TERRA DO INFERNO (MAN IN THE SADDLE, 1951)

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Uma das parcerias mais interessantes da história do western americano é a do diretor Budd Boetticher com o ator Randolph Scott, que resultou em sete faroestes notáveis em meados dos anos 50. Só que outro grande mestre do gênero já tinha usado os serviços de Scott antes de Boetticher em seis westerns na primeira metade da mesma década. Estamos falando de ninguém menos que André de Toth, um dos pilares do cinema físico e casca grossa do período. E tudo começou aqui, em TERRA DO INFERNO.

A diferença entre os filmes estrelados por Randolph Scott dirigidos por De Toth e os realizados por Boetticher (para além de serem pequenos faroestes de curta duração, mas de grande eficiência cinematográfica) é basicamente a articulação psicológica explorada por Boetticher, que era mais preocupado com uma ordem existencialista na jornada de seu protagonista do que com as consequências físicas. Pode parecer repetitivo, mas em cada filme de Boetticher, os personagens de Randolph Scott carregavam um mundo de nuances trágicas, dramáticas e de características distintas entre si. Enquanto De Toth parece mais preocupado com a parte prática, com a ação dos corpos no espaço, e em usar Scott como figura mitológica do gênero.

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Mesmo que em TERRA DO INFERNO haja um cuidado na construção do protagonista – Owen Merrit (Scott), um pequeno fazendeiro taciturno, daqueles cuja face sublima um ideal moral e de caráter inabalável, numa típica trama de faroeste, na qual é assediado por seu poderoso vizinho (Alexander Knox) a vender-lhes as suas terras – o que realmente importa ao De Toth, no fim das contas, é a aventura, as perseguições, as brigas e os tiroteios.

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Uma das ideias de gerar um conflito psicológico é o fato do grande amor de Merrit, Laurie (Joan Leslie), ter sido consumida pela ambição e se casado com o adversário do herói. Em determinado momento, ela percebe o homem mau por trás daquele indivíduo que chama de marido. Mas enquanto isso, em meio a atentados a balas e perseguições, Merrit conta com a ajuda da melhor amiga de Laurie, Nam (Ellen Drew), por quem acaba se apaixonando. Mas são situações que seriam melhor exploradas por um Boetticher, Anthony Mann e Delmer Daves. Por aqui, ficam relegadas ao segundo plano.

No fim das contas, TERRA DO INFERNO é um faroeste bem feijão com arroz. Um filme simples, sem nenhuma novidade dentro de um dos gêneros mais prolíficos do cinema americano do período. Mas que acaba encantando por outros meios. E aí entra a maestria de De Toth. Visualmente, o filme é um deslumbre e nunca soa genérico num sentido estético, com suas cores estourando num belíssimo Technicolor. O sujeito só coloca a câmera onde ela é absolutamente necessária para compor planos que celebram a iconografia do western, com consciência de artesão dos mais talentosos em relação ao material que tem em mãos; e procura sempre manter as coisas em movimento, num ritmo de aventura bom de acompanhar.

Sequências como a luta na cabana nas montanhas (vídeo acima), que é destruída gradualmente, enquanto os personagens trocam socos e derrubam pilastras, ou o engenhoso tiroteio final, cuja ventania violenta é uma boa sacada dramática e visual, são momentos antológicos. O elenco conta ainda com a participação do grande Cameron Mitchell, John Russell e do cantor Tennessee Ernie Ford, em estreia no cinema e empresta a sua voz para entoar a bela canção tema do longa.

TERRA DO INFERNO está disponível em DVD pela Classicline, que lançou o filme com uma excelente qualidade de imagem, preservando o ‘aspect ratio’ original e a opção de ser assistido com legendas em português ou uma antiga dublagem remasterizada, para a felicidade dos nostálgicos. A edição encontra-se à venda na loja virtual da própria distribuidora ou nas demais lojas de sua preferência.

Texto escrito originalmente para o Action News.

SEVEN MEN FROM NOW (1956)

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Meu primeiro contato com o cinema de Budd Boetticher. SEVEN MEN FROM NOW é um western inteligente, puramente cinematográfico e alegoricamente interessante. O elenco é encabeçado por Randolph Scott e, que inicia aqui uma pareceria com o diretor que rendeu alguns clássicos famigerados (aliás, os outros filmes desta parceria eu já tenho e vou comentando na medida em que for assistindo). Com roteiro do grande Burt Kennedy, o filme gira em torno de Scott, que interpreta um ex-xerife atrelado numa caçada por sete sujeitos que assassinaram sua esposa em um assalto; ao longo do caminho ele encontra algumas pessoas que o acompanha nessa jornada, como um casal que ruma para Califórnia numa carroça e um antigo desafeto do protagonista, vivido por Lee Marvin (fazendo um belo contraste, o sempre robusto Marvin x Scott e seu jeitão lacônico). Boetticher é bem seguro narrativamente e sabe utilizar as simbologias do gênero, a paisagem, o espaço, as cores, tudo em favor de um estilo simples e respeitador dos princípios da expressão da imagem cinematográfica, o que torna cada plano um espetáculo visual único.