MISHIMA – UMA VIDA EM QUATRO CAPÍTULOS (Mishima: A Life in Four Chapters, 1985), de Paul Schrader

Uma dessas historinhas de bastidores conta que após realizar A MARCA DA PANTERA a vida de Paul Schrader entrou numa maré de azar danada, como uma espécie de maldição. O sujeito foi parar no Japão onde teve a idéia de filmar a vida de Yukio Mishima, provavelmente o maior escritor japonês do século XX. Conseguiu dinheiro com a dupla Francis F. Coppola e George Lucas, escreveu o roteiro junto com seu irmão, Leonard, e filmou uma cinebiografia incomum e de rara beleza no cinema americano. Um verdadeiro banquete de soluções visuais que impressiona até mesmo o espectador mais exigente.

Mishima era uma figura curiosa, um misto de genialidade e loucura, narcisista ao extremo, ativista político, que encontrou um ótimo desempenho aqui na pele de Ken Ogata. O roteiro dos irmãos Schrader é muito inteligente e divide o filme em capítulos e variações temporais, além de inserir três obras de Mishima à narrativa, com o intuito de se aprofundar às variadas máscaras de seu protagonista.

Em seu último dia de vida, Mishima invadiu um quartel em Tóquio, acompanhado de alguns pupilos e praticou o harakiri. Este evento é captado num tom bem realista pelas câmeras de Schrader. Mas a narrativa fragmentada e entrelaçada recua no tempo mostrando, num belo preto e branco, a infância e juventude do autor de Confissões de uma Máscara.

Já as cenas inspiradas na obra do escritor são compostas com uma estética expressionista de cores vibrantes e cenários intencionalmente falsos e estilizados, demostrando toda a segurança artística de Schrader e sua ousadia em transcender visualmente, algo que já tinha esboçado em A MARCA DA PANTERA e em MISHIMA chega ao ápice. A trilha sonora de Philip Glass é um dos grandes destaques, tem um casamento perfeito com as poderosas imagens. Mais um absolutamente obrigatório do diretor.

——————————————————————

Muitos de vocês talvez se lembrem que antes do DEMENTIA 13 eu tinha outro blog, o Cine Art, o qual eu compartilhava com um amigo daqui de Vitória-ES, Felipe Mappa, o trabalho de atualização. Depois de algum tempo, o Felipe abandonou o recinto e eu fiquei mais de um ano carregando o blog sozinho até resolver me mudar para este aqui. Depois de quase dois anos sem atualização, o Cine Art está de volta sob o comando do Felipe, que resolveu embarcar novamente neste prazeroso universo, agora sozinho, ainda que meus velhos e constrangedores textos estejam lá.  Enfim, não deixem de prestigiar o novo Cine Art.