SETE HOMENS E UM DESTINO (The Magnificent Seven, 1960)

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Não vi ainda, mas estreou a refilmagem de SETE HOMENS E UM DESTINO, de John Sturges, clássico absoluto do western americano, que afinal era também uma refilmagem de OS SETE SAMURAIS. Então tá tudo bem, não sou desses xiitas que já se opõe em tudo quanto é remake e décima sétima continuação. Se o filme for bom, vale tudo… E até o Akira Kurosawa se inspirou nos faroestes americanos de John Ford, Budd Boetticher, Delmer Daves, Howard Hawks e outros ao realizar o seu clássico samurai. Tudo gira em círculo. Por isso vou repostar este texto do blog antigo.

Assisti pela primeira vez a SETE HOMENS quando ainda era moleque e não achava grandes coisas. Revi há alguns anos e acabou se mostrando bem mais interessante por conta da maneira como o filme desmistifica um pouco a áurea dos heróis justiceiros do faroeste americano com reflexões sobre a solidão e o modo de vida desses indivíduos. Algo que eu não havia pescado na infância, interessado apenas em ver pessoas atirando uma nas outras…

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Outros westerns já haviam trabalhado esse assunto, portanto, nada de muita originalidade por aqui. Mas o fato é que SETE HOMENS E UM DESTINO deixa de ser apenas um bang-bang de aventura para ser, também, um excelente estudo de personagens. E estes são interpretados por um elenco dos mais notáveis, o que contribui muito para que o espectador não desgrude o olho da tela. SETE HOMENS E UM DESTINO ajudou a alavancar as carreiras de Steve McQueen, Charles Bronson, James Coburn e Robert Vaughn. Conta também com atores experientes, do calibre de Yul Brynner e Eli Wallach, o primeiro, já naquela altura, possuía status de celebridade.

Com toda essa turma reunida, são curiosas algumas, digamos, fofocas de bastidores. McQueen, por exemplo, ávido por mais presença, queria se tornar um astro o mais rápido possível e tentava roubar as cenas de Brynner fazendo coisas que chamassem a atenção para si quando contracenava com o careca. Já Brynner estava preocupado em aparecer bem mais alto que McQueen nos enquadramentos (os dois tinham praticamente a mesma altura). O sujeito chegou a fazer um montinho de terra para ficar em cima, mas McQueen chutava “sem querer querendo” toda vez que passava por ele…

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Confrontos de egos à parte, todos estão ótimos e cada um conseguiu transmitir com personalidade as características definidas particularmente para seus personagens. Coburn caladão, sempre na dele, Vaughn medroso traumático, Bronson durão de coração mole, e por aí vai… É bacana também as habilidades específicas de alguns deles, especialmente Bronson, que é um exímio atirador com o rifle, e Coburn, um perito em facas. A divisão na hora de editar as sequências de ação também concede a cada um algumas boas cenas. Nisso John Sturges era muito bom, algo que se comprovou em outros filmes, sobretudo em FUGINDO DO INFERNO (63), clássico que também tinha o trio Bronson, McQueen e Coburn no elenco. Além de uma porrada de outros atores.

Sturges é o que podemos chamar de bom artesão. Não se pode esperar a elegância e maestria de um John Ford ou Don Siegel, mas fazia o que tinha que fazer com muita eficiência. Nesse sentido, as sequências de ação acabam em segundo plano em SETE HOMENS. São filmadas de maneira correta, mas com poucos momentos de maior destaque. Uma das cenas que eu chamaria atenção é quando Robert Vaugh finalmente perde o medo e resolve entrar na ação invadindo uma casa cheia de bandidos.

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Mas perguntem a algum fã do filme se ele sente falta de tiroteios mais elaborados. A construção dos personagens, a maneira como interagem, como são desmitificados, até a trilha sonora de Elmer Bernstein, são elementos suficientes para transformar SETE HOMENS E UM DESTINO no autêntico clássico que é. E a história é fascinante. Com uma duração bem menor que a de OS SETE SAMURAIS, há quem diga que os realizadores pegaram somente as “partes boas” do filme do Kurosawa e transformaram nesta belezinha. Recomendo uma espiada em ambos para as devidas comparações e tirarem suas próprias conclusões. E agora,  uma conferida nessa refilmagem do Antoine Fuqua, que provavelmente não deve chegar aos pés do clássico, mas se conseguir ser divertido, já tá bom demais.

ESPECIAL DON SIEGEL #13: O SÁDICO SELVAGEM (The Lineup, 1958)

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Dez anos antes de estrelar o melhor filme que existe no universo (TRÊS HOMENS EM CONFLITO, de Sergio Leone), Eli Wallach estreava na tela grande com BABY DOLL, de Elia Kazan. O ego inflou, o sucesso lhe subiu a cabeça, e quando foi contratado para viver o gangster psicopata Dancer, em THE LINEUP, ficou aborrecido por seu segundo filme ser um crime movie aparentemente rotineiro, um passo atrás em relação ao seu prestigioso debut. No entanto, estamos tratando de um filme de Don Siegel e talvez Wallach não soubesse do que o homem era capaz de fazer. O fato é que aos poucos, enquanto as filmagens iam acontecendo, o ator percebeu a profundidade e complexidade do personagem que estava compondo e passou a ficar mais simpático ao projeto. Continuar lendo

O ESCRITOR FANTASMA (2010)

Vi este novo trabalho do Polanski, O ESCRITOR FANTASMA (The Ghost Writer), um thriller político sobre um escritor (Ewan McGregor) que recebe uma oferta lucrativa para concluir a autobiografia – como Ghost Writer – do ex-primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Adam Lang (Pierce Brosnan), que agora vive numa ilha nos Estados Unidos, rodeado de poucas pessoas e passando por sérias acusações políticas.

O problema é que o tal escritor foi contratado para substituir um outro autor que morreu de forma suspeita enquanto trabalhava nos mesmos escritos. E à medida em que vai descobrindo os podres do ex-primeiro ministro, mais o escritor percebe que está se envolvendo numa trama perigosa e que pessoas poderosas querem enterrar e esquecer certas verdades.

É uma trama simples, mas que Polanski dirige com precisão, dá um ritmo excelente: lento, reflexivo, sem muita pressa, mas com momentos de tensão realmente de roer as unhas. Todo o filme se baseia em climas e na construção atmosférica de puro suspense. Sim, o filme é anacrônico, mas para quem está de saco cheio das mesmas fórmulas de como se faz suspense atualmente, O ESCRITOR FANTASMA é um deleite.

E, bom, estamos falando de uma das maiores autoridades no assunto. REPULSA AO SEXO, O BEBÊ DE ROSEMARY, BUSCA FRENÉTICA e O INQUILINO são apenas alguns exemplos que provam a genialidade de Polanski na condução do suspense/horror de maneira correta.

E como se não bastasse filmar um thriller com maestria arrepiante, Polanski faz em O ESCRITOR FANTASMA alguns dos mais belos planos que vi recentemente numa sala de cinema. Ajuda muito o cenário peculiar que a trama se passa.

No campo das atuações, McGregor, ator sóbrio, cumpre muito bem suas responsabilidades como protagonista. Mas todo o elenco é um destaque. Tom Wilkinson está sinistro em sua participação, temos Eli Wallach e James Belushi apontando rapidamente e Pierce Brosnan, que surpreende num de seus melhores desepenhos. Kim Cattrall e Olivia Williams completam o time no lado feminino.

O ESCRITOR FANTASMA é o melhor Polanski em muitos anos. E isso quer dizer muita coisa. Se qualquer um da grande maioria dos diretores da atualidade fizesse um filme baseado nesse roteiro, seria um thriller genericão, mas por causa da criatividade e senso de arte de Polanski, o que temos é uma joia.

Curioso que o filme me lembrou outro trabalho do homem, O ÚLTIMO PORTAL, o qual foi bastante maltratado na época do lançamento, apesar de ser muito bom também. Preciso rever. Este aqui vem recebendo elogios da “crítica séria”, mas nada que realmente apresente a importância que o filme merece.