HALLOWEEN (1978)

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Este ano não fiz o meu habitual Especial de Halloween, com filmes de terror… Não tive nenhum motivo, apenas não me apeteceu. Mas como hoje ainda dá tempo de trazer algo aqui no blog sobre o tema, que tal falar um pouquinho de um dos maiores clássicos do gênero em todos os tempos e que carrega a data comemorativa estampada no título?Não sou muito chegado em escrever sobre as obras-primas já celebradas que existem por aí, prefiro comentar umas coisas obscuras e de qualidade duvidosa. Acho mais divertido. E considero HALLOWEEN, do John Carpenter, um filminho simplesmente GENIAL. Mas já que estamos exatamente nesta data especial, vou arriscar alguns comentários.

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Só pra provar o efeito que este filme teve no período do lançamento, basta observar o seu sucesso comercial. Com um orçamento de cerca de 300 mil dólares, arrecadou uns 60 milhões, tornando-se a produção independente mais lucrativa do cinema americano na época. Outra maneira de entender o fenômeno HALLOWEEN é de fato sentar a bunda no sofá e ver e rever e comprovar que se trata de uma das experiências mais fascinantes dentro do gênero do horror americano.

A trama, se formos parar pra analisar, é um fiapinho de nada sobre um assassino maluco e mascarado à solta numa pequena cidade na noite de Halloween, aterrorizando adolescentes. O que acontece é que essa historinha foi transformada, nas mãos de Carpenter, numa verdadeira aula de cinema, com uma assustadora coreografia de câmeras, iluminação, trilha sonora, em uma sucessão de planos/imagens que absorve o espectador num universo de horror de maneira única.

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HALLOWEEN cria um dos principais ícones do slasher americano, o serial killer Michael Myers, que é apresentado neste primeiro filme como um garoto que, no Dia das Bruxas, resolve pegar uma faca e descobrir como era sua irmã mais velha… por dentro. Tudo filmado num plano sequência de grande força visual, com uma câmera subjetiva onde nós adquirimos o olhar do precoce assassino. Após dez anos de confinamento num manicômio, Michael foge e retorna para Haddonfield para aterrorizar e fazer novas vítimas. Uma delas é Laurie, Jamie Lee Curtis, que consegue sobreviver e na sequência lançada em 1981 descobrimos que ela é a irmã de Myers.

O meu personagem favorito da série é o Dr. Loomis, encarnado pelo grande Donald Pleasence. O sujeito caça Michael Myers como Van Helsing caça vampiros, porque após anos e anos de estudos como psiquiatra de Michael, Loomis parece ser o único com a noção de perigo que é ter o Myers à solta zanzando por aí. A forma como demonstra isso é andar sempre com um 38 carregado. Não só neste, mas em quase todos os filmes da série em que o personagem aparece, Pleasence possui um desses desempenhos expressivos digno de nota.

9201859_orig1284125_origMas o grande destaque de HALLOWEEN e que o eleva ao status de clássico é mesmo a direção de Carpenter, com todo o trabalho de câmera e apuro visual, que eu não canso de elogiar, bastante influenciado por Dario Argento. Howard Hawks sempre foi uma inspiração óbvia do Carpinteiro, mas tanto pelo uso da câmera subjetiva, a maneira como se move, quanto pela estilização visual das cores e iluminação, fica claro, especialmente aqui, que Carpenter deu umas assistidas em PROFONDO ROSSO e SUSPIRIA antes de filmar HALLOWEEN. E o resultado visto na tela, somado à estranha e minimalista trilha sonora do próprio Carpenter, cria um clima de puro horror e tensão, praticamente estabelecendo um padrão para este tipo de produto. Quase todos os elementos que conhecemos dos slasher movies nasceram aqui e por isso nunca me canso dessa belezinha…

HALLOWEEN II – O PESADELO CONTINUA (Halloween II, 1981), de Rick Rosenthal

Primeiro, uma confissão: da série HALLOWEEN original (e não essa bobagem do Rob Zombie, cujo segundo não me dei nem o trabalho de assistir ainda) os únicos filmes que realmente vi foram os dois primeiros. O do John Carpenter é uma belezura, puta aula de suspense, trabalho atmosférico sensacional, além da utilização magistral de vários elementos que serviram de base para toda uma cadeia de filmes de terror que brotou nos anos 80. Estou sempre revendo. Aliás, toda a obra do velho Carpinteiro deveria ser vista e revista incontáveis vezes…

A continuação de HALLOWEEN, até onde me lembro, foi um dos primeiros filmes de terror que assisti, antes até do que o original. Mas para um pirralho medroso isso não fez diferença alguma, borrei de medo de qualquer forma. Hoje, revendo depois de tanto tempo, continuo achando um bom filme, inferior ao primeiro, mas não deixa de possuir sua força dentro do gênero.

Escrito pelo próprio John Carpenter em parceria com a sua colaboradora, Debra Hill, HALLOWEEN II continua no mesmo ponto onde o primeiro filme termina. Laurie Strode (Jamie Lee Curtis), depois de quase comer capim pela raiz nas mãos do louco varrido Michael Myers, vai parar num hospital praticamente deserto sobre o qual o filme transcorre como seu cenário principal. Enquanto isso, o Dr. Loomis (Donald Pleasence), que descarregou seu 38 em Myers, procura o corpo do sujeito, o qual simplesmente levantou, fugiu e desapareceu. O roteiro ainda aproveita para criar um laço familiar entre Myers e Laurie para botar mais lenha na fogueira.

Logo no início, seguimos os passos de Myers espreitando entre aquelas casinhas americanas sem muros. Essas sequências já apresentam o tom do filme, cheio de câmeras subjetivas e uma lentidão quase poética que faz todo sentido em relação ao seu assassino. Michael Myers é daqueles que nunca correm atrás de suas vítimas, deixando o espectador com os nervos à flor da pele com suas perseguições perturbadoras. Enquanto a criatura desesperada sai quebrando tudo pela frente numa correria desenfreada, Myers segue dando seus passinhos calmamente e, exceto os “mocinhos”, sempre alcança o alvo onde menos se espera.

Uma das melhores cenas de HALLOWEEN II se caracteriza justamente pela situação acima (tirando o desfecho, claro), quando Laurie corre freneticamente pra não ter a carcaça perfurada e tem de esperar o elevador abrir a porta enquanto Myers vem tranquilo em sua direção. Se ele tivesse apertado os passos um pouquinho, teria cortado mais uma garganta para a sua coleção, mas não seria também uma cena magnífica de puro suspense que simboliza a essência de um dos grandes elementos do slasher movie.

Acho que elogiar a direção de Rick Rosenthal é um tanto equivocada. Não sou o mais indicado a falar sobre o assunto, mas li em alguns lugares que após várias discussões e muitas diferenças de opiniões, Carpenter meteu um pé na bunda de seu diretor e assumiu o posto. Não seria surpresa se ele tivesse dirigido a cena do elevador, mas realmente HALLOWEEN II tem muito de John Carpenter. Se foi mesmo o Rosenthal que dirigiu a maioria das cenas, meus sinceros elogios a ele. Fez um ótimo trabalho!

Só sei que em 2002, Rosenthal dirigiu HALLOWEEN: RESURRECTION, cuja cara não é nada promissora…

Jamie Lee Curtis retorna ao papel que praticamente a lançou no cinema, mas fica meio apagada, até porque sua personagem é uma moribunda na cama do hospital em grande parte do filme. Quem se destaca mesmo é o sempre genial Donald Pleasence em performance inspirada e muito participativo.

Em tempos de HALLOWEEN’s de Rob Zombie, SEXTA FEIRA 13, de Marcus Nispel, e outras tralhas pretenciosas que aparecem nos cinemas atualmente, fico com qualquer slasher menor dos anos 80. Agora que revi esta segunda parte da série iniciada pelo Carpenter, vou procurar assistir logo as partes seguintes que ainda não tive o prazer (ou desprazer) de conferir.