THE VOID (2016)

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Pedi algumas sugestões de filmes da safra mais recente pela página do facebook do blog  que o leitor gostaria de ver por aqui e recebi uma enxurrada de títulos os quais aos poucos vou comentando. Alguns eu até já tinha assistido, como o filme novo do Paul Schrader, FIRST REFORMED, ou o terror indie THE INVITATION, e até mesmo THE VOID, de Jeremy Gillespie, Steven Kostanski, que é o primeiro que vou comentar.

THE VOID foi concebido através de um Kickstarter que conseguiu levantar um orçamento suficiente para a produção de um longa-metragem, cheio de efeitos especiais práticos à moda antiga de dar inveja a qualquer superprodução recheada de CGI e que tem suas influências bem definidas num encontro entre John Carpenter, Clive Baker, Lucio Fulci e H.P. Lovecraft. Na trama, o policial Daniel Carter (Aaron Poole) está quase finalizando seu turno quando vê um homem cambaleando e caindo para fora de uma floresta à beira da estrada. Ele pega o sujeito em sua viatura e dirige-se ao pronto-socorro mais próximo, que é justamente o único setor que ainda opera perfeitamente no hospital depois que um incêndio danificou severamente o prédio.

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Chegando no local, o inferno começa: figuras vestidas de branco, que se assemelham a uma seita, começam a brotar gradativamente em volta do hospital, cada vez mais cercando o local, e dois homens aparecem bastante empenhados em matar o sujeito que Carter ajudou… No entanto, podem acreditar, esses são os menores problemas enfrentados por aqui. O caldo realmente engrossa quando os personagens são forçados a se defender de uma ameaça sobrenatural que assola as profundezas do hospital.

Os diretores Jeremy Gillespie e Steven Kostanski são dois membros do coletivo canadense Astron 6, que realizou algumas obras interessantes que misturam ação/horror/sci-fi com boas doses de humor, sempre homenageando o cinema de gênero cultuado dos anos 70 e 80, como é o caso de FATHER’S DAY, MANBORG e o sensacional THE EDITOR. Em THE VOID eles deixam a faceta humorística de lado e se preocupam em fazer um horror atmosférico realmente aterrador, com boas doses de ação e momentos perturbadores que remetem a filmes como HELLRAISER, de Cliver Barker, e THE BEYOND, de Lucio Fulci.

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A fórmula não é nada original, é um básico “terror de cerco”, com personagens barricados num local fechado, lidando com ameaças internas e externas, sobrenaturais ou não, como nos clássicos de John Carpenter ASSALTO A 13º DISTRITO e PRÍNCIPE DAS TREVAS. Embora narrativamente frágil, da premissa muito vaga e um trabalho superficial com os personagens, THE VOID acaba investindo – e sendo bem melhor sucedido – em propiciar uma experiência de terror puro, um pesadelo filmado, sem se preocupar com o sentido das coisas, mas que compreende com inteligência o que torna o horror de Lovecraft tão inquietante. É um dos melhores filmes que captura a sensação desse estilo específico de horror lovecraftiano desde FROM BEYOND, de Stuart Gordon. THE VOID traz de volta o melhor do horror cósmico.

E eu sei que não é um boa maneira de elogiar um filme, mas uma das melhores coisas de THE VOID é a galeria de posters que o pessoal de marketing do filme desenvolveu. Dá vontade de pendurar tudo na parede. Seguem alguns:

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MORTE PARA UM MONSTRO (Die, Monster, Die! 1965)

DieMonsterDie-CG06-tnOs aficcionados pela obra do escritor H. P. Lovecraft provavelmente vão querer conhecer MORTE PARA UM MONSTRO, de Daniel Heller, produção de James H. Nicholson e Samuel Z. Arkoff, os cabeças da American International Pictures (AIP) – responsáveis por vários dos melhores trabalhos do genial Roger Corman. O filme adapta The Colour Out of Space, conto escrito em 1927 por Lovecraft. Ao contrário dos filmes de Corman, no entanto, especialmente as adaptações de Edgar Allan Poe, e já fazendo uma comparação um tanto cretina, até porque é impossível não pensar o filme como um sub-Corman, MORTE PARA UM MONSTRO pode soar um bocado simplista e até mesmo bobo em termos de conteúdo e personagens, mas ainda reserva alguns atributos interessantes para segurar a atenção.

A verdade é que as histórias de Lovecraft têm se demonstrado quase infilmáveis. Tirando, claro, as adaptações extremamente livres de Stuart Gordon, com o seu RE-ANIMATOR, FROM BEYOND e outros, quais filmes fielmente adaptados do autor americano resultaram em grandes obras? Bem, pelo menos eu não consigo me lembrar de nenhum exemplo e, assistindo a MORTE PARA UM MONSTRO, isso não mudou muito de figura, embora eu tenha curtido o filme, especialmente o que toca todo o conceito estético.

vlcsnap-2014-04-11-03h40m33s120_zps09db6bacNick Adams é Stephen Reinhart, um americano que chega à pequena cidade de Arkhan, na Inglaterra, em busca da mansão dos Witley, mas acaba sendo sendo extremamente mal recebido pelos locais no instante em que, apavorados, ficam sabendo que o rapaz está procurando tal lugar. Mesmo com os avisos de dar meia volta, retornar aos EUA e se enfiar debaixo das cobertas, Reinhart resolve seguir caminho. Ao se aproximar do seu destino, o rapaz percebe que algo estranho tem assolado a paisagem, especialmente aos arredores da mansão, totalmente desértico, com uma imensa cratera no chão, onde deveria haver uma vegetação verdinha, além uma névoa densa e constante realçando a atmosfera, provavelmente até o cheiro deveria ser incomum…

Uma vez dentro da mansão, as coisas não ficam melhores. Surge em cena Nahum Witley, personagem de Karloff, arrepiante como o patriarca da mansão, preso numa cadeira de rodas, mas que atormenta o pobre Reinhart dizendo que ele não pode ficar e deve ir embora imediatamente. Além disso, uma estranha luz verde fosforescente brilha no porão da casa, acrescentando ainda mais o número de bizarrices do local e instigando a curiosidade de Reinhardt. Mas nada disso impede o rapaz de permanecer no local. A atenção de Reinhart é somente à bela filha de Karloff, interpretada por Suzan Farmer, demonstrando ou uma estupidez sobre-humana ou um desejo incontrolável do cara em tirar o cabaço da moça, para não sair correndo dali o mais rápido possível!

vlcsnap-2014-04-11-03h41m05s185_zps01806678A primeira hora de MORTE PARA UM MONSTRO é basicamente resolvida na conversa, com uma narrativa lenta que trabalha os elementos do suspense de forma esporádica, para não dizer arrastada e enfadonha. Heller dirige o filme de maneira pesada, sem grandes inspirações com a câmera, mas bastante apoiado no visual que a obra possui e que é absurdamente fascinante, seja pela elaboração dos elementos estéticos ou pela forma como a cor é distribuída na tela. Isso a ajuda a manter o foco na história.

É curioso notar também que Heller foi diretor de arte de vários filmes de Roger Corman no ciclo Edgar A. Poe, cujo padrão estético reserva muita semelhança com MORTE PARA UM MONSTRO. Portanto, não é difícil identificar os motivos que fizeram Heller se preocupar mais com o visual do que com o ritmo da narrativa e detalhes de dramaturgia. E, neste caso, atrapalha um bocado o fato dos personagens não terem tanto carisma quanto deveriam, nem mesmo a presença de Karloff em cena é suficiente, um ator com bons recursos dramáticos para esse tipo de produção.

Die Monster Die - CG.avi_snapshot_00.53.42_[2012.12.15_23.46.45]Mas à medida em que os personagens aproximam-se das reais ameaças que a trama prepara e alguns corpos começam a aparecer misteriosamente, a coisa engrena e melhora consideravelmente. Reinhart, por exemplo, passa a bisbilhotar a estranha luz verde no porão e descobre que o artefato trata-se de um pedra que caiu do céu, ou como dizia aquele personagem do Ramón Valdéz, num episódio de Chapolim: “São aerolitos! Aerolitos!“. O velho Witley pegou o meteorito para usar a radiação nas suas plantas dentro de uma estufa, fazendo-as crescer e dar uma “bombada”.

O problema é que com o tempo, as plantas do velhote se transformam em criaturas bizonhas e o efeito colateral da radiação foi responsável pela morte de sua esposa, Letitia, e tem ferrado com sua saúde e a de todos que se aproximam do local, afetando até mesmo o ecossistema da região. Nahum planeja destruir o meteorito, mas as coisas só pioram… pioram para os personagens, claro, porque para o espectador é só diversão. Ao final, por exemplo, temos uma sequência espetacular na qual Karloff passa por uma transformação e torna-se numa espécie de Surfista Prateado com um brilho esverdeado, já “possuído” pelo meteoro, e tenta matar quem estiver em seu caminho.

DieMonsterDie-CG28-tn No fim das contas, MORTE PARA UM MONSTRO consegue deixar uma boa impressão, principalmente pelos acontecimentos do terço final, que é bem mais instigante para o público e mantém uma ação mais contínua na tela até certo ponto; o visual estonteante, que acaba sendo o principal elemento a ser apreciado, também contribui para a impressão final; e, claro, o Karloff, que apesar de não ser suficiente para contribuir com o ritmo na primeira metade do filme, ao menos participa com dignidade e consegue brilhar, literalmente e simbolicamente, na metade final. Ainda assim não dá para ignorar a falta de ritmo que o filme possui, o que pode tornar a experiência um bocado cansativa.

Vale ressaltar que MORTE PARA O MONSTRO não é a única adaptação cinematográfica do conto The Colour Out of Space. A mais famosa, além desta aqui, é A MALDIÇÃO – RAÍZES DO TERROR (87), um dos poucos filmes dirigidos pelo ator David Keith. Nunca vi, não sei se presta. Mas na dúvida, mesmo com todos os seus problemas visíveis, recomendo MORTE PARA UM MONSTRO.

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