ALÉM DA IMAGINAÇÃO 1.14: THIRD FROM THE SUN (1960)

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O cientista William Sturka (Fritz Weaver), certo de que uma guerra nuclear capaz de destruir todo o planeta é iminente, conspira com o piloto de teste Jerry Riden (Joe Maross) para roubar uma nave espacial experimental e fugir com suas famílias para um outro planeta. Após alguns contratempos, conseguem embarcar na nave e partem rumo ao desconhecido. No espaço, perguntam como será a nova casa. Das transmissões de rádio, sabem que é habitado por pessoas como eles mesmos, e que o nome do planeta é… Bom, não vou revelar para não estragar o prazer de quem ainda não viu THIRD FROM THE SUN. Um dos meus episódios favoritos da primeira temporada de ALÉM DA IMAGINAÇÃO.

Embora a revelação seja um bocado óbvia… Como o título já diz, é o terceiro planeta a partir do sol…

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O capítulo foi adaptado por Rod Serling a partir de um conto de mesmo nome escrito por Richard Matheson (que já estava trabalhando como roteirista na série). Ao contrário de AND WHEN THE SKY WAS OPEN, uma adaptação mais livre de Serling da história “Disappearing Act” de Matheson, este aqui é mais fiel ao seu material de origem. Serling simplesmente aprimorou um pouco a trama, adicionando um vilão (Edward Andrews) e mudando alguns detalhes para criar suspense. A história de Matheson é boa, mas muito sintética, não há o suficiente para transformá-la em um episódio de meia hora de uma série como ALÉM DA IMAGINAÇÃO sem adicionar outros elementos.

O episódio marca a estreia de Richard L. Bare como diretor da série. Faria um total de sete episódios ao longo dos anos. E uma das coisas que chama a atenção em THIRD FROM THE SUN é justamente o seu inventivo trabalho de direção. Basicamente, o episódio inteiro é filmado com a câmera em ângulos tortos e desconfortáveis e outros truques elaborados para brincar com a percepção do espectador, jogando visualmente evidências de que a trama transcorre num planeta estranho. E Bare consegue isso brilhantemente, empregando o uso de lentes grande angular que encobrem esse mundo em uma atmosfera de desorientação.

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Os atores também merecem destaque. Especialmente Fritz Weaver, que está fantástico aqui, carregando a culpa de ter contribuído para criar esse mundo horrível prestes a virar pó. Mas Edward Andrews é quem rouba a cena nos poucos momentos em que aparece. Seu personagem é o típico vilão que na superfície não há muito o que notar. Seus atributos maquiavélicos são encontrados não tanto no que ele diz, mas na maneira como diz e no clima desconfortável que parece se apegar a ele onde quer que vá. Um bom exemplo disso é durante a cena da mesa de pôquer (da imagem acima), quando Andrews entra na casa de Sturka enquanto ele e Riden estão traçando sua rota de fuga. O sujeito não diz nada de ameaçador durante a cena, mas a ameaça está lá, irradiando dele. Em um movimento, Andrews pega as pontuações de pôquer dos dois sujeitos, que coincidentemente tem o plano de fuga do outro lado da folha. Uma aula de gestos, olhares e suspense…

Mesmo com a grande revelação final de THIRD FROM THE SUN sendo totalmente óbvia e previsível, a história que a antecede apresenta uma reflexão interessantes sobre uma das maiores paranóias do período, a ameaça de uma guerra nuclear entre EUA e URSS durante a Guerra Fria. Além disso, temos personagens atraentes e uma trama tensa suficiente para o episódio merecer o carimbo de “diversão garantida”.

ALÉM DA IMAGINAÇÃO 1.11: AND WHEN THE SKY WAS OPENED (1959)

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AND WHEN THE SKY WAS OPENED foi realizado quando a chamada corrida espacial estava à pleno vapor. O homem ainda não havia saído da estratosfera terrestre – algo que só viria a acontecer dois anos depois, em 1961, ironicamente com a Rússia saindo na frente com o astronauta Yuri Gagarin… Mas antes disso, os americanos ainda sonhavam em ser os primeiros a chegar tão longe. O que era um material fértil para a literatura sci-fi e filmes e séries de ficção científica. Óbvio que uma série como ALÉM DA IMAGINAÇÃO não ficaria de fora.

Quando o criador da série e principal roteirista, Rod Serling, escreveu o script de AND WHEN THE SKY WAS OPENED, ninguém poderia ter certeza do que aconteceria quando os homens se aventurassem no espaço. E toda a trama, que é intrigante e segura o espectador do início ao fim, gira em torno da exploração do pavor pelo desconhecido.

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Três astronautas retornam do primeiro vôo espacial realizado nos EUA. Major Gart (Jim Hutton) é hospitalizado com uma perna quebrada, mas os outros dois, Harrington (Charles Aidman) e Forbes (Rod Taylor), estão bem e resolvem comemorar a empreitada numa noitada num bar. No entanto, Harrington subitamente começa a ter um sentimento estranho. Ele vai a uma cabine telefônica e liga para seus pais, que atendem e dizem que eles não têm filhos. De repente, Harrington desaparece literalmente, sem que alguém lembrasse da sua existência, exceto Forbes.

Quando Forbes conta essa história a Gart no hospital, este último também diz que ele nunca ouviu falar na vida de um tal de Ed Harrington, o que deixa Forbes completamente devastado. De repente, Forbes tem uma sensação peculiar, como a de Harrington antes de desaparecer, e sai gritando pelos corredores do hospital. Gart chega ao corredor, mas já é tarde, Forbes também desapareceu e ninguém mais tem qualquer lembrança de sua existência, exceto Gart, que não demora muito, desaparece e, com ele, a nave que os levou pra fora da terra, limpando a última evidência da aventura.

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O roteiro de Serling para AND WHEN THE SKY WAS OPENED foi baseado no conto de Richard Matheson, “Disappearing Act” (que aparece na sua coletânea Third From the Sun), mas só mesmo uma ideia superficial foi utilizada por Serling no episódio. Na história original, temos um escritor sem sucesso que acha que as pessoas em sua vida, uma por uma, estão desaparecendo e só ele se lembra delas. Ele, em algum momento, também acaba por desaparecer. Ao comparar o episódio com o seu conto, Matheson dizia: “Meu  sentimento é idêntico ao que sinto sobre segunda versão do meu romance, I Am Legend (THE OMEGA MAN, com Charlton Heston): está tão distante que não há nada para se pensar.” Curiosamente, não demorou muito, Matherson se tornou um dos principais roteiristas da série.

AND WHEN THE SKY WAS OPENED marca a estréia de Douglas Heyes como diretor em ALÉM DA IMAGINAÇÃO. Heyes também era músico, pintor, ator, roteirista e habilidoso romancista. Ele começou sua carreira nos estúdios da Disney onde aprendeu a pensar no cinema como uma forma de arte visual, fazendo storyboards de cenas, onde tomou noção como mover a câmera e onde cortar o filme na sala de edição. O movimento fluido da sua câmera se tornaria uma característica definidora de seu estilo como diretor.

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Neste primeiro episódio que realizou, no entanto, seu estilo é mais reservado do que a maioria de seus episódios, até porque o roteiro de Serling foca principalmente na deterioração psicológica de seus personagem, então Heyes simplesmente deixa os atores fazerem a maior parte do trabalho. Mas existem algumas cenas incomuns no episódio que demonstram o talento de Heyes em dar ênfase no mistério e no medo do desconhecido. O uso de alguns elementos visuais são importantes para a narrativa, como o jornal que é constantemente mostrado como prova física do desaparecimento dos personagens.

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Mas os atores são em grande parte o que torna AND WHEN THE SKY WAS OPENED memorável. Charles Aidman e James Hutton estão muito bem, mas Rod Taylor é o tour de force do episódio e o nome mais reconhecível do elenco. Taylor é lembrado por seus papéis em A MÁQUINA DO TEMPO (1960), de George Pal, e OS PÁSSAROS (1963), de Alfred Hitchcock. Sua atuação como Forbes é brilhante, com expressões faciais e maneirismos físicos expressivos, especialmente quando contracena com Hutton, que dão gosto de vê-lo atuar. Taylor manteve uma carreira relativamente bem sucedida no cinema e na televisão até o final da vida. Seu último papel foi como Winston Churchill em BASTARDOS INGLÓRIOS, de Quentin Tarantino. Morreu em 2015 aos 84 anos de idade.

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AND WHEN THE SKY WAS OPENED é um episódio sólido, intrigante e com ótimas performances e boa direção, algo já habitual na série, que sempre escala bons diretores e atores. E Serling, a grande mente por trás de ALÉM DA IMAGINAÇÃO, reconheceu na ficção de Matheson o tipo temático de fantasia que tanto lhe fascinava: o medo do obscuro. E aqui temos um bom exemplo disso.