STORM TROOPER (1998)

Não, STORM TROOPER não é um rip-off de STAR WARS protagonizados pelos soldadinhos de armadura branca com a pontaria ruim da famosa franquia de George Lucas. Mas é um filme que eu não tinha assistido ainda do Jim Wynorski, figurinha carimbada aqui no blog e que, pra quem já conhece o cara, sabe que se trata de um mestre das picaretagens cinematográficas. Portanto, STORM TROOPER é sim um rip-off, mas de outra coisa bem diferente. É uma versão pobre de O EXTERMINADOR DO FUTURO e com ecos em ROBOCOP. Uhuu!

Vejamos: sujeito é um ciborgue, com porte físico grandalhão, com uma roupa de motoqueiro e pilotando uma motoca como no filme de James Cameron; no final, descobre-se que ele foi projetado para ser um policial perfeito, soltando todas diretrizes do policial do futuro do filme do Verhoeven; depois de uma explosão, ele surge com partes do esqueleto metálico por baixo da pele… É, não tem como não perceber de onde STORM TROOPER tava tirando uma casquinha.

E como um bom exemplar de Wynorski, o filme é essa mistura muito louca de sci-fi com filme de cerco, daqueles que personagens ficam encurralados num cenário e precisam lutar pra sobreviver (até porque esse tipo de coisa é bem mais barata de produzir), além de um drama pesado sobre perda, redenção e abuso doméstico inserido na trama pra dar um tom mais sério, com profundidade existencial.

STORM TROOPER começa com uma fuga, duas pessoas, um homem e uma mulher, escapam de um laboratório secreto do governo americano. Na troca de tiros pelos canais de tubulação – um desses cenários típicos que amamos nesse tipo de filme – um deles, a mulher, acaba alvejada e capturada e o outro (John Laughlin) consegue escapulir, com a rapaziada do governo na cola tentando pegá-lo em algumas tentativas insanas, perseguições de carro, caminhão, etc…

Mas o filme tem uma outra história paralela a essa. Um drama de uma dona de casa (Carol Alt) que vive um relacionamento abusivo com seu marido policial, vivido com entusiasmo ameaçador por Tim Abell, um habitual de Wynorski e do outro diretor parceiro dessa turma, Fred Olen Ray. Em determinado momento, durante uma discussão, essa pobre dona de casa, cansada da vida que leva, mata o seu marido com um tiro pelas costas.

E é neste ponto que as vidas do sujeito em fuga e a da dona de casa deprimida se encontram. E, obviamente, não demora muito, pessoas começam a aparecer no local em busca do fugitivo, que acaba se revelando nada mais, nada menos, que um ciborgue! E ele é muito bom em matar pessoas, então alguns mercenários barra pesada, liderados pelo Rick Hill (o protagonista do clássico DEATHSTALKER) são chamados pra resolver o caso. E aí STORM TROOPER começa realmente a arrebentar a boca do balão.

Parece tudo muito legal, mas vamos com calma. STORM TROOPER não é lá desses filmes que eu poderia dizer que é particularmente “bom”. Na verdade, é relativo. Como sempre, nesse universo do B movie americano dos anos 90, os filmes transcendem adjetivos de “bons” ou “ruins” para se tornarem experiências únicas… É evidente que o baixo custo geral da produção prejudica o filme e o impede de ser um espetáculo de ação do nível de um John Woo ou James Cameron, mas Wynorski faz o que pode dentro de suas limitações. E dentro de suas limitações, o cara é mestre.

Temos uma certa quantidade de efeitos pirotécnicos, ou seja, explosões, e os efeitos especiais práticos de maquiagem, embora pobres, são muito efetivos. Nada de CGI, é óbvio, tudo na base da criatividade e mão na massa. Em termos de ação, STORM TROOPER é bem movimentado. O filme entra de vez em quando em seus momentos de respiro, com alguns diálogos que demoram mais do que deveria, várias cenas burocráticas de politicagem entre militares, mas boa parte do tempo temos pessoas na tela atirando freneticamente enquanto o ciborgue do Laughin vai exterminando um a um com tiros, facadas e pescoços quebrados. Se a câmera de Wynorski não é virtuosa, ao menos tudo isso é filmado sem frescura.

E não poderia faltar, na boa e velha tradição de Wynorski, a utilização de imagens de outros filmes pra dar aquela economizada no orçamento. E desta vez o diretor utilizou stock footage de uma cena com um caminhão explodindo de um filme seu mesmo, 976-EVIL 2, de1991.

Mas o que realmente chama a atenção na grande maioria dos filmes do Wynorski é o elenco bacana que ele costuma reunir em suas produções. E aqui não é diferente. Claro, o destaque é Rick Hill, que não aparece tanto quanto deveria, mas rouba a cena e foi divertido vê-lo fazendo um papel badass depois de passar minha infância inteira vendo e revendo DEATHSTALKER num VHS original que eu tinha em casa. Conto mais sobre isso aqui. O cara é um canastrão de primeira linha, mas sempre vai ter a minha consideração. Além de várias figuras já citadas, ainda temos por aqui alguns habituais do cinema B, como Melissa Brasselle, Ross Hagen, Jay Richardson, Arthur Roberts, John Terlesky e, pasmem, Zach Galligan (o protagonista de GREMLINS) e o grande Corey Feldman, de tapa-olho, ao estilo Snake Plissken em FUGA DE NY.

Realmente a melhor coisa de STORM TROOPER é o elenco. É aquilo, se não posso dizer que é um filme particularmente bom, poder ver essa turma reunida é sempre um prazer.

Uma coisa que não curto muito em alguns filmes do Wynorski é quando ele trata o material a sério demais, costumam ser dos seus trabalhos mais problemáticos. Evidente que num currículo prolífico como o seu, com mais de cem filmes, eu acabo adorando vários dos exemplares sérios do homem. No entanto, eu acho que ele se sai bem melhor quando faz as coisas no deboche, mais puxado para o humor. E STORM TROOPER é muito mais sério do que poderia e isso atrapalha um pouco também o andamento das coisas. Melhora em vários momentos quando temos Hill e Feldman na tela; algumas ceninhas mais sarcásticas ali e aqui, como o desfecho, com a transformação cartunesca da personagem principal, que é algo maravilhoso. E a cena que Alt toma banho enquanto seu marido morto ainda está na banheira também é uma das melhores do filme, bem a essência do que poderia ter mais por aqui.

Aliás, por ser um filme do Wynorski, senti um pouco a falta de mais pele na tela. É dos poucos filmes do diretor nesse período que não mostra um topless sequer… Não que isso seja realmente necessário. Mas pra quem acompanha mais de perto a filmografia do diretor, cria-se certas expectativas com seu autorismo… Hahaha!

Mas tudo bem, entre pontos negativos e positivos, STORM TROOPER acaba se saindo de forma bem satisfatória. Pode ser sério demais, dramático demais, burocrático em alguns momentos e faltar uns peitinhos na tela, mas tem bastante ação, tiros, explosões (mesmo que de outro filme, mas inserido aqui na edição), ciborgues ao estilo O EXTERMINADOR DO FUTURO, e várias sequências bem divertidas envolvendo Rick Hill e Corey Feldman de tapa-olho. Fica evidente que Nenhum envolvido aqui estava pretendendo ganhar um Oscar. E não vejo outras intenções a não ser divertir o espectador por uns 80 minutos… Tá de bom tamanho.

OS GAROTOS PERDIDOS (The Lost Boys, 1987)

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É mais fácil as pessoas lembrarem do Joel Schumacher como o cara que colocou mamilos no Homem-Morcego, dirigindo tralhas como BATMAN & ROBIN (97), e esquecerem que a grande maioria de seus trabalhos são bem legais. Acabei de rever OS GAROTOS PERDIDOS, seu clássico oitentista de vampiros, que sempre reprisava na Sessão da Tarde e que fazia, no mínimo, uns vinte anos que eu não via. Continua uma delícia.

A trama do filme todo mundo deve se lembrar. Começa com uma mãe (Diane Wiest) e seus dois filhos (Corey Haim e Jason Patric) se mudando para uma pequena cidade costeira da Califórnia. A cidade é atormentada por gangues de motoqueiros, punks e drogados e alguns misteriosos desaparecimentos. Sam (Haim), o mais novo, não demora muito para fazer amizade com dois outros garotos que afirmam ser caçadores de vampiros, enquanto Michael (Patric), o mais velho, é atraído por uma gangue liderada por David (Kiefer Sutherland) e uma bela garota, Star (Jami Gertz). O que Michael acaba descobrindo da pior maneira possível é que a gangue é formada por… Isso mesmo, vampiros!

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Kiefer Sutherland e sua gangue de vamp… Ops, desculpem. Esta aqui é a banda Twisted Sister. A gangue de vampiros é essa aí embaixo. Mas, é quase a mesma coisa…

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No mesmo ano de 87, tivemos NEAR DARK, da Kathryn Bigelow, outro grande filme de vampiros que a princípio até poderia dialogar com OS GAROTOS PERDIDOS dentro do gênero, ambos têm aquele visual estilizado que parece um videoclipe da MTV dos anos oitenta e chupadores de sangue jovens vestindo jaquetas de couro… Mas enquanto NEAR DARK é mais sombrio e consegue se aprofundar em questões de ser um vampiro num mundo moderno, o filme de Schumacher não passa muito da superfície, do visual estiloso, da trilha sonora cheia de hits oitentistas… Mas ao mesmo tempo possui uma energia, várias sequências memoráveis, personagens legais, um senso humor bacana, e a maneira como Schumacher mistura todos esses ingredientes é que mantém o encantamento e torna o filme bem mais popular que seu “concorrente”.

O filme até possui um olhar sobre a cultura adolescente, um lance da busca por aceitação, especialmente com Michael fazendo de tudo para provar que pode fazer parte da gangue de David. Não se aprofunda tanto nesse ponto, mas duas sequências espetaculares saem dessa ideia, a corrida de motocicletas no alto da colina e a que se passa nos trilhos do trem. Ambas me deixaram pregado na poltrona de tensão… Mas a maior parte do filme é uma aventurazinha de comédia divertida com toques de horror protagonizada por Corey Haim e os irmãos Frogs, os caçadores de vampiros, encarnados por Corey Feldman e Jamison Newlander.

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Se há uma dupla teen que conquistou o público infanto-juvenil ontentista, essa dupla é formada pelos dois Coreys. Eu cresci assistindo aos filmes desses moleques e vê-los enfrentando vampiros era parte da magia de OS GAROTOS PERDIDOS. Os caras tinham tanta química, ao longo de vários trabalhos nos anos 80 e início dos 90 que já chegaram a protagonizar um reality show juntos (The Two Coreys), só que o programa foi um fiasco. Além disso, ambos estiveram envolvidos com drogas na adolescência, o que atrapalhou muito suas carreiras. Corey Haim morreu em 2010 aos 39 anos. Feldman pelo menos apareceu nas duas continuações que OS GAROTOS PERDIDOS possui, já nos anos 2000.

Vale ressaltar que OS GAROTOS PERDIDOS foi justamente a primeira vez que os dois trabalharam juntos.

O restante do elenco também se destaca. Kiefer Sutherland, em especial, está excelente como o líder da gangue de vampiros, com muita presença em cena, e Bernard Hughes, que faz o avô dos protagonistas, está simplesmente hilário, assim como todas as cenas em que os Frog Brothers aparecem. A sequência do jantar em que tentam desmascarar Max (Ed Herrmann) é engraçadíssima.

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A direção de Schumacher é inspirada, tem estilo, com várias sacadas visuais e bom trabalho de câmera, como as sequências aéreas que mostram o ponto de vista dos vampiros voadores. O sujeito tem muito bom olho também para a composição estética, nos pequenos detalhes que enriquecem o visual (os cartazes de pessoas desaparecidas) em como consegue casar as imagens e a trilha sonora de maneira tão efetiva, sem soar brega, como vários exemplos dos anos 80. A sequência de ação final é muito bem conduzida, uma boa mistura de humor, tensão, horror e até um bocado de gore, como na clássica cena “death by stereo“, ou na curta, mas ágil, luta entre David e Michael…

Enfim, legal rever OS GAROTOS PERDIDOS depois de tanto tempo. Há muita coisa que tinha esquecido e que veio à tona com muito prazer nos olhos. Realmente não lembrava que o filme era tão estiloso. Mas o melhor de tudo foi perceber que continua tão divertido.

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