CAGED HEAT (1974)

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Já estava planejando postar sobre esse filme qualquer hora dessas, mas como hoje é aniversário do diretor Jonathan Demme, resolvi escrever qualquer coisa de uma vez. Há pouco tempo falei sobre os dois trabalhos de estreia do sujeito, na produção e roteiro de ANGELS HARD AS THEY COME e THE HOT BOX, ambos dirigidos por Joe Viola e com Roger Corman também na produção, mas CAGED HEAT entra de fato na filmografia de Demme como seu primeiro trabalho como diretor meeesmo.

Não custa repetir que estamos falando do Jonathan Demme que quase duas décadas mais tarde ganhou o Oscar de melhor diretor por O SILÊNCIO DOS INOCENTES, produção que também abocanhou o prêmio de melhor filme. Mas o cara começou mesmo fazendo filme na zona, exploitations violentos e cheio de mulheres com peitos de fora. E nada melhor que um WIP (Women in Prison) para explorar todas essas possibilidades filosóficas… É por isso que CAGED HEAT começa num assalto que termina muito mal, com dois bandidos cravados de balas pela polícia e a única mulher do grupo, Jaqueline (Erica Gavin) é presa e enviada para uma prisão feminina. E não demora muito para um médico da prisão confessar: “Girls, this isn’t something I enjoy either but I need you to get undressed…” Oh! Yeah!

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E os fãs de cinema grindhouse vão surtar com o material humano que temos aqui. Jaqueline aos poucos vai conhecendo outras garotas na prisão, formando um elenco dos mais interessantes do gênero, incluindo Roberta Collins, Juanita Brown e Cheryl Smith – que é apresentada numa sequência de sonho, sendo bolinada por um misterioso estranho entre as grades de sua cela. A diretora da prisão é ninguém menos que a musa do horror gótico dos anos 60, Barbara Steele. Apesar de sádica, sua personagem, a superintendente McQueen, é confinada à uma cadeira de rodas e, retraída sexualmente, fica ofendida a qualquer insinuação erótica de suas prisioneiras, como na cena da apresentação teatral. Não pensa duas vezes antes punir qualquer garota que lhe cause desconforto por conta de sua condição, trancando quem quer que seja na solitária, mas sem antes, obviamente, lhes arrancar as roupas para que o espectador mantenha a atenção no filme…

Jaqueline entra em apuros com Maggie (Brown), que é a durona do pedaço, e as duas “puxam o cabelo” uma da outra… Ao invés de irem para solitária, McQueen as colocam num tratamento de choque com o taradão Dr. Randolph, o mesmo da frase do início do filme, que se aproveita das pobres moças sedadas para, basicamente, tirar as roupas das meninas, colocar a mão onde não deve, tirar umas fotos de polaroide, coisas dessa natureza… Mas durante um dia de trabalho agrícola forçado nos pomares aos arredores da prisão, Jaqueline e Maggie, agora amiguinhas, conseguem escapulir, roubando um caminhão da prisão. As duas decidem esquecer suas diferenças, unem forças, arrumam armamento pesado e voltam para prisão para acabar, à base de tiro, com a tirania de McQueen e com a situação ultraje e imprópria com a qual as prisioneiras são tratadas.

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Jonathan Demme pode ter deixado sua essência exploitation de lado ao longo da carreira, mas aqui no seu debut como diretor não faz a mínima questão de inventar algo novo ao gênero. CAGED HEAT é praticamente um filme padrão do WIP, com todos os ingredientes que o estilo pede: cenas de chuveiro, briga de garotas, guardas sádicas e reprimidas sexualmente e um final mais explosivo, cheio de ação. Em alguns pequenos e singelos detalhes vê-se um esforço, uma tentativa de dar alguma personalidade, lançar algum olhar pessoal e artístico por parte de Demme. Mas não adianta, aqui é exploitation até o talo. Longe até de ser dos melhores filmes do gênero, mas divertido, sexy e bem humorado como tem que ser.

Assim como os primeiros trabalhos de Demme, CAGED HEAT também foi produzido pelo Corman e chegou a ter algumas continuações vagabundas nos anos 90, como CAGED HEAT II – STRIPPED OF FREEDOM, que não servem pra muita coisa a não ser para ver mais peitos de fora… Ou seja, sempre vale umas conferidas.Cjuve

THE HOT BOX, aka HELL CATS (1972)

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Há poucos dias postei sobre ANGELS HARD AS THEY COME (1971), primeira investida do diretor Jonathan Demme no cinema, ainda sob a batuta do Roger Corman e tendo seu parceiro de produção publicitária, Joe Viola, na direção. Aqui em THE HOT BOX a coisa se repete. Neste período, Corman entrava numa de enviar seus pupilos às Filipinas onde várias produções exploitation estava aparecendo – Jack Hill, por exemplo, filmou no local THE BIG DOLL HOUSE e THE BIG BIRD CAGE, dois belos exemplares de WIP (Women in Prison) na selva – e a dupla Demme e Viola não perderia a oportunidade. Meteram-se nas Filipinas para fazer também um WIP.

A trama, no entanto, se passa em algum país da América Latina, onde um grupo de enfermeiras americanas fazem um trabalho de socorro no local que vive em guerra, dominado por um tirano qualquer e com revolucionários querendo derrubar o poder. O problema começa quando os tais revolucionários sequestram essas enfermeiras e as obriga a ensinarem técnicas de primeiro socorros aos guerrilheiros. Apesar disso, as moças conseguem simpatizar pelos ideais de seus captores e até mesmo acabam lutando com armas em punho pela causa…

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Não, THE HOT BOX não é um bom filme como aparenta. Mas eu gosto. Gosto de tralha cinematográfica de mau gosto, portanto gosto de THE HOT BOX. Principalmente porque ele possui todos os elementos que não podem faltar num bom WIP. Tá certo que o plot é um bocado diferente dos tradicionais filmes do gênero, mas toda vez que alguma das moças sai da linha, acaba enviada a uma cela para sofrer as consequências, o que inclui alguns itens básicos do gênero, como o excesso gratuito de humilhação feminina* e grande dose de peitos de fora.

O que realmente atrapalha um pouco THE HOT BOX é que apesar da pouca duração, o filme consegue ser lento e chato em alguns momentos e nunca conseguimos criar identificação suficiente com alguns personagens para acompanhá-los com a devida animação, nem entre as enfermeiras, que esperamos apenas que tirem a roupa, e muito menos com os revolucionários. O filme termina com uma bela sequência de batalha, o que deixa as coisas mais interessantes. Destaque para a presença de Charles Dierkop, que já havia me chamado a atenção em ANGELS HARD AS THEY COME, e aqui novamente surpreende na pele de um comandante do exército local que faz jogo duplo para acabar com guerrilheiros.

* Antes que eu seja acusado de misógino, quero deixar claro que apoio causas feministas e sou totalmente contra a qualquer tipo de violência contra a mulher.

ANGELS HARD AS THEY COME (1971)

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Jonathan Demme é mais lembrado por algumas obras de peso em Hollywood no início dos anos 90. No entanto, sua estreia no cinema foi mesmo com exploitations vagabundos de baixo orçamento. E o responsável por colocá-lo nessa posição não poderia ser ninguém exceto o mestre Roger Corman. Demme trabalhava com produção de filmes publicitários e acabou se encontrando com o Rei dos B Movies, que não quis perder muito tempo e lhe perguntou:

Ei, garoto, gostas de filmes de motocicleta?
Sim, Roger. Particularmente, gosto muito do seu THE WILD ANGELS (66) – respondeu Demme.
Ok, ótimo! Por que você não escreve um roteiro para um filme de motocicleta pra mim?

Bem, talvez não tenha sido com essas palavras exatas, mas segundo depoimentos do próprio Demme a coisa funcionou mais ou menos desse modo. O futuro diretor tinha então vinte e quatro anos e um parceiro, Joe Viola, que dirigia os filmes publicitários que produzia. Demme e Viola se reuniram e escreveram uma ideia que a princípio seria uma versão motorizada de RASHOMON, mas com muitas cenas de sexo e violência, algo que agradou bastante o Corman. Depois de escrito, a dupla sentou num café em Londres com o velho produtor e este leu cada uma das oitenta páginas do roteiro enquanto Demme e Viola esperavam em sua frente. Quando acabou, disse apenas “Humm… Isso aqui é muito bom! Acho que podemos fazer. Joe, você já é diretor de comerciais, e Jonathan, você é quem os produz. Por que vocês não vão à L.A. daqui a dois meses e realizam o filme?”. E foi assim que tudo começou para Demme. Vinte anos depois, o sujeito ganharia o Oscar de melhor diretor por O SILÊNCIO DOS INOCENTES.

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E o resultado é este ANGELS HARD AS THEY COME, que foi realmente dirigido pelo Viola enquanto Demme ocupou da produção. E no fim das contas, tem pouco, muito pouco a ver com o filme do Kurosawa que teoricamente fora inspirado. Mas cumpre o que promete, trata-se de um filme de gangues motocicletas com bastante sangue, muita pancadaria e vários peitinhos de fora… E embora eu ainda tenha uma porrada de exemplares para conferir, sempre tive uma queda por Biker Movies desse período. Até os filmes ruins acabam sendo divertidos. Não sei, são muitos atrativos juntos pra se ver… Personagens sujos e bêbados em festas, mijando uns nos outros, apostando corridas, arrastando pessoas amarradas em suas motos, mulheres desavergonhadas, enfim, todas essas coisas boas. E ANGELS HARD AS THEY COME acaba por ter tudo isso ao nosso dispor. Continuar lendo