Este ano não fiz o meu habitual Especial de Halloween, com filmes de terror… Não tive nenhum motivo, apenas não me apeteceu. Mas como hoje ainda dá tempo de trazer algo aqui no blog sobre o tema, que tal falar um pouquinho de um dos maiores clássicos do gênero em todos os tempos e que carrega a data comemorativa estampada no título?Não sou muito chegado em escrever sobre as obras-primas já celebradas que existem por aí, prefiro comentar umas coisas obscuras e de qualidade duvidosa. Acho mais divertido. E considero HALLOWEEN, do John Carpenter, um filminho simplesmente GENIAL. Mas já que estamos exatamente nesta data especial, vou arriscar alguns comentários.
Só pra provar o efeito que este filme teve no período do lançamento, basta observar o seu sucesso comercial. Com um orçamento de cerca de 300 mil dólares, arrecadou uns 60 milhões, tornando-se a produção independente mais lucrativa do cinema americano na época. Outra maneira de entender o fenômeno HALLOWEEN é de fato sentar a bunda no sofá e ver e rever e comprovar que se trata de uma das experiências mais fascinantes dentro do gênero do horror americano.
A trama, se formos parar pra analisar, é um fiapinho de nada sobre um assassino maluco e mascarado à solta numa pequena cidade na noite de Halloween, aterrorizando adolescentes. O que acontece é que essa historinha foi transformada, nas mãos de Carpenter, numa verdadeira aula de cinema, com uma assustadora coreografia de câmeras, iluminação, trilha sonora, em uma sucessão de planos/imagens que absorve o espectador num universo de horror de maneira única.
HALLOWEEN cria um dos principais ícones do slasher americano, o serial killer Michael Myers, que é apresentado neste primeiro filme como um garoto que, no Dia das Bruxas, resolve pegar uma faca e descobrir como era sua irmã mais velha… por dentro. Tudo filmado num plano sequência de grande força visual, com uma câmera subjetiva onde nós adquirimos o olhar do precoce assassino. Após dez anos de confinamento num manicômio, Michael foge e retorna para Haddonfield para aterrorizar e fazer novas vítimas. Uma delas é Laurie, Jamie Lee Curtis, que consegue sobreviver e na sequência lançada em 1981 descobrimos que ela é a irmã de Myers.
O meu personagem favorito da série é o Dr. Loomis, encarnado pelo grande Donald Pleasence. O sujeito caça Michael Myers como Van Helsing caça vampiros, porque após anos e anos de estudos como psiquiatra de Michael, Loomis parece ser o único com a noção de perigo que é ter o Myers à solta zanzando por aí. A forma como demonstra isso é andar sempre com um 38 carregado. Não só neste, mas em quase todos os filmes da série em que o personagem aparece, Pleasence possui um desses desempenhos expressivos digno de nota.
Mas o grande destaque de HALLOWEEN e que o eleva ao status de clássico é mesmo a direção de Carpenter, com todo o trabalho de câmera e apuro visual, que eu não canso de elogiar, bastante influenciado por Dario Argento. Howard Hawks sempre foi uma inspiração óbvia do Carpinteiro, mas tanto pelo uso da câmera subjetiva, a maneira como se move, quanto pela estilização visual das cores e iluminação, fica claro, especialmente aqui, que Carpenter deu umas assistidas em PROFONDO ROSSO e SUSPIRIA antes de filmar HALLOWEEN. E o resultado visto na tela, somado à estranha e minimalista trilha sonora do próprio Carpenter, cria um clima de puro horror e tensão, praticamente estabelecendo um padrão para este tipo de produto. Quase todos os elementos que conhecemos dos slasher movies nasceram aqui e por isso nunca me canso dessa belezinha…