O fato do policial Harry Callahan ter jogado fora seu distintivo ao final de DIRTY HARRY não valeu absolutamente de nada. O filme ganhou esta primeira continuação dois anos depois e logo no início o personagem de Clint Eastwood já aparece de volta agindo como homem da lei, seguindo ainda os seus princípios anti-sistema, algo que os críticos de cinema na época acusaram de fascismo. Bando de chatos politicamente corretos…
Em MAGNUM 44 não temos um mestre como Don Siegel na direção, calhou de ser o pau-pra-toda-obra Ted Post no comando, mas como temos John Milius e Michael Cimino assinando o roteiro fica fácil. Até o Uwe Boll e o Albert Pyun conseguiriam fazer um bom filme.
Basicamente, o que temos em MAGNUM 44 é uma série de assassinatos inusitados acontecendo, colocando a força policial e “Dirty” Harry para esquentar os miolos. As vítimas são sempre pessoas do mundo do crime. Mafiosos, cafetões, meliantes procurados pela polícia, e o assassino é sempre um policial fardado com o uniforme da polícia de trânsito. Portanto já podemos perceber uma diferença crucial entre DIRTY HARRY e este aqui. Os bandidos não são serial killers com motivos banais, mas justiceiros que decidem iniciar um trabalho de execução para limpar as ruas de São Francisco.
É difícil alguém ter simpatia pelo Scorpio, vilão do primeiro filme, mas com esses caras de MAGNUM 44 você pode pensar “bem, eles agem mais ou menos como o Harry, não? Possuem a mesma ideologia“. E essa é a beleza da coisa. Nós já conhecemos o personagem de Harry, podemos confiar nele, sabemos que só vai atirar em bandidos armados e ainda soltar uma frase cool logo depois. Mas e esse bando de motoqueiros fardados? Quão fina é a linha traçada que separa “Dirty” Harry desses justiceiros? É algo a se pensar, mas parece que o personagem de Clint Eastwood já sabe a resposta e não quer perder muito tempo com estudos sociológicos. Seu negócio é ação.
E neste quesito MAGNUM 44 se sai realmente muito bem. O diretor Ted Post segue a linha dos cineastas artesãos que sabem fazer a coisa muita bem feita, embora lhes falte o talento de um Siegel ou Peckinpah. Há boas ideias em termos de ação sendo aproveitadas aqui com muita eficiência, como a sequência de perseguição ao final que culmina numa embarcação abandonada e toda a tensão que é construída para deixar o espectador vidrado. Ajuda bastante a presença de Clint Eastwood em cena acrescentando seu habitual toque de classe.
Os assassinatos e o modo de agir dos justiceiros também são destaques. Lembro que foi o que mais me marcou quando era moleque e assisti de uma fita VHS que meu velho gravou da Globo no final dos anos oitenta. A sensação era de estar vendo um filme de horror… Me dava arrepio como tudo era conduzido de forma seca e brutal, o policial pedindo a carteira de motorista do indivíduo e do nada puxava o revolver e mandava chumbo na cabeça. Agora que já sou grandinho a sensação se perde, fica a lembrança. Mas essas cenas ainda possuem muita força.
Como adiantei no post de DIRTY HARRY de ontem, tenho uma certa preferência por MAGNUM 44 em relação aos outros episódios do policial mais durão de São Francisco. Ok, o filme que originou a série, dirigido pelo mestre Don Siegel, é um autêntico clássico, isso não tenho dúvida alguma, mas este aqui de alguma maneira supera seu antecessor na minha opinião… Não sei, é mais tenso, pesado, é mais nostálgico e divertido, me traz certos sentimentos que o primeiro não traz. Mas também não preciso me justificar tanto, né? Este aqui é um baita filmaço e pronto!