CINE POEIRA S02E01: MATADOR DE ALGUEL (1989)

Estamos oficialmente de volta para a segunda temporada lá no CINE POEIRA! Depois de uma breve pausa, eu, Luiz Campos e o Osvaldo Neto retornamos às atividades para alegrar o coração do fiel ouvinte e amantes de cinema de gênero, de cinema badass, de chute na cara, tiro, porrada e bomba e uns filmes de horror e sci-fi de vez em quando.

E pra coroar este retorno, conversamos sobre um clássico definitivo entre os formadores de caráter: MATADOR DE ALUGUEL, vulgo ROAD HOUSE (1989), dirigido por Rowdy Herrington, um filme que nos ensina a viver. Pancadaria em bares, música boa, camaradagem, a dor não machuca, e o leão-de-chácara PHD em Filosofia mais badass da história do cinema, imortalizado por Patrick Swayze. Ainda no elenco, Kelly Lynch, Sam Elliot, Ben Gazzara e muito outros.

Escute agora mesmo este primeiro episódio da segunda temporada do CINE POEIRA aqui mesmo no blog:

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TOMBSTONE (1993)

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Mais um daqueles filmes que faziam minha cabeça na pré-adolescência, no início anos 90, que devo ter visto na época umas duzentas vezes e que já fazia uns bons quinze anos que eu não revisitava e nem lembrava se era mesmo tão bom… Mas TOMBSTONE valeu muito a revisão que fiz esta semana. Baita western noventista com um dos elencos mais espetaculares que eu já vi! Curioso que já naquela época Hollywood lançava uns filmes em dose dupla sobre temas semelhantes quase ao mesmo tempo… E não tô falando de rip-offs picaretas e independentes, mas de super produções de grandes estúdios. Se hoje em dia temos um WHITE HOUSE DOWN e OLYMPUS HAS FALLEN lançados no mesmo ano, nos anos 90 tivemos ARMAGGEDON sendo lançado com IMPACTO PROFUNDO, ou VOLCANO e O INFERNO DE DANTE e até mesmo MARTE ATACA com INDEPENDENCE DAY… TOMBSTONE também não saiu ileso e quase teve que disputar bilheterias com WYATT EARP, lançado poucos meses depois.

Ambos os filmes tem como protagonista o lendário xerife Wyatt Earp, aqui interpretado por outra lenda, o grande Kurt Russell. Já WYATT EARP, dirigido pelo Lawrence Kasdan, tem Kevin Costner no papel do xerife e possui uma abordagem mais biográfica e historicamente enraizada, o que não quer dizer que não seja bom… Gosto dos dois, mas TOMBSTONE  é outra pegada, mais divertida, estilizada e com muito mais ação e um elenco de fazer cair o queixo. Numa comparação, digamos, esdrúxula, WYATT EARP seria um filme do John Ford, com um certo rigor e suntuosidade, enquanto TOMBSTONE é um equivalente aos descompromissados faroestes de matinée dos anos 40.

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O curioso é que o roteirista Kevin Jarre, que iniciou as filmagens também como diretor de TOMBSTONE, tinha planos bem mais ambiciosos para o filme. A sua ideia era fazer um estudo de personagem mais aprofundado, mas acabou despedido, seja lá por qual motivo, com um mês de trabalho e o filme tomou outros rumos. TOMBSTONE retrata o período em que Earp, seus irmãos (Bill Paxton e Sam Elliott) e suas mulheres se mudam para a cidade de Tombstone, no Arizona, para fazer uma nova vida e que não envolve o trabalho de xerife. O problema é que a cidade é encrenca e não demora muito Earp, seus irmãos e Doc Holliday (o grande e único Val Kilmer) marcham em slow motion rumo ao O.K. Corral para o provável mais famoso tiroteio da história americana… O filme ainda prossegue com a repercussão e as consequências explosivas desse fato, que trouxe algumas desgraças para Earp, mas também algum senso de ordem e justiça… Ou vingança… A eterna linha fina que separa as duas coisas.

O filme já seria totalmente assistível só pelos temas e a violência que surge a partir daí, mas temos ainda um elenco que é simplesmente de encher os olhos. Além de Russell, Paxton, Elliott e Kilmer, temos Powers Boothe, Michael Biehn, Charlton Heston, Stephen Lang, Thomas Haden Church, Billy Bob Thornton, Michael Rooker, Billy Zane e Frank Stallone! Além disso, Robert Mitchum é o narrador. Como não amar um filme desses?

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Mas o que torna TOMBSTONE realmente transcendental é a interação de Earp com o tuberculoso Doc Holliday. Qualquer momento em que esses dois cavalheiros dividem a tela é simplesmente sublime e engrandece a obra absurdamente. É quando se percebe o quão fascinantes e fortes são esses personagens… Tão opostos, ambos gigantes.

É facilmente o melhor desempenho da carreira de Kilmer e na minha opinião o melhor Doc Holliday do cinema, que me perdoem Victor Mature e Stacy Keach. Alguns dos melhores momentos de TOMBSTONE é marcado pela presença de Kilmer, seja abrindo a boca pra soltar alguma frase genial de efeito, seja em sequências como quando encara Michael Biehn pela primeira vez e demonstra sua agilidade com uma caneca de café, ou no duelo final entre eles. Mas especialmente nos seus últimos diálogos com Earp, que é capaz de fazer até o coração mais duro ficar amolecido… Mas é só inventar a velha desculpa do cisco no olho que ninguém vai se importar.

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Já Russell com seu Wyatt Earp não consegue chegar no mesmo nível de Kilmer, que está mesmo perfeito. Mas o sujeito também possui aqui alguns bons momentos e o bigode mais badass dos anos 90. Grande atuação do homem. É um casca-grossa total! Principalmente quando entra em ação e distribui tiros nas mais variadas formas, nos mais variados bandidos que entram em seu caminho.

Por falar em ação, eu poderia elogiar o trabalho do diretor George P. Cosmatos em algumas sequências, mas corro o risco de cometer injustiça. O Tiroteio no O.K. Corral ou o duelo entre Doc Holliday e Johnny Ringo (Biehn) são dignos de antologia do cinema de faroeste dos últimos trinta anos, mas quem realmente as dirigiu? Cosmatos é um diretor legal, fez RAMBO 2, COBRA, LEVIATHAN e ganhou os créditos por TOMBSTONE, mas em duas entrevistas não tão antigas, Kurt Russell afirma que assumiu a direção logo depois que Jarre foi demitido. Na verdade, em uma das ocasiões, Russell diz que dirigiu a grande maioria do filme e que o nome de Cosmatos nos créditos era apenas de fachada para fazer a produção correr bem… Enfim, puta trabalho do Russell como diretor, se for mesmo verdade…

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Eu havia citado Ford ali em cima. Sua versão de Wyatt Earp, com Henry Fonda vivendo o personagem, MY DARLING CLEMENTINE, é um belíssimo filme… O do Kasdan, como já disse, é outra adaptação que gosto bastante. Aliás, a história do famigerado xerife já foi para as telas diversas vezes. Até o Doc Holliday já ganhou filmes solos… No entanto, não tem jeito, tenho um carinho tão especial por TOMBSTONE que na minha opinião é o melhor exemplar tendo o velho Wyatt Earp como destaque… Pelo elenco magistral, especialmente a presença de Kilmer e Russell, pelas as cenas de ação incríveis, os diálogos afiados e o fator nostálgico, com os vários momentos marcantes que carrego desde a infância.

MATADOR DE ALUGUEL (Road House, 1989)

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Em homenagem ao Ben Gazzara, que partiu dessa para “melhor” há alguns dias, resolvi escolher um título especial no qual os leitores mais assíduos do blog e fãs de filmes de ação iriam curtir à beça, porque ROAD HOUSE (vamos esquecer o título nacional) é um dos exemplares mais interessantes do “cinema de macho” americano dos anos 80. Mais cedo ou mais tarde eu teria que escrever algumas linhas sobre essa obra-prima, mesmo que Gazzara, o vilão do filme, não tivesse falecido recentemente.

Dirigido pelo pouco conhecido Howdy Herrington, ROAD HOUSE é a síntese de todo um gênero em sua fase áurea, com cada elemento disposto de maneira bem definida. Em se tratando de cinema físico americano exacerbado dos anos 80, ROAD HOUSE possui méritos suficientes para se manter no mesmo nível de alguns exemplares sempre lembrados como paroxismos do gênero: DESEJO DE MATAR III, COMANDO PARA MATAR, INVASÃO USA, e alguns outros…

Mas para quem tem Charles Bronsom, Chuck Norris, Schwarzenegger, Stallone, fica obviamente mais fácil deixar a marca desejada. Essas figuras exalam truculência em qualquer produção que estivessem envolvidos naquela época. À princípio, para quem ainda não teve o prazer de ver ROAD HOUSE, aceitar Patrick Swayze como herói de ação é mais complicado. O cara era conhecido como o dançarino de DIRTY DANCING, depois ficou eternamente ligado ao fastasminha apaixonado de GHOST, e nunca lembrado como herói de ação.

Minha relação com ROAD HOUSE é estranha por causa disso. Assisti quando era pequeno, na TV, e depois de um tempo esqueci da sua existência. Quando me lembrei do filme, já na adolescência, tive preconceito porque não comprava a idéia de que Swayze realmente quebrava o pau em cima dos arruaceiros… Resumindo, acabei revendo CAÇADORES DE EMOÇÃO dezenas de vezes até me convencer a dar uma nova chance a ROAD HOUSE.

Isso só aconteceu de fato há poucos anos, mas fez um belo estrago na minha cabeça e de lá pra cá, devo ter revisto pelo menos umas cinco vezes. Só não consigo entender as razões do filme não me marcar na época que vi, como os filmes do Van Damme, Stallone e Seagal faziam… porque depois que se assiste a ROAD HOUSE você tem plena confiança de que Patrick Swayse é um durão de primeira linha. Um autêntico herói de faroeste ou um samurai com um tremendo senso de justiça que nasceu na época errada, quando esse tipo de sujeito perdera seu espaço para uma sociedade submissa e passiva como a que temos hoje. Swayze vai ser sempre assimilado a Dalton, seu personagem aqui, o leão-de-chácara mais casca grossa da história do cinema!

Ok, era pra ser uma homenagem ao Gazzara, mas acalmem-se. O Swayze também morreu e eu não fiz uma homenagem dessa pra ele. Então, antes tarde do que nunca… e se existe um motivo para ROAD HOUSE ser extraordinário, é por causa de Swayze e a maneira como o roteiro, escrito por David Lee Henry, desenvolve seu personagem e sua visão de mundo. Um misto de John Wayne com Bruce Lee, o sujeito tem sua carga de mistérios que vai se revelando aos poucos. É educado, formado em filosofia, praticante de Tai Chi, destemido, valente e puta merda, sabe socar os adversários quando é preciso. Possui um lado casca grossa em contraste com outro lado sensível, o paradgma exato do badass perfeito.

O filme também dá boas dicas para quem quiser seguir a profissão de Leão-de-chácara. Basta observar os mínimos detalhes da “cartilha” que Dalton segue à risca tanto no cotidiano quanto na hora de executar o trabalho prático. Por exemplo, o que fazer com seu carro quando vários baderneiros foram jogados pra fora do bar aos socos e chutes por você e não lhe restam outra opção que não seja furar o pneu ou quebrar os vidros do seu veículo como vingança? Não se preocupem, pois o filme ensina como se precaver. Prestem bastante atenção também à cena na qual Dalton explica as regras de como agir quando o bar “pega fogo”… “Be nice”. E ande sempre com sua ficha médica na mochila. “Economiza tempo”, como diria  Dalton. E você já está pronto para seguir carreira.

Um elemento que nunca envelhece em filmes como este, são as adoráveis brigas de bar. Como isso é habitual na profissão do nosso herói, não poderia faltar algumas por aqui. Quem não gosta de uma confusão comendo solta, garrafas voando, mesas quebrando e vidros estilhaçando em um local como esse? Steven Seagal que o diga! A trama, para quem não conhece, é a seguinte: Dalton é um lendário segurança profissional de bares, casas de show, boates, etc, contratado para transformar o Double Deuce num lugar frequentável e de respeito. A situação no local é desprezível, toda noite se transforma num verdadeiro caos. Algumas atitudes do protagonista para botar tudo em ordem acabam batendo de frente com o chefão da cidade, Brad Wesley – Ben Gazzara. Da mesma maneira que uma típica premissa de western.

Durante o percurso, Dalton ainda tem tempo para o amor e se apaixona por uma médica, interpretada pela Kelly Lynch, por quem Wesley também sofre de amores. Isso me faz lembrar de mais um elemento essencial que torna ROAD HOUSE tão especial… temos um protagonista fodão, pancadaria à rodo e… ah, sim! Peitos! Apesar de magrela, Lynch faz o favor de ficar bem à vontade em frente às câmeras em uma cena, mas podemos contar com diversos peitos aleatórios que vão surgindo de vez em quando. Minha cena preferida: o strip-tease de Julie Michaels.

Outro elemento básico para o sucesso de um bom filme truculento dos anos 80 são as frases de efeitos. E nota-se logo de cara que o departamento de diálogos não estava de brincadeira. Em uma cena, a médica questiona Dalton a razão dele não querer anestesia antes de lhe costurar um corte provocado por uma lâmina. “A dor não machuca”, ele responde. Caramba! É o tipo de frase que você pode carregar para sempre na sua vida, soltar no momento certo entre os amigos e estes vão pensar “putz, esse cara é cool”… ou vão apenas lembrar que você é um nerd que fica encaixando citações de filmes em situações forçadas.

O elenco de ROAD HOUSE também não é de se jogar fora. Além de Swayze, Lynch e Gazzara, temos Sam Elliott desempenhando um veterano leão-de-chácara, parceiro de Dalton de longa data, que chega em determinado momento para lhe dar uma ajuda. Elliott é desses atores subestimados cujo carisma faz com que toda a atenção seja voltada para ele, roubando cada minuto que aparece. O diretor aproveita muito dessa vantagem e o filme ganha uma força a mais com sua presença. Marshall R. Teague, muito antes de estrelar filmes do Isaac Florentine, faz o capanga de Wesley que também tem conhecimento de artes marciais, um páreo duro para Dalton. E Keith David faz uma ponta simpática.

Ben Gazzara já estava rodado, com 59 anos quando trabalhou em ROAD HOUSE. É óbvio que não teria a mínima chance num corpo a corpo com o jovem e atlético herói, mas idade não significa muito para quem tem os meios necessários para foder com a vida de quem quiser. Sua composição vilãnesca é brilhante, tem estilo e Gazzara parece se divertir bancando o bandido rico e excêntrico que desperta o temor dos pobres cidadãos.

É um personagem complexo, na verdade, e Gazzara consegue transmitir no olhar o prazer de ser mau sem apresentar motivos para ser. Na verdade, o sujeito vive numa bosta de cidadezinha que não tem porra nenhuma para fazer (a não ser ir ao Double Deuce), embora tenha tudo o que o dinheiro pode comprar, menos a doutora Kelly Lynch. É, acho que temos motivos suficientes para o cara ter tanta maldade no coração. A situação beira o surreal quando Wesley ordena que um de seus capangas entre com seu monster truck dentro da concessionária de automóveis porque o dono atrasou o pagamento das tarifas impostas pelo facínora.

E é curioso ver um grande ator do porte de Gazzara entrando na brincadeira das frases de efeitos. Na sequência final, por exemplo, quando Dalton se esconde na sala de “troféus de caça” dentro da mansão de Wesley, cheio de animais empalhados. Gazzarra adentra empunhando uma pistola e diz “I see you found my trophy room. The only thing missing is your ass.”!!!

E eu disse que o vilão não teria chance alguma na porrada com Dalton, mas isso não significa que ele não tenha ao menos tentado! Sim, Dalton dá uma coça em Wesley, assim como dá em um monte de gente. As sequências de luta são excelentes, muito convincentes, com a direção segura de Howdy. Swayze parece ter praticado bastante também, pois seus movimentos e golpes são fantásticos! Sam Elliot dá umas porradas, mas fica mais no gingado do boxe, enquanto Swayze e Teague demonstram muita habilidade na ação de suas performances. O confronto entre os dois é o ponto alto de ROAD HOUSE, até porque o diretor faz um belo trabalho de preparação. Cada encontro entre os personagens durante o filme é detalhado como uma operação cirúrgica, acentuando cada olhar e gesto. Quando chega a hora, o diretor não decepciona e entrega uma luta brutal, longa e com um desfecho graficamente violento.

O filme recebeu o título aqui no Brasil de MATADOR DE ALUGUEL. Não sei onde a criatura que teve a brilhante ideia de colocar esse nome estava com a cabeça, porque não existe nenhum “matador” na trama. Muito menos algum que fosse “alugado”. Já assisti ao filme umas cinco vezes e não consegui encontrar o tal matador de aluguel do título…

ROAD HOUSE teve uma continuação, lançada diretamente no mercado de vídeo, em 2006. ROAD HOUSE 2: LAST CALL. Eu não assisti ainda e, para ser sincero, não parece grandes coisas, apesar de ter uns coadjuvantes interessantes como Richard Norton, Jake Busey e Will Patton. E pelo que li no imdb, o protagonista é o filho de Dalton que se tornou policial e blá, blá, blá… Como eu me conheço, sei que sou masoquista, devo assistir a essa tralha qualquer hora dessas.

Mas o que eu queria mesmo é que o Swayze estivesse vivo para reprisar o papel de Dalton em uma nova “aventura”… Poderiam chamar o Darren Aronofsky para dirigir. Seria algo dramático como O LUTADOR, com o Mickey Rourke, misturado com o climão divertido de ROAD HOUSE original, com o velho Dalton precisando botar um bar infernal em ordem, ao mesmo tempo em que tem problemas de relacionamento com o filho e essas coisas clichês que a gente gosta…

Enfim, acho que era tudo que eu tinha para dizer sobre ROAD HOUSE. Deve ter sido o maior texto que já escrevi para o blog. Então, se alguém teve saco para ler até aqui, já me sinto recompensado. Vale a pena descascar, no bom sentido, um filmaço como este, especialmente para que curte filme de ação e pancadaria dos anos 80, apesar da estranheza inicial de ter Patrick Swayze como herói de ação. Mas faço um alerta para quem não assistiu e ainda está com o pé atrás: o filme é obrigatório e o sujeito arrebenta. Podem confiar!

SHAKEDOWN, aka BLUE JEAN COP (1988)

Peter Weller é desses atores subestimados que deveria ter mais destaque aqui no blog, por isso grifei, negritei e sublinhei o nome dele… pra dar mais destaque. Piadas sem graça à parte, o cara é o Robocop, pô! Trabalhou com Cronenberg, Verhoeven, Kershner, Ferrara, Duguay, Woody Allen, e não podemos esquecer que dedicou grande parte da sua filmografia recente em produções de ação de baixo orçamento, assim como Cuba Golding Jr. e Val Kilmer vem fazendo atualmente… esses caras tem o meu respeito!

Mas em SHAKEDOWN, Weller estava no auge de sua carreira. Ele vive Roland Dalton, um advogado que possui um cliente, traficante de drogas, acusado de assassinar um policial. Sam Elliott, que também é um cara legal, encarna Richie Marks, um policial casca grossa típico dos filmes policiais dos anos 80. Durante as investigações do crime que envolve o traficante, a dupla começa a se deparar com suspeitas intrigantes de corrupção dentro da força policial. Ao mesmo tempo, o filme resolve focar num lado pessoal do advogado. A promotora que cuida do caso é uma antiga paixão de colégio de Dalton e os dois resolvem reacender o namorico, apesar do protagonista já ser noivo de outra mulher. Que drama…

A direção é de James Glickenhaus, um sujeito completamente maluco. O cara gosta de subverter de maneira escancarada certos elementos de seus filmes. Nunca vou esquecer de uma cena em McBAIN, na qual Christopher Walken derruba um caça da força aérea com um único tiro de pistola disparado de outro avião!!! É ver para crer. SHAKEDOWN possui uma ação plausível, até certo ponto. Há os exageros habituais dos filmes de ação oitentistas, tiroteios onde os heróis nunca são alvejados e suas balas nunca acabam, perseguições em alta velocidade, peripécias exacerbadas, especialmente do personagem de Sam Elliot, mas até aí tudo bem.

A insanidade do diretor pode ser diagnosticada com uma certa cena do final… Fico pensando na equipe de filmagem realizando tal proeza ou os editores tentando encaixá-la no filme. É algo inacreditável, uma trama até então “normal”, dentro do padrão, e de repente Glickenhaus resolve testar os limites entre o que é verossímil com o que é absolutamente ridículo dentro do cinema de ação. Genial, na minha opinião! Dei altas gargalhadas. Quem já viu, sabe que não estou exagerando. Não vou contar o que é, mas digamos que temos aqui uma espécie de homenagem bizarra ao Dr. FANTÁSTICO, de Stanley Kubrick. Hehehe!

Uma boa referência pra medir o impacto do final pode ser o DEAD OR ALIVE, do Takashi Miike, embora não seja tão devastador… é apenas ridículo mesmo. Mas não é só por isso que SHAKEDOWN vale uma redescoberta ou uma assistida obrigatória pra quem não viu. É um belo filme policial oitentista, com boas cenas de ação sem frescuras, diálogos impagáveis e maravilhosa performance de Peter Weller. Mas que o final absurdo é um bônus para os amantes de uma bizarrice, pode apostar que é…