CEMITÉRIO MALDITO 2 (1992)

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Mesmo não tendo o mesmo nível de qualidade do seu antecessor, CEMITÉRIO MALDITO 2 é bem legal, tem muita coisa boa acontecendo para nos entreter. Edward Furlong, o eterno moleque de O EXTERMINADOR DO FUTURO 2, interpreta Jeff, o filho de uma atriz famosa que morre num acidente durante as filmagens de seu mais recente filme de terror. Para recomeçar uma vida nova, Jeff e seu pai, um veterinário vivido por Anthony Edwards, se mudam para a pequena cidade de Ludlow, no Maine, obviamente a mesma do primeiro filme. Não demora muito, Jeff já está interagindo com os habitantes da cidade, levando porrada dos bullies e se torna amigo de Drew, o enteado do xerife local, Gus Gilbert (Clancy Brown). Numa noite, Gus mata o cachorro de Drew e, claro, ele e Jeff vão para o cemitério de animais para enterrá-lo… E o inferno está de volta à cidade.

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Uma coisa que gosto em CEMITÉRIO MALDITO 2 é que não faz questão alguma de ser uma cópia do primeiro filme, que era mais reflexivo, atmosférico e tinha um cuidado a mais com os personagens. A construção de certos indivíduos aqui é unilateral, como o xerife malvado e completamente surtado de Clancy Brown. E as coisas vão acontecendo de forma atropelada, como a transformação do personagem de Furlong, que de uma hora pra outra fica obcecado pela sua mãe morta, sem muito desenvolvimento. Mas ao mesmo tempo, tudo aqui é mais exagerado e sangrento, bem ao estilo do horror noventista, o que garante uma certa dose de diversão ao mesmo tempo que expande de maneira imaginativa e direta a mitologia criada por Stephen King no livro que deu origem ao filme de 89.

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A violência é quase cartunesca, com uma boa dose de sangue sendo jorrada, com algumas perfurações, uma cabeça explodindo, e uma cena sensacional em que Clancy Brown usa o pneu de uma moto contra o rosto de um adolescente. Não dá pra ver muita coisa, mas a ideia e a forma como fazem é muito boa. A maioria das cenas mais sangrentas é de violência animal. Desde o ciclo de filmes canibais italianos que não vejo tanto animal morto na tela… Tudo falso, claro, efeitos especiais de primeira qualidade, mas ainda assim causa uma certa impressão.

A direção é da mesma Mary Lambert que realizou o primeiro filme. Em uma entrevista, ela comenta que resolveu voltar ao universo de CEMITÉRIO MALDITO para entender o que se passa na cabeça de um adolescente, porque eles fazem coisas estúpidas… Louis Creed, no filme anterior, enterra seu filho por causa de um desejo intenso, um sentimento de culpa pela morte do filho, mas e os adolescentes estúpidos de CEMITÉRIO MALDITO 2? O que levam a enterrar uma pessoa no cemitério amaldiçoado sabendo que ela vai voltar à vida?

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Gosto bastante do trabalho de Lambert no primeiro filme, mas não sei se ela conseguiu desenvolver bem suas ideias aqui e a coisa ficou mais puxado no “estilo” do que no “conteúdo”. Mas como disse, é o tipo de filme exagerado que acaba bem sucedido em propiciar uma experiência de terror sem se preocupar com a psicologia das coisas. E que compreende com inteligência o que torna o horror desse universo de Stephen King tão inquietante. Ou, pelo menos é o tipo de produto que não me deixa entediado em momento algum. E temos um elenco muito sólido, Furlong está fazendo o que ele faz de melhor, Jason McGuire é excelente como Drew e Clancy Brown como vilão é definitivamente a melhor coisa do filme… Enfim, é uma continuação sem grandes pretensões mas que de alguma forma consegue me divertir facilmente.

CEMITÉRIO MALDITO (1989)

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Acho que a força de CEMITÉRIO MALDITO, uma certa grandeza que o coloca acima de boa parte dos filmes de horror nos anos oitenta, reside na maneira como o filme lida com a morte. Vidas são tiradas a todo instante no cinema de horror e o público, obviamente, torce para que isso aconteça. A morte é banalizada e se torna uma diversão, ninguém quer assistir a uma continuação de SEXTA-FEIRA 13 e ver o Jason saindo de mãos vazias, certo? Mas aqui a morte, a perda, tem um peso dramático muito forte e coloca o espectador em confronto com a situação trágica da morte de um filho de forma extrema e direta.

A própria ideia básica do filme, notória adaptação de Stephen King, é muito perturbadora. A trama gira em torno de uma família que se muda para uma nova casa em Ludlow, no Maine. É uma típica família feliz, recomeçando a vida, até que um caminhão em alta velocidade muda tudo isso. E a existência de um cemitério de animais de estimação amaldiçoado que reanima os mortos piora ainda mais a situação…

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É evidente que há muitas coisas boas típicas do horror, elementos fundamentais, em CEMITÉRIO MALDITO para acalentar o coração dos fãs do gênero. É um filme muito sombrio com uma atmosfera densa em alguns momentos, especialmente nas sequências das visitas ao tal cemitério; temos algumas mortes criativas, uma boa dose de sangue, um gato zumbi, sonhos bizarros, aparições de uma figura fantasmagórica, entre outras coisas… No entanto, acima de tudo, CEMITÉRIO MALDITO funciona por causa do drama central que se desenrola a partir da perda trágica de um ente querido.

A sequência do caminhão é um primor. Mesmo quem percebe na hora o que está prestes a acontecer, acaba chocado pela coragem do filme em realmente chegar nos finalmentes e fazer o que tinha que fazer… Até porque sempre existiu o tabu de se matar crianças nos filmes dessa maneira. Mas só é mostrado o essencial: o moleque indo para a rodovia, o caminhão desatento se aproximando, um sapatinho vazio que rola no asfalto. O suficiente para nos deixar sem chão e passarmos a sentir a dor do protagonista (interpretado por um Dale Midkiff). Algo que no universo de King acaba sendo bem mais aterrorizante que o horror tradicional.

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Por muito tempo, quem esteve à frente do projeto e meio que possibilitou sua existência foi o pai dos zombie movies, George A. Romero, que já era naquela altura grande amigo de Stephen King, já haviam trabalhado juntos em CREEPSHOW, e acabou comprando os direitos do livro. No contrato, duas condições: a primeira é que o filme deveria ser rodado no Maine. Depois, o próprio King deveria escrever o roteiro. E foi o que aconteceu. A dupla preparou o filme por bom tempo até que surgiram algumas atribulações entre o diretor e o estúdio, que convocou Romero no meio desse processo insistindo em refilmagens de algumas sequências de INSTINTO FATAL (Monkey Shines), que Romero havia dirigido pouco tempo antes. Para não deixar a produção parada, Romero acabou pulando fora de CEMITÉRIO MALDITO, sendo rapidamente substituído por Mary Lambert, uma diretora de video clipes que só havia feito um longa até então, SIESTA, de 87, mas que já era vista como um talento promissor.

E Lambert deu conta, conseguiu dar vida ao roteiro de King, ao universo sempre tão particular de seu criador, com muita precisão e criatividade visual. Claro, seria ótimo ver como CEMITÉRIO MALDITO seria sob a batuta de Romero, mas não aconteceu. E eu simplesmente não tenho do que reclamar desta versão, que se tornou um dos meus clássicos favoritos do horror oitentista.

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No elenco, vale destacar Brad Greenquist, a figura fantasmagórica que mostra ao protagonista o limite que não se deve ultrapassar no “semitério”; Fred Gwynne, o eterno Herman Munster, da série dos anos 60 OS MONSTROS (ou A FAMÍLIA MONSTRO); e Miko Hughes, o garotinho zumbi demoníaco com um bisturi afiado nas mãos empenhado a matar.

Aparentemente, CEMITÉRIO MALDITO é a adaptação da obra de King mais apreciada pelo próprio autor; Óbvio, considerando que ele mesmo escreveu o roteiro e que detesta, por exemplo, a adaptação de O ILUMINADO, do Kubrick, não é muito difícil o cara ter preferência por este aqui. King até faz uma breve participação como um reverendo. O filme teve uma continuação nos anos 90, dirigido pela mesma Mary Lambert, e que preciso rever, não lembro de quase nada. E aí sim, estarei devidamente preparado para encarar a nova versão que ainda não parei pra ver.