O FILHO DE DRÁCULA (1943)

O FILHO DE DRÁCULA (Son of Dracula), é o terceiro filme da Universal que carrega o nome “Drácula” no título. E sabiamente afasta-se tanto quanto possível dos cenários e enredo do romance original de Stoker. Da mesma forma que o segundo, que comentei aqui recentemente, A FILHA DE DRÁCULA. Havia essa preocupação dos realizadores em não “recauchutar” os filmes originais, que tinham sido sucessos, e se arriscavam em fazer algo diferente.

Uma das principais mudanças deste aqui é o cenário, que foge do visual gótico e sombrio europeu e transcorre na região pantanosa do sul dos EUA num período “contemporâneo”.

Kay Caldwell (Louise Allbritton) é a herdeira excêntrica de um rico coronel, cujo entusiasmo pelo ocultismo chama a atenção de todos à sua volta. Sua família a considera estranha, mas isso não impede que seu jovem vizinho, Frank (Robert Paige), se apaixone perdidamente por ela. Sua extravagância atual é a telepatia, pois acredita que está em contato com um misterioso aristocrata do Leste Europeu e que o está chamando. E, de fato, é exatamente isso que está acontecendo.

A bagagem de seu misterioso nobre, um húngaro chamado Conde Alucard (Lon Chaney Jr), chega de trem. Inclui várias caixas grandes, mas não há sinal de seu dono. Rola até uma festa de boas-vindas na mansão Caldwell sem o hóspede, mas Kay está convencida de que ele chegará naquela noite. Só que coisas estranhas e trágicas começam a acontecer… A noite cai e um incêndio inexplicável irrompe no quarto do patriarca da família, cujo cadáver é então descoberto. Parece que foi vítima de um ataque cardíaco, embora alguém diga que parece que morreu de susto. Pouco depois, o conde húngaro chega à porta da mansão.

O médico de família, Dr. Brewster (Frank Craven), desconfia do recém-chegado desde o início, e suas suspeitas aumentam quando ele conversa com o professor Lazlo na embaixada da Hungria em Washington, que nunca ouviu falar de conde Alucard, mas ambos notam que Alucard escrito ao contrário é Drácula. E a partir daí o filme vira uma sucessão de situações de horror, uma corrida contra o tempo para se livrar do mal que paira sobre a região ao melhor estilo do Ciclo de Monstros da Universal.

E uma das coisas mais legais de O FILHO DE DRÁCULA é que os personagens não levam muito tempo pra descobrir que algo sobrenatural está acontecendo, todos parecem muito familiarizados com o mito de Drácula e rapidamente percebem o tipo de ameaça que estão lidando.

O grande Lon Chaney, o homem das mil faces, não teve a oportunidade de viver o Conde Drácula, embora fosse a primeira escolha da Universal ainda para o primeiro filme, mas morreu antes das filmagens iniciarem e acabou substituido por Bela Lugosi. Então é legal ver que seu filho, Lon Chaney Jr, teve a chance em O FILHO DO DRÁCULA, num papel não tão icônico quanto o Drácula original de Lugosi, mas com uma atuação bem digna e nada convencional que dá ao personagem um tom de ameaça bem expressiva.

Parece que dividiu as opiniões em relação à sua interpretação por aqui. Eu achei ótimo, um de seus melhores desempenhos no Ciclo de Monstros. Lembrando que o sujeito também já foi o Monstro de Frankenstein em O FANTASMA DE FRANKENSTEIN, mas seu papel mais famoso foi em O LOBISOMEM, onde faz o personagem título e que continuou fazendo numa série de outros filmes. Por aqui, como Drácula, tem muita presença física e seu olhar penetrante realmente está assustador, transmite uma crueldade e um desprezo pela humanidade que possivelmente nem mesmo o Lugosi expressava.

Louise Allbritton como Kay está fantástica, refletindo perfeitamente suas preocupações “mórbidas”. Sua imagem não fica tão marcada pelo erotismo perturbador que Gloria Holden em A FILHA DE DRÁCULA, mas Kay é uma das personagens mais fascinantes da série, que se revela uma figura ainda mais perversa e perturbadora do que o vilão ostensivo de Drácula. Você quase sente pena do pobre Alucard por se envolver com ela… E mais pena ainda pelo pobre Frank, que vive o drama mais interessante do filme. O fato de O FILHO DE DRÁCULA ser focado em uma personagem feminina tão forte, o torna quase um filme noir, com Kay numa espécie de femme fatale da parada.

Por falar em film noir, a direção é do grande Robert Siodmak, justamente conhecido pelos belos exemplares do gênero que tem em sua filmografia, como a primeira versão de OS ASSASSINOS, com Burt Lancaster. Siodmak dá a’O FILHO DE DRÁCULA algumas das imagens mais impressionantes de qualquer filme de terror daquela época – cenas como o conde surgindo no pântano, o uso da névoa como efeito das variadas metamorfoses do vampiro e o morcego na cela em que Frank está preso são bons exemplos de composições de arrepiar.

Siodmak faz uma mistura interessante de estilos, com sequências centradas nos dois doutores “caçadores de vampiros”, Dr. Brewster e Lazlo, sendo filmadas principalmente à luz do dia, enquanto as cenas centradas em Kay, o Conde, e especialmente Frank, são noturnas, filmadas num estilo expressionista. Enfatiza o contraste entre a realidade cotidiana e o mundo de pesadelo dos vampiros. Para um filme que coloca um vampiro no mundo dos anos 1940, é uma boa sacada.

Pena que foi o único filme do gênero, horror puro, que Siodmak realizou. O FILHO DE DRÁCULA foi uma bela descoberta, talvez eu tenha gostado ainda mais que o anterior, A FILHA DE DRÁCULA, embora o primeiro continue imbatível.

A partir daqui, o personagem começaria a aparecer no Ciclo de Monstros em produções que faziam crossover entre as figuras que habitam os universos desses monstros clássicos, especialmente com Lobisomem e o Monstro de Frankenstein, como em A CASA DE FRANKENSTEIN e A CASA DE DRÁCULA, que já foram assuntos aqui no blog. Falta comentar alguma coisa ainda sobre ABBOTT & COSTELLO CONTRA FRANKENSTEIN, mais uma dessas misturas malucas, agora numa comédia, mas que marcou como a última aparição de Bela Lugosi como Drácula.

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