GIGOLÔ AMERICANO (American Gigolo, 1980), de Paul Schrader

Seguindo à risca meu novo vício, o cinema de Paul Schrader, este seu terceiro trabalho, sem nenhum favor, é o melhor filme que realizou dentre os conferidos recentemente. Não sabia que ia gostar tanto, é uma pequena obra prima! Penso que tudo isso se deve um pouco pelo fato de Schrader começar aqui a se soltar na direção. Experimenta algumas soluções mais cinematográficas, sentindo os planos, os movimentos de câmera, é um trabalho visual bem engajado e consciente. E, portanto, se desprende um bocado do realismo latente de seus filmes anteriores.

Mas é principalmente na presença de Richard Gere onde se concentra o maior fascínio de GIGOLÔ AMERICANO. O desempenho deste ator, que hoje ainda demonstra competência em qualquer papel que faz, mas sem a mesma desenvoltura deste aqui, é digno de antologia (o personagem quase foi parar nas mãos de John Travolta). Gere vive um acompanhante de senhoras ricas (leia-se gigolô) que acaba envolvido romanticamente com a esposa de um senador, ao mesmo tempo em que se torna o principal suspeito de um assassinato. Sim, parece trama de novela, mas a junção Schrader + Gere retira disso tudo um retrato estilístico narrativo bem interessante.

Lendo algumas críticas gringas sobre o filme, uma grande parte não gosta muito de GIGOLÔ AMERICANO, várias reclamações quanto ao final, uma possível perda de rumo do diretor, algo que realmente não existe. O final é lindo, uma bela homenagem a Robert Bresson – diretor que Schrader venera – e seu PICKPOCKET.

O Filme inteiro é composto de sequências que marcam, diálogos impecáveis e um elenco forte (embora não tenha rostos muito reconhecíveis do grande público). Será que há alguma obra melhor que esta na filmografia do Schrader? Vou continuar procurando.

FIRST SNOW (2006)

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Se estão pensando que só vou falar de tralha velha por aqui estão enganados. FIRST SNOW é um exemplo disto. O roteirista de HOMEM DE FERRO e FILHOS DA ESPERANÇA, Mark Fergus, ataca na direção com este Neo-noir de 2006 que nem se atreveu a passar nos cinemas brasileiros, indo mofar direto nas prateleiras das locadoras sem muita publicidade. Injustamente, porque é um bom filme com o elenco encabeçado pelo britânico Guy Pearce e ótimos coadjuvantes, como J. K. Simmons (o J.J.Jameson de HOMEM-ARANHA) e William Fichtner, que teve uma pequena participação no novo Batman como o banqueiro que reage contra o assalto no início do filme.

Quando se fala em Neo-noir, já vem na mente aqueles filmes policiais que remetem ao gênero dos anos 40 e 50, e o pôster de First Snow acentua ainda mais essa noção. Mas o filme segue outro caminho. A história é um quebra-cabeça que vai se juntando aos poucos, formando um drama com elementos de thriller cujo protagonista, com passado ambíguo, revela-se um autentico personagem do noir.

Jimmy Starks (Pearce) é um homem de negócios que acaba à beira da estrada com o carro quebrado. Sem muita coisa pra fazer enquanto espera o conserto do carro, decide deixar que um médium (Simmons) leia sua mão. Descobre que seu fim pode estar mais próximo que espera. A partir daí, o roteiro passeia em questões como morte, paranoia e redenção.

FIRST SNOW possui um andamento lento e não traz nenhuma novidade. Mas a direção é correta, segura e Guy Pearce está inspirado, embora não seja um ator que atraia muito público, mas seu trabalho aqui merece o destaque que o filme, infelizmente, não teve.