Confesso que não tinha informações prévias sobre APRISIONADOS, embora me lembre vagamente de alguns comentários quando surgiu lá por 2014/15 pelo título original, LET US PREY. Mas acabei deixando passar… Fui vê-lo agora porque fiquei curioso por se tratar de um filme de horror escocês e por ter sido lançado recentemente no Brasil em DVD pela distribuidora parceira do blog, a A2 Filmes, através do selo Focus Films. E acabei surpreendido por uma trama intrigante, que me prendeu a atenção do início ao fim, e pela ousadia do diretor Brian O’Malley em tentar fazer algo diferente, com personalidade, fora dos padrões, e sem receio de derramar baldes de sangue.
O filme abre de forma desconcertante, com uma série de composições oníricas e hiper estilizadas, de rara beleza, mas estranhamente anacrônicas, parece um video clipe oitentista do A-HA ou Duran Duran, o que, na verdade, é exatamente o tipo de coisa que me encanta. Entre as belíssimas imagens de cores contrastantes, ondas batendo nas rochas de uma baia inóspita e muitos corvos sobrevoando o local, surge uma misteriosa figura (Liam Cunningham, de GAME OF THRONES), um homem chamado Six, com um sobretudo preto e um cigarro na boca, que inicia a sua jornada por aqui, seja lá de onde veio…
Mas a trama segue Rachel, uma policial prestes a começar seu primeiro turno da noite em uma delegacia de polícia numa pequena cidade escocesa. No caminho para o seu novo local de trabalho, com a noite escura e as ruas completamente desertas, ela acaba pegando no flagra um jovem que atropelou o homem misterioso da abertura. No entanto, quando vai conferir, o sujeito não está mais lá, o provável acidentado simplesmente desapareceu. Mesmo assim, resolve levar o jovem para a delegacia. No recinto, Rachel conhece os outros personagem que habitam esse “universo”, policiais de natureza duvidosas que guardam segredos tão sombrios, sádicos e abjetos quanto os poucos prisioneiros que ocupam as celas. E é nesse cenário de purgatório que o filme se passa e, com Six dando o ar da graça, deflagra um verdadeiro inferno no local.
O legal é que apesar das influências claras, uma configuração à la John Carpenter de ASSALTO AO 13º DISTRITO e PRÍNCIPE DAS TREVAS, APRISIONADOS consegue ter seu próprio frescor num thriller claustrofóbico com momentos genuinamente assustadores e subversivos, ainda que O’Malley minimize tudo o que não lhe importa, exceto os elementos que podem ser usado para criar o horror. A narrativa, os diálogos, algumas situações, tudo é meio troncho e forçado, e a coisa toda acaba existindo em benefício do horror, de uma atmosfera estilizada, da violência…
A transformação do chefe de polícia, por exemplo, que surge em cena com um jeitão estranho, mas que subitamente reaparece surtado, visualmente macabro, com arames farpados enrolados no corpo, como um mensageiro da morte, é algo que o espectador que estiver procurando uma historinha convencional e mastigadinha vai se decepcionar. A maneira das coisas andarem por aqui é por caminhos tortos, mas quem compreender que estamos lidando com o onírico, com a lógica de pesadelo num universo de purgatório, vai se surpreender com a efetividade do filme na construção de um horror puro, de um horror transgressivo, de um horror estilizado e que não faz concessões.
E O’Malley reina nos excessos, numa violência que possui dose suficiente para envolver até mesmo os fãs de um terror mais sangrento. E a violência cresce à medida em que as tensões dentro da delegacia transbordam, e o filme se torna sufocante e intenso na mesma proporção em que a trama se torna imprevisível. Não que APRISIONADOS seja uma maravilha do horror contemporâneo, mas é diferente. E como passou meio batido por esses lados na época que surgiu, vale a recomendação. Vale especialmente pela tentativa de sair da mesmice, vale pelas situações de tensão que realmente me seguraram na poltrona, vale pela presença de Cunningham, num personagem fascinante, cujas intenções vão se revelando aos poucos, à medida que o filme progride, e percebe-se que toda onda de violência é causada pela sua presença.
Há uma ambiguidade muito bem-vinda da verdadeira natureza de Six, que faz com que reflitamos sobre suas origens e intenções. É um demônio? A morte? Um anjo? Não importa, uma coisa é clara, se você lhe der um motivo para que ele conheça os mais profundos segredos sórdidos da sua mente, a coisa pode ficar feia…
Enfim, vamos dizer que tu tá a fim de ver algo diferente em termos de horror, que foge dos padrões, APRISIONADOS é a recomendação certeira pra hoje. Um exemplar que vale a pena procurar. Não é nenhuma obra-prima, mas satisfaz paladares que curtem um bom horror mais estiloso, atmosférico, exagerado e que não tem receio em correr riscos tentando sair do encaixotamento. E agora com o lançamento do filme pela A2 Filmes em DVD e ‘on demand’ em plataformas digitais, ninguém tem desculpa para não conhecer essa obra obscura.
Ronald Pau no cú!!! Fica esperto!!
Tô esperto, cara. Como tá aí o centro de São Paulo?