Não costumo postar sobre filmes românticos, mas não resisti a este terceiro filme dirigido pelo Clint Eastwood (já que comentei recentemente sobre os dois primeiros, nada mais justo que continuar). Era um dos poucos filmes dele que ainda me faltava…
Em BREEZY o sujeito volta a deixar de lado o cinema de gêneros mais truculentos, como foi o anterior, e oferece um dos seus trabalhos mais delicados. Habitualmente lê-se por aí que o reconhecimento artístico e crítico de Clint como diretor veio a partir de HONKYTONK MAN, ou até mais tarde, com BIRD. Onde estavam esses críticos quando BREEZY apareceu?
Desta vez, Clint resolve ficar atrás das câmeras para nos oferecer uma história de amor inusitada e de rara ternura. William Holden é Frank, cinquentão solitário que tenta manter o amor à distância para evitar certos transtornos e sofrimento, acaba conhecendo a jovem de espírito livre, Breezy (Kay Lenz, que se apropria da personagem título de corpo e alma) e, de um jeito ou de outro, vão construindo uma relação.
E por se tratar da paixão de um homem “bem vivido” por uma garota de 18 anos, acaba sendo um assunto mais desafiador que Eastwood aborda. Dúvidas, felicidade, amargura, perguntas sobre si mesmo, o olhar dos outros, sabemos até de antemão quais etapas terão que passar para o assunto ser abordado; e Clint realmente passa por todas. Bom, não é na originalidade que o sujeito quer nos tocar. Mas na maneira como trata tudo com franqueza, explorando o tema com plenitude, observando os pequenos detalhes sem muita extravagância, até porque o filme não apresenta taaantos conflitos dramáticos assim. É apenas um olhar preciso dos sentimentos humanos. E Clint é muito verdadeiro com esses personagens.
A dupla central, obviamente, destrói em nas atuações: Holden alcança uma veracidade incrível. Um exemplo de rigor e sensibilidade; e Kay Lenz brilha até chegar ao sublime.
A direção de Eastwood é discreta, mas sempre com o olhar no lugar certo. A cena que Holden senta na cama pensando que Breezy havia deixado o local e das sombras surgem as mãos dela acariciando seu corpo é um dos momentos mais antológicos da carreira de Clint como diretor:
Já as duas cenas introdutórias dos personagens centrais são verdadeiras aulas de direção de atores. Em poucos segundos, em uma ou duas linhas de diálogo simples, entendemos TUDO do caráter de Breezy, sua leveza, sua sede de vida e ingenuidade. Logo em seguida, o personagem de Frank é escovado em uma única situação: dispensando uma mulher com quem passou a noite, revelando o sujeito amargo, solitário e duro… Clint mantém todas as sequências de BREEZY nesse tom e é incrível como consegue criar tanta emoção de coisas tão simples. Ao final, quando os personagens se reencontram (“Olá, meu amor / Olá, minha vida”) eu já estava completamente devastado. A canção tema de Michel Legrand, ao mesmo tempo melancólica e serena, traz um último toque a esta bela história.
O título de BREEZY no Brasil é INTERLÚDIO DE AMOR.