THE HOUSE ON THE EDGE OF THE PARK (1980)

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THE HOUSE ON THE EDGE OF THE PARK, do Ruggero Deodato, é considerado uma, entre tantas, versão “italiana” do THE LAST HOUSE ON THE LEFT, do Wes Craven, que, por sua vez, é uma refilmagem exploitation de A FONTE DA DONZELA, de Ingmar Bergman. De fato, há algumas semelhanças óbvias entre o filme do Deodato com o do Craven, mas o que realmente define a ligação entre as duas obras é a presença do ator David Hess, essa figura simpática aí em cima, que encarnana personagens extremamente parecidos em ambas produções. Hess morreu há alguns anos e deixou sua marca como uma lenda do gênero e eu escrevi esse textinho no blog antigo na época em sua homenagem, e republico agora.

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A sequência inicial dos créditos é  uma maravilha, demonstrando o que podemos esperar de Alex, o mecânico desempenhado por Hess. Dirigindo pelas ruas da cidade à noite, o sujeito não perde a chance de paquerar a gatinha do carro ao lado, o problema é que o cara é um maluco psicótico e a diversão termina com estupro seguido de assassinato. Na trama, Alex e seu comparsa Ricky (Giovanni Lombardo Radice), por algum motivo obscuro, acabam convidados para uma festa particular na casa de umas figuras da alta sociedade e decidem apimentar o evento tomando os anfitriões e convidados como reféns, submetendo-os a uma longa noite de torturas e humilhações.

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Pra quem nunca viu o filme, mas já conhece a reputação do diretor Ruggero Deodato, notório pelo clássico CANNIBAL HOLOCAUST e pela violência gráfica de seus trabalhos, um projeto como THE HOUSE ON THE EDGE OF THE PARK pode gerar uma expectativa equivocada. Não são poucas as resenhas espalhadas pela internet colocando o filme pra baixo, por causa, talvez, de um esperado banho de sangue espirrando na tela, muito gore e vísceras e etc… Ok, temos algumas sequências sangrentas, perturbadoras e sádicas, como não poderia deixar de haver, mas nada que chame a atenção, com exceção da cena em que Hess desfere alguns cortes de navalha no corpo de uma jovem, cantarolando “Cindy, Oh, Cindy”.

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Talvez o estigma de filme barra pesada se deva também às censuras e cortes que sofreu na época, colocando-o na famosa lista dos video nasties. Mas em termos de visual, é bem leve, Deodato preferiu trabalhar mais um elaborado e lento jogo de tensão psicológica com os personagens do que o grotesco visual. Particularmente, aprecio o filme. Não acho uma obra-prima, mas adoro as escolhas do diretor, especialmente por seguir o caminho das tensões sexuais, explorando a nudez das atrizes em situações extremas. Também é impossível ficar indiferente em relação às performances de Hess e Radice, ambas geniais. E nem mesmo a reviravolta exageradamente forçada que o roteiro criou para justificar toda essa sandice ao final compromete o restante… aliás, este é um dos principais pontos dos detratores para falar mal do filme.

Há alguns anos surgiu uns boatos de que Deodato estaria preparando uma continuação de THE HOUSE ON THE EDGE OF THE PARK, mas isso já fazem uns cinco ou seis anos. Não vai acontecer, obviamente. Na época mesmo eu já suspeitava… Mas fica a dica deste clássico exploitation italiano para ver e rever.

INFERNO IN DIRETTA (aka Cut and Run, 1985)

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INFERNO IN DIRETTA fecha uma espécie de trilogia da selva do diretor Ruggero Deodato, se considerarmos ULTIMO MONDO CANNIBALE e CANNIBAL HOLOCAUST como trabalhos da mesma, digamos, natureza. Mas é curioso saber como o filme surgiu. O primeiro tratamento do roteiro foi escrito (e seria dirigido) pelo Wes Craven e carregava o título provisório MARIMBA. Quando a busca de financiamento fracassou, reza a lenda que os produtores decidiram que não devolveriam o script para o Craven. Outro detalhe é que na mesma época já tentavam convencer o Deodato de realizar uma continuação de CANNIBAL HOLOCAUSTO, mas o sujeito se interessou mesmo pelo tal roteiro engavetado, que acabou resultando neste filme aqui.

Embora CANNIBAL HOLOCAUSTO seja, merecidamente, o trabalho mais notório da carreira do diretor, INFERNO IN DIRETTA consegue ser bem mais bizarro e absurdo pela miscigenação de gêneros e estilos colocados num único filme. Deodato consegue equilibrar terror, ação, aventura com a mesma atmosfera de seus cannibal movies, e ainda encontra inspiração em APOCALYPSE NOW, do Coppola, com direito a um coronel maluco comandando nativos no meio da selva.

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Se funciona essa mistureba? Depende muito de cada espectador, mas ajuda bastante se você for fã do diretor. O negócio é que é impossível ficar indiferente com o poder das imagens concebidas por um sujeito como Ruggero Deodato atrás das câmeras. O cara não tem piedade com o público e suas aventuras na selva nunca serão experiências simples e banais. O diretor possui criatividade, talento e coragem suficiente para realizar um filme forte, singular, e que não fosse mais um rip-off de CANNIBAL HOLOCAUST como os que surgiam aos montes na época, embora utilizasse os os mesmos elementos de outrora. Ou seja, temos aqui um menu bem recheado para satisfazer os apreciadores de um bom cinema extremo, como violência explícita, decapitações, corpos abertos ao meio, torturas, crocodilos devorando cadáveres, nudez gratuita e claro, o trabalho da mídia sem escrúpulos… da mesma forma que em CANNIBAL HOLOCAUST, só que retrabalhado de diferentes maneiras, mantendo o frescor das ideias.

Após uma abertura chocante para habituar os espectadores com o nível de violência, a trama inicia com uma repórter (Lisa Blount) e seu cameraman em meio a uma investigação jornalística sobre tráfico de drogas em Miami. Em um dos locais investigados, todos os traficantes foram mortos misteriosamente e quando a dupla chega, encontra os corpos, o quarto revirado, e uma foto onde aparece Tommy, o filho do editor do programa para quem os dois repórteres trabalham e que estava desaparecido! Que puta coincidência! Na foto ele se está no meio da selva amazônica junto com o coronel Horne (Richard Lynch), sujeito dado como morto há anos. Convencendo o editor a financiar uma expedição e mais um pouco de enrolação, a dupla parte para o coração das trevas da floresta Amazônica em busca de Tommy e de uma boa matéria sobre o lance das drogas. Chegando lá, dão de cara com o terror que só mesmo um mestre do cinema extremos como Ruggero Deodato saberia proporcionar.

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Além da grande variedade de elementos que Ruggero dispõe para manter o público ligado do início ao fim, outro grande destaque é o elenco formado com alguns nomes americanos como Karen Black, o genial Richard Lynch e o grande Michael Barryman, protagonizando algumas das sequências mais brutais de INFERNO. Barryman, que já havia trabalhado com o Wes Craven em QUADRILHA DE SÁDICOS, foi um dos remanescentes do projeto inicial. Também vale mencionar a excelente trilha sonora do ítalo-brasileiro Cláudio Simonetti, que auxilia na ambientação com seus sintetizadores, além da fotografia caprichada das belezas naturais da selva venezuelana.

Mas a grande sacada dos roteiristas é a referencia a APOCALYPSE NOW, ou melhor, a O Coração das Trevas, de Joseph Conrad, muito bem representado no papel do coronel Horne e magnificamente desempenhado por Richard Lynch. A cena em que o ator discursa deitado numa rede tem a mesma força que as sequências de Marlon Brando no filme de Coppola… guardando as devidas proporções, obviamente. De qualquer maneira, são grandes momentos que eleva INFERNO IN DIRETTA à outro nível.

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Deodato esteve envolvido há alguns anos com um projeto ligados a canibais, selva, etc, que não sei exatamente que fim levou, mas tudo indica que nunca vai acontecer… E não sei também se isso é bom ou ruim, tendo em vista CARIBBEAN BASTARDS, uma porcaria que o Enzo G. Castellari realizou após muitos anos sem filmar. Por enquanto, prefiro ficar com as dezenas de filmes que o sujeito realizou ao longo da carreira e que eu ainda não vi, mas já adianto que uma das experiências mais divertidas concebidas por Ruggero Deodato é, sem dúvida alguma, INFERNO IN DIRETTA!

OS BÁRBAROS (The Barbarians, 1987)

Daquela listinha de filmes de fantasia, Sword and Sorcerer, que eu postei outro dia, um dos exemplares que causou mais alvoroço foi OS BARBAROS. Alguns amigos acharam engraçado por eu ter lembrado desse filme que passou milhares de vezes no Cinema em Casa do SBT. E como estamos falando de um trabalho do italiano Ruggero Deodato, nada melhor que ressaltar como era bom ter doze anos e poder conferir às tardes da TV brasileira nos anos 90 um filme com bastante sangue, membros decepados e peitos de fora. Algo impossível para um moleque atualmente, que tem de se contentar com os filmes de animais falantes que empesteiam diariamente a programação… Neste fim de ano, meus votos de um grande pau no c@#$% do politicamente correto.

De todo modo, OS BÁRBAROS é uma porcaria. Fui rever essa semana para escrever para o blog e, putz, acreditem, é a coisa mais ridícula do mundo. Ainda bem que já sou vacinado contra tralhas desse tipo e encontro tantos elementos engraçados que fica impossível não sair satisfeito quando o filme termina. Tem que “saber ver”… ou ter um puta mal gosto, que deve ser o meu caso. Ainda bem que nem mesmo os próprios realizadores levaram o filme a sério. Devem ter percebido a estupidez que estavam fazendo…

Se não estou enganado, é o longa mais caro da carreira do Sr. Deodato, uma produção da nostálgica Cannon group. Custou cerca de quatro milhões de dólares (a obra prima do homem, CANNIBAL HOLOCAUSTO, pra ter uma noção, custou estimados cem mil mangos). Além disso, pelo que consta nos autos, Ruggero entrou na bagaça um mês depois que a pré-produção havia começado, substituindo o iuguslavo Slobodan Sijan. Mas não acredito que o orçamento caro e a maneira como entrou no projeto poderiam causar interferências no resultado do trabalho de um galo velho como o Ruggero Deodato.

Na minha opinião, quem realmente atrapalha são esses dois fortinhos aí em cima, os protagonistas, conhecidos como “barbarians brothers”, Peter Paul e David Paul, gêmeos idênticos e que não passam de montanhas de músculos que mal conseguem decorar o texto do roteiro. As atuações são inteiramente resumidas naquilo que, visualmente, suas capacidades físicas podem demonstrar. Como conseguem levantar uma pesadíssima pedra que impede uma passagem; como conseguem arrebentar uma corda, durante o próprio enforcamento, utilizando apenas os músculos do pescoço; como abrem passagem por uma parede para escapar de algum perigo, etc, etc… Vez ou outra, tentam compensar a limitação dramática com constrangedoras encenações humorísticas. E é simplesmente ridículo quando começam a fazer sons de animais, como lobo ou jegue… sem qualquer motivo!!! Fico pensando como deve ter surgido a ideia…

Peter ou David, ou ambos: “E se ao invés de falar essa frase profunda e filosófica que está no roteiro, eu fizesse o som de um jumento?!?!

Ruggero Deodato: “Cáspita! Desisto!  Por que não conseguiram me trazer o austríaco?

Menahen Golan: “Sr. Deodato, ninguém faz um som de jegue tão bom quanto esses gêmeos. Não são uma graça?

Whoops! Filme errado!

E aí são caretas, beijinhos e piscadelas pra tela… É tão imbecil que eu não conseguia parar de rir.

A trama trascorre em tempos antigos, “a time of Demons, Darkness and Sorcery“, como diz o narrador. Uma caravana de artistas circences nômades é atacada pelo exército do terrível Kadar, vivido pelo genial Richard Lynch, que deseja tomar posse de um rubi mágico que pertence ao grupo, além de querer papar a líder, Canary, que é um loira bonitona. Kadar não é bobo… Logo, Canary e todo seu grupo é levado cativo, inclusive dois garotos irmãos gêmeos, que crescem, ficam fortes, fogem, recuperam o tal rubi, libertam Cannay e conseguem vingança destruindo Kadar. É isso.

Existem várias sacadas legais em OS BÁRBAROS que tornam o filme mais divertido, como por exemplo o fato dos irmãos serem criados longe um do outro, fazendo trabalhos forçados e apanhando covardemente. Um leva chicotada de um grandalhão que usa um capacete dourado. O outro, a mesma coisa, só muda o grandalhão e a cor do capacete para prata. Já adultos, Kadar – que se fosse nosso contemporâneo seria publicitário – ordena uma luta de espadas entre os dois. O plano maquiavélico do sujeito é fazer com que os irmãos se enfrentem com ódio extremo no coração relacionando o significado visual dos capacetes representado para os dois protagonistas.

Depois, o filme fica mais bobo ainda, mas nunca chato! Mantém sempre o grau de entretenimento na mesma proporção do nível de ridículo do desempenho dos “barbarian brothers”. Ao menos é possível notar como a produção gastou muito bem o orçamento nos figurinos dos personagens, nos cenários fantasiosos, nas maquiagens, no monstro gigante mecânico e, claro, no elenco, que além do Richard Lynch temos o galã Michael Barryman marcando presença. Ambos haviam trabalhado com Deodato no filmaço CUT AND RUN. George Eastman, aka Luigi Montefiori, faz uma rápida participação disputando uma queda de braço com um dos barbarian brothers antes de iniciar uma briga frenética numa taverna. Até isso não faltou em OS BÁRBAROS

Abaixo, um aperitivo que demonstra o grande talento dos “barbarian brothers“. Um dos grandes mistérios do cinema é tentar descobrir os motivos pelos quais não foram indicados ao Oscar por essa impressionante atuação. Confiram: