THE KENTUCKY FRIED MOVIE (1977) & AMAZON WOMEN ON THE MOON (1987)

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THE KENTUCKY FRIED MOVIE segue a cartilha de um tipo de comédia que surgiu nos anos 70 com inspirada no programa Saturday Night Live. A coisa era estruturada emulando uma “zapeada na TV”. Sabem como é? Como se você, espectador, estivesse segurando um controle remoto, mudando os canais, ou seja, eram produções concebidas como uma série de esquetes que imitava comerciais, fazia paródias de seriados e filmes, e mostrava programas de auditório ou reportagens absurdas. Alguns exemplos deste tipo de filme incluem THE GROOVE TUBE, de Ken Shapiro, PRIME TIME, de Bradley R. Swirnoff, TUNNELVISION, de Neal Israel e Swirnoff, e esta belezinha aqui, que é o segundo trabalho de John Landis.

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Então temos coisas do tipo, um fake trailer para um filme que nunca existiu: o exploitation Catholic School Girls in Trouble, estrelado pela musa de Russ Meyer, Uschi Digard; Bill Bixby, o eterno Bruce Banner do seriado HULK, fazendo um comercial de dor de cabeça; Jack Baker aprendendo a ter relações sexuais num documentário instrucional; um trailer para um filme catástrofe chamado That’s Armageddon (estrelado por Donald Sutherland como “The Clumsy Waiter“); Henry Gibson como apresentador do The United Appeal for the Dead, uma esquete hilária sobre o que fazer com nossos defuntos, e muitas outras coisas mais… A peça central de KENTUCKY FRIED MOVIE, no entanto, é uma paródia de OPERAÇÃO DRAGÃO, do Bruce Lee, chamado de A FISTFUL OF YEN. De rolar no chão…

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Várias participações especiais tornam a sessão ainda mais interessante, como Rick Baker – vestido do gorila que ele modelou como teste para o filme KING KONG de 1976 -, o ex-James Bond George Lazenby, Felix Silla, Tony Dow, Forrest J. Ackerman, que sempre aparece nos filmes do Landis…

Escrito pela equipe ZAZ – David Zucker, Jim Abrahams e Jerry Zucker – que mais tarde faria algumas das mais representativas comédias dos anos 80, como APERTEM OS CINTOS, O PILOTO SUMIU e CORRA QUE A POLÍCIA VEM AÍ – o filme custou algo em torno de 650 mil dólares, considerado baixo já em 1977. Originalmente, os realizadores cogitaram chamar o filme de FREE POPCORN ou CLOSED FOR REMODELING, mas no fim das contas ficou mesmo KENTUCKY FRIED MOVIE. Com seu sucesso, Landis acabou contratado para dirigir ANIMAL HOUSE no ano seguinte.

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Uma década depois, Landis se reuniu com outros diretores e produtores e fez uma espécie de sequência de KENTUCKY FRIED MOVIEAMAZON WOMEN ON THE MOON. Landis dirigiu alguns dos segmentos deste filme, que também apresentam vinhetas humorísticas de Joe Dante, Peter Horton, Robert K. Weiss e Carl Gottleib. Steve Forrest e Sybil Danning protagonizam o “filme central”, o tal Amazon Women on the Moon, uma homenagem aos sci-fi e B movies dos anos 50, que é intercalado com uma variação de esquetes que se estruturam como a tal zapeada na TV.

Com um orçamento melhorzinho, deu pra atrair uma lista imensa de figuras interessantes (muitos dos quais não eram muito conhecidos no momento), mas temos Michelle Pfeiffer, Dick Miller, Monique Gabrielle – pelada, pra variar – Griffin Dunne, Steve Guttenberg, Rosanna Arquette, Arsenio Hall, David Allen Grier, Russ Meyer, Kelly Preston, Andrew “Dice” Clay, apenas para citar alguns…

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Não é tão engraçado quanto KENTUCKY. O segmento do funeral Celebrity Roast com Steve Allen, Henny Youngman e Rip Taylor, por exemplo, demora mais do que deveria e acaba perdendo a graça. Mas temos The Son of the Invisible Man (com Ed Begley, Jr.), que dá pra soltar algumas boas risadas. A paródia do clássico programa de TV, que no Brasil ficou conhecida como Acredite se Quiser, apresentada aqui por Henry Silva também é ótima.

Mas de uma forma geral, AMAZON WOMEN ON THE MOON fica abaixo de KENTUCKY FRIED MOVIE, que veio num momento mais propício pra esse tipo de ideia, enquanto este aqui tentava integrar o lance do boom do Video-Cassete, o que é interessante, mas não tem a mesma força. Ainda assim, obviamente, ganha de lavada de 99% do cenário da comédia atual.

BIG BAD MAMA (1974)

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Uma daquelas pérolas que os anos 70 nos deu. Estamos no período da depressão americana, temos a Lei Seca, assalto à bancos, tiroteios à rodo com Tommy Gun’s cuspindo fogo e Angie Dickinson peladona! Precisa de mais alguma coisa para BIG BAD MAMA ficar melhor? Ah, claro, a presença hilária de Dick Miller numa produção do grande Roger Corman.

Naquele período, Corman começava a fazer dinheiro com pequenos gangster movies e resolveu apostar na anti-heroína Wilma McClatchie, a tal Big Bad Mama do título, vivida por Dickinson, e suas duas filhas espirituosas e sapecas, que embarcam numa jornada no mundo do crime, no qual estão sempre envolvidas em roubos, sequestros, perseguições, tiroteios, num road movie alucinante de ação e com vários personagens interessantes cruzando o caminho das três protagonistas. Como o ladrão de bancos encarnado por Tom Skerritt, o romântico jogador compulsivo na pele de William Shatner e o policial durão vivido por Miller, com suas expressões impagáveis, definitivamente uma das melhores coisas de BIG BAD MAMA. Sempre que está prestes a concluir sua missão de capturar Big Mama, algo dá errado e suas reações são, no mínimo, de rachar o bico! Não tem como não ser fã desse eterno coadjuvante…

A direção é de Steve Carver, que no ano seguinte fez outro filme ótimo do gênero para Corman: CAPONE, com Ben Gazzara no papel título. Dirigiu depois Chuck Norris pelo menos duas vezes, como o McQUADE – O LOBO SOLITÁTIO, que eu acho um filmaço! BIG BAD MAMA é o seu primeiro longa e já demonstra boa habilidade trabalhando muitas sequências de ação, um senso de humor bem equilibrado, mantendo as coisas num ritmo ágil e divertido… é claro que a pulsão sexual e a quantidade de nudez também ajudam, especialmente com as personagens das filhas (Susan Sennett e Robbie Lee) bem à vontade e Angie Dickinson, nos seus 43 anos, expondo seus atributos de deixar muita mulher de vinte com inveja.

BIG BAD MAMA recebeu o título A MULHER DA METRALHADORA aqui no Brasil e ganhou uma continuação nos anos 80, dirigido por outro pupilo de Corman, Jim Wynorski.

OBSESSÃO MACABRA (Premature Burial, 1962)

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Terceira adaptação de Edgar Allan Poe realizada pelo Roger Corman, PREMATURE BURIAL é geralmente considerado um dos mais fracos do ciclo, algo que eu concordo bastante, embora não signifique que seja um filme ruim. Muito pelo contrário, apenas não está a altura das outras obras. Acho que tem um bocado a ver com a ausência do grande astro da série, Vincent Price, que não pôde participar… Aliás, é o único filme do ciclo que ele não participa e tenho certeza que sua presença poderia transformar isso aqui num filme totalmente diferente. Para seu lugar foi contratado o Ray Milland, que não deixa de ser um baita ator também e eu não tenho problema algum em vê-lo como protagonista por aqui. Só que ele não tem a capacidade de Price em transmutar figuras fracas em grandes personagens.

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Explico melhor a bagaça. Ray Milland interpreta aqui um pintor que possui um pavor doentio da situação de ser enterrado vivo por engano. Epa, mas nós já vimos isso antes, não é mesmo? Os dois primeiros filmes da série que eu já comentei aqui possuem a catalepsia como um dos temas constantes. Mas isso não é problema algum, na verdade. A questão é que PREMATURE BURIAL peca por ter um protagonista atormentado de forma tola pela tal neurose.

Em HOUSE OF USHER você tem um Roderick Usher (Price) atormentado por uma suposta maldição da família, até que dá pra entender – os Usher tinham realmente um galeria de almas sebosas e psicopatas escrotos na árvore genealógica. Em THE PIT AND THE PENDULUM, a mesma coisa: Medina (Price de novo) é filho de um dos inquisidores mais tenebrosas da Espanha e viu, quando criança, o tio e a mãe serem torturados e a última ser emparedada viva… Já em PREMATURE BURIAL… putz, o cara SUSPEITA que o pai sofria de catalepsia e foi enterrado vivo (sem nenhum fundamento concreto, diga-se de passagem) e, com base nessa desconfiança sem pé nem cabeça, acredita que também sofre de catalepsia e que, fatalmente, será enterrado vivo. E é essa nóia sem lógica que leva o cara a se isolar do convívio social e dispensar uma noiva gata pra caramba e (ao que tudo indica) totalmente apaixonada por ele. Meio difícil não achar que o protagonista é meio tapado. E é apenas com isso que se constrói o filme…

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E tenho certeza que Vincent Price daria a carga de expressão, exagerada e necessária, para que esses detalhes passassem mais batidos… Não que o Milland esteja mal. Ele também encarna o papel com tanta convicção que você só pára para refletir sobre a babaquice do personagem depois de ver o filme umas duas vezes; tanto que na primeira vez que vi, nada disso me ocorreu. E acaba sendo mesmo um dos grandes deleites a presença de Milland, querendo ou não, sendo o personagem um fraco ou não. O curioso é que é um ator soberbo, ganhou um Oscar pelo seu desempenho em FARRAPO HUMANO (1945), de Billy Wilder, mas depois, não me pergunte como, acabou parando nos sets de produções de filmes B. Destaque para a pequena participação de Dick Miller, habitual colaborador de Corman..

Já no departamento visual de PREMATURE BURIAL, não há do que reclamar. A cena do devaneio de Milland testando – e dando tudo errado – as modificações que fez no seu “sepulcro” para o caso de acordar ao ser enterrado vivo, é de encher os olhos. A direção de Corman é econômica como sempre, mas o sujeito sabe como manter certo ritmo, sabe como trabalhar uma riqueza visual do mesmo calibre dos góticos da Hammer e nunca deixou a dever aos italianos, como Mario Bava, Antonio Margheritti e Riccardo Freda. Mais fraco do ciclo Edgar A. Poe sim, mas tão obrigatório quanto qualquer outro da série…

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