ESPECIAL DON SIEGEL #26: O MOINHO NEGRO (The Black Windmill, 1974)

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Assisti outro dia a O MOINHO NEGRO pela primeira vez para adiantar este especial eterno aqui no blog. Trata-se de um thriller de espionagem que o Siegel fez lá pelos lados da Europa e meio que sumiu dos radares entre os filmaços que o homem fez nos anos 70, pós DIRTY HARRY e CHARLEY VARRICK. Andei lendo algumas críticas da época e outras que saíram já na era da internet e é curioso como a grande maioria desdenha da obra, que realmente não está a altura dos melhores filmes do sujeito, mas é legal, não deixa de ser interessante, tem vários momentos ótimos. E tem um Michael Caine encabeçando o elenco (que é fantástico e conta com a presença do grande Donald Pleasence), além do climão de policial europeu que de alguma forma dá um charme a mais ao filme e faz uma boa combinação com o estilo secão do Siegel.

John Tarrant (Caine), um agente MI6, serviço secreto britânico, descobre que seu filho, David, foi sequestrado por uma quadrilha chefiada por um sujeito carrancudo, McKee (John Vernon), e seu resgate deverá ser pago com uma certa quantia de diamantes que seu departamento secretamente obteve para uma operação qualquer, ou então o moleque vai sofrer as consequências… Para piorar a situação, os bandidos ainda forjam várias situações que incriminam Tarrant, fazendo parecer que ele faz parte do esquema, algo que seus superiores acabam acreditando, incluindo o desajeitado Cedric (Pleasence). E é nessa situação “Hitchcockiana” e com uma face dura como uma pedra, sem demonstrar qualquer sentimento – “Fomos treinados para isso” – que Tarrant resolve agir por conta própria para ter seu filho de volta.

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Uma dessas ações é justamente roubar os diamantes de seus chefes, que recusaram a negociar com os sequestradores, e levar sozinho à Paris para rastrear os facínoras. Ao final, toda a investigação o leva ao moinho negro do título, onde descobre-se os motivos do sequestro e quem realmente está por trás de todo o esquema, com direito a uma troca de tiros de metralhadora filmada do jeitinho classudo e cru do Siegel, bem diferente da ação dos filmes na época do espião britânico mais famoso, James Bond. Aliás, Caine é um espião do tipo intuitivo que usa mais cérebro que músculos, o que pode ser uma das razões do fracasso de crítica e bilheteria… Apesar da cena típica de um 007, com o herói sendo apresentado a uma arma secreta, uma maleta que dispara tiros.

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O fato é que O MOINHO NEGRO é bem paradão na sua primeira metade, meio enrolado e demora mais que o necessário para engrenar, além de uns furos de roteiro muito mal explicados… Mas Siegel consegue manter as coisas no lugar com uma boa atmosfera britânica e química entre os personagens. Nas mãos de algum diretor mais convencional, por exemplo, a relação de Tarrant e sua esposa, que o culpa a princípio, pelo sequestro do filho, poderia soar piegas e dramático demais, algo que não acontece… Enfim, mesmo com alguns probleminhas, O MOINHO NEGRO não deixa de interessar e até mesmo empolgar os amantes de um bom thriller setentista e também aos fãs do bom e velho Don Siegel.

MOMENTO JESS FRANCO: RESIDENCIA PARA ESPÍAS (1966)

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Se fosse realizado uma década depois, RESIDENCIA PARA ESPIAS provavelmente teria excelentes motivos para que o mestre espanhol Jess Franco explorasse a sua maior especialidade: putaria. Ele iria às favas com a trama (roteiro acabaria se tornando um objeto quase obsoleto para o diretor) e passaria o filme inteiro dando zoons em prexecas cabeludas de atrizes robustas, certamente Linna Romay, sua musa e esposa, teria um papel de destaque. Mas estamos em 1966 e Franco ainda não havia descambado para essas peculiaridades da forma como vemos em seus filmes a partir dos anos setenta.

RESIDENCIA PARA ESPIAS acaba soando até simpático, adjetivo estranho para elogiar um filme do prolífico diretor, mas é um bom termo para definir esta obra de início de carreira (era o décimo primeiro filme do homem, mas pra quem já fez quase duzentos não é nada). Além de ser uma leve comédia, o filme é um autêntico Eurospy – subgênero criado na esteira dos filmes do agente 007 e que gerou uma infinidade de cópias, paródias, homenagens e picaretagens no velho continente, principalmente na Itália, Espanha e França. Continuar lendo