OS PROFISSIONAIS (1966)

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O diretor Richard Brooks vinha de um fracasso com sua adaptação de Joseph Conrad, LORD JIM, de 1965, e resolveu não correr muitos riscos no seu projeto seguinte. Embora o western na sua forma clássica estivesse em relativo declínio, estava na moda em meados dos anos 60 reunir astros de grande calibre para dividirem às telas em épicas aventuras. Dos filmes de guerra, como FUGA DO INFERNO, passando pelos “Men in a Mission“, como OS CANHÕES DE NAVARONE, até os faroestes, especialmente com SETE HOMENS E UM DESTINO, a ideia de aglomerar atores de peso poderia garantir o sucesso de uma produção. E foi exatamente isso que Brooks resolveu fazer por aqui, em OS PROFISSIONAIS (The Profissionals), um western de aventura que reuniu Lee Marvin, Burt Lancaster, Robert Ryan e Woody Strode na missão de resgatar Claudia Cardinale de um revolucinário mexicano vivido por Jack Palance e seu exército.

Sim, é como se fosse uma versão dos anos 60 de OS MERCENÁRIOS. E se você olhar para este elenco e não sentir a mínima vontade de ver OS PROFISSIONAIS, você deve ter sérios problemas… Melhor ir assistir um Wong Kar Wai ou Apichatpong Weerasethakul…

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Enfim, revi OS PROFISSIONAIS esta semana e continua um dos meus westerns favoritos dessa época, ficando ali meio intermediário entre a aventura divertida na tradição de SETE HOMENS E UM DESTINO ao mesmo tempo que possui uma densidade revisionista pré-MEU ÓDIO SERÁ SUA HERANÇA, que foi quando Sam Peckinpah redefiniu de vez o gênero nos EUA (algo que já vinha acontecendo gradualmente, em especial com os faroestes de Monte Hellman com Jack Nicholson, DISPARO PARA MATAR e A VINGANÇA DE UM PISTOLEIRO).

A premissa de OS PROFISSIONAIS é estruturada de maneira clássica e bastante simples. Um magnata do Texas contrata quatro experientes mercenários, cada um com uma característica especializada específica, para resgatar sua esposa sequestrada por um revolucionário mexicano, que a mantém do outro lado da fronteira. Lee Marvin vai interpretar o líder do grupo, o estrategista e especialista em armas. Burt Lancaster é experiente no manuseio de explosivos. E aqui estamos falando tanto de dinamites quanto de uma mulher fogosa (a cena que apresenta o personagem é impagável nesse sentido). Woody Strode é um atirador virtuoso com seu arco e flechas e um ótimo rastreador. E Robert Ryan é o especialista em cavalos e a consciência moral da equipe.

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Apresentados os personagens e a missão, os quatro sujeitos partem para o México numa jornada cheia de perigos num cenário de desertos e os estreitos montanhosos da região. Brooks mantém o ritmo e a ação firme para deixar as coisas mais animadas. A sequência do resgate da moça, especificamente, é um espetáculo à parte, com Woody Strode atirando flechas explosivas. Enfim, a sequência é um prodígio de pirotecnia. Depois vem a peregrinação de volta para os EUA em meio a uma reviravolta que coloca uma grande interrogação na cabeça dos nossos heróis… Considerando o contexto e o período no qual OS PROFISSIONAIS foi feito, fica óbvio o subtexto sobre a guerra do Vietnã: uma unidade de combate selecionada enviada para outro país por razões problemáticas questionando seus motivos.

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Embora seja evidente que os protagonistas da trama sejam Marvin e Lancaster, os únicos que possuem um pano de fundo, um histórico que envolve outras lutas armadas durante a revolução mexicana, é preciso destacar como Woody Strode recebe igual importância no grupo, o que já é notável para um ator negro da época no meio do elenco formado por brancos em uma produção de grande estúdio. O mesmo não dá pra dizer sobre a equipe de marketing da Columbia, que não colocou seu nome nas artes de divulgação do filme…

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O restante do elenco é fenomenal. Jack Palance, como já mencionei, surge em cena como um mexicano, queimado de sol e bigodudo. E está incrível como sempre. Eleva o seu personagem imbuindo-o de dignidade, evitando qualquer clichê maniqueista óbvio. O dramático reencontro entre Lancaster e Palance, depois de um longo tiroteio para atrasar o bando do mexicano, um jogo de gato e rato entre as rochas que é um dos grandes momentos do filme, demonstra porque Palance (e Lancaster, numa performance física impressionante) foi um dos maiores de todos os tempos. Cardinale é outro caso interessante. Sua beleza descomunal chama a atenção, mas Brooks não a utiliza como mero colírio sexual (embora haja umas ceninhas bem calientes pra época). Sua personagem é provavelmente a mais forte do filme, lutando pelo homem que ama e pela causa em que acredita. E o rico rancheiro que financia a missão é retratado perversamente por Ralph Bellamy.

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A direção de Brooks não chega nem a ser um primor, mas é de uma competencia, de uma secura, coerente com o material que filma e com a jornada desses indivíduos. Com bom senso de tensão e aventura. Não é a toa que o sujeito foi indicado ao Oscar de melhor diretor naquele ano (e também de roteiro). Adiciona-se ainda a luxuosa fotografia de Conrad Hall (que também foi indicado por seu trabalho), a trilha sonora de Maurice Jarre, uma tonelada de diálogos incríveis e OS PROFISSIONAIS se torna um filme que eu admiro cada vez mais sempre que revejo.

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Uma curiosidade: na época do lançamento, o sucesso do filme levou o estúdio a considerar uma sequência, mas com a condição de que todos os quatro atores principais estivessem envolvidos. Não queria correr riscos por causa do fiasco em torno da sequência de SETE HOMENS E UM DESTINO, no qual apenas Yul Brynner havia retornado. No entanto, durante muito tempo a agenda dos atores nunca batia para que a coisa acontecesse… Quando finalmente as agendas casaram, a saúde de Robert Ryan (devido ao câncer de pulmão) tornou impossível pra ele realizar o trabalho físico necessário para o filme. Após sua morte em 1973, qualquer plano para uma sequência de OS PROFISSIONAIS foi descartado.

AMEI UM ASSASSINO (1948); CLASSICLINE

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Vi mais essa pérola, em DVD, lançada pela ClassiclineAMEI UM ASSASSINO, de Norman Foster, veste uma roupagem iconográfica de film noir, com todos os elementos visuais característicos, para narrar um melodrama denso e muito interessante. O filme é um realização da Norma Productions, que tinha o ator Burt Lancaster, que é o protagonista aqui, como um dos fundadores. Foi ele quem lutou para manter o título original da fita, o belíssimo KISS THE BLOOD OFF MY HANDS, que é homônimo ao romance que fora adaptado. Com esse título irresistível, fica difícil não dar um conferida.

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Ambientado numa Londres pós-Segunda Guerra Mundial, Lancaster é um típico outsider à deriva ferrado na vida. Ex-combatente, vive à margem tentando viver um dia de cada vez. A coisa piora pro sujeito quando acaba se metendo numa briga em um pub. Após acidentalmente matar um homem, parte em fuga e cruza o seu caminho com o da enfermeira interpretada por Joan Fontaine. Adicionado ao tempero, temos ainda um Robert Newton inspirado, como um bandido lowlife, que testemunhou o crime do protagonista e tenta o manter sob o seu controle.

O legal é que AMEI UM ASSASSINO sempre vai brincando com as expectativas, com um enredo que tece de formas inesperadas o seu desenvolvimento particularmente surpreendente. Nunca se sabe o que vai acontecer a seguir e o filme vai sempre se renovando, especialmente na relação amorosa que surge entre Lancaster e Fontaine. Ainda em início de carreira, Lancaster começa meio travado, mas aos poucos vai se soltando e ao final, temos mais uma grande atuação do sujeito. O filme faz um bom trabalho ao mostrar suas ações como resultado dos efeitos da guerra. Na verdade, o filme possui essa relação sombria e evidente do trauma e desilusão do pós-guerra na Europa.

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AMEI UM ASSASSINO até pode ser considerado do gênero noir, possui alguns elementos gráficos e temas que o coloquem como tal, embora no fim das contas a coisa vá desaparecendo de certa maneira, tomando outra forma, mais ligada à herança do melodrama, restando apenas essa roupagem estética da cinematografia de Russell Metty, que é expressiva e que traz toda a nebulosidade da Londres pós-guerra para a tela. Os becos escuros e apertados, um trabalho de sombras fantástico digno dos melhores noirs

A perseguição que acontece no início, com Lancaster fugindo da polícia pelas ruelas escuras, é um bom exemplo, além de ser uma aula de enquadramentos e movimentos de câmera. Prova que o diretor Norman Foster aprendeu tudo direitinho como assistente de Orson Welles. A sequência em que envolve a personagem de Joan Fontaine, Robert Newton e uma tesoura também é um primor em como se trabalhar o suspense utilizando apenas luzes, sombras e close-ups.

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AMEI UM ASSASSINO foi lançado pela Classicline em dezembro do ano passadoO disco é apresentado em uma excelente edição de imagem, no formato de tela e áudio originais. Acompanha trailer de cinema e uma galeria de fotos e cartazes como extra. O DVD pode ser adquirido nas melhores lojas ou na loja virtual da própria distribuidora.

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