SINGAPORE SLING (1990)

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Alguém aí conhece esta belezura vindo da Grécia? Eu não fazia ideia da existência de SINGAPORE SLING até ontem a noite quando me deparei por acaso. Trata-se de uma das experiências mais bizarras e perturbadoras que eu já tive com cinema, uma coisa linda, encontro de cinema noir dos anos 40 com David Lynch, surrealismo, filmado em preto e branco, alto grau de erotismo e imagens extremas de revirar o estômago.

Na trama, um detetive procura Laura, que está desaparecida, mas acaba sequestrado por duas mulheres em uma mansão – uma delas é sósia da tal Laura (ou será que ela é mesmo a desaparecida?) – que adoram explorar os limites do prazer, seja cometendo assassinatos, comendo carne humana como se fosse um manjar da alta classe e praticando o coito em suas mais variadas formas, utilizando dos mais variados estímulos, como tortura, choques elétricos, vômito e urina enquanto praticam o ato sexual.

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Tudo isso é lançado na tela de forma quase explícita pelas cameras do diretor Nikos Nikolaidis, que também é o autor do roteiro e que morreu em 2007. Gostei bastante da direção, muito seguro no que faz aqui, uma bela obra de arte. Sabe brincar com sua narrativa nada convencional e utiliza de elementos, enquadramentos, narração em off retiradas dos filmes noir, que parece ser a principal fonte de inspiração. Alguns detalhes são bem evidentes: Laura, por exemplo é o título de um belo noir de Otto Preminger e uma das personagens usa o mesmo vestuário de Glória Swanson em CREPÚSCULO DOS DEUSES.

SINGAPORE SLING é bem aberto e confuso na medida exata de um bom surrealismo e deixa várias imagens poderosas de impacto para serem sentidas, vislumbradas pelos espectadores que sabem desfrutar uma bizarrice extrema. Vale destacar também os três atores, os únicos que aparecem em cena, três insanos em um notável desempenho. Corro o risco de ser o último a tomar conhecimento desta obra, mas confesso que nunca tinha ouvido falar. De qualquer forma, vale a pena deixar essa dica para quem ainda não viu. A pergunta do início do texto ainda vale…

GOTHIC (1986), Ken Russel

Difícil escrever sobre esse filme, principalmente para uma anta como eu que só consegue captar a superficialidade das coisas. Mas GOTHIC, até mesmo em sua superfície, causa bastante impacto com seu visual carregado em simbolismos e elementos metafóricos, atmosfera de pesadelo e excelente direção do Ken Russel, que é um sujeito que eu tenho muito ainda a descobrir.
A trama pode ser resumida como um exercício de terror surrealista ao estilo de Buñuel e Jodorowsky, especialmente nos últimos 20 minutos, ou trata-se, na verdade, sobre cinco pessoas que passam por maus bocados numa mansão isolada em uma ilha, tomando as drogas da época e tendo os mais diversos delírios causados pelos entorpecentes, tudo impresso sob o olhar apurado do diretor, evocando, sobretudo, elementos religiosos, algo que se não estou enganado, tem grande peso no repertório de temas de Russel.

A imagem que ilustra o post, da cena em que o famoso quadro de Fussli é recriada, é só pra dar um gostinho para quem ainda não viu. É um dos momentos mais perturbadores e geniais de GOTHIC, que ainda possui muitas outras sequências interessantes, lindamente compostas e com bastante clima.

Outra coisa que me chama atenção é o contexto da trama. Temos alguns personagens ilustres por aqui, como o poeta melancólico Lord Byron, o anfitrião da mansão, interpretado por Gabriel Byrne, e seus convidados, dos quais está o casal Shelley, cuja parte feminina, Mary (Natasha Richardson) viria a escrever seu famoso romance, Frankenstein. Seu marido é encarnado pelo canastrão Julian Sands e Timothy Spall, ainda novo, faz o papel do médico do poeta. Belo filme.