Se fosse realizado nos anos 70, GIALLO não teria nada de especial, seria apenas um bom suspense policial em meio às tantas obras-primas que o cinema italiano apresentou no período. Mas no contexto atual, o novo filme de Dario Argento é tudo aquilo que se espera da discreta proposta de retornar às origens de um gênero estuprado por jovens cineastas – americanos, na grande maioria – e que atualmente vem tentando se revitalizar com alguns bons exemplos aqui e ali. O filme continua não tendo muito de original, mas Argento consegue provar que é possível fazer um excelente trabalho, à moda antiga, sem a frescurada de hoje, montagens espertinhas ou efeitos especiais em CGI (como o próprio Argento havia errado a mão em A MÃE DAS LÁGRIMAS).
Apesar do nome, GIALLO não possui os elementos necessários para fazer parte do subgênero que o diretor ajudou a consolidar na Itália nos anos 70 e 80. E qualquer um com o mínimo de desconfiança sabe que é praticamente impossível fazer um legítimo giallo nos dias de hoje. Mas nem era essa a pretensão de Argento. Ele simplesmente dirige uma trama policial onde temos Adrien Brody encarnando um detetive a procura de um serial killer que sequestra belas mulheres para desforrar seus traumas em cima delas. O “amarelo” do título (que em italiano é giallo), se deve a uma peculiaridade do tal bandido. No elenco, ainda temos Emmanuelle Seigner vivendo a irmã de uma das vítimas e que resolve se meter no caso…
O filme serve também para provar que Argento permanece como um dos grandes nomes do horror e um artista único na condução e no controle de todos os elementos que tem em mãos, como a estética das cores, a movimentação da câmera desvencilhada, a mise en scène, a violência gráfica, com direito à baldes de sangue, como nos velhos tempos de TENEBRE e PROFONDO ROSSO. O conteúdo pode ser simples (embora o roteiro tenha boas sacadas com o passado do personagem de Brody), mas na forma Argento continua genial. Cada detalhe de cena, planos memoráveis (como a do final quando Brody se afasta do local do crime), a fotografia, tudo é valorizado ao máximo para trazer um novo frescor ao gênero e colocar o nome de Dario Argento de volta ao panteão, de onde nunca deveria ter saído. Uma pena que a distribuidora daqui fez o favor de nos poupar de ir ao cinema assistir a esta belíssima obra na tela grande.