Alerta de filme polêmico! Só que eu não sabia do que se tratava UNA, de Benedict Andrews, quando fui assistir, mas veio bem a calhar nesses tempos estranhos de acusações de agressões sexuais atormentando a vida de figuras em Hollywood. O filme trata do tema de maneira forte, mas ambígua. Na verdade, é um paradoxo muito bizarro, porque ao mesmo tempo em que não há “agressão”, estamos falando de uma história em que um sujeito de quarenta e tantos se relaciona, sexualmente, com uma menina de treze.
Adaptado de uma peça teatral chamada Blackbird, de David Harrower (o roteiro foi escrito pelo próprio dramaturgo), a trama se passa quinze anos depois do tal acontecimento, com Una (Rooney Mara), a garotinha “abusada”, agora já adulta, indo confrontar-se com seu “abusador”, Ray (Ben Mendelsohn), num duelo de diálogos angustiantes e incômodos que irrompe a narrativa, colocando em cheque todas as questões morais que implicam o delicado tema, cintilando uma intensidade digna de seu assunto, num trabalho ágil e bem elaborado e ancorado de forma magistral pelas performances de Mara e Mendelsohn.
O que pode incomodar o espectador é a já citada ambiguidade do tema, trata de pedofilia num viés em que a criança tem os mesmos desejos que o adulto. A relação de Una e Ray nunca é abusiva ou forçada, e embora ela tivesse treze anos, sem capacidade alguma de responder por seus atos, ambos estão realmente apaixonados, a atração entre eles é verdadeira e tudo leva a crer que, apesar de trágico para uma criança, houve aqui uma grande história de amor envolvendo uma menor e um homem mais velho. Mostrado em flashbacks, o relacionamento é até tratado de forma tenra e poética, e ao longo do filme subverte todas as nossas expectativas, por mais repugnante que seja.
Controverso, UNA acabou não achando muito seu público, especialmente aqui no Brasil pouco se falou sobre ele. Eu, que tenho queda por temas polêmicos, achei UNA um… não sei se posso falar “belo filme” sem que soe estranho. Obviamente não é uma obra de fácil digestão, mas a maneira como tudo é conduzida me encanta, os atores estão magníficos, e possui substância para muita discussão e reflexão. Vale a pena uma conferida se você tiver a mente aberta e não for da turma do mimimi atual… Foi lançado no Brasil na metade deste ano em DVD pela grande A2 Filmes, através do selo Mares Filmes, e está disponível para compra, locação e também nas plataformas digitais.