TRAGAM-ME A CABEÇA DE ALFREDO GARCIA (1974)

Teve uma época da vida que eu assisti a TRAGAM-ME A CABEÇA DE ALFREDO GARCIA pelo menos umas dez vezes num curto espaço de tempo, de tão fascinado que fiquei por este petardo de Sam Peckinpah. Eu andava a descobrir seus filmes e quando cheguei neste aqui era como se eu não quisesse mais sair dele. Mas isso já tem muito tempo e eu fiquei afastado por um longo período. Chegou a hora de revisitar…

Só que ao mesmo tempo em que trata-se de uma obra que gera tanto fascínio, TRAGAM-ME A CABEÇA DE ALFREDO GARCIA é o tipo de filme que é preciso de uma sessão de descarrego logo depois que os créditos finais aparecem na tela. Ou, no mínimo, um banho. Tamanho é o mergulho na atmosfera de decadência, miséria e imundice das suas imagens. Provavelmente reflexo da posição precária que Sam Peckinpah se encontrava quando fez este filme tão pessoal.

A sua trajetória até ALFREDO GARCIA é conhecida: alguns anos antes, o homem havia garantido um lugar de destaque na indústria depois de MEU ÓDIO SERÁ SUA HERANÇA (1969), filme que até hoje considero sua obra-prima e que já devo ter revisto mais vezes que este aqui, mas como se sabe, a personalidade difícil de Peckinpah e seu eterno gosto pelo álcool, o vício em drogas e paranóia começaram a se tornar mais perceptíveis com o passar dos anos.

A recepção crítica e o sucesso de bilheteria se alternavam. Seu thriller filmado na Inglaterra, SOB O DOMÍNIO DO MEDO (1971), com Dustin Hoffman, foi muito bem recebido, mas veículos “menores” como THE BALLAD OF CABLE HOGUE (1970) e JUNIOR BONNER (1972) passaram mais ou menos despercebidos. E logo depois, mais um sucesso, com um OS IMPLACÁVEIS (1972). Um Peckinpah cada vez mais cínico chegou à conclusão de que o público só queria violência em câmera lenta… Quando abordava motivos com mais sensibilidade, que são os casos de CABLE HOGUE e JUNIOR BONNER, a coisa não ia tão bem. Pelo visto, a percepção de “Bloody” Sam estava certa.

Donnie Fritts, Sam Peckinpah e Kris Kristofferson em locação de TRAGAM-ME A CABEÇA DE ALFREDO GARCIA

O fracasso de seu PAT GARRETT & BILLY THE KID (1973), que foi todo retalhado e recosturado pelo estúdio, foi a gota d’água e deixou Peckinpah amargurado a tal ponto que decidiu trabalhar fora do sistema de estúdio em uma tentativa de recuperar o controle criativo. Para a sua sorte, a United Artists – conhecida por ser indulgente com “cineastas autores” naquela época – deu-lhe dinheiro suficiente para fazer seu próximo filme no México com uma equipe totalmente mexicana, exceto um ou outro membro… E aí chegamos em TRAGAM-ME A CABEÇA DE ALFREDO GARCIA, um western moderno visto como uma das declarações mais pessoais – e radicais – de Peckinpah, embora o produto final peculiar tivesse deixado o público frio e os críticos da época um bocado perdidos.

Independente disso, aqui está uma obra AUTORAL, que de acordo com Peckinpah, foi o único filme que realizou que saiu do jeito que ele queria, sem interferência de influências externas e de produtores. O mais próximo de um “Peckinpah puro”.

Peckinpah coloca seus óculos entre os seios de Isela Vega nas filmagens de TRAGAM-ME A CABEÇA DE ALFREDO GARCIA

Na verdade, “sem influências externas” entre aspas, porque muita “influência” foi ingerida pra dentro de Peckinpah e durante as filmagens não era muito difícil ver o diretor dando umas surtadas ou caindo de bêbado, sempre entupido de álcool ou drogas, tornando o resultado deste filme um raro exemplarar daquela coisa fugaz e maravilhosa que é uma obra de arte verdadeiramente psicótica. O filme marcou o fim de uma espécie de período áureo da carreira de Peckinpah, antes que seus demônios o dominassem de vez e o controle criativo fosse novamente podado – ainda que grandes filmes tenham vindo depois na sua filmografia.

A trama de TRAGAM-ME A CABEÇA DE ALFREDO GARCIA começa quando El Jefe (Emilio Fernandez), um poderoso fazendeiro mexicano, descobre a identidade do homem que engravidou sua filha e emite uma ordem para que a cabeça do sujeito seja entregue a ele a um alto preço. O alvo é Alfredo Garcia. Dos envolvidos na busca, seguimos um casal de assassinos gays americanos (Robert Webber e Gig Young) que começa a revirar o submundo da Cidade do México, mostrando a foto de Alfredo. Eventualmente, entram em um bar onde encontram um “pianista” americano chamado Bennie (Warren Oates), que acredita poder ser capaz de ajudá-los. Bennie, na verdade, conhece bem Alfredo, sabe que ele tem um caso com sua “namorada”, a prostituta Elita (Isela Vega), e sabe que pode ganhar uma boa grana entregando o sujeito aos americanos. O problema é que ao conversar com Elita, Bennie descobre que Alfredo já está morto.

Com a intenção de encontrar o corpo, Bennie faz um trato com os assassinos de que entregará a cabeça de Alfredo Garcia por uma boa grana. E parte então em uma viagem com Elita, uma jornada pelo México em busca do local onde homem está enterrado, o que obviamente não vai terminar como planejado. Com todas as esperanças destruídas, Benny, sozinho, acaba carregando a cabeça podre de Alfredo Garcia em um saco pelo deserto enquanto assassinos o perseguem. A reação de El Jefe à entrega da cabeça deve ter sido exatamente a mesma dos produtores quando Peckinpah entregou o filme. O mal-estar existencial dos anos 70 no seu melhor.

O absurdo da odisséia de Benny e Elita é exacerbada por contrastes. Momentos de pura delicadeza se transformam em rompantes de violência em questão de segundos. Logo no início da viagem, por exemplo, há uma longa sequência bucólica onde os amantes se enlaçam debaixo de uma árvore que termina por Benny propondo Elita em casamento. Mais tarde, eles topam fazer um piquenique à beira da estrada. Toda esta seção do filme, que concentra na relação danificada entre os pombinhos, acaba culminando na sequência dos dois motoqueiros (incluindo Kris Kristofferson) aparecendo no local para ameaçá-los. O que dá a Peckinpah a oportunidade de um desses momentos complexos que pontuam sua carreira, deixam as pessoas com a pulga atrás da orelha, bradado de misógino. Evidente que estamos falando da cena do quase “estupro consentido”, que reserva à Elita um papel pelo menos tão ambíguo quanto o da esposa de Dustin Hoffman, vivida por Susan George, em SOB O DOMÍNIO DO MEDO. E é provável que Isela Vega tenha o desempenho feminino mais forte já visto num filme de Peckinpah.

O ritmo do filme vai ganhando em intensidade – e ficando mais subversivo e amoral – à medida em que se aproxima do momento no qual Bennie precisa desenterrar aquela cabeça. Ao longo do caminho, os corpos vão se acumulando. Se estamos acostumados no cinema a ver pessoas atirando uns nos outros para salvar uma cabeça, em ALFREDO GARCIA os indivíduos fazem isso para obter uma cabeça já cortada… Depois, a força do filme passa a ser conseguir fazer essa cabeça cortada e carregada dentro de uma sacola de lona coberta de moscas um personagem por si só. Sobretudo nas sequências em que Warren Oates está ao volante de seu velho carro amassado, travando discursos e praguejos em direção à cabeça, a quem apelida carinhosamente de “Al”. Há aqui um certo humor diante da bizarrice que é a situação, mas que não consegue perdurar. É tudo muito sombrio e trágico para se achar engraçado.

E obviamente é preciso destacar aqui o desempenho de Warren Oates, que está monumental, provavelmente o maior papel que o sujeito já teve na vida. E estamos falando de um dos gigantes do cinema americano dos anos 70. Aqui ele possui uma presença absurda em cena, todo ensebado, esfarrapado, usando os óculos escuros enormes do próprio Peckinpah, e que quase nunca os remove da cara. Há uma sequência que seu personagem acorda no seu cafofo e começa a jogar tequila vagabunda nas partes íntimas, depois de passar a noite com Elita, tentando desesperadamente acabar com os carrapatos que o estão matando de coceira. É o tipo de herói que Peckinpah tinha para oferecer no momento…  

Lá pelas tantas, o objetivo principal de Benny na trama se torna inútil, pra não dizer niilista, com sua obsessão indo muito além do dinheiro que ele tanto almejava. Agora, o que ele quer é encontrar resposta, sentido, algo que justifique toda a loucura. “Eu nunca estive em nenhum lugar que gostaria de voltar”, diz ele em num certo momento; e o filme parece ser um bocado sobre isso, sobre este indivíduo arriscando tudo para não prosseguir neste mundo, apesar de acabar sempre atraído de volta pra toda a loucura que está acontecendo, atraído como as moscas que circulam em torno da cabeça de Alfredo Garcia, a tal ponto que o fedor da morte, da desgraça, parece que nunca sairá totalmente. Até o espectador se sente impregnado…

Mas indo contra o que Benny disse, a sequência final de TRAGAM-ME A CABEÇA DE ALFREDO GARCIA nos leva de volta ao ponto de partida, no rancho de El Jefe. Bennie ainda não esteve lá, mas nós já estivemos e esse retorno nos leva às raízes da loucura, um lugar de onde não há saída e tudo o que resta a ser feito é continuar avançando, mesmo à base de balas, enquanto ainda é possível, sabendo como isso vai acabar. Os últimos cinco minutos do filme são tão verdadeiros consigo mesmos quanto em qualquer filme já feito.

Por mais massacrado que tenha sido pela crítica na época, o filme teve seus defensores – Roger Ebert, por exemplo, deu-lhe quatro estrelas e chamou-o de “obra-prima bizarra”. E como o culto a Peckinpah cresceu ao longo das décadas e hoje permanece vivo no coração de qualquer cinéfilo que queira manter o respeito, a reputação de TRAGAM-ME A CABEÇA DE ALFREDO GARCIA cresceu à medida em que fica claro o retrato feio, imundo e decadente do universo que é apresentado aqui juntamente com a beleza e poesia que pode ser encontrada nessa feiura. E eu não poderia deixar de finalizar citando Carlão Reichenbach sobre Peckinpah e o filme em questão, o qual considerava uma obra-prima às avessas: “Sua obra quase teratológica parecia purgar a raiva atávica, revelando um mundo sórdido onde só cascavéis e escorpiões pareciam ter alma.

RACE WITH THE DEVIL (1975)

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Os prazeres da descoberta cinéfila são sempre renovadores, especialmente quando se trata de bons exemplares do exploitation americano setentista que hoje quase todo mundo não dá a mínima, como é o caso de RACE WITH THE DEVIL, de Jack Starrett. Um híbrido de ação com horror que é um filmaço. Na verdade, a “descoberta” deste filme específico vai ser de quem ainda não conferiu, porque eu pessoalmente já tive esse prazer há alguns bons anos, mas desde então me pego revendo essa pérola. Então para começar bem o fim de semana, a dica é RACE WITH THE DEVIL, que saiu aqui no Brasil como CORRIDA COM O DIABO.

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Na trama, os bons amigos Roger (Peter Fonda) e Frank (Warren Oates) planejam as melhores férias de suas vidas. Acompanhados pelas suas respectivas mulheres, Kelly (Lara Parker do seriado DARK SHADOWS) e Alice (Loretta Swit, “Hot Lips” do seriado MASH), os dois casais enchem o luxuoso trailer de Frank de cerveja e outros mantimentos e caem na estrada para uma viagem até o Colorado. Num trecho rural do Texas, eles acham um ponto para estacionar e descansar durante a noite. Sob a lua cheia os dois amigos vão à beira de um riacho, jogam conversa fora enquanto enchem o bucho de álcool, quando veem uma enorme fogueira sendo acesa do outro lado do rio.

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Observando a cena de forma, digamos, clandestina, Frank e Roger a princípio pensam que estão testemunhando uma boa e velha putaria de hippies libertinos; várias mulheres peladonas brincando em volta do fogo fazem com que os dois disputem jovialmente os binóculos. Só que a diversão se transforma em horror quando uma moça é esfaqueada por uma figura com uma máscara bizarra em algum tipo de sacrifício humano ritualístico. Os dois sujeitos borram nas calças, metaforicamente falando, e decidem tirar o trailer de lá antes que sejam vistos. Mas é tarde demais – um bando de adoradores do Diabo já está se espalhando pelo rio, correndo direto na direção da dupla.

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Depois da fuga, os casais vão até a delegacia de polícia mais próxima para relatar o que aconteceu. O amável Sheriff Taylor (veterano ator R.G. Armstrong) investiga devidamente o local, mas Frank começa a suspeitar de algo. A força policial local parece tranquila demais, até irreverente eu diria, sobre um possível assassinato de uma jovem numa floresta no meio da noite. O xerife sugere que hippies “fumaram umas cocaina”, estavam de brincadeira e que os dois amigos deve ter se confundido com alguma encenação… Mas aos poucos, vários sinais misteriosos vão sendo deixados aos casais protagonistas, que parecem indicar exatamente o contrário do que a polícia pensa. Não exatamente certo em que acreditar, o quarteto continua suas férias, deixando para trás a horrível experiência daquela noite. Mas parece que nem todo mundo quer “virar essa página”…

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RACE WITH THE DEVIL é uma miscelânea de temas e gêneros muito bem combinados. Temos uma pitada de horror rural do início dos anos 70, como DELIVERANCE, do John Boorman, ingredientes do horror satanista e um bocado de thriller/ação para dar um tempero mais excitante. Na verdade, é curioso pensar que toda a ideia do culto satânico poderia ser facilmente substituído por algum outro tipo de atividade nefasta – contrabando de drogas, escravidão humana, enfim, qualquer coisa – e pouco da trama precisaria ser alterado. Mas o toque de horror dessa mistura de gêneros vem com um gostinho especial, são vários momentos em que as convenções do terror deixam as coisas mais tensas de acompanhar…

A cena do ritual, por exemplo, é bem macabra e os figurantes eram compostos por membros reais de seitas, conforme afirma o diretor Jack Starrett em entrevistas. Se é verdade, eu não sei, só garanto que a coisa toda é uma experiência angustiante. Até porque, em vez de pegar em cheio na jugular, RACE WITH THE DEVIL toma o seu tempo em estabelecer o cenário, em construir os personagens e em aumentar gradualmente o suspense e a tensão.

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A ação mais direta, mais  deflagradora mesmo, não entra em cena até os 15 minutos finais, em uma sequência de perseguição de tirar o fôlego, colocando o trailer dos protagonistas contra um bando de carros e caminhões dirigidos pelos membros da seita. Numa época em que nem se sonhavam nas possibilidades dos efeitos especiais de CGI, é revigorante ver os dublês se arriscando perigosamente ou pirotecnias geradas com explosivos reais em vez de pixels movidos à photoshop. Os carros trombando em alta velocidade no clímax é de encher os olhos e lembram muito o que George Miller faria no seu maravilhoso MAD MAX II, oito anos depois. Não ficaria surpreso se houvesse algum tipo de influência deste aqui sobre a obra do australiano.

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RACE WITH THE DEVIL era inicialmente para ser dirigido por Lee Frost, especialista em filmes baratos daquele período, mas acabou substituído pelo Starrett, que era outra figura que contribuiu bastante com o cinema exploitation. Frost chegou a receber crédito como roteirista, ao lado de Wes Bishop, mas todas as cenas que rodou foram refilmadas por Starrett. O sujeito tinha um estilo eficiente e direto de filmar, sem muita frescura, não se vê virtuosismo e beleza estética nos filmes do Starrett, embora ele consiga extrair sempre algo interessante do seu material. E RACE WITH THE DEVIL é um de seus momentos mais inspirados, sem duvida.

Para quem não sabe, o Starrett também era ator, participou de muita produção de baixo orçamento, mas é mais conhecido por ter vivido o policial sádico que acerta umas pancadas em John Rambo em RAMBO – PROGRAMADO PARA MATAR. O mesmo que cai do helicóptero, que balança quando Rambo acerta uma pedrada… Enfim, só uma curiosidade.

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Por último, vale destacar a presença de dois dos mais significativos nomes do cinema setentista encabeçando o elenco, Fonda e Oates, que estão excelentes como os amigos tranquilos, bem de vida, que só querem um pouco de paz e diversão em família e acabam metidos numa confusão macabra em que precisam chegar aos extremos, pegar em armas e atirar para matar. Já o lado feminino infelizmente acaba não tendo muito destaque, o que é estranho considerando que o movimento feminista estava em plena atividade na metade dos anos setenta; as esposas de Roger e Frank não passam de mulherzinhas completamente indefesas que se põem a gritar e a chorar a qualquer circunstância misteriosa.

Tirando isso, filmaço! RACE OF THE DEVIL Foi lançado em DVD por aqui, mas se não encontrar, procure nos torrents, foda-se, encontre alguma maneira de conhecer este clássico do cinema grindhouse.

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DEMENTIA 13 no feriadão: MISTURA DE GÊNEROS

JONES, O FAIXA PRETA (Black Belt Jones, 1974):

Jim Kelly é o cara! No clássico OPERAÇÃO DRAGÃO, estrelado por Bruce Lee, era apenas um rosto desconhecido que conquistou a atenção do público com carisma, ótimos movimentos em cenas de lutas e um black power super cool. O diretor Robert Clouse percebeu algo no rapaz e em JONES, O FAIXA PRETA, seu trabalho seguinte, o escalou como protagonista, expandindo ainda mais o potencial do ator, que se tornou um ícone do ciclo blaxploitation!

A trama de JONES, O FAIXA PRETA não é lá grandes coisas, mas é lógico que isso não conta. O que vale é a quantidade de sequências em que Jim Kelly arrebenta a fuça de vários bandidos – bem ao estilo Bruce Lee, com direito a gritinhos e tudo mais – e os pequenos detalhes e personagens que tornam o filme imperdível. Vale lembrar que o diretor possui experiência com filmes de artes marciais, então os fãs não tem do que reclamar. Já nos créditos iniciais somos brindados com uma pequena obra-prima dos filmes B: Kelly lutando contra vários meliantes enquanto as imagens congelam para o texto dos créditos surgirem na tela. A cena onde Gloria Hendry desabotoa a saia de forma sexy para logo depois botar vários marmanjos a nocaute também é um achado. E no final temos ainda a clássica luta no sabão!

Hoje, a figura de Jim Kelly é kirtsh e vista de maneira gozada. Mas uma olhada em JONES, O FAIXA PRETA percebe-se um bom filme, híbrido de blaxploitation e artes marciais, com alguns momentos impagáveis e uma trilha sonora bacana que ajuda na climatização do estilo. Não chega ao nível de um SHAFT, SWEETBACK, COFFY, mas é diversão certeira para o público iniciado nos gêneros marginais dos anos 70.


CORRIDA COM O DIABO (Race With The Devil, 1974):

É outro filmaço que faz uma deliciosa bagunça de gêneros. Mas o enredo é bem simples, sobre dois casais que partem juntos num grande trailer para suas merecidas férias. Certa noite, eles testemunham um ritual satânico com sacrifício humano. Após serem descobertos, passam o filme inteiro pelas estradas tentando sobreviver aos ataques dos insanos integrantes do grupo, bem como a paranoia que toma conta de suas mentes.

Essa mistura de horror com ação era para ser dirigida por Lee Frost, especialista em filmes baratos daquele período, mas acabou substituído por Jack Starrett, outra figura que contribuiu bastante com o cinema de baixo orçamento. Frost chegou a receber crédito como roteirista, ao lado de Wes Bishop, mas todas as cenas que rodou foram refilmadas por Starrett.

As sequências de ação, com os carros trombando em alta velocidade são perfeitas e lembram muito o que George Miller faria no seu maravilhoso MAD MAX II, oito anos depois. Não ficaria surpreso se houvesse algum tipo de influência deste aqui sobre a obra do australiano. Mas a atenção do espectador também é voltada completamente aos momentos macabros da narrativa, como a cena do ritual, cujos figurantes eram compostos por membros reais de seitas, conforme afirma o diretor em entrevistas. Se é verdade, eu não sei, só garanto que o filme é uma experiência angustiante e muito divertida.

Embora seja um autêntico B movie, CORRIDA COM O DIABO se beneficia muito também por ter dois dos mais representativos atores daquela geração, Warren Oates e Peter Fonda, em excelentes atuações.