FAVORITOS DE 2023

Terminando mais um ano, vamos aos filmes que mais gostei. Como sempre faço, a minha lista de favoritos tem uma margem de um ano, pra incluir os filmes do ano passado que acabei assistindo este ano. Portanto, alguns filmes de 2022 que só fui assistir pela primeira vez em 2023 estão presentes. E seguindo a tradição, aqui vai um TOP 20:

20. THE CAINE MUTINY COURT-MARTIAL (2023), de William Friedkin
Friedkin foi embora e deixou esse belo presente. Não é nenhum filmaço, mas é uma despedida de respeito do diretor/roteirista. Filme de tribunal (em escala menor, uma corte marcial, como o título já indica), de praticamente uma única locação, mas bem conduzido e com excelentes performances, sobretudo de Kieffer Sutherland. O discurso e ato final, que fecha o filme, feito pelo personagem de Jason Clarke, representa muito bem a essência dessa figura provocativa, atrevida e que tá pouco se lixando pro que as pessoas pensam, que era o Friedkin.

19. RDX: ROBERT DONY XAVIER (2023), de Nahas Hidayath
Já seria bacana só pela trama, um masala malaialo intenso, romântico, cheio de graça (pelo menos na primeira metade) e músicas boas, tem um drama familiar que se desdobra numa história de vingança intrigante… Mas por acaso também resolveram transformar isso aqui num espetáculo de pancadaria desenfreada e alucinante que faria alguns realizadores de Hollywood pensarem duas vezes antes de filmar um soco. Ademais, qualquer filme no qual os dilemas da vida são solucionados com violência, com chute na cara e no uso de um Nunchaku sempre terá a minha admiração.

18. THUNIVU (2023), de H. Vinoth
Começa como um thriller de ação de assalto a banco e se transforma num drama de consciência financeira e análise social do mundo financeiro. Narrativa ligada no 220, num ritmo frenético de tirar o fôlego, que mistura excelentes doses de ação com uma escrita social consciente e boas reviravoltas nos seus 146 minutos. Mas o que realmente faz disso aqui um grande filme é a presença do astro do cinema tamil Ajith Kumar, que domina o espetáculo quando tá em cena e constrói um dos melhores personagens do ano.

17. MAD FATE (2023), Pou Soi Cheang
O filme anterior do Soi Cheang, LIMBO, é possivelmente o melhor filme da década até agora, então é ok que este aqui não esteja no mesmo patamar. Ainda assim é um dos troços mais bizarros que o sujeito já fez. A trama é meio bagunçada, envolve serial killer, misticismo, estudo sobre psicopatia e mais um monte de coisa, mas tudo é embalado por situações malucas, um humor esquisito, violência e pelo habitual apuro visual do Cheang, que continua sendo um dos diretores mais interessantes da atualidade.

16. JAWAN (2023), de Atlee
É meio desconjuntado, a trama no geral é uma maluquice desengonçada recheada com a típica falta de sutileza do cinema indiano pra abordar questões nacionalistas, políticas e injustiças sociais – ao ponto do Shah Rukh Khan ter seu momento de O GRANDE DITADOR e fazer um discurso olhando para câmera sobre a importância do voto. Mas, puta merda, me perguntem se eu consegui tirar o olho da tela… Isso aqui é uma das experiências cinéticas mais fascinantes que eu tive este ano, 2h50 de pura overdose masala. Eu já tinha visto dois filmes do Atlee, ainda na indústria tamil, MERSAL e BIGIL, ambos estrelados pelo Vijay, mas JAWAN é disparado o melhor. O sujeito tem muita noção de ritmo e bom olho pra composições e cores, e o filme tem sempre algo bonito pra se olhar, especialmente nas sequências musicais e de ação/pancadaria (incluindo uma perseguição de carro/moto/caminhão coordenada por ninguém menos que Spiro Razatos).

15. MISSÃO: IMPOSSÍVEL – ACERTO DE CONTAS: PARTE 1 (2023), de Christopher McQuarrie
Por mais que eu já tenha gostado muito, é um filme que acho que tende a crescer ainda mais com o tempo, com as revisões e quando ele estiver “completo”. Por agora é um filme que faz jus a esse “Parte 1” no título, sendo apenas metade da história, deixando o conflito central entre o herói e o vilão pra resolver depois… Visto como uma obra independente, é tão empolgante quanto os outros exemplares da série, com sequências de ação realmente impressionantes, como a perseguição de carros enlouquecida pelas ruas de Roma e a sequência final que se passa num trem; isso sem falar da cena em que Cruise se joga de moto do alto de uma montanha. Mesmo tendo visto e revisto todos os vídeos e comerciais que promoveram essa cena, ainda causa um impacto danado ver esse astro de 60 anos fazendo esse tipo de acrobacia e colocando sua vida em risco pra nos entreter. ❤️

14. THE KILLER (2023), de David Fincher
Fico feliz pelo Fincher ter se recuperado depois daquela porcaria que é MANK, voltando ao thriller com pegada psicológica sobre um assassino profissional viciado em The Smiths que tem a capacidade de ser metódico e atrapalhado ao mesmo tempo. Imaginem LE SAMOURAI, do Jean-Pierre Melville, mas interpretado pelo Peter Sellers… Fassbender tá ótimo aqui e a direção de Fincher e suas escolhas estilísticas se conectam bem no tipo de história que quer contar. Eu entrei meio que num estado de hipnose de tão imerso que fiquei nessa narrativa, nas imagens, no texto em off. E Fincher consegue usar esse material como ponto de partida pra um comentário interessante sobre o estado das coisas na sociedade atual.

13. TOBY (2023), de Basil Alchalakkal
Este aqui chegou aos 45 minutos do segundo tempo de 2023, mas deu tempo ainda de ficar maravilhado mais uma vez com um filme indiano neste ano de descobertas tão revigorantes deste país e suas diferentes indústrias cinematográficas. Um mundo novo que se abriu, um novo sopro de cinefilia… E um dos principais realizadores que entrou na minha lista “a ser seguido” é Raj B. Shetty, que já tinha escrito, dirigido e atuado no devastador GARUDA GAMANA VRISHABHA VAHANA em 2021 e agora estrela e assina o roteiro de TOBY, mais uma paulada do cinema kannada que me prendeu desde o início pela história impressionante, numa estrutura meio que de CIDADÃO KANE, que se constrói a partir de relatos que revelam um dos personagens mais fascinantes do cinema indiano recente, o tal Toby do título, numa performance sublime de Shetty, e um universo desgraçado, onde a violência anda quase de mãos dadas com a ternura, enraizada por um cenário socio-político-cultural tão marcante do sul da Índia. Filmaço!

12. SHIN KAMEN RIDER (2023), de Hideaki Anno
Dessas brincadeiras do Hideaki Anno de atualizar filmes kaiju e tokusatsus conhecidos da cultura pop japonesa (SHIN GODZILLA, SHIN ULTRAMAN) ao seu imaginário peculiar, este aqui é o meu favorito. Um tokusatsu raiz, nostálgico, mas com os fetiches psicológicos, filosóficos e sentimentais do criador de Neon Genesis Evangelion. Uma coisa linda. Espero que não pare por aqui…

11. WALTAIR VEERAYYA (2023), de Bobby Koli
Masala telugo com suas megalomanias na trama, reviravoltas, humor absurdo, nas músicas e principalmente na ação hiper exagerada. Ou seja, uma delícia do início ao fim. Mas obviamente o que torna isso aqui um troço mágico é a performance do “MEGASTAR” Chiranjeevi, um dos maiores ícones do cinema telugo, que faz o personagem título e oferece uma das figuras mais marcantes do cinema indiano recente. Destaque também para a participação do “MASS MAHARAJA” Ravi Teja, que deixa tudo ainda melhor. Um dos filmes mais divertidos que vi em 2023.

10. LEO (2023), de Lokesh Kanagaraj
Eu tava no hype com esse filme desde fevereiro quando lançaram um teaser que me fez ir atrás de outros filmes do Vijay e finalmente mergulhar no cinema atual feito na Índia. E posso dizer que toda a minha expectativa foi atendida. LEO é um espetáculo de ação dos bons, um masala violento, barulhento e com boa carga dramática. E até agora tem minha performance favorita do Vijay. Cinéfilos ocidentais que ainda não estão acostumados com a abordagem indiana de contar suas histórias correm o risco de estranhar. Histórias que, inclusive, até conhecemos. Já vimos a de LEO antes, é uma nova adaptação da graphic novel de John Wagner/Vince Locke, que anteriormente chegou às telas como MARCAS DA VIOLÊNCIA, de David Cronenberg. É MARCAS DA VIOLÊNCIA só que na Índia, sob o viés da essência estética e cultural do cinema Tamil, com números musicais, melodrama e muitas sequências de ação. Sob o viés sobretudo de Lokesh Kanagaraj – simplesmente um dos melhores diretores de ação da atualidade – e a sua integração ao multiverso LCU (Lokesh Cinematic Universe), numa trilogia que inclui outros filmes do diretor que estão vagamente conectados: KAITHI, VIKRAN e agora LEO. Todos obrigatórios.

9. FAST X (2023), de Louis Leterrier
É isso, tem VELOZES E FURIOSOS no meu top 10. Uma coisa que adoro é como tudo aqui é basicamente uma consequência de FAST FIVE, que é um dos meus favorito dessa franquia tão amada e odiada. Então foi legal ver como eles amarraram tudo. Mas de certa forma é um F&F que quebra um bocado as expectativas, diferente do que ficamos acostumados a ver nos últimos filmes. É o começo de uma suposta trilogia, com uma abordagem narrativa mais cadenciada, o filme espalha os personagens em blocos e mantém mistérios e surpresas para serem resolvidos nos próximos episódios… Ao mesmo tempo tá tudo ali num alto nível de diversão, na figura mítica de Dom Toretto e sua ideia de família que, como conceito, é imortal pra franquia tanto de forma figurativa quanto literal. Até a ação é peculiar. Tirando a sequência de Roma, que tem um grau de destruição mais grandioso, os próprios set pieces de FAST X me parecem dar um passo atrás em escala épica, indo contra o crescendo que havia nos últimos filmes – um submarino no 8, ir para o espaço no 9 – a coisa aqui retorna às acrobacias dos carros, mas sem deixar de desafiar as leis da física, obviamente… O que é bom, porque o Leterrier tá bem longe de ser um Justin Lin, F. Gary Gray ou James Wan. Mas até que o francês consegue mandar bem na medida do possível nessa “escala menor”, com pancadarias, tiroteios e perseguições, até chegar num clímax mais espetacular que é simplesmente inacreditável de absurdo e entrega o nível de adrenalina esperado. E nisso tudo as atenções acabam indo pra outro elemento do filme, que é a composição de Jason Momoa, psicótico, afetado, maravilhoso em cada frame. Tem vários personagens que se destacam aqui em algum momento, mas nada se compara a Momoa. Disparado o melhor vilão de toda a franquia.

8. KNOCK AT THE CABIN (2023), de M. Night Shyamalan
Um dos filmes mais contidos de Shyamalan, mas que a partir de um núcleo que gira em torno de decisões morais difíceis de tomar, desencadeia o apocalipse na terra. Tenso, cheio de momentos especiais e boas atuações (Bautista fenomenal). Shyamalan conduz tudo com sua habilidade artesanal, transforma esse suspense de invasão de domicílio numa parábola sobre fé, juizo final e palco para seus floreios formais. Uma belezura.

7. DASARA (2023), de Srikanth Odela
É um filme que até tem lá seus tropeços, mas minha nossa, esses caras do sul da Índia sabem criar um espetáculo político, retumbante, sensorial e com um orgulho desgraçado de ser “terceiro mundo” como ninguém. Você pega KARNAN (que entrou nos meus favoritos do ano passado), ASURAN, KANTARA (filme que tá aqui nesta lista) e DASARA e se você ficar indiferente com esses filmes, significa que já morreu por dentro, bicho… O diretor deste aqui é um estreante que faz maravilhas com a imagem, especialmente nos momentos musicais e de ação/tensão… A sequência do ataque noturno pós-casamento é um absurdo, me fez prender a respiração por um bom tempo, é uma das melhores do ano. Surra de CINEMA.

6. NAPOLEÃO (Napoleon, 2023), de Ridley Scott
O filme mostra tanto um Napoleão habilidoso estrategista da guerra (várias das sequências de batalha — sobretudo a no gelo em Austerlitz — estão entre as melhores sequências de ação que Scott já filmou) quanto uma figura que poderia ser interpretada pelo Leslie Nielsen nos anos 80… E aparentemente essas mudanças de tom entre a violência nos campos de guerra e as cômicas peripécias nos aposentos de Napoleão, meio que em formato de pequenos esquetes (e até mesmo as imprecisões históricas, wtf?! Alguém ainda reclama disso?!?!) tem chateado a moçada. Muita gente não entrou na brincadeira. Uma pena. Eu achei uma maravilha. E Joaquim Phoenix tá sensacional, conduz o trabalho à sua maneira única, nos detalhes, nos pequenos gestos, tá divertidíssimo acompanhar o sujeito por aqui… Agora quero ver a versão de 4 horas…

5. K.G.F: CHAPTER 2 (2022), Prashanth Neel
Se o Tony Scott tivesse encarnado em algum diretor indiano, provavelmente teria sido no Prashanth Neel. É dos poucos que conseguiu emular o estilo de Scott com tanta autenticidade e energia. Nem os diretores ocidentais chegaram tão perto. E aqui o sujeito tá no seu ápice! É até difícil descrever o que se passa aqui, mas utilizando as palavras do meu parceiro de Cine Poeira, Luiz Campos, K.G.F. poderia ser resumido numa mistura de SCARFACE com o CONAN – O BÁRBARO… Pra entender melhor o que isso significa, só mesmo assistindo. Tanto o capítulo 1 quanto este aqui estão disponíveis no Amazon Prime.

4. KANTARA (2022), de Rishab Shetty
Todo ano a Índia solta vários masalas rurais pra encher os nossos olhos, mas alguns deles transcendem e se tornam especiais. DASARA ali em cima é um deles, mas em 2022 saiu essa joia do cinema Kannada, que assisti ainda no início de 2023 e que ajudou no meu processo de amor pelo cinema indiano. A trama é sobre Shiva (vivido pelo próprio diretor), um vagabundo tribal, feliz em vagar com seus amigos e fazer pequenos trabalhos para seu senhorio, mas que entra em conflito com um guarda florestal casca-grossa. O que parece simples, se revela um filme enraizado no folclore e na mitologia rural local, que mescla habilmente uma cultura tão rica e nova com sensibilidades que também despertam novas sensações com a experiência cinematográfica. As sequências de ação, as danças, as atuações e as impressionantes cenas noturnas são um espetáculo para ser admirado.

3. ASSASSINOS DA LUA DAS FLORES (Killers of the Flower Moon, 2023), de Martin Scorsese
Acho doido que o Scorsese mais uma vez, de certa forma, acabou fazendo um filme de gangster, mas que ao invés de mostrar ascensões e quedas e como os personagens se beneficiam da violência e busca por poder, ele agora mostra as consequências históricas trágicas, como a que afetou o povo Osage. Desaparece o “estilo”, o formalismo da violência e o que resta é o horror causado por isso. O pesar que vem depois. Scorsese sabe que o público de seus filmes cresce quando a crueldade de seus personagens estão no centro das atenções – quando ele abraça sua reputação como diretor de filmes de gangster. Então ele meio que aproveita seu lugar na cultura pop para contar uma das maiores histórias de gangsters de todas: eis como a América e seus povos nativos foram destroçados, narrado como uma epopeia de crime de cidade pequena, um microcosmo de uma dinâmica nacional, repleto de assassinatos, dinheiro e busca por poder. Apenas Scorsese, que já não devia mais nada a ninguém, resolveu simplesmente criar mais uma obra-prima monumental em todos os sentidos nessa reta final de carreira.

2. JIGARTHANDA DOUBLE X (2023), de Karthik Subbaraj
Mistura faroeste spaghettigangster movie, thriller político embalado numa carta de amor ao próprio cinema. Tem facilmente o melhor roteiro dentre os filmes que vi este ano. É complexo, transcende ao sublime em diversos momentos e não tem frescura de ser um produto para agradar as multidões. Cinema como espetáculo, como concepção de mitos – e o Allius Ceaser de Raghava Lawrence já nasceu clássico -, cinema como arma política e pra tocar corações. Fiquei em estado de êxtase com isso aqui.

1. JOHN WICK: CHAPTER 4 (2023), de Chad Stahelski
Escrevi umas poucas palavras sobre ele aqui. É o filme que mais me fascina em 2023, é uma das franquias de ação mais sublimes deste século… E esse quarto filme veio pra coroar a grandeza de tudo que envolve John Wick como criação de mitos, como universo que se expande, como narrativa de filme de ação, como cinema. Uma obra-prima do gênero.

Até 2024.

4 pensamentos sobre “FAVORITOS DE 2023

  1. Ansiava por esta lista! A mais aguardada por mim (juntamente com a lista do site lusitano À Pala de Walsh). Como de praxe, baita lista! Vou correr atrás dos indianos (já estava ligado em Leo e em Jigarthanda). Legal ver o Shyamalan presente, com este filmaço que muitos não deram o devido valor. A direção dele está primorosa e o Bautista está sensacional.
    Em breve vou conferir Napoleão com as esperanças renovadas depois de sua breve análise – pois O Último Duelo é excelente e muitos massacraram o filme, não foram seduzidos pelo Rashomon de Ridley Scott.
    Abraço e feliz 2024!
    Gabriel de Almeida

  2. FELIZ 2024, meu amigo,Perrone !Desse filmes que você citou a maioria é de filmes indianos,eu não sei o que ha de tão fascinante no cinema desse país,o único filme indiano que assisti foi “SIDDARTHA” de 1972,de resto não conheço esse tipo de filme que eles fazem lá, como o cinema coreano tambem nunca me fascinou,gosto mais de filmes japonese filmes indianos ou coreanos nunca me interessei ver filmes desses países, mas cada um tem o seu gosto ,nunca discuti os gostos das outras pessoas e os outros ainda nem assisti no vídeo ,agora no mercado alternativo,pois as locadoras acabaram de vez.
    Esperamos que esse ano seja um bom ano e quero lhe desejar um bom ano de 2024,que você continue a sua jornada de nos entreter com a suas criticas e postagens,um grande abraço de Anselmo Luiz.

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.