BREEZY (1973)

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Não costumo postar sobre filmes românticos, mas não resisti a este terceiro filme dirigido pelo Clint Eastwood (já que comentei recentemente sobre os dois primeiros, nada mais justo que continuar). Era um dos poucos filmes dele que ainda me faltava…

Em BREEZY o sujeito volta a deixar de lado o cinema de gêneros mais truculentos, como foi o anterior, e oferece um dos seus trabalhos mais delicados. Habitualmente lê-se por aí que o reconhecimento artístico e crítico de Clint como diretor veio a partir de HONKYTONK MAN, ou até mais tarde, com BIRD. Onde estavam esses críticos quando BREEZY apareceu?

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Desta vez, Clint resolve ficar atrás das câmeras para nos oferecer uma história de amor inusitada e de rara ternura. William Holden é Frank, cinquentão solitário que tenta manter o amor à distância para evitar certos transtornos e sofrimento, acaba conhecendo a jovem de espírito livre, Breezy (Kay Lenz, que se apropria da personagem título de corpo e alma) e, de um jeito ou de outro, vão construindo uma relação.

E por se tratar da paixão de um homem “bem vivido” por uma garota de 18 anos, acaba sendo um assunto mais desafiador que Eastwood aborda. Dúvidas, felicidade, amargura, perguntas sobre si mesmo, o olhar dos outros, sabemos até de antemão quais etapas terão que passar para o assunto ser abordado; e Clint realmente passa por todas. Bom, não é na originalidade que o sujeito quer nos tocar. Mas na maneira como trata tudo com franqueza, explorando o tema com plenitude, observando os pequenos detalhes sem muita extravagância, até porque o filme não apresenta taaantos conflitos dramáticos assim. É apenas um olhar preciso dos sentimentos humanos. E Clint é muito verdadeiro com esses personagens.

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A dupla central, obviamente, destrói em nas atuações: Holden alcança uma veracidade incrível. Um exemplo de rigor e sensibilidade; e Kay Lenz brilha até chegar ao sublime.

A direção de Eastwood é discreta, mas sempre com o olhar no lugar certo. A cena que Holden senta na cama pensando que Breezy havia deixado o local e das sombras surgem as mãos dela acariciando seu corpo é um dos momentos mais antológicos da carreira de Clint como diretor:

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Já as duas cenas introdutórias dos personagens centrais são verdadeiras aulas de direção de atores. Em poucos segundos, em uma ou duas linhas de diálogo simples, entendemos TUDO do caráter de Breezy, sua leveza, sua sede de vida e ingenuidade. Logo em seguida, o personagem de Frank é escovado em uma única situação: dispensando uma mulher com quem passou a noite, revelando o sujeito amargo, solitário e duro… Clint mantém todas as sequências de BREEZY nesse tom e é incrível como consegue criar tanta emoção de coisas tão simples. Ao final, quando os personagens se reencontram (“Olá, meu amor / Olá, minha vida”) eu já estava completamente devastado. A canção tema de Michel Legrand, ao mesmo tempo melancólica e serena, traz um último toque a esta bela história.

O título de BREEZY no Brasil é INTERLÚDIO DE AMOR.

DAMIEN: A PROFECIA II (Damien: Omen 2, 1978)

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Com o sucesso de A PROFECIA, era óbvio que os produtores não iriam perder a chance de fazer uma continuação. Só que o diretor do original, Richard Donner, estava muito ocupado fazendo SUPERMAN. Chamaram o britânico Mike Hodges (GET CARTER), que por diferenças criativas acabou sendo demitido e substituído por Don Taylor, que nunca passou de um diretor bate-estaca de estúdio, sem muita personalidade. O roteirista que havia concebido o primeiro filme, David Seltzer, não quis se meter numa continuação, e é muito provável que as pessoas que o substituíram não tivessem na mesma vibe… O resultado de DAMIEN: A PROFECIA II está bem abaixo do anterior. Longe de ser ruim, é verdade, e não faz feio como uma continuação, mas me parece que falta uma certa classe e a sobriedade que faz o primeiro ser aquela maravilha que é.

De qualquer modo, valeu a pena rever DAMIEN: A PROFECIA II para refrescar a memória. E não se preocupem, este texto será bem menor que o anterior…Hehe!

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Damien (Jonathan Scott-Taylor), agora um adolescente, vive com seus tios e um inseparável primo, e não parece se lembrar dos acontecimentos trágicos que ocorreram em A PROFECIA. Ele é enviado para estudar numa escola militar, o que me parece um bom local para colocar o Anticristo, afinal, qualquer ambiente que envolva militares deve ser literalmente o inferno na terra…

O grande William Holden interpreta o irmão de Gregory Peck, que é agora o guardião legal de Damien e dono de um rico conglomerado empresarial. Como no primeiro filme, aos poucos coisas malignas e mortes misteriosas começam a cercar a família do sujeito, que demora a acreditar que possui o filho do demo dentro de casa.

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Desta vez Damien tem um corvo de estimação que faz com que uma tia velhota (interpretada pela grande Sylvia Sydney) tenha um ataque cardíaco e arranca os globos oculares de uma repórter intrometida, que é atropelada por um caminhão (numa das piores cenas de atropelamento que eu já vi…). Há também uma boa sequência de afogamento num lago gelado, onde um sujeito fica preso debaixo do gelo… Todas essas cenas ainda dão impressão de acidentes e a ambiguidade que havia em A PROFECIA. Mas só até determinado ponto. Depois, A PROFECIA II abre as pernas para o sobrenatural e deixa claro que uma força diabólica é que está eliminando os desafetos do garoto. A sequência mais marcante é quando um médico é cortado ao meio pelo cabo de um elevador. A cena do trem também é bem tensa e explicita o mal de Damien e o final, mais uma vez niilista, é especialmente memorável.

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Uma das coisas que gosto em A PROFECIA II é que é mais focado em Damien, e é interessante acompanhá-lo nas descobertas de sua verdadeira natureza. Mas me parece que o filme não consegue desenvolver completamente a complexidade desse processo em todo o seu potencial, já que Damien basicamente aceita que ele é o Anticristo muito fácil, sem afetar muito sua vida adolescente. O grito perturbador na cena em que ele derrete o cérebro de seu primo é a única sequência que trabalham um pouco isso. Um outro problema é que por mais focado em Damien, A PROFECIA II apresenta personagens demais, alguns totalmente desnecessários para o que realmente interessa na trama… Até mesmo o Holden acaba sendo pouco aproveitado, longe de ter a força que Peck teve no filme anterior.

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Mas ainda temos a brilhante trilha de Jerry Goldsmith pontuando alguns momentos, e o elenco mais uma vez merece destaque. Lee Grant faz a tia defensora de Damien. O grande Lance Henriksen também faz um bom trabalho na sua participação, Scott-Taylor se sai bem como Damien adolescente – com certas expressões faciais de dar calafrios – e, bom, William Holden dispensa apresentações. Como disse no texto do primeiro filme, Holden recusou o papel que acabou parando nas mãos de Peck porque aparentemente não gosta de filmes de horror e não queria trabalhar em um. Ainda bem, não dá pra pensar em A PROFECIA sem o Peck. Mas como o original foi um enorme sucesso, resolveu encarar a continuação. Valeu também, entrega um ótimo trabalho, mas merecia um roteiro melhorzinho.

Sem a carga atmosférica aterradora, a elegância da direção de Donner, fica difícil comparar os dois filmes. A PROFECIA II perde feio. Mas ainda é um bom horror, com algumas boas atuações e momentos de tensão e mortes que fazem a sessão não virar um desperdício. Veremos como vai ser o terceiro agora…