THE NEON DEMON (2016)

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Gosto do cinema do Nicolas Winding Refn desde VALHALLA RISING, que é uma boa representação do que podemos chamar de “estilo” do sujeito. Mas o que tenho reparado é que as pessoas esperam sempre um novo DRIVE. Claro, também acho sensacional, um dos melhores filmes da década até agora (e meu favorito do homem), mas embora tenha muito a mão do dinamarquês, é uma obra muito bem equilibradinha nos pólos forma x conteúdo. Só que isso não é bem Refn. Não vou entrar nos méritos dos filmes antes de 2010, mas Refn nunca foi comercial. Ele é frio, leeeeeento, é atmosfera e ambiente, composições kubrickianas, cores e estética, personagens que fazem pose, poucos diálogos, sem muita explicação narrativa, carrega aquela merda toda de simbolismo e um monte de coisa estranha acontecendo, e você tenta entender isso tudo, interpretar, mas fica frustrado e prefere desfrutar como uma obra surrealista, poética e autoral, mas que funciona de forma literal também, porque… Bem, às vezes um charuto é apenas um charuto, como dizia Freud. Ou seja, é tudo que eu detesto em vários diretores atuais, mas que no caso do Refn me fascina de uma maneira singular… Refn é isso, é VALHALLA RISING, ONLY GOD FORGIVES e, agora, THE NEON DEMON.

Enfim, THE NEON DEMON é uma fábula para adultos sobre o universo cruel da moda, dos corpos magricelas de modelos que parecem meninos de 12 anos desnutridos, um padrão da beleza perfeita da atualidade. Sou muito mais uma gordinha, mas isso é outra história. “Beauty isn’t everything. It’s the only thing“, diz um dos personagens numa das falas mais simbólicas do filme. É no meio disso tudo que entra a inocente Jesse (Elle Fanning), uma aspirante a modelo que possui uma aura sobrenatural de encantamento que ao mesmo tempo em que tem sua acensão garantida pelo efeito que provoca com sua “beleza perfeita”, é também envolvida por todas as merdas que esse meio sórdido carrega. Mau pra moça, bom pra nós que acompanhamos a coisa toda se degradando pra ela. Não vou entrar em detalhes, só digo que a faceta violenta do Refn não dá moleza por aqui. E à medida em que a coisa caminha para o desfecho, THE NEON DEMON toma proporções épicas de bizarrices.

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E não importa o quão repugnante são as situações, Refn filma tudo com a maior elegância e beleza possível. O grotesco é lindo em THE NEON DEMON. Fica bem claro pra mim que a única preocupação de Refn é com estética, cores, enquadramentos simétricos, a beleza das imagens em detrimento à própria narrativa, o que causa certa frieza e desconforto, mas que condiz perfeitamente com o universo do filme, e aí cito de novo o que aquele personagem diz: “Beauty isn’t everything. It’s the only thing“. Tudo bem pra mim, gosto de apreciar o espetáculo visual/sensorial de Refn. THE NEON DEMON é um filme para se ver, ouvir e sentir. Se tá tudo bem pra você também, então vai saber apreciá-lo.

Sobre THE NEON DEMON dialogar com o horror – na verdade foi anunciado como tal – quem conhece o Refn sabe que um filme de Vikings nunca vai ser só um filme de Vikings (VALHALLA), um car chase movie nunca será um car chase movie (DRIVE) e um kickboxer movie nunca vai ser um kickboxer movie (ONLY GOD) nas suas mãos, apesar de trabalhar com todos os elementos tais quais os gêneros estabelecem. THE NEON DEMON até possui vários ingredientes para saciar os fãs do horror, mas o estilo autoral do sujeito deve espantar o espectador “comum”. Em termos de história o filme nunca transcende o superficial, pelo menos não na forma convencional ou para aqueles que esperavam um novo DRIVE. Sobre o elenco, só tenho a dizer que o desempenho de Fanning é bem bom, assim como a de todo o elenco de desconhecidos. Já o Keanu Reeves tá sensacional e se destaca em todos os momentos em que aparece. E pra finalizar, descobri que justamente hoje é aniversário do Refn. Felicidades, man, e continue fazendo filmes sem concessões.

10 pensamentos sobre “THE NEON DEMON (2016)

  1. Pingback: FAVORITOS DEMENTIA¹³ 2016 – PARTE II | DEMENTIA¹³

  2. Com ctz o filme é bem lento, trazendo esse suspense em cada cena, afastando a câmera do objeto principal tão lentamente que acaba hipnotizando. Adorei o filme, principalmente os enquadramentos, cores e luzes de cada uma das cenas. Uma coisa que me incomodou bastante foi o fato de haver ESPELHOS em praticamente 80% do filme. Acha que seria alguma metáfora para a vaidade/beleza?

  3. Pingback: TOP 10 NICOLAS WINDING REFN | DEMENTIA¹³

  4. Li a algum tempo, que o Refn está tentando viabilizar uma adaptação, de uma história em quadrinhos do Jodorowsky, O Incal. Já imaginou esses dois trabalhando juntos?

    • O Refn é fã declarado do Jodo e até o homenageou em ONLY GOD FORGIVES… Tem vários projetos legais que o sujeito sempre se envolve, mas esse do incal seria realmente sensacional!

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