MARCADO PARA A MORTE (Marked for Death, 1990)

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Mais conhecido pelos admiradores do Steven Seagal como “o filme em que ele enfrenta traficantes jamaicanos macumbeiros”, MARCADO PARA A MORTE é o terceiro dos quatro filmes do ator que correspondem à fase de ouro de sua filmografia, ou seja, produções com um nível de qualidade interessante, que independente de ser o Seagal o protagonista, renderiam ótimos exemplares de ação casca-grossa: NICO – ACIMA DA LEI, DIFÍCIL DE MATAR, este aqui e OUT FOR JUSTICE.

MARCADO PARA MORTE não podia começar de forma melhor. Seagal persegue a pé ninguém menos que Danny Trejo, numa pequena participação, quando nem sonhava que estrelaria um filme chamado MACHETE. Seagal é o policial John Hatcher e que está trabalhando disfarçado em uma missão perigosa para desmascarar uns traficantes mexicanos. A operação dá toda errada e o nosso herói tem que se virar para sair do local, um puteiro mexicano, com a carcaça intacta, atirando, cortando pescoços com um facão e abrindo caminho a golpes de Aikido.

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Uma pena que seu parceiro não tenha a mesma sorte. Em certo momento o sujeito dá bobeira em frente a uma prostituta nua que o crava de balas. Seagal não pensa duas vezes, mesmo sem ver seu alvo atrás da porta, e atira também, mandando a pobre moça pro outro mundo. A morte de seu parceiro e matar à sangue frio uma mulher deixa Hatcher meio transtornado. E para resumir a descrição da trama, digamos apenas que o personagem se aposenta da polícia e tenta arranjar um lugar de paz para viver junto de sua irmã e sobrinha em uma cidade mais tranquila. Isso tudo com dez minutos de filme.

Como sabemos que não vamos ter nenhum filminho familiar estrelado por Steven Seagal, o sujeito acaba encontrando de tudo no local, menos a paz e tranquilidade que tanto almeja. A encrenca surge quando Hatcher começa a reparar na ação de uns traficantes jamaicanos e, depois de algumas situações, resolve agir por conta própria para limpar a cidade, contando com a ajuda de um velho amigo que ele reencontra depois de muitos anos, interpretado pelo sempre ótimo Keith David (aquele mesmo que luta durante 50 minutos contra o Roddy Piper em ELES VIVEM, de Jonh Carpenter).

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A direção desses primeiros filmes do Seagal é sempre de gente, no mínimo, competente. Dwight H. Little, que realizou HALLOWEEN 4, o último bom filme da série, e o excelente veículo de ação de Brandon Lee, RAJADA DE FOGO, é o homem que comanda MARCADO PARA A MORTE. Talvez ele tenha sido responsável por alguns detalhes que tornam o filme ainda mais interessante. Porque de Steven Seagal temos o mais do mesmo. Claro que eu adoro vê-lo fazendo esse personagem badass que não dá mole para a bandidagem e basicamente repete o mesmo papel de sempre, com algumas mínimas variações. Mas o que diferencia este aqui dos seus demais trabalhos é maneira como o diretor utiliza da violência. É provável que seja o filme mais sanguinolento e visceral de Steven Seagal. Vê-lo quebrando braços de meliante é algo bacana, agora, assistir em detalhes o osso partindo, é melhor tirar as crianças da sala…

E Seagal está extremamente sádico neste aqui. Os bandidos, a certa altura, mexem com a família de Hatcher, que não pensa duas vezes antes de partir com tudo pra cima deles. Execuções à sangue frio, braços decepados, cabeças cortadas, olhos perfurados com os dedos, espinhas partidas ao meio com joelho, são alguns exemplos do que o homem é capaz em toda sua fúria. Os vilões jamaicanos também são um destaque a parte, acrescentando um tom mais sinistro ao filme com algumas sequências de vodu, sacrifícios humanos e elementos de magia negra. Basil Wallace, que encarna o líder jamaicano, é de dar medo. O sujeito é muito expressivo e sua aparição no final, após uma reviravolta das boas, é uma grande sacada do roteiro e garante ainda mais algumas cenas de pura diversão!

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Na minha opinião, MARCADO PARA A MORTE fica atrás num ranking dos quatro primeiros filmes da fase de ouro do Seagal. Mas as posições variam de acordo com cada um, é lógico. É inegável, no entanto, o fato de que os quatro filmes possuem quase o mesmo nível de qualidade e qualquer fã de cinema de ação old school tem mais que a obrigação de assisti-los!

HALLOWEEN 4 – THE RETURN OF MICHAEL MYERS (1988), de Dwight H. Little

A idéia de realizar um filme de terror diferente para ser lançado a cada Halloween era bacana e acabou gerando o divertido e intrigante HALLOWEEN III. Mas como eu disse no post sobre o filme, o público não embarcou no projeto o qual não tinha relação alguma com os dois filmes anteriores. Eles queriam o serial killer Michael Myers de volta e os produtores acabaram atendendo a solicitação.

John Carpenter chegou a escrever um roteiro que foi logo rejeitado pelo teor psicológico, retratando mais as consequências e os efeitos nos cidadãos de Haddonfield em relação aos assassinatos ocorridos dez anos antes. Ao invés disso, os produtores optaram por um slasher movie comum, como muitos daquele período, embora já desse indícios de seu declínio. Carpenter abandonou a franquia e este foi o primeiro que não teve seu nome nos créditos (a não ser no tema musical criado para o primeiro filme).

Mas isso não siginifica que HALLOWEEN 4 seja ruim. Muito pelo contrário.

A trama se passa dez anos após os acontecimentos do segundo filme. Tanto Myers quanto o Dr. Loomis (Pleasence) sobreviveram milagrosamente à explosão que fecha HALLOWEEN II. Um personagem chega a comentar o assunto logo no início, quando alguns paramédicos vão transportar o moribundo Myers para um outro local. O sujeito aparentemente não oferece perigo algum, mas basta estar em movimento dentro da ambulância para demonstrar que ainda não perdeu a velha forma de matar pessoas violentamente.

Dr. Loomis, agora desfigurado, velho e acabado, novamente se encarrega em tentar deter Michael Myers que retorna a Haddonfield para acabar com a vida de sua sobrinha de uns seis anos (Danielle Harris) e de qualquer um que entre em sua frente, como de costume… O filme não explica claramente o que aconteceu com Laurie Strode, tudo indica que tenha morrido, mas em futuras continuações ela retorna. Se bem que isso não faz muita diferença para esses roteiristas picaretas. Enfim, sua filha vive com outra família agora.

Na verdade, o roteiro não é dos que podemos considerar entre os melhores do gênero. As falhas saltam aos olhos, mas podem ser relevadas facilmente, principalmente porque a atmosfera de suspense é ótima. Dwight H. Little não é um John Carpenter, mas sabe criar um clima, só lamento que grande parte das mortes aconteçam off screen. Aliás, o resultado ficou tão leve que foi preciso chamar o técnico de efeitos especiais John Carl Buechler (responsável por muitos filmes de terror e sci-fi daquele período e até hoje encontra-se em atividade) para deixar o filme mais violento.

Little futuramente dirigiria dois bons filmes de ação: MARCADO PARA MORTE (1990), onde Steven Seagal enfrenta uma gangue de jamaicanos adeptos ao vodu, e RAJADA DE FOGO (1992), que comentei aqui outro dia, veículo para Brandon Lee demonstrar o que sabia.

HALLOWEEN 4 vale muito também pela presença do Donald Pleasence, sempre a vontade neste que provavelmente seja o personagem mais marcante de sua longa filmografia. Ele ainda faria mais duas continuações na pele do Dr. Loomis antes de falecer em 1995.

O produto final é um bom slasher movie, bem dirigido, inferior aos dois primeiros (ao terceiro também, embora este não seja um slasher) na minha opinião, mas ainda capaz de gelar a espinha em alguns momentos. Até porque uma garotinha de seis anos totalmente indefesa como alvo do psicopata mais tranquilo do cinema é algo bem desconfortável de se ver. E aquele desfecho é sensacional!