A CONQUISTA DO PLANETA DOS MACACOS (1972)

Depois que Cornelius e Zira foram mortos em FUGA DO PLANETA DOS MACACOS e descobrimos que seu bebê (Milo no filme anterior, mas aqui chamado Caesar) está seguro no circo de Armando (Ricardo Montalban), a história avança para vinte anos depois, quando a catástrofe de escala mundial anunciada no último filme – e que é determinante para a evolução dos macacos na mitologia da série – já aconteceu.

Trata-se de uma praga, altamente contagiosa – trazida na espaçonave que Zira e Cornelius usaram para vir do futuro – exterminou toda a população de cães e gatos da terra. Os humanos eram imunes, mas os pobres pets foram varridos… E assim, os símios começaram a substituir os animais domésticos. No entanto, quando as pessoas perceberam o quão inteligentes e rápidos em aprender as coisas são os macacos, eles foram adquirindo certas funções na sociedade, com trabalho braçal, todos na cidade usam macacos como empregados nos mais variados tipos de negócio…

Mas o tratamento é aquela coisa, estão sempre acorrentados e caso se comportem mal, são espancados. Caesar, agora com vinte anos e interpretado por Roddy McDowall (que em dois dos filmes anteriores fez o pai, Cornelius), não suporta a crueldade contra os macacos e acidentalmente solta um grito de revolta no meio da multidão. O ato o torna perigoso para o governo, que ainda se lembra do que Zira e Cornelius disseram anos atrás sobre o futuro da humanidade.

Armando e Caesar fogem, mas o humano acredita que assumir a culpa e se entregar pode melhorar a situação. Assim o faz, mas a interrogação é intensa, com tecnologia que impede Armando de mentir, portanto ele comete suicídio para esconder o que sabe sobre Caesar.

Enquanto isso, o pobre macaco falante acaba escondido dentro de um centro de treinamento de símios e mais tarde se torna o animal de estimação do governador. Ao mesmo tempo, planeja não apenas vingança contra o que fizeram com Armando, mas também uma revolução da sua espécie contra os humanos.

Questões de política racial sempre girou em torno dos filmes da série d’O PLANETA DOS MACACOS, isso é óbvio. Mas em nenhum momento essas relações raciais foram tão explícitas quanto em A CONQUISTA DO PLANETA DOS MACACOS. A revolta dos macacos remete aqui aos motins de Watts; os personagens exibem pensamentos claros sobre a libertação racial; temos o papel do governador Breck (Don Murray), que é um racista abjeto; temos Caesar, cuja liberdade, por qualquer meio necessário, reflete os aspectos mais extremos do nacionalismo negro…

E no fim vemos a coisa acontecer, o ponto de virada de toda a mitologia da série, além de temos uma das melhores, quiçá a melhor, sequência de ação de toda a franquia. Uma invasão épica do exército de primatas, minimamente organizado, carregando armas brancas e de fogo, às instalações governamentais, eliminando qualquer humano, estraçalhando tudo o que não os representa. J. Lee Thompson é o diretor da vez, mestre do cinema físico, de ação clássica, e conduz o caos com uma energia impressionante e deflagradora.

Mas existem dois desfechos de A CONQUISTA DO PLANETA DOS MACACOS. A versão que foi exibida nos cinemas em 1972 é bastante esperançosa e positiva, com os macacos encontrando a liberdade por meio da luta armada, ao mesmo tempo em que também mostram a seus captores humanos uma clemência que nunca foi-lhes dada. Com Caesar basicamente dando aquele ponto de vista da esquerda moderada, de que a libertação é necessária, mas podemos fazê-lo sem violência?

No final, um dos membros bonzinhos do governo, MacDonald (Hari Rhodes), que ajudou Caesar em determinado momento, tenta convencê-lo a parar de levar sua revolução para um caminho de violência e Caesar está prestes dar o sinal para que seus gorilas espanquem Breck até a morte.

Num primeiro corte do filme, Caesar não lhe dá ouvidos; Breck é brutalmente assassinado pelos gorilas enquanto Caesar fica orgulhoso entre a fumaça de uma civilização que está queimando. É desolador, um aceno à natureza inescapável da violência e destruição, que acaba por estar na sintonia niilista do restante da série.

Mas o público de teste da época não curtiu muito. Ficaram horrorizados. Todo o discurso sobre a crueldade e destrutividade que reside na natureza humana dos filmes anteriores estava tudo bem… Explodir o planeta terra com uma bomba atômica? Sem problema! A execução brutal dos simpáticos protagonistas do filme anterior? Que mal há nisso? Agora, uma alegoria sobre o movimento dos direitos civis e negros, com a revolta numa escalada de violência contra o homem branco? Isso não, de jeito nenhum!

Bom, como não havia orçamento suficiente para refazer o final, por meio da edição e diálogos adicionais conseguiram mudar as coisas. Caesar está prestes a matar Breck, apesar dos protestos de MacDonald, quando de repente Lisa, a macaca namorada de Caesar grita “Não!” Ela é a primeira macaca a falar e usa sua voz a serviço da paz. E assim Caesar muda de ideia. É um final muito mais suave. Todos os filmes anteriores tiveram situações levadas para uma crise, e a lógica era a de que ninguém consegue lidar com essas crises. Pela primeira vez na série, a crise é evitada; a mudança é feita, mas sem recorrer ao extremismo (apesar de todo derramamento de sangue).

No entanto, no lançamento em blu-ray do filme há alguns anos, resolveram incluir uma versão “unrated” que possui o final do corte original, terminando com Caesar sinalizando para que os gorilas arrebentassem o governador. E foi nessa versão que revi o filme ontem. Não quero entrar em polêmicas, mas pessoalmente prefiro este final aqui…

E olha, de uma forma geral me surpreendi bastante com o filme. Roddy McDowall tem sua melhor performance na série. E a forma direta e rápida que as coisas acontecem por aqui e a intensidade do último ato são coisas que realmente me fascinam. É provável que A CONQUISTA DO PLANETA DOS MACACOS seja o meu favorito logo depois do clássico de 68. Agora é rever o quinto e último capítulo, A BATALHA DO PLANETA DOS MACACOS (73), pra ver como se sai hoje em dia…

FUGA DO PLANETA DOS MACACOS (1971)

Após o desfecho de DE VOLTA AO PLANETA DOS MACACOS, não havia lá muita necessidade de continuar a franquia. Mas arrumaram um jeito de seguir em frente… O resultado não é apenas uma sequência BIZARRA, mas o que mais surpreende é o fato de que FUGA DO PLANETA DOS MACACOS é também muito bom!

Três chimpanzés, Cornelius (Roddy McDowall), Zira (Kim Hunter) e o Dr. Milo (não faço ideia), de alguma forma botam pra funcionar a nave afundada no lago no primeiro filme e voam para fora do planeta antes que a Terra seja explodida. Devido à enorme onda de choque, eles são enviados de volta no tempo até 1973.

A primeira metade de FUGA DO PLANETA DOS MACACOS é de uma leveza graciosa; Cornelius e Zira, os amados chimpanzés que co-estrelaram os dois filmes anteriores, são tratados como celebridades neste período onde macacos falantes é algo que não se vê todo dia. Com direito até a uma montagem divertida deles fazendo compras nas melhores lojas de Beverly Hills.

Mas quando o conselheiro científico do presidente do EUA, Dr. Hasslein (Eric Braeden), descobre que Zira está grávida e que eles vêm de um futuro onde os macacos dominam o homem, o sujeito decide que o bebê deve ser abortado e o casal submetido à procedimentos cirúrgicos para que não tenha mais a possibilidade de reprodução.

FUGA DO PLANETA DOS MACACOS acaba tendo o final mais sombrio e desagradável de toda a franquia (e isso quer dizer muita coisa, já que o filme anterior termina simplesmente com a Terra explodindo). No clímax, Cornelius, Zira e o recém-nascido (que deram o nome de Milo, em homenagem ao terceiro chimpanzé que mencionei no início, mas que morre ainda no começo do filme) se escondem em um cargueiro abandonado. Hasslein os encontra e não perde tempo pra atirar. Primeiro nas costas de Zira e depois no bebê chimpanzé.

O pacífico Cornelius, em um acesso de raiva, atira em Hasslein antes de ser morto a tiros por policiais. Cornelius cai do convés superior do barco, morto, enquanto Zira rasteja até o bebê Milo e o joga no mar.

Pesadíssimo…

Há um momento ainda no final que alivia um pouco o aspecto niilista – Zira trocou seu bebê quando estava se escondendo no circo administrado por Armando, vivido por Ricardo Montalban. O verdadeiro bebê Milo está seguro e FUGA DO PLANETA DOS MACACOS termina com o pequeno chimpanzé dizendo sua primeira palavra: “Mamãe”.

FUGA DO PLANETA DOS MACACOS não é apenas devastador porque todos os personagens que somos simpáticos – e que serviam até de alívio cômico nos filmes anteriores – são brutalmente executados a tiros. Mas também porque, como no anterior, o filme julga que nunca seremos uma espécie melhor e é impossível manter as convicções morais diante de determinadas situações. Até Cornelius, um dedicado ativista pela paz que teve problemas por ajudar Taylor (Charlton Heston) a fugir das autoridades no clássico de 68, acaba se tornando um assassino no final.

Desta vez a direção é de Don Taylor, sujeito cuja carreira esteve mais ligada à televisão e no cinema nunca passou de um diretor bate-estaca de estúdio, sem muita personalidade. Outro filme dele que já comentei por aqui foi A PROFECIA II. Mas, para o tipo de filme que é FUGA DO PLANETA DOS MACACOS o sujeito conduz bem as coisas.

E apesar de ser um bom capítulo para a série, ainda prefiro o segundo filme, com todo seu senso de aventura e, claro, de ridículo também, que deixa tudo mais divertido. O primeiro, obviamente, continua imbatível. Agora é rever o quarto, A CONQUISTA DO PLANETA DOS MACACOS (72), pra ver como se sai hoje em dia…