Outro dia estava vendo um filme de espionagem dirigido pelo John Sturges. Não conhecia a obra, mas do diretor, é quase impossível errar na escolha. Ao menos, o que vi do Sturges, só clássicos do autêntico cinema badass: SETE HOMENS E UM DESTINO, FUGINDO DO INFERNO, CONSPIRAÇÃO DO SILÊNCIO, SEM LEI E SEM ALMA, entre outras coisas boas.
Sturges sempre teve certo prestígio e respeito entre os admiradores do “cinema de ação raiz”, mas já a crítica séria subestima diretores que não possuem uma veia autoral, como é, de fato, o caso de Sturges. O sujeito era um típico diretor “Pistoleiro de Aluguel”, desses que sabem atirar muito bem, mas acabam não deixando muito rastro. Ou seja, não possuem um caráter autoral, embora façam seu trabalho muito bem feito. E em se tratando de filmes de ação, o cara sabia muito bem onde colocar sua câmera e como orquestrar o que se passava na frente dela, como preencher os espaços da tela larga do CinemaScope.
O tal filme de espionagem em questão é um bom exemplo disso. O título do filme no Brasil é O MUNDO MARCHA PARA O FIM, adaptação de um livro de Alistair MacLean, autor de clássicos suspenses de guerra, como OS CANHÕES DE NAVARONE. No elenco temos George Maharis e um grisalho Dana Andrews, cuja carreira já estava em declínio. No início do filme, acontece uma invasão num laboratório ultrassecreto de guerra química e bacteriológica do governo americano, quando um dos cientistas havia acabado de aperfeiçoar um novo vírus, que fora apelidado de “the satan bug“, que é também o título original do filme. Quando em contato com a atmosfera, o vírus parece ser completamente imparável e um único frasco poderia, em teoria, acabar com toda a vida na Terra. É tão perigoso que os cientistas estavam considerando seriamente destruí-lo, pela suspeita de ser letal demais para ter algum uso prático.
Para um caso tão urgente, é necessário um tipo muito especial de agente para resolver as coisas e fazer, digamos, um trabalho sujo. E o homem certo é Lee Barrett (Maharis), um espião dissidente, que foi demitido de todos os cargos que ocupou, tido como encrenqueiro e causador de dor de cabeça para o governo. Ou seja, Mas o homem perfeito para o trabalho de pegar os terroristas e recuperar o perigoso vírus. Daí pra frente o filme não para…
John Sturges não tinha um grande orçamento para trabalhar, mas sabe muito bem o que fazer com este tipo de material, e segura o filme com boa dose de tensão. Não temos aqui nenhum discurso entediante do vilão insano que tenta justificar suas ações e, apesar do assunto e do contexto da época, o filme acaba não sendo levado para o lado político… É um thriller de ação, puro e simples. O filme também não perde tempo com explicações pseudocientíficas elaboradas. Tudo o que precisamos saber é que o vilão tem uma arma super poderosa em mãos e ele deve ser parado à qualquer custo. É-nos dado apenas o suficiente para tornar essa ameaça assustadora e não deixar que o público desgrude os olhos da tela. E considerando o baixo orçamento, algumas sequências de ação são bastante impressionantes, com perseguições de carro, tiroteios e até uma luta em um helicóptero em pleno ar.
Não sei se esse aqui já foi lançado no Brasil em DVD, mas fica a dica para alguma distribuidora brasileira o lançamento desta e de outras obras do Sturges não tão conhecidas e que fariam sucesso no mercado de vídeo. O MUNDO MARCHA PARA O FIM é um desses filmes esquecidos de um grande diretor que a vale a pena uma conferida.