
Os filmes do italiano Tinto Brass sempre me fascinam, e não é só pelas beldades em trajes mínimos que o diretor arruma para embelezar suas produções (claro que isso ajuda muito), mas realmente acho o sujeito um diretor talentosíssimo, esteticamente ousado. E O VOYEUR é um dos seus melhores trabalhos nesse sentido, um dos mais surpreendentes exercícios visuais do diretor que evoca, com sua câmera, uma forma de fazer o publico extrair o voyeur que existe em cada um de nós (que filosófico… ou seria perversão mesmo?).
E para isso, o filme não se resume em constantes closes das periquitas, peitinhos, bundas, mulheres nuas o tempo todo, embora aconteça isso durante toda projeção. E o que é bom fica melhor ainda, pois há sempre um olhar poético por parte de Brass no seu estudo erótico, e o enredo é interessante o suficiente para justificar as cenas de putaria, mesmo que isso não importe tanto, já que a grande maioria vai assistir a um filme do Brass só pra ver a abundancia de beldades nuas. Cambada de devassos!


Na verdade, a trama não possui nada de mais e é bem simples. A complexidade concentra-se na psicologia dos personagens. Até porque devassidão, fetiches e questões do desejo humano são comportamentos e elementos que podem naturalmente ser relacionados à um estudo da psicologia. Portanto, temos aqui um professor que vive com o pai inválido – este sob os cuidados de uma empregadinha danada de safada – com uma tremenda dor de cotovelo passando por uma crise existencial e tenta reatar o romance com sua ex-mulher exibicionista, numa jornada de descobrimentos. É o cuidado com os pequenos detalhes dessa trama, com os personagens, que dão uma certa substância e fazem O VOYEUR valer a pena.
Algumas sequências são dignas de antologia: a cena em que a mulher do cara (Katarina Vasilissa, que é lindíssima!) abre as pernas num restaurante, de um jeito que faria Sharon Stone de INSTINTO SELVAGEM parecer uma freira. Toda a sequência envolvendo uma aluna africana do protagonista que teve o clitóris retirado quando criança. Ainda há uma parte na praia, que é bem característico de Brass, e todos os momentos com a empregadinha safada.


Francesco Casale, que interpreta o personagem central, transmite ao seu personagem toda a carga dramática do filme numa atuação digna de nota. A fotografia de Massimo Di Venanzo e a trilha de Riz Ortolani também são ótimas, e a direção do Brass é magistral com todos aqueles seus enquadramentos habituais, a montagem frenética e as particularidades de sempre, como o mesmo quarto cheio de espelhos utilizado em vários de seus outros filmes. Mas pensando bem, analisar um filme como este é meio que uma perda de tempo. Aposto que as imagens do post vão chamar muito mais a atenção.

Mas se alguém por aí conseguir ver O VOYEUR com um olhar reflexivo, vai se surpreender com uma das grandes criações de Tinto Brass como cineasta criativo e talentoso que é. Se for buscando apenas uma boa quantidade de mulheres nuas, está no lugar certo também.