ALDRICH – FINAL: 1977 – 1981

O ÚLTIMO BRILHO DO CREPÚSCULO (Twilight’s Last Gleaming, 1977)
O próprio Aldrich considerava isso aqui um de seus trabalhos favoritos, apesar do fracasso comercial, provavelmente porque o sujeito não media esforços para refletir todo o desencanto que assombrava a sociedade americana, com um climão político extremamente pessimista. O filme se passa ao longo de um dia, quando um general idealista (Burt Lancaster) assume o controle de uma base de mísseis nucleares e chantageia o presidente dos EUA, interpretado por um fenomenal Charles Durning, para revelar ao povo americano as mentiras do governo sobre o envolvimento dos EUA no Vietnã. O que se segue são 146 minutos de uma aula de tensão implacável do início ao fim, com um domínio preciso de Aldrich, fazendo um uso excepcional de split-screen, e com um elenco afiado que inclui Richard Widmark, Paul Winfield, Burt Young, Melvyn Douglas, Joseph Cotten e uma participação pequena, mas intensa, do grande William Smith.

THE CHOIRBOYS (1977)
É meio que o M.A.S.H. do Aldrich, com estrutura de esquetes e sem uma trama tão definida, só que acompanhando policiais no seu trabalho diário em situações, digamos, cômicas, e por isso talvez um precursor dos LOUCADEMIA DE POLÍCIA. Só não digo que é o pai desses filmes, porque tá mais pro tio reacionário do churrasco… Mas é um filme que era ofensivo num período que o público entendia a ironia da coisa, da sátira e da crítica da sociedade que o filme faz. A sorte é que hoje continua sendo um trabalho pouco visto e conhecido do Aldrich, se fosse descoberto por um certo público cinéfilo de redes sociais, formado quase predominantemente por jegues, seria taxado de um monte de coisa (um filme homofóbico, misógino, racista, etc). Pelo gênero em si, nem acho o filme exatamente engraçado, ele é mais curioso, gera um certo fascínio pelo absurdo e pelas viradas mais trágicas que acontecem lá pro final. Mas é um filmaço.

O RABINO E O PISTOLEIRO (The Frisco Kid, 1979)
O penúltimo filme de Aldrich é um buddy movie de comédia e faroeste com boa química entre Gene Wilder e Harrison Ford e um ou outro momento engraçado. O rabino Avram (Wilder) chega à Filadélfia vindo da Polônia a caminho de São Francisco, onde será o novo rabino de uma congregação. Inocente e inexperiente, é enganado por golpistas. É acolhido por um estranho, Tommy (Ford), que é um ladrão de bancos, e acabam tendo muitas aventuras durante a jornada. Pela trama até poderia render algo melhor, mas o filme não ajuda muito… Longo, enfadonho, a maioria das piadas e situações não tem lá muita graça. Só não vou dizer que o Aldrich tava cansado em final de carreira porque ele ainda lançou um petardo daqueles como canto de cisne, que é o GAROTAS DURAS NA QUEDA aí embaixo. Por aqui, não sei realmente dizer o que aconteceu, mas o resultado tá bem abaixo do esperado…

GAROTAS DURAS NA QUEDA (…All the Marbles, 1981)
Um dos meus favoritos do diretor, um de seus trabalhos mais bonitos. Road movie que acompanha Peter Falk como Harry, o empresário de uma dupla de atletas de “luta livre”, Iris (Vicki Frederick) e Molly (Laurene Landon), enquanto viajam pelos Estados Unidos tentando ganhar a vida. Uma dureza danada, um universo de violência, amoral, sujo e de chantagens, mas que Aldrich consegue extrair uma ternura absurda, uma riqueza de espírito que jorra da tela. O papel de Harry foi originalmente escrito para Paul Newman, mas acho que o sujeito não teria se adequado tão bem quanto Falk, cujo ar de desleixo e presença física o torna perfeito. Como muitos dos personagens mais interessantes de Falk, Harry é moralmente nebuloso e nem sempre encontra o equilíbrio entre ajudar sua equipe e explorá-la. Mas apesar de suas ocasionais falhas éticas, o coração de Harry está no lugar certo, e ele e Iris e Molly compartilham um dos relacionamentos mais bonitos que já vi. Alguns dos melhores momentos ocorrem no carro velho e precário de Harry, enquanto os três planejam o que vão comer, quanto cigarro ainda falta, possíveis jogadas de marketing, truques, e sonham por uma vida melhor que não seja uma extensão do ringue, onde levam cacetadas o tempo todo… Foi o último filme de Aldrich (ele já tava planejando uma continuação deste aqui). Deu tempo de deixar mais uma obra-prima.

Fim da maratona.

2 pensamentos sobre “ALDRICH – FINAL: 1977 – 1981

  1. Salve, Perrone! Valeu demais por essa Maratona Robert Aldrich, pra começar esse ano do blog arrebentado. De todas essas fases do cineasta a que menos conheço é a dos anos 50, provavelmente por ser a que teve menos filmes exibidos na tv nos 80 e 90, onde assisti a maioria que conheço, inclusive O Resgate de Uma Vida, Assim Nascem os Heróis (um dos finais mais eletrizantes do Cinema) e Crime e Paixão, exibidos poucas vezes na extinta parceria de canais CNT/ Gazeta, e lançados em VHS, por onde conheci o magistral Vera Cruz. Inclusive me surpreendi com sua reavaliação de Os Doze Condenados (“é um filme bem falho – em ritmo, tom em alguns momentos, decupagem”), mas é nisso que dá ficar apreciando Velozes e Furiosos. Rsrs, brincadeira.😄

    Outra coisa legal dessa maratona é que me fez pesquisar sobre os filmes que não assisti e encontrei alguns disponíveis no YouTube, com legendas ou dublados, com muita boa qualidade, como A Grande Chantagem e O Último Brilho do Crepúsculo, tem também várias cópias de Assim Nascem os Heróis, mas as de canais nacionais as imagens tão muito escuras, nas cenas noturnas na selva fica inassistivel.

    Bom, dos 11 que conheço, com alguns precisando de uma revisão por não assistir há muito tempo, meu ranking do grande Aldrich seria:

    1. Vera Cruz

    2. O Imperador do Norte

    3. Os Doze Condenados

    4. Assim Nascem os Heróis

    5. Golpe Baixo

    6. O que Terá Acontecido a Baby Jane?

    7. O Vôo da Fênix

    8. O Último Bravo

    9. O Resgate de Uma Vida

    10. Crime e Paixão

    11. Os Quatro Heróis do Texas

    Mais uma vez, valeu demais, Perrone e um 2024 das mais puras emoções cinematográficas.

    Alaor Silveira

  2. Milagre! Perrone concluiu essa saga ao contrario das outras que não vou mencionar pra não fica chato e repetitivo ,senão ele vai me banir do blog,desses filmes mencionados eu só dois deles assisti esse na TV e o primeiro é ” O ÚLTIMO BRILHO DO CREPÚSCULO” tenho ele em DVD lançado pela extinta Ocean Pictures , e outro que assisti na TV foi” O PISTOLEIRO E O RABINO” assisti no SBT no “CINEMA EM CASA” quando esse foi pra sessão vespertina ,os outros dois nunca assisti ,sendo que eu adoro filmes de road movies e mulheres que lutam luta livre,excelente desfecho,texto impecável e explicativo e esse frames fantásticos dos filmes mencionados,como diria um jurado de escola de samba NOTA 10 !!Um abraço de Anselmo Luiz.

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