O RIO DA MORTE (1989)

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Pessoal da Cannon era chegada num rip-off de INDIANA JONES e tentou explorar o tema até esgotar as possibilidades. Produziu tanto cópias descaradas, como os dois filmes de ALLAN QUATERMAIN, quanto aventuras com inspirações, digamos, mais discretas, como OS AVENTUREIROS DO FOGO, estrelado por Chuck Norris e Louis Gossett Jr. No final da década de 80, um de seus astros resolveu ter também um rip-off para chamar de seu. Estamos falando de Michael Dudikoff, que na época tinha feito bastante sucesso para a produtora com os dois primeiros filmes da série AMERICAN NINJA. Daí surgiu O RIO DA MORTE (River of Death), dirigido por Steve Carver (McQUADE – O LOBO SOLITÁRIO) e co-produzido pelo grande Harry Alan Towers.

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Aqui, Dudikoff se mete numa aventura em busca de uma cidade perdida no coração da Floresta Amazônica enfrentando nazistas, cientistas malucos, piratas do rio, tribos canibais, ou seja, para os meus padrões de diversão e tolerância para esse tipo de filme de aventura/ação, O RIO DA MORTE é obrigatório. Especialmente com o elenco que temos aqui: Donald Pleasence, Robert Vaugh, L. Q. Jones, Herbert Lom…

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O filme começa no final da Segunda Guerra Mundial, quando um oficial nazista esconde sua filha debaixo de uma mesa pouco antes de ser assassinado a tiros pelo Dr. Wolfgang Manteuffel (Vaughn). O sujeito é então informado pelo comandante Heinrich Spaatz (Pleasence) que os russos estão chegando e que precisam sair do local. Manteuffel concorda, mas como é um nazista filho da puta, atira em Spaatz antes que a fuga seja feita.

Duas décadas depois, seguimos da Alemanha para o Brasil, onde encontramos um aventureiro chamado John Hamilton (Dudikoff), que acompanha um médico e sua filha, Anna, em uma missão filantrópica no meio da selva amazônica para ajudar a inocular uma tribo nativa contra uma doença mortal. As coisas rapidamente desandam e, num ataque de uma perigosa tribo, antes que você perceba, o médico está morto, Anna foi capturada e Hamilton consegue escapar. Como ele gosta da moça, coloca na cabeça que precisa retornar ao local para salvá-la…

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Uma vez de volta à civilização, um sujeito chamado Hiller (Jones) convence Hamilton a aceitar uma oferta de um alemão misterioso que deseja seus serviços de guia para levar ele e seus homens a uma lendária cidade perdida. Hamilton concorda, sabendo que poderia lhe dar a chance de encontrar e libertar Anna. O alemão, é claro, é Heinrich Spaatz, que conseguiu se salvar dos acontecimentos de vinte anos atrás, então obviamente tudo isso está ligado à sequência que abre o filme, uma jornada de vingança envolvendo Spaatz, Manteuffel e suas experiências sinistras e profanas. E uma certa garotinha que viu seu pai ser morto debaixo de uma mesa…

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Baseado num romance escrito por Alistair MacLean (autor de Os Canhões de Navarone), O RIO DA MORTE mistura teorias de conspiração nazistas no estilo BOYS FROM BRAZIL, com aventuras na floresta inspiradas em INDIANA JONES, sem nunca atingir o nível de qualquer um desses filmes. Mas isso nem importa, o que vale é que O RIO DA MORTE é divertido o suficiente para um filme B agradável. Há momentos que cheiram a potencial desperdiçado, como a presença do cientista nazista interpretado por Vaughn, que não tem tanto tempo de tela aqui quanto gostaria. Em compensação, temos bastante de Pleasence. Seu Spaatz é um velho sujo e mulherengo e o ator parece estar se divertindo bastante, roubando pra si as atenções… Já Dudikoff talvez não tenha o carisma de um Harrison Ford, mas lida muito bem com as sequências de ação e se sai como um action hero razoavelmente arrojado.

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O orçamento de O RIO DA MORTE não era lá grandes coisas, mas a equipe de produção fez um trabalho decente com o que tinham. A fotografia é boa e as sequências nas florestas são convincentes. A cidade perdida acaba sendo um cenário perfeito também para o clímax. Temos uma boa variedade de ação, não apenas um monte de cenas de nativos perseguindo pessoas pela selva, jogando lanças mal direcionadas que quase nunca acertam, mas também uma boa dose de tiroteios e explosões, coisas que o diretor Steve Carver sabe filmar com classe e sem frescuras.

Acho que o filme peca um pouco na duração, talvez muito longo para a aventurazinha que é, passando uns bons quinze minutos do limite. Mas apesar de tudo, O RIO DA MORTE oferece entretenimento dos bons, completamente descartável, claro, mas que não deixa de divertir.

MERCENÁRIOS DAS GALÁXIAS (1980)

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O planeta Akir é habitado por indivíduos que renunciaram à guerra e à violência e estão prestes a descobrir o que acontece quando pacifistas são ameaçados por alguém que não renunciou à guerra e à violência… O malvadão do espaço sideral, Sador (John Saxon), e seu exército de mutantes, ameaça os pobres cidadãos do planeta à destruição caso não se curvem diante dele. Como não sabem se defender, decidem enviar o jovem Shad (Richard Thomas) na missão de encontrar e contratar mercenários espaciais que estejam dispostos a lutar pelo pequeno planeta Akir (cujo nome não é nenhuma coincidência, como veremos a seguir).

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Sim, MERCENÁRIOS DAS GALÁXIAS (Battle Beyond the Stars), produzido pelo grande Roger Corman, poderia ser definido como uma mistura entre OS SETE SAMURAIS, de Akira Kurosawa, e STAR WARS, num período em que fervilhava produções aproveitando do sucesso da clássica space opera de George Lucas. Se você já viu algum desses filmes (ou o remake do filme japonês, SETE HOMENS E UM DESTINO), o enredo não trará surpresa alguma. Mas a falta de originalidade da trama não é necessariamente um problema. A maneira como os realizadores brincam com essa mistura toda é o que acaba importando. São as sequências de ação, batalhas espaciais explosivas e muito tiro de raio laser, a variedade de personagens exóticos, maquiagens e efeitos especiais graciosos que esse tipo de produção classe B proporcionava…

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As filmagens não foram das melhores, apesar do orçamento ter sido dos mais abastados para os padrões de Corman (dois milhões de dólares). Atrasos na construção dos cenários e um mau tempo que fez o estúdio trabalhar com água até os tornozelos na maior parte do tempo não ajudava muito. O então futuro diretor James Cameron começou trabalhando aqui como um humilde modelador, mas pouco antes das filmagens começarem fizeram a preocupante descoberta de que o diretor de arte não tinha a menor ideia do que estava fazendo. E Cameron de repente se viu promovido à função. Mandou bem. O visual dos cenários e as miniaturas de naves e outros elementos estéticos são ótimos.

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O jovem James Cameron trabalhando em MERCENÁRIOS DAS GALÁXIAS

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Quem escreveu o roteiro foi outro futuro cineasta, o independente John Sayles, que dá um bom trato nos diálogos e na construção dos personagens, percebendo a importância de acentuar as diferenças entre os vários mercenários que pintam por aqui, com suas peculiaridades e culturas. Por mais bobinha que seja essa aventura, é esse tipo de detalhe que ajuda a tornar MERCENÁRIOS DAS GALÁXIAS um exemplar tão interessante e divertido.

No elenco, Richard Thomas tenta fugir de seu personagem mais famoso, John-Boy Walton, da série de TV THE WALTONS. Até que se sai bem, faz o jovem ingênuo, mas aventureiro que se arrisca em desbravar o universo em busca de salvar seu planeta. São curiosos os momentos em que precisar lidar com a dualidade da sua essência pacífica em contraste à necessidade de lutar e eventualmente tirar a vida de seus inimigos.

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Dos vários atores que retratam os mercenários, temos a presença de algumas figuras interessantes. Robert Vaughn, que estava em SETE HOMENS E UM DESTINO, faz um fascinante personagem trágico e atormentado. É praticamente o mesmo papel que fez no western de John Sturges. George Peppard, por outro lado, parece se divertir com o seu cowboy espacial. E Sybil Danning acrescenta um toque erótico ao filme, fazendo uma guerreira amazonas de outra galáxia com generosos decotes. Obviamente, vale destacar o desempenho de John Saxon como o tirano vilão imponente e cruel.

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A ação de MERCENÁRIOS DAS GALÁXIAS é um bom exemplo da abordagem de Roger Corman na produção, baseada em criatividade e imaginação – fazendo um pequeno orçamento durar mais do aparenta (até porque grande parte do dinheiro era para pagar os salários de Vaugh e Peppard) – e coube ao diretor Jimmy T. Murakami comandar sequências que não ficam nada a dever aos filmes B de batalhas espaciais do período. 

No fim das contas, temos aqui uma ópera espacial completamente agradável, um dos melhores dos muitos clones de STAR WARS.

SETE HOMENS E UM DESTINO (The Magnificent Seven, 1960)

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Não vi ainda, mas estreou a refilmagem de SETE HOMENS E UM DESTINO, de John Sturges, clássico absoluto do western americano, que afinal era também uma refilmagem de OS SETE SAMURAIS. Então tá tudo bem, não sou desses xiitas que já se opõe em tudo quanto é remake e décima sétima continuação. Se o filme for bom, vale tudo… E até o Akira Kurosawa se inspirou nos faroestes americanos de John Ford, Budd Boetticher, Delmer Daves, Howard Hawks e outros ao realizar o seu clássico samurai. Tudo gira em círculo. Por isso vou repostar este texto do blog antigo.

Assisti pela primeira vez a SETE HOMENS quando ainda era moleque e não achava grandes coisas. Revi há alguns anos e acabou se mostrando bem mais interessante por conta da maneira como o filme desmistifica um pouco a áurea dos heróis justiceiros do faroeste americano com reflexões sobre a solidão e o modo de vida desses indivíduos. Algo que eu não havia pescado na infância, interessado apenas em ver pessoas atirando uma nas outras…

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Outros westerns já haviam trabalhado esse assunto, portanto, nada de muita originalidade por aqui. Mas o fato é que SETE HOMENS E UM DESTINO deixa de ser apenas um bang-bang de aventura para ser, também, um excelente estudo de personagens. E estes são interpretados por um elenco dos mais notáveis, o que contribui muito para que o espectador não desgrude o olho da tela. SETE HOMENS E UM DESTINO ajudou a alavancar as carreiras de Steve McQueen, Charles Bronson, James Coburn e Robert Vaughn. Conta também com atores experientes, do calibre de Yul Brynner e Eli Wallach, o primeiro, já naquela altura, possuía status de celebridade.

Com toda essa turma reunida, são curiosas algumas, digamos, fofocas de bastidores. McQueen, por exemplo, ávido por mais presença, queria se tornar um astro o mais rápido possível e tentava roubar as cenas de Brynner fazendo coisas que chamassem a atenção para si quando contracenava com o careca. Já Brynner estava preocupado em aparecer bem mais alto que McQueen nos enquadramentos (os dois tinham praticamente a mesma altura). O sujeito chegou a fazer um montinho de terra para ficar em cima, mas McQueen chutava “sem querer querendo” toda vez que passava por ele…

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Confrontos de egos à parte, todos estão ótimos e cada um conseguiu transmitir com personalidade as características definidas particularmente para seus personagens. Coburn caladão, sempre na dele, Vaughn medroso traumático, Bronson durão de coração mole, e por aí vai… É bacana também as habilidades específicas de alguns deles, especialmente Bronson, que é um exímio atirador com o rifle, e Coburn, um perito em facas. A divisão na hora de editar as sequências de ação também concede a cada um algumas boas cenas. Nisso John Sturges era muito bom, algo que se comprovou em outros filmes, sobretudo em FUGINDO DO INFERNO (63), clássico que também tinha o trio Bronson, McQueen e Coburn no elenco. Além de uma porrada de outros atores.

Sturges é o que podemos chamar de bom artesão. Não se pode esperar a elegância e maestria de um John Ford ou Don Siegel, mas fazia o que tinha que fazer com muita eficiência. Nesse sentido, as sequências de ação acabam em segundo plano em SETE HOMENS. São filmadas de maneira correta, mas com poucos momentos de maior destaque. Uma das cenas que eu chamaria atenção é quando Robert Vaugh finalmente perde o medo e resolve entrar na ação invadindo uma casa cheia de bandidos.

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Mas perguntem a algum fã do filme se ele sente falta de tiroteios mais elaborados. A construção dos personagens, a maneira como interagem, como são desmitificados, até a trilha sonora de Elmer Bernstein, são elementos suficientes para transformar SETE HOMENS E UM DESTINO no autêntico clássico que é. E a história é fascinante. Com uma duração bem menor que a de OS SETE SAMURAIS, há quem diga que os realizadores pegaram somente as “partes boas” do filme do Kurosawa e transformaram nesta belezinha. Recomendo uma espiada em ambos para as devidas comparações e tirarem suas próprias conclusões. E agora,  uma conferida nessa refilmagem do Antoine Fuqua, que provavelmente não deve chegar aos pés do clássico, mas se conseguir ser divertido, já tá bom demais.