ENTER THE NINJA (1981)

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Fui convidado pelo companheiro Karl Brezdin, do blog Fist of B-List, para participar do NINJAVEMBER 2013, um especial que reúne em seu blog textos sobre filmes de ninja espalhados pela blogosfera. Como ele disse que não havia problema o texto ser em português, resolvi contribuir com ENTER THE NINJA. Não faço ideia se outro blog vá escrever sobre o filme, mas isso pouco importa. O fato é que se existe um subgênero chamado, digamos, “ninja movie“, esta fita aqui pode ser considerada uma das mais importantes.

Filmes de ninja sempre existiram, mas AMERICAN NINJA, de Sam Firstenberg, talvez tenha sido o principal responsável por popularizar a figura do guerreiro encapuzado no cinema ocidental. Mas se voltarmos um pouco no tempo para conferir a origem da febre nos Estados Unidos, provavelmente chegaremos em ENTER THE NINJA. Produzido pela Cannon Group, da dupla Golan-Globus, e dirigido pelo próprio Menahem Golan, o filme estabelece a ideia do ocidental que se torna um mestre da arte ninjitsu. No caso deste aqui, temos ninguém menos que o italiano Franco Nero, com bigode e tudo mais, dentro de um pijama branco.

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Após completar seu treinamento no Japão e se tornar um mestre ninja, Nero vai para as Filipinas ajudar um amigo de longa data (Alex Courtney, que é a cara do James Caan na época do PODEROSO CHEFÃO), que possui um rancho no local e passa por alguns problemas com um grande empresário que quer comprar suas terras. A mulher do sujeito, Susan George, ama o local e não pretende vender de maneira alguma. E a coisa vai complicando, porque a oferta do inescrupuloso businessman é “irrecusável”, do tipo “ou vende, ou algo ruim pode acontecer“.

E o recém formado “ninja branco” resolve ajudar da melhor forma possível: distribuindo pancadas em capangas que tentam persuadir seu amigo. Finalmente, o vilão, que é interpretado por Chistopher George, decide utilizar dos mesmos recursos de seu adversário e contrata um ninja diretamente do Japão para bater de frente com Franco Nero. E por pura coincidência e originalidade do roteiro, o cara escolhe justamente um desafeto do protagonista da época dos estudos ninja, vivido por Shô Kosugi.

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Ok, já dá pra ter uma noção do que teremos aqui. Sim, o filme é bobo e até um bocado constrangedor em alguns momentos, mas acaba divertindo justamente por isso. Por exemplo, tá certo que todos nós admiramos Franco Nero como o casca-grossa do Spaghetti Western e do cinema Polizieschi, o sujeito que interpretou Keoma e o Django original. No entanto, convenhamos, como mestre ninja não convence nem a minha avó. Mas a graça de ENTER THE NINJA está exatamente na ideia absurda de ter alguém do calibre de Franco Nero como um ninja, por mais ridícula que seja. É daquelas alegrias que só o cinema dos anos 80 poderia proporcionar.

Como Nero não percebe nada de artes marciais, em TODAS as cenas de luta nota-se claramente o uso de dublê, independente do personagem estar vestido de ninja ou não. Mas a grande sacada é que entre um golpe e outro em plano aberto com o dublê, corta para um close do Franco Nero fazendo cara de quem realmente estava enfrentando uns vinte sujeitos de uma vez. É simplesmente genial. Há uma outra cena que entrega de bandeja a total falta de habilidade do ator. Nero pega um nunchaku e começa a manuseá-lo em um momento de treino, tentando fazer aqueles movimentos estilo Bruce Lee, e o resultado é extremamente tosco! Hahaha! Belo mestre ninja esse aí…

 De qualquer forma, esta questão foi alterada na continuação, REVENGE OF THE NINJA, que traz de volta o Shô Kosugi como herói. No papel de vilão até que manda bem por aqui, só que o filme é tão bobinho que em momento algum sentimos que ele é uma ameaça para o Nero. O confronto final entre os dois, por exemplo, é bem curto e o herói não tem grandes dificuldades para derrotá-lo.

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Quem se destaca é Christopher George que faz um dos vilões mais estereotipados dos anos 80. Seu personagem ficou famoso nesta era do youtube por conta da cena em que é morto pelo herói, com um video cujo título é Best Death Scene Ever. Como podemos perceber, Nero manda uma estrelinha ninja em cheio no peito do sujeito, que desmunheca, solta um gritinho estranho e faz umas caras impagáveis… Uma performance corporal artística muito expressiva, eu diria. De fazer inveja a Marlon Brando ou Lawrence Olivier. Susan George também tem muita presença, especialmente porque se nota que está sem sutiã durante o filme inteiro e os peitos ficam balançando debaixo da blusa.

A ação de ENTER THE NINJA é basicamente composta por pancadaria, só que conduzida sem muita inspiração. Até que há o suficiente pra manter o espectador entretido, mas são rápidas e não chegam a empolgar muito. São má dirigidas, má coreografadas, má decupadas. Mas valem pela presença do Franco Nero inserido nos close-ups. Alguns momentos que tentam aproveitar mais da essência do ninjitsu, especialmente as armas e as habilidades especiais que só os ninjas possuem, acabam se tornando mais interessantes. Mas, no fim das contas, são outros detalhes, ridículos ou não, que importam e que fazem ENTER THE NINJA o clássico que é.

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