean Trenton (Lupino) descarta totalmente a realidade e vive agora enfurnada na sua sala de projeção, vendo e revendo seus antigos filmes românticos de trinta anos atrás, tentando reviver sua juventude. Seu agente (vivido pelo grande Martin Balsam) teme pela sanidade da mulher, assim como sua criada (Alice Frost), e faz de tudo para trazê-la de volta à realidade, que ela se aceite como a grande atriz que fora e siga em frente como uma artista mais madura, com mais gabarito…

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Mas essa é a vida que ela quer, quando todos eram bonitos e românticos, onde ninguém a confundiria com um estrela de cinema obsoleta. Ela continua assistindo a seus antigos filmes e o mundo continua tentando esmagar seus sonhos, mas tudo o que lhe resta são os sonhos, e então, bem… estamos ALÉM DA IMAGINAÇÃO por aqui, onde coisas estranhas acontecem e os sonhos se tornam reais nos limites dessa fronteira.

Mais uma vez escrito por Serling, o episódio obviamente não possui a sátira ácida do filme de Billy Wilder, embora ambos tenham temas similares. Mas não deixa de ser eficiente nas questões que propõem, como viver do passado ou num mundo de fantasia ao invés de aceitar a dolorosa realidade. Ajuda muito ter uma Ida Lupino sublime como Barbara Jean Trenton, evitando a tentação de imitar o desempenho exagerado de Gloria Swanson, mas fazendo uma estrela do cinema tão obsessiva quanto Norma Desmond em CREPÚSCULO DOS DEUSES. Uma curiosidade, Lupino foi a única pessoa a protagonizar um episódio da série e também a dirigir um outro. Na quinta temporada ela realizou THE MASKS.

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Martin Balsam fazia aqui sua primeira participação em ALÉM DA IMAGINAÇÃO. Voltaria à série em 1963, na quarta temporada, no episódio THE NEW EXHIBIT.

A direção de THE SIXTEEN MILLIMETER SHRINE ficou por conta de Mitchell Leisen, que é segura e elegante, mas nada especial. Não que o episódio precisasse também… Basta as atuações de Lupino e Balsam para a coisa funcionar. Leisen ainda viria a dirigir mais dois episódios em ALÉM DA IMAGINAÇÃO: ESCAPE CLAUSE e PEOPLE ARE ALIKE ALL OVER, ambos da primeira temporada.

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ALÉM DA IMAGINAÇÃO 1.3 – MR. DENTON ON DOOMSDAY (1959)

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Uma das coisas mais legais de ALÉM DA IMAGINAÇÃO é o diálogo entre gêneros. Além do sci-fi, do horror e da fantasia, que são o básico da série, sempre teremos uns episódios mais dramáticos, outros mais cômicos, teremos policiais noir, guerra, aventura e até western. Este último é o caso de MR. DENTON ON DOOMSDAY, terceiro episódio da primeira temporada.

Em 1959, os filmes de bangue-bangue ainda dominavam os olhares do público. Mas não esperemos a linguagem básica do western totalmente presente aqui nessa curta história de redenção e destino. O protagonista, por exemplo, não é nenhum cowboy ou xerife durão, mas o retrato exato de um bêbado. A história se passa numa pequena cidade do velho oeste americano e o nosso “herói” é Al Denton, vivido por Dan Duryea, constantemente humilhado por um jovem pistoleiro chamado Dan Hotaling, interpretado pelo inigualável Martin Landau. Tudo o que Denton gostaria era de poder se redimir, de uma nova chance na vida, mas acaba sempre perdido em mais uma garrafa de uísque.

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O elemento fantástico da série vem na espécie de um anjo da guarda transvestido de um vendedor ambulante (Malcolm Atterbury), que chega à cidade e resolve misteriosamente se intrometer no destino de Denton. Agora o sujeito tem a sua segunda chance, se redescobre muito mais homem do que achava que ainda era. Mas será que vai aproveitá-la devidamente?

Novamente escrito pelo criador da série, Rod Serling, MR. DENTON ON DOOMSDAY é um dos episódios sobre “perdedores”, onde o personagem principal é um ferrado que está do lado errado da sorte. Em seguida, acontece algo “mágico”, algo inacreditável que invade a realidade infeliz do personagem, cujo efeito muda para sempre sua vida e sua visão sobre o futuro. Em cada uma dessas histórias, no entanto, há uma escolha fundamental que deve ser feita pelo personagem. O milagre nunca vem de graça e nunca sem a necessidade de uma ação humana como catalisador. MR. DENTON ON DOOMSDAY exemplifica exatamente esse tema, que ainda serão explorados em vários episódios da série.

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Enfim, é um episódio agradável. O cenário do Velho Oeste funciona bem como palco para esse jogo de moralidade. Vale dar ênfase ao elenco, no qual temos um ator gabaritado como Dan Duryea, que já tinha realizado, por exemplo, diversos filmes noir de Fritz Lang. Mas meu destaque vai para um jovem Martin Landau, demonstrando um talento incrível e indícios do grande e expressivo ator que seria futuramente, recebendo o Oscar de melhor ator coadjuvante em ED WOOD, de Tim Burton. Uma pena seu falecimento recente. Malcolm Atterbury tem uma participação menos expressiva, mas sua presença também chama a atenção. Fez uma carreira mais voltada para séries de TV, tendo recebido mais de 150 créditos como ator.

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A direção do episódio ficou por conta de Allen Reisner, prolífico diretor de séries, embora MR. DENTON ON DOOMSDAY seja seu único trabalho em ALÉM DA IMAGINAÇÃO.

ALÉM DA IMAGINAÇÃO 1.2 – ONE FOR THE ANGELS (1959)

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Este segundo episódio é um bom contraponto ao primeiro, que possui um tom mais sério e angustiante. ONE FOR THE ANGELS representa uma parcela de histórias mais leves e sentimentais que ocasionalmente aparecem em ALÉM DA IMAGINAÇÃO.

Na trama, novamente escrita pelo criador e narrador da série, Rod Serling, Ed Wynn vive Lou Bookman, um caixeiro que tenta vender tudo o que pode sair de sua mala, geralmente coisas comuns, como robôs de brinquedo e gravatas. Logo no início, ele percebe que está sendo observado por um homem misterioso trajando um terno preto, interpretado por Murray Hamilton. Ao chegar em casa, Lou se surpreende com o homem de preto sentado num canto de seu modesto apartamento de um quarto. O homem anuncia que deve “levá-lo” à meia-noite. Lou custa a descobrir, mas no fim percebe que o sujeito é ninguém menos que a morte.

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A menos que Lou consiga preencher um dos três requisitos de adiamento, não há nada que possa fazer para evitar sua passagem pro outro lado. Mas Lou não tem família, que é o primeiro requisito, salvo um grupo de crianças do bairro que o adora. Ele também não está trabalhando em qualquer tipo de avanço científico (outro requisito), e ele não tem negócios inacabados, que seria o terceiro item que lhe daria mais algum tempo.

Mas como bom vendedor, sujeito de lábia afiada, Lou convence a Morte de que ele tem sim algo inacabado na vida: quer fazer uma grande venda, um venda daquelas que faria com que os céus se abrissem, “one for The angels” como diz o título do episódio. A morte concede, e Lou rapidamente guarda sua mala e se aposenta. Na sua lógica, se ele não vende, não morre. A morte, no entanto, percebe a jogada e decide levar uma das crianças do bairro. Uma garotinha é atropelada e a morte marca para pegá-la à meia-noite. Passado esse horário, a garotinha vive. É quando Lou bola um plano para a morte se atrasar.

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Uma das grandes sacadas deste episódio é a relação de Lou com a Morte. Ambos são afiados, os atores estão excelentes em cena, o diálogo entre eles é incrível. E Serling e o diretor Robert Parrish nunca deixam a coisa degringolar pra um sentimentalismo besta, mantendo sempre uma boa dose de humor, com situações realmente divertidas – como na cena em que Lou tenta fugir da morte nas escadarias do prédio. A morte, na verdade, não é nem ameaçadora, faz mais o tipo burocrata, enquanto Wynn faz um personagem muito fácil de se gostar.

O papel pelo qual Hamilton talvez seja mais lembrado é o de prefeito da cidade em TUBARÃO (75), do Spielberg. Mas quem merece mesmo os nossos olhares é Wynn, que está formidável. Um comediante à moda antiga, possui mais de quarenta filmes no currículo, incluindo algumas comédias estreladas por Jerry Lewis. A sequência em que seu personagem faz a morte se atrasar é um de seus momentos mais inspirados, digna de aplausos.

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O diretor Robert Parrish era um veterano da indústria naquela altura, tendo sido ator, assistente e montador antes de estrear na direção em 1951, com CRY DANGER, um noir com Dick Powell. Teve uma carreira sólida, mas nunca foi considerado entre os grandes diretores de sua época, embora fosse bastante elogiado pelos franceses. Além deste episódio, Parrish realizou mais duas entradas em ALÉM DA IMAGINAÇÃO: A STOP AT WILLOUGHBY (1960) e THE MIGHTY CASEY (1960), ambos da primeira temporada.

ONE FOR THE ANGELS é bastante simpático e levanta questões interessante que nos faz refletir sobre o tempo e a morte, mas sem soar chato ou pesado. Não deixa de ser melancólico, como é a vida às vezes, mas sem deixar o bom humor de lado.

ALÉM DA IMAGINAÇÃO 1.1 (The Twilight Zone, 1959)

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Os mais saudosistas vão curtir essa. ALÉM DA IMAGINAÇÃO é uma das séries mais cultuadas da televisão americana e uma das minhas favoritas de todos os tempos e não é de agora que eu tenho planos de escrever sobre essa belezinha aqui no blog, episódio por episódio. Mas sempre acabo adiando… Como finalmente animei rever tudo de novo, vou tentar não perder a chance novamente.

Antes de entrar no primeiro episódio, acho que vale a pena uma ligeira introdução para quem não viu ou nem conhece a série entender a importância da coisa. Criada pelo escritor e roteirista Rod Serling, ALÉM DA IMAGINAÇÃO encantou os ávidos fãs de sci-fi, horror e fantasia durante cinco temporadas, entre 1959 e 1964, em dramas e situações que lidam com o sobrenatural, com a psicologia, com conceitos kafkanianos, resultando em episódios que vão do incomum e insólito até o aterrorizante e perturbador. Devido a grande variedade de temas e abordagens da série, não poderia ser diferente: acabou por ser uma das mais influentes fontes de inspiração de praticamente tudo relacionado a ficção científica no cinema, televisão, literatura e games pós-anos 60.

A série também é notável pela presença de alguns atores gabaritados do período (Dana Andrews, Art Carney, Buster Keaton, Burgess Meredith, etc…) e por apresentar algumas figuras mais jovens em início de carreira e que se tornariam famosos mais tarde, como Charles Bronson, Robert Duvall, Peter Falk, Dennis Hopper, Leonard Nimoy, Robert Redford, e tantos outros… Vale destacar também alguns diretores e roteiristas que contribuíram com seu talento em alguns episódios, como Don Siegel, Richard C. Sarafian, Ida Lupino, Jacques Tourneur, Christian Nyby, Richard Donner, Buzz Kulik, Richard Matherson, Ray Bradbury, Reginald Rose, etc.

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Enfim, hoje assisti ao primeiríssimo episódio da primeiríssima temporada, que se chama WHERE IS EVERYBODY?.  Já dá pra ter uma boa noção do que esperar da série só pela trama deste aqui. Um sujeito, vivido por Earl Holliman, chega a uma pequena cidade, sem saber quem é, de onde veio e como chegou ali, e encontra o local desprovido de qualquer pessoa. A cidade inteira está deserta. O moço passa então a vagar de um lado a outro, de estabelecimento a outro, sempre proferindo um monólogo constante, vivendo situações solitárias. Quase fica preso em uma cabine telefônica, toma sorvete, ouve música, vai ao cinema e sempre encontra evidências de que pessoas estiveram ali recentemente: um charuto aceso num cinzeiro, uma cafeteira assobiando… Mas não encontra uma alma viva.

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Escrito pelo próprio Rod Serling, já é possível identificar por aqui um dos principais temas da primeira temporada de ALÉM DA IMAGINAÇÃO: os efeitos da solidão humana. Desse modo, WHERE IS EVERYBODY? é um episódio que depende muito do desempenho de seu ator principal. E Earl Holliman consegue ser convincente e eficaz como o amnésico perdido nessa situação totalmente insólita. Seu papel não é tão fácil, considerando que seu personagem praticamente não contracena com ninguém e, mesmo assim, consegue manter a atenção de forma expressiva, falando em voz alta – uma maneira de fornecer alguma satisfação ao público.

Outras grandes atuações deste ator praticamente desconhecido hoje pelo público podem ser conferidas em filme como PLANETA PROIBIDO, ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE e LÁGRIMAS DO CÉU (56), pelo qual ganhou o Globo de Ouro de melhor ator coadjuvante.

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WHERE IS EVERYBODY? também deve muito ao diretor Robert Stevens, cujos movimentos de câmera e enquadramentos ousados em alguns momentos dão energia a uma história que poderia resultar num tédio. Há algumas sacadas visuais geniais aqui, uma delas é quando Holliman desce correndo pelas escadas no cinema e se choca contra um espelho estraçalhando-o, causando um efeito bem interessante.

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Stevens fez sua carreira mais voltada para a televisão, realizando um grande número dos mais variados seriados. Apesar de ter dirigido este episódio de estreia, o sujeito só viria a dirigir mais um capítulo de ALÉM DA IMAGINAÇÃO, chamado WALKING DISTANCE, ainda na primeira temporada. Hoje, ele seria mais lembrado por seu prolífico trabalho na série HITCHCOCK PRESENTS e THE ALFRED HITCHCOCK HOUR, onde dirigiu quase cinquenta episódios entre os dois programas de TV.

WHERE IS EVERYBODY? é um ótimo começo para ALÉM DA IMAGINAÇÃO. Não chega nem perto de ser o melhor episódio, ainda vamos chegar lá, mas até hoje continua divertido e mantém com segurança o peso da responsabilidade por começar um dos programas de TV mais celebrados e, por isso, tem a sua importância distinta para a série.